Me reviro na cama, meus olhos se adaptando a frágil escuridão, tudo adquiriu a coloração azulada da madrugada, e acabo ficando rosto a rosto com Hugo. Fico surpreso por ainda estar aqui e memórias da noite passada voltam gentilmente. Adormeci no peito de Hugo e, pelo que nossas posições indicam, ele me abraçou durante toda a noite.
Observo a janela e vejo um mundo nebuloso e lindo do lado de fora, mas rapidamente sou tomado pela visão do rosto de Hugo adormecido. Ele é tão lindo e parece tão em paz. Tão feliz. Me pergunto se tenho algo a ver com isso enquanto deslizo minha mão pelo seu braço, até encontrar sua mão no final. Faço carícias nela e posso sentir o calor invadindo meu corpo. Aperto a mão dele mais forte. Eu nunca mais quero soltá-la.
— Deveria ter usado essa animação na noite passada, Uri. — Hugo preguiçosamente abre os olhos e se acomoda a cama, sem deixar minha mão. Antes que eu possa responder ele se move rapidamente, envolve as mãos por minha cintura, e me derruba de modo que ele possa encarar meu rosto, em cima de mim. — Mas podemos compensar pelo tempo perdido quando você quiser.
Ele ainda está segurando minha mão e começa a fazer carícias nela, da mesma forma que eu o acariciei. Meu corpo responde e me sinto crescendo por baixo de Hugo, que parece gostar, e se junta a mim, seu corpo crescendo junto ao meu, estamos nos pressionando um contra o outro e um gemido escapa dos lábios dele. Aproveito o momento em que ele abaixa a guarda e nos giro na cama. Sou eu quem estou por cima agora e, se Hugo for esperto, é uma boa hora para implorar a qualquer deus por misericórdia.
— Não sabia que você podia ser tão selvagem, Uri. — Hugo diz e sua expressão não é nada menos que desejo. Consigo sentir ele endurecendo ainda mais e isso me faz me inclinar e começar a esfregar o corpo contra o seu, enquanto abaixo meu rosto até a extensão de seu pescoço e começo a lamber. Hugo me pressionando ainda mais, passando as mãos pela minha costa e me aproximando o máximo o possível. A mera ideia de um espaço entre nós nesse momento seria um crime. Continuo lambendo, começo a chupar e os dedos de Hugo cravam ainda mais fundos na pele. Estou entrando em erupção.
Hugo afasta o meu rosto do seu pescoço e inclina a cabeça num convite para que eu o beije. Estou a poucos centímetros quando me dou conta de que não escovei os dentes e me afasto. Não apenas por isso, mas por me dar conta de que estou fazendo o mesmo que sempre fiz com meus ex namorados. Apenas aliviando meu tesão. E Hugo é muito mais que isso, eu quero que seja muito mais que isso. Uso toda e qualquer grama do meu autocontrole pra conseguir sair de cima dele. A claridade do dia começa a chegar aos poucos.
Fico sentado encarando a janela, de costas pra Hugo, enquanto sinto minha respiração se acalmar, enquanto sinto o volume nas minhas calças diminuir. Mãos se fecham nos meus ombros e me viro para encara-lo.
— Fiz algo errado? — sua voz sai rouca e vejo que Hugo está tendo ainda mais trabalho do que eu para se acalmar. Pego as mãos do meu ombro e seguro entre as minhas. Olho para ele e sorrio com o melhor sorriso que consigo exibir.
— Você nunca agiu tão certo, Go. — digo e volto a sorrir. Os cabelos bagunçados de Hugo ficam lindo. Hugo está divino sob a primeira luz da manhã e me pergunto o que alguém como ele viu em mim. Me sinto apenas frágil e cambaleante enquanto Hugo é... uma maldita força da natureza. O garoto que eu amo é uma força da natureza e eu nunca quis ser atingido com tanta força. Sua sobrancelha se ergue em dúvida e logo adiciono. — Eu só quero que não seja assim. Ainda não. Quero que o que quer que construiremos seja feito com calma e dure. Eu quero você, Hugo. Eu quero tanto você que chega a doer. Mas não quero tratar você como menos do que é. Não quero que isso seja apenas banal. Porque acredite, você não é nada banal pra mim.
Lágrimas inundam seus olhos, ele larga minhas mãos e me abraça, afundando a cabeça no meu peito. Passo a mão pelo seu cabelo, seu rosto e Hugo se aninha ainda mais a mim. Sinto sua respiração. Nossas respirações. Ergo o queixo e encaixo meu rosto ao dele, puxando-o para ainda mais perto. Depois de um tempo assim, apenas deitamos de costas e encaramos o teto branco-azulado do Chalé, a mão de Hugo presa a minha.
— Eu terminei A Rainha Vermelha. Todos os livros. — ele diz. — É minha saga favorita agora também.
Aperto ainda mais sua mão e sorrio.
— Eu disse, você me deve todos os créditos. — falo de uma forma brincalhona.
— Adicione a grande lista de coisas que eu lhe devo, Uri. — seu tom é contemplativo.
— Eu senti muito sua falta nessas duas semanas. Era uma merda olhar para sua carteira e não te ver lá. Não te ter ao meu lado. Eu sabia que era por pouco tempo, mas isso não aliviou minha tristeza ou minha ansiedade. Nem por um maldito segundo. — digo e suspiro.
Seus dedos acariciam minha palma e depois envolvem minha mão firmemente novamente.
— Eu estou de volta agora e, se ajudar, eu pensei em você o tempo todo. Por pouco não me concentrava nas atividades que precisava fazer. Tudo era você, uma voz sussurrando constante e incessantemente no fundo da minha mente. Entrar no ônibus para vir te ver foi a coisa mais fácil e certa que fiz em toda a minha vida.
— Obrigado por ter vindo. — digo. E sou sincero. — Eu não conseguiria mais ver esse passeio se você não tivesse aparecido. Você tornou tudo tão melhor. Como sempre.
Mudamos de posição. Hugo se aproxima de mim e descansa no meu peito. Passo meu braço ao seu redor e seguro seu corpo.
— Perdi meu tio no verão passado. Fiquei muito tempo triste por isso. Ele quem foi meu babá quando eu era um garotinho e sempre tínhamos sido muito próximos. Mais próximos do que eu e meu pai. Ele sempre sorria e dizia que o sorriso me deixava mais bonito, então eu também deveria fazer meu melhor pra sorrir sempre. — ele faz uma pausa, olha para o meu rosto. Eu assinto com a cabeça, para que ele continue; ele volta o rosto para frente e prossegue. — Não chorei no enterro e em nenhuma parte depois daquilo. Eu cumpri com as palavras que ele me disse e sempre sorri. Nunca, por nenhum maldito segundo quando estava com alguém, os sorrisos deixavam meus lábios. Era fácil sorri. Sempre foi. Mas uma parte de mim se sentia torturada, eu sabia que o brilho do qual ele falava não estava mais presente. Até a noite em que você foi ao restaurante. Depois daquela noite, sorri foi a coisa mais fácil de todo a minha vida. Você, Uri, foi quem tornou tudo melhor.
Eu engulo em seco e logo começo a contar a ele sobre mamãe, sobre a vida no Rio, sobre o acidente e sobre a mudança. Sobre como aquela noite foi quando dei um primeiro sorriso verdadeiro em seis malditos meses e logo estamos nos abraçando ainda mais forte, expondo todas nossas vulnerabilidades.
— Temos muito mais em comum do que eu pensava. — ele diz levemente.
— Sim, temos. — esfrego meu queixo nos seus cabelos e ele ri de uma forma maravilhosa.
— Pronto para voltar para casa? — ele pergunta por fim.
— Passaria a eternidade aqui com você, se pudesse, mas, conquanto que você esteja junto, estou completamente preparado. — respondo.
— Acho que as coisas estão ficando interessantes. — ele diz e inclina a cabeça, seus olhos encontram os meus e ele sorri radiantemente. O sol saiu completamente a essa altura. Precisamos arrumar as coisas e voltar.
Levo meu rosto até sua testa e o beijo suavemente, Hugo fecha os olhos. Me afasto gentilmente.
— As coisas estão interessantes desde o dia em que você entrou na minha vida. — eu digo.
Hugo não diz nada, apenas leva seus lábios até minha testa e é minha vez de fechar os olhos. Esse ato é resposta o suficiente.
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