Estou completamente exausto na manhã seguinte, enquanto tia Anna nos leva para a escola. Ela parece radiante como nunca, sorrindo excessivamente e fazendo perguntas. Pelo que eu entendi, ela foi promovida. Mas, toda essa animação logo cedo meio que me faz querer atirar na minha própria cabeça. Por sorte, Caio dirige a conversa. Luna está esparramada no banco da frente, ainda mais miserável do que eu e me pergunto como ela passou a noite. Aposto que virou a noite conversando com Amanda novamente.
Ao chegarmos, tia Anna sai com um sorriso tão grande quanto os que manteve durante todo o percurso e acena para todos nós, animada. Luna se vira antes que a mãe inicie o carro e entra para sua querida terra da opressão, onde todos os sonhos vão para morrer. Sorrio quando alcanço ela.
— Sabe, — começo. — você deveria dormir. Não estamos filmando para The Walking Dead. — ergo as sobrancelhas provocantemente no final.
— Ah, por favor, cale essa sua boca impura. — ela caminha para o corredor oposto e vai para sua sala. Começo a rir um pouco e me viro para Caio, que está me encarando fixamente.
— Nossos ensaios para a quadrilha começam na próxima segunda. — ele ajeita os óculos. Seu cabelo cresceu bastante, alcança a metade de suas orelhas agora. Algo mais sobre ele também parece diferente, mas não consigo dizer o que é.
— Okay. Estarei lá, meu caro Cá. Não se preocupe. — respondo. Um pouco de animação finalmente habitando essa carcaça vazia que chamamos de corpo. Caio assente e se despede, indo assistir as suas aulas também. Continuo parado no pátio central por motivo nenhum e logo sinto uma mão apertando suavemente meu ombro, depois uma massagem de leve. Solto um suspiro de alívio.
— Então, Uri, você estava certo sobre parecer terrível. Espero que fique longe de trilhas por um longo tempo. — me viro para Hugo, suas mãos ainda nos meus ombros, mas de frente para mim agora. Seus olhos brilham na luz da manhã e posso jurar que todo o salão está sendo iluminado por eles.
— Me desculpe por ter dormido enquanto conversávamos ontem. — digo. Verdadeiramente envergonhado.
— Bom, você precisava descansar e foi um dia importante e cansativo. Estou feliz por ter finalmente feito isso por sua mãe. — Hugo foi incrivelmente terno na noite passada e conversamos por horas, até eu simplesmente desabar de sono. Conversamos sobre muitos assuntos particulares dessa vez e muitas portas foram abertas. Estou contente por estarmos mais próximos. Quero conhecê-lo cada vez mais.
— Obrigado, Go. — digo sorrindo para ele, que me oferece um sorriso ainda mais intenso em resposta. — Vamos para aula?
— O primeiro horário é de Ed. Física, já estive na sala e o professor me pediu para buscar os equipamentos para jogar futsal e vôlei. Me acompanha? — ele diz, já oferecendo o braço para que eu o segure. Balanço a cabeça em um acordo e vamos até o depósito.
Está lotado de coisas velhas e estragadas. Peças de xadrez faltando, bolas vazias e coletes em pedaços. Parece que o lugar também não é tão visitado quanto o resto da escola, a poeira é visível em várias prateleiras mais distantes. Está um pouco escuro. Hugo passa pela porta e entro depois dele.
— Aqui. — Hugo agarra duas bolas distintas e um monte de coletes, além de uma rede. — Me ajude a levar isso para a sala. — ajeito o peso da mochila nas minhas costas e me apresso para ajudá-lo.
Enquanto estou ajudando ele aliviar os braços, sinto alguém aparecer na porta. Hugo cambaleia para trás e escuto o barulho de algo se despregando. Então somos saudados por uma irrigação, direto sobre nós. A água se espalha por nossos uniformes. Me afasto. Tirando os equipamentos da frente, mas já estou ensopado.
— Droga. — Hugo exclama enquanto deixa suas mãos livres e se aproxima rapidamente do esguicho de água, levando um braço na frente dos olhos e depois se abaixando, brigando com a pressão de água enquanto encaixa um cano no outro. — Maldito cano amaldiçoado. — ele diz. Algo no seu tom faz parecer que esse não é um acontecimento infrequente. Poderia me perguntar porque a direção e manutenção da escola não fizeram nada a respeito, mas estou chocado demais e molhado.
— Puta merda, vocês garotos fizeram uma bagunça. — Léo, a figura que estava parada na porta, entra na sala. Segurando uma grande sacola de um tecido resistente, como uma grande bolsa preta de viagens. Ele começa a enfiar os equipamentos nela. — Ainda bem que demorei a vir ajudar. Enfim, vocês precisam se secar. Explico ao professor o que aconteceu. — depois de juntar tudo, ele sai. Não sem antes lançar um olhar divertido e até mesmo gentil em nossa direção.
— Temos toalhas naquele armário. — Hugo aponta na direção oposta. As gotículas de água ainda descendo por seu rosto. Como no dia em nadamos juntos na cachoeira. Seus olhos estão raivosos, mas ele sorri para mim e, sem qualquer motivo, me lanço em uma gargalhada desenfreada. Hugo começa a rir também, enquanto apanha duas toalhas. Ele as traz e estende uma para mim. Paro de rir e respiro fundo. — Podemos usar roupas esportivas enquanto os uniformes secam também, tenho certeza que a direção vai entender. — Ele vai até a porta e a fecha. O quarto tem apenas uma fraca luz azulada e Hugo se aproxima de mim enquanto remove seu uniforme e seus jeans, os substituindo por um calção e uma blusa estranha de mangas longas com o emblema do terceiro ano recém formado. Após ele terminar, ele vem na minha direção.
— Não vai se secar? — sinto apenas minha blusa muito molhada, a calça vai secar com facilidade. Enquanto retiro a peça ensopada e a passo por cima da minha cabeça, Hugo aparece entre minhas pernas. Sinto sua respiração pesada e ele engole seco enquanto me encara. — Aqui. Posso ajudar você com isso. — ele coloca a toalha sobre meu rosto e passa pelo meu cabelo e vai descendo. Estende meus braços e seu toque é carinhoso enquanto me seca. Não consigo impedir meu coração de bater mais intensamente. Toda essa proximidade está acabando com meu auto controle. Após achar que estou bem o suficiente, Hugo me oferece uma camiseta igualmente ridícula, mas a visto sem reclamar.
— Obrigado. — levanto meus olhos e o observo, seus olhos se suavizaram agora.
Ele se aproxima mais e segura minhas bochechas entre suas mãos, depois dá um sorriso e começa acariciá-las. A sensação do seu toque me faz arrepiar levemente e coloco uma mão no seu pulso esquerdo.
— Já disse o quão lindo você é, Uri? — ele se abaixa e beija minha testa. Meu estômago emite uns ruídos estranhos e me ajeito no banco. — Eu poderia ficar olhando para você o dia todo e ainda assim não seria tempo o suficiente. Não importa o que eu faça, acho que nunca terei o suficiente de você. — ele diz.
— Go... — começo. Ele apenas se afasta e estende as toalhas e os uniformes sobre algumas caixas de papelão. Depois se vira para me observar novamente.
— Você sabe o quão difícil é me controlar para não te tocar, para não sentir você, cada vez que estamos juntos? — ele diz. Sua expressão desejosa carrega algo parecido com dor.
— Go... — me aproximo novamente. Levando a mão no seu pescoço e o puxando para mim. Quero acabar com essa hesitação agora mesmo, não quero ver esse olhar no rosto dele. Não quero carregar o mesmo olhar no meu rosto.
Ele coloca as mãos no meu peito, me afastando suavemente e suspira. Esse ato parece levar cada grama de sua força de vontade.
— Vai haver uma comemoração no restaurante da minha família hoje a noite, nada formal, apenas para comemorar a promoção do meu pai. Queria que você fosse. Isso é, se der para você. — sua voz chega ao mais perto de implorar o possível. Como se ele precisasse suplicar, como se eu não quisesse estar ao lado dele cada maldito segundo. Sorrio um pouco. Todos estão sendo promovidos, talvez seja hora de dar os próximos passos com Hugo também.
— Conte comigo, Go. Estarei lá. — digo.
— Obrigado. — ele diz. Suas mãos alcançam as minhas e ele as entrelaça a nossa frente. — Mal conseguirei me concentrar hoje. Estou completamente ansioso. A festa começa as 20:00. Se precisar que alguém te busque, me diga. Caio e Luna também estão convidados. — ele sorri lindamente.
— Okay. — respondo.
Nos encaramos por bastante tempo, suspirando e sorrindo um para o outro. Nossas mãos brincando entre si. Acabo lembrando que ainda temos uma manhã de aulas para assistir e uma tarde monótona até a festa. Nesse momento, é tudo o que importa. E estar aqui. Com Hugo. Inclino minha cabeça, desentrelaçando nossas mãos, e o beijo na bochecha. Depois me viro e saio. Sorrindo, o que não é nenhuma novidade.
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