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O garoto que sempre sorri

Capaz de voar

Capaz de voar

Aug 15, 2021

— Tem certeza que não quer ir com a gente? — Luna está segurando o puxador da porta do quarto de Caio. Dormi aqui ontem, mas parece que sou o único entre as cobertas agora. Caio está ao lado de Luna, olhando preguiçosamente para mim enquanto segura uma caneca com café.

— Por que alguém gostaria de ir? — Caio pergunta enquanto se senta próximo aos meus pés esticados. Resolvo me sentar, ainda embrulhado. — Você vai ter a Amanda e o resto do mundo simplesmente não vai existir mais. É melhor ser ignorado no conforto de uma cama macia, do que em uma rua lotada e com poucos lugares confortáveis para sentar.

— Obrigado por apresentar toda uma tese de faculdade, mas não estou falando com você, irmãozinho. — Luna diz e manda a língua para Caio. Ele sorri e depois toma um gole do café.

— Me desculpe, Lu. É sábado, tudo o que eu quero é ficar na cama. — digo enquanto giro o pescoço e o jogo de lado. Meu corpo parece pesado. Toda a situação da festa me deixou exausto.

— Que seja. — ela diz e se despede com um aceno, deixando a porta entreaberta.

— Pobre Amanda. — digo e suspiro. Caio sorri.

— Sim. Ei, você planeja mesmo ficar na cama hoje? — ele me pergunta. Algo no seu tom me deixa apreensivo.

— Bom, foi uma ótima desculpa, não? — bagunço os cabelos dele, que estão longos agora. Sinto novamente a sensação de que meu primo está diferente, mas não consigo descrever essa mudança.

— Sim, foi. — ele diz.

— Eu passei no processo seriado da UCL, assim que me formar esse ano já posso me mudar para a cidade e começar a ter aulas eletivas. — UCL é a Universidade da Cidade de Lupié, bastante distante de onde estamos.

— Então agora é definitivo, certo? — meus olhos começam a marejar. Sabia que ele tinha prestado alguns vestibulares antecipados para fora, mas não pensei que ele iria ir embora realmente. Estou feliz por ele, porque ele merece o melhor, mas estou triste por ter que me despedir em breve.

— Sim. Ainda não sei como contar para Luna. Não foi uma decisão fácil, mas acho que foi a melhor decisão. — ele diz e termina o restante do café em um só gole — Pensei em tirar o dia para fazermos algo juntos, isso é, se você não tiver planos com Hugo ou estiver ocupado.

— Eu estou livre! — digo sem hesitar e logo estou me arrumando. Vou ao banheiro de Caio para escovar meus dentes e saio enquanto ainda manejo a escova. — Algum lugar em mente? — minha voz sai abafada por causa da quantidade de pasta espalhada. Volto ao banheiro para cuspir e enxáguo.

— Pensei em andar de skate. O que você acha? Os meus estão gastos, mas podemos alugar alguns e uma hora na pista do Sk8 & Voe. — ele ajeita os óculos e depois se levanta e tira a camisa, enquanto procura outra roupa em seu armário.

— Acho uma ótima ideia. Puta merda, não ando de skate há anos. — ele sorri e, rapidamente, estamos prontos.

— Mamãe saiu no gol, então vamos na estrada. — ele diz enquanto descemos as escadas. — Vai ser a segunda vez que dirijo desde que tirei a habilitação, me deseje sorte.

— Sorte! — eu digo e nós dois rimos.

Espero Caio tirar a estrada da garagem antes de me juntar a ele.

— Pise fundo, Caio! — brinco e ele dá partida, completamente concentrado nas ruas. Até para dirigir ele é obstinado. trinta e quatro minutos depois estamos no estacionamento da Sk8 & Voe. Alugamos dois skates novos e bastante resistentes e vamos para a pista, por ser tão cedo, somos os únicos aqui.

— Tinha me esquecido de como essa sensação é boa. — Caio diz. Pressiona o pé esquerdo no chão, se impulsionando, e apenas desliza com o skate por todo o piso liso. Seus cabelos voam. Ele sorri para mim, depois gira graciosamente e faz um ollie. Para quando chega ao meu lado. — Vai ficar parado aí o dia todo? Nossa hora expira, meu caro, venha.

Ele passa sua mão ao redor da minha e nos equilibra. Deslizamos com nossos skates em sincronia e logo começo a relembrar como é importante manter todas as partes do meu corpo em harmonia e sincronizadas. Tento um ollie também, bem mais baixo do que o de Caio, mas falho mesmo assim. Me contento com minha total falta de jeito e apenas fico deslizando por toda a pista, o que ainda assim garante uma sensação maravilhosa. Assistindo Caio se mover, o skate como uma extensão do seu corpo, enquanto ele realiza um varial heel e o skate gira sob os seus pés antes de se encontrarem novamente. Depois ele apenas abre os braços depois de ter se impulsionado e aproveita a brisa antes de parar. Faz isso uma e outra vez, e mais uma. É como se ele estivesse voando quando ele começa a subir e pular as rampas. Depois de uma hora estamos de volta aos bancos da estrada. Caio está suado e ofegante. Eu estou normal, não é como se eu tivesse me permitido. Dou dois tapinhas no ombro dele.

— Uau, sabia que você gostava de skates, mas não sabia que era tão legal sobre um. — ele balança a cabeça envergonhado e sorri sem mostrar os dentes, destacando suas covinhas. Suas mãos brincam com o volante, apertando e soltando.

— Não sou. Mas me sinto bem com eles, é apenas sobre se equilibrar e deixar ir. E, após isso, testar esses dois princípios como quiser. Seja em rampas ou manobras que estão se tornando cada vez mais loucas, sério, você precisa ver o que os garotos que chegam mais tarde são capazes de fazer. E também, é um dos poucos momentos em que me sinto confortável de bermuda e camiseta. — seus dedos apertam o volante com mais força.

— Tem algo que eu gostaria de falar com você. — ele ergue a cabeça e fixa seu olhar no teto do carro, respirando. Como se estivesse... juntando forças. Isso me deixa em pânico, então levo minha mão até a dele e a seguro firme.

— Caio, o que quer que tenha para falar, eu prometo ouvir e fazer meu melhor para entender. Mesmo se for algo terrível ou criminal eu vou te apoiar, talvez eu fique chocado e com medo, mas...

— Não me chame mais de Caio. — ele diz. — E não é nada criminal. — ele sorri de lado e vira seu olhar em minha direção, sinto a tensão nos seus ombros. As lágrimas fazem suas íris brilharem e estou ficando incrivelmente preocupado.

— Okay. Tudo bem. Como você quiser, apenas me diga por que está agindo assim. Por favor. — Começo a chorar também. Nunca consigo me manter controlado em situações assim. Por que ele ainda não começou a falar? O que eu não estou vendo?

— Eu geralmente não me importo quando me chamam de Caio. Eu entendo que é assim que as pessoas me veem, foi o nome que recebi e a identidade que eu, supostamente, deveria carregar. Mas e se não for assim? Se tudo o que as pessoas enxergam não for quem eu realmente sou? — lágrimas descem pelas suas bochechas e eu aperto sua mão mais forte. — Eu estive me sentindo diferente, desde que era criança. Eu não acho que me identifico como um garoto. — ele suspira e olha para mim, suas lentes estão embaçadas. Ele retira o óculos e o limpa.

— Cá... tudo bem se eu usar, Cá? — ele assente. E eu faço o meu melhor para sorrir enquanto levo minha mão livre para limpar os meus olhos. — Podemos usar apenas a letra do alfabeto para representar. Parece bastante neutro para mim. "K". Você sempre foi K, de qualquer maneira. É isso não é, o que você está tentando me dizer? Você é uma pessoa trans. Então você se identifica como uma garota, certo? — pergunto.

— Não. Não me identifico como um garoto, mas não me vejo como uma garota também. — K diz.

— Um espectro neutro então? — K assente e sorri. — Parece interessante, acho que nunca conheci alguém com uma identidade não binária antes. Apenas na internet.

— Estou surpreso que você conheça. — K sorri e aperta minha mão de um modo gentil.

— Bom, é o mínimo que posso fazer, já que somos membros da mesma comunidade.

— Estou contente por você ter entendido tão tranquilamente. Não me importo se as pessoas de fora continuarem a me ver de uma forma diferente, mas quero ter a possibilidade de ser quem eu sou com aqueles que eu amo. — O olhar por trás da lente faz meu coração derreter. Estendo meus braços e logo estamos em um abraço de urso.

— Você sempre pode ser quem você é, e não se contente a menos que isso. — eu digo. — Faça as coisas da maneira como quiser fazer e não recue. Apenas viva. Apenas seja.

K passa o queixo nos meus cabelos e se afasta.

— Já que estamos falando sobre fazer as coisas da minha forma, você me garante descontos no caldo do restaurante de Hugo, então acho que já temos nossa próxima parada.

— Como ousa? — digo rindo.

— Você tem tempo de ligar para ele e dizer que estamos chegando. — Então K dá partida e começamos a dirigir. Ele parece muito mais leve que antes, como na pista de skate, é como se K fosse capaz de voar. 


lopesjack820
Justabrazilianboy

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