O
Camburão seguia escoltado por duas das viaturas negras e sem identificação
utilizadas pela equipe de Ligia com Cristiano, Kay, Paula, Daniel e Valéria, em
seu interior,
- Onde eu tô? – disse a jovem ao acordar do apagão provocado pelo disparo de taser na coluna.
- Presa e indo não sei para onde. – Respondeu Cristiano mostrando as algemas.
Imediatamente Valéria olha para os próprios pulsos e vê as algemas a prendendo deitada no chão da viatura junto com seu irmão que ainda estava dormindo.
- Esses lazarentos apagaram o Kay também!? EU VOU MATAR ESSA VACA!!!
- Shiiiu - Fez Paula.
- Shiuuu!?Shiu éo cacete eu quero que essa vaca me escute! E pensar que eu achei que ela um dia foi nossa amiga, eu vou arrancar o útero dessa desgraçada com uma pinça!!!
- CALA BOCA VALÉRIA! – Gritou Paula, assustando a mulher. - Eu tô tentando escutar pra onde eles tão nos levando!
- Mas... se eles nos prenderam quer dizer que eles tão nos levando para a delegacia deles. –Falou Valéria.
- A gente está na ponte. Não tem mais som da cidade e comecei a escutar o barulho do mar.
- Será que tão nos levando pra ilha? – Perguntou Cristiano.
- É isso ou pro porto. – Respondeu Paula.
- Mababila...<maravilha...>
Valéria olhou para perto da porta do camburão e viu Daniel com a camiseta empapada em sangue.
- O que eles fizeram com você?
- BADA! <NADA!> – Disse o rapaz sorrindo em seguida. o rosto estava inchado e boca estava completamente ensanguentada e parecendo inclusive que faltavam alguns dentes.
- Eles vão matar a gente! - Pensou Valéria ao ver o estado calamitoso do primo de Lígia.
- Você não acha que pegou pesado com o Daniel?
- Eu tava querendo fazer aquilo já fazia um tempo.
- Porra, ele é teu primo.
- Ele é um porre.
- Além do que, ele poderia pôr tudo a perder se mantivesse aquela língua solta dele.
Danilo deu de ombros, ele não gostava daquela ideia, mas uma coisa que ele aprendeu em anos de convivência profissional e pessoal com a Ligia é que era melhor não opinar.
- O Paulo e o Cristiano são mais colaborativos de fato.
- Paula, e eu não diria isso.
- Sempre achei que eles eram mais fáceis de lidar que os demais.
- Eles são mais sensatos, isso não os tornam mais fáceis ou menos perigosos.
- Senhor estamos seguindo as viaturas, porém temos um problema.
- Qual?
- Acredito que estamos em direção a área restrita.
- Eles estão indo para onde?
- Estamos na ponte que leva para ilha se eles seguirem o caminho que estimamos. teremos que sair no pedágio de acesso para a zona portuária. Se tentarmos seguir toda a operação estará arriscada.
-Vocês estão me fazendo ficar profundamente irritado com esses problemas.
- Bem, se quiser podemos seguir atrás da escolta e ser o único veículo além das viaturas naquele trecho de ponte, vai ser maravilhoso encontrarem esse telefone no meio dos destroços desse carro depois deles nos explodirem com um lança granada.
- Não me ameace.
- Não estou ameaçando senhor, estou informando os possíveis resultados de uma ação desastrosa em uma operação que foi acelerada sem necessidade.
- Ora seu...
- E aí? - Perguntou o motorista. – O que o velho disse?
- Desligou na minha cara.
- Hahahaha! Velho mimado.
- O infeliz me acelera o cronograma em uma semana por conta de um capricho e quer que a gente limpe a sujeira.
- Ninguém nunca disse que ser policial era fácil.
O carro virou para esquerda pegando o caminho rumo a zona portuária passando por um pedágio, enquanto a comitiva de veículos negros seguiu por alguns quilômetros passando por uma série de sistemas de monitoramento que culminavam em um grande portão de grade.
- Sejam bem-vindos a ilha senhores.
Falou o motorista do camburão para os seus passageiros.
-AHHHHH!
- Finalmente ele acordou. – Disse Valéria.
- Caralho que dor de cabeça do inferno! – Esperneou Kay.
- Vai ficar ainda pior.
- Bode der vertefa diffo. <Pode ter certeza disso>
Os portões se abriram antes dos veículos chegarem e passado o último veículo da comitiva o portão estava completamente fechado novamente. Somente o som do mar e o barulho das ventoinhas dos radiadores dos veículos eram ouvidas na construção que no passado fora uma base da marinha e um hospital para tratamento de lepra e tuberculose e a anos era considerada a prisão mais assustadora da região.
- Tá todo mundo acordado já? – Perguntou Oda enquanto abria a porta do camburão.
- SIM MOTORISTA! – Gritou Daniel cuspindo uma quantidade considerável de sangue no rosto que ele havia mantido preso na boca durante toda a viagem. - TÁ AQUI O PREÇO DA PASSAGEM, PODE FICAR COM O TROCO!
- ORA SEU FILHO DA PUTA! - Disse o policial enquanto levava a mão na direção da arma.
- Sai daí Silvio. Vai para o chuveiro e passa na enfermaria, eu não sei por onde ele andou. – Disse Ligia se aproximando.
- Esse seu primo ainda vai tomar um tiro. – Protestou o soldado obedecendo a superior.
- PROVÁVEL, MAS NÃO VAI SER DE UM CUSÃO FEITO VOCÊ! – Respondeu Daniel
- VÁ SE FODER! – Gritou o soldado antes de entrar em uma sala que imediatamente se iluminou.
- Já acabou com sua ceninha Dan? – Perguntou Ligia entrando no camburão com alguns objetos na mão.
- Eu nem comecei. – Respondeu o jovem encarando–a.
- Ahhh Daniel, vai dar pra quem tem tempo. – Disse Ligia pegando um dos objetos. E colocando no rosto do primo, um som eletrônico foi ouvido e em seguida Daniel estava tombado desmaiado.
- O que você fez com ele? – Perguntou Valéria assustada.
- Sedei, deveria ter feito isso na hora que vi esse merdinha no hospital, teria me poupado o trabalho... –respondeu Ligia olhando com um certo carinho para a jovem por um instante, mas o olhar carinhoso mudou logo em seguida para um olhar frio.
- Vocês vão me dar trabalho? – Perguntou a oficial se ajoelhando próximo da jovem e seu irmão.
Os dois jovens se entreolharam e olharam para os dois amigos que seguiam algemados sentados na lateral do camburão.
- Não! - Responderam em uníssono.
- Ótimo!
Ligia apertou um botão em um controle e a algema de Kay foi aberta. O jovem permaneceu no lugar que estava enquanto observava Ligia aproximar de Valéria como um a leoa se aproximando de uma zebra ferida. O coração do jovem estava disparado e ele via que pelo jeito o coração da irmã também estava.
- Você ainda quer arrancar meu útero com uma pinça?
Valéria gelou naquele momento.
- Eu vejo, eu escuto e eu tenho poder sobre tudo nessa ilha, você achou realmente que eu deixaria uma ameaça dessas passar?
Valéria estava com o coração acelerado, naquela situação ela não tinha o que fazer, nem sabia o que ela responderia, era impossível para a jovem imaginar o que poderia acontecer com ela.
Subitamente, como que trazido por uma lufada de ar do oceano o medo dela se dissipou e juto veio uma resposta.
- Sim, mas pra isso eu acho que teria que estar com as mãos livres.
- E ter uma pinça, coisa que se por um acaso eu ver na tua mão eu as arranco.
Um segundo botão foi apertado e as algemas de Valéria também se soltaram.
- Pronto, suas mãos estão livres, mantenha-as assim! Ou eu me livro delas.
As duas ficaram se encarando por alguns segundos se desafiando.
- Thor, Aline e Matias!
- Sim senhora! – Disseram os soldados se aproximando do camburão.
- Levem esses dois para a enfermaria e deem algo de comer, a Valéria fica de mal humor quando está com fome.
- E o Daniel?
- Leva ele para o ortodontista de repente dá pra consertar os dentes dele.
- Não precisaria consertar se não tivesse quebrado. - Disse Paula com um tom sereno.
- E não teria quebrado se ele não tivesse me provocado.
- Mas aí ele não seria o Daniel.
- Eu estava com saudades de você, sabia?
-Jeito interessante de demonstrar isso, geralmente eu recebo um convite para jantar e tomar um vinho antes de passar o dia algemada em algum lugar.
Os policiais não conseguiram ouvir aquilo sem esboçar um riso.
- É gente, isso se chama preliminares vocês precisam aprender isso ou suas mulheres nunca irão se satisfazer... inclusive você Aline.
- Vá se foder Paula! – Gritou a policial enquanto conduzia Valéria em direção a mesma sala que Silvio havia entrado minutos antes.
-Déjà–vu! - Murmurou Danilo enquanto observava a cena.
- Você tem passado muito tempo com meu primo ou está fazendo isso só pra compensar que eu o apaguei? – Perguntou Ligia notando o comentário do colega.
- Não, eu mudei muito desde a última vez que a gente se viu.
-Eu achei que tivesse sido para melhor, preferia não te ver por aqui.
- Quer saber de uma coisa?
- O que?
- Mesmo sabendo que tu tinha nos abandonado desde aquele dia, eu ainda tentei te defender hoje de manhã.
- E agora, você não me defenderia?
- As coisas assim como as pessoas podem mudar, mas nem sempre pro que você considera melhor.
- Se é assim que tem que ser, que assim seja.
Dois botões foram apertados e mais duas algemas se abriram.
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