Ami
Celular em uma mão enquanto tamborilava os dedos na mesa com a outra, Ami olhava ansiosamente pro celular, mas nenhuma mensagem ou ligação queria aparecer.
-Estou tão atrasado assim? – perguntou Treu ao sentar-se no lugar à frente de Ami.
-Não, não. Nós marcamos às 17h não é? São exatamente 17h. – disse Ami sorrindo. – Pontual como sempre.
-Então por que você está quase abrindo um buraco em seu celular de tanto encará-lo? – disse Treu baixando o celular de Ami com uma mão e segurando a outra que batucava.
-Eu estou preocupado com o Mond... Acho que eu fiz algo mais perigoso do que eu imaginava.
-Ele está muito mal? – Disse Treu apertando a mão de Ami carinhosamente.
-Está... Eu te falei que ele estava internado, né? – Ami abaixou a cabeça e bufou.
-Sim e que se ofereceu pra ajudar – Treu riu – Você está preocupado com isso? Preocupado comigo?
-Não. – disse Ami ainda olhando pra baixo.
-Não vai fazer? Ou não tá preocupado?
Ami finalmente olhou pra cima e viu Treu olhando pra ele tranquilamente.
-Eu não vou fazer e não estaria preocupado com você se fizesse, somos amigos não somos?
-Sim, somos amigos – Treu sorriu. – É exatamente esse tipo de relacionamento leve que eu preciso.
-Algo te preocupando?
Treu franziu o cenho
-Está tão na cara assim?
-Na verdade não, apenas sou um bom observador e acho que já te conheço muito bem, sempre que você sorri muito é porque tem algo te incomodando e você está tentando esconder. Igual a alguém que eu conheço...
-Somos amigos, não somos? – Treu sorriu
-Sim.
-Podemos falar sobre qualquer coisa, não é?
-Claro.
-Sobre meu ex? – a voz do policial tremia.
-Se você se sentir confortável, sou todo ouvidos. – Ami apertou a mão que Treu segurava.
Treu sorriu e soltou a mão de Ami, ele estava um pouco nervoso, nunca havia conversado sobre seu relacionamento com ninguém e era meio estranho desabafar com o cara que ele estaria fazendo coisas indizíveis bem ali naquela mesa se estivessem sozinhos.
-Bem... Meu ex é uma pessoa que eu sou obrigado a conviver e ele acabou vendo uma de nossas mensagens... – Treu pausou, de alguma forma ele se sentia muito envergonhado.
-E vocês brigaram? – Ami estimulou a continuar.
-Não... Ele apenas mudou comigo, estava mais frio e indiferente até que... – Treu respirou fundo – Ele me ligou uns dias atrás e me pediu pra voltar.
-Você ainda gosta dele?
-Eu acho que sim. É difícil dizer, o motivo pelo qual me apaixonei por ele é o mesmo motivo que nos fez terminar... – a voz de Treu foi baixando gradativamente.
-Se você ainda gosta dele, não acha que deveria dar mais uma chance a ele?
-Eu não quero mais me machucar, nem o machucar...
-Você quer me contar qual foi o problema? – Ami olhou para Treu com uma expressão confortadora que passava total confiança.
-Nós somos muito iguais, no início era extremamente encantador, como se eu tivesse encontrado minha outra metade, nós gostamos das mesmas coisas, desgostamos das mesmas coisas, temos as mesmas manias, apesar de termos uma diferença de idade temos uma linha de raciocínio muito parecida e isso era realmente fascinante, mas com o tempo isso gerou muitos problemas, apesar de não discordarmos em nada realmente, mas sempre parecia que estava faltando algo, sabe? Além do mais o quão narcisista eu posso ser por gostar de uma pessoa exatamente igual a mim? – As mãos do policial suavam e o nervosismo parecia não passar, mas um alivio estranho aparecia a cada palavra dita.
-Não vejo problema nenhum em ter muito amor próprio, mas eu acho que o seu problema não era realmente esse, não é? – Ami passo a ponta do pé na perna de Treu devagar – Se vocês dois tem a mesma preferência e gostos ambos são muito fogosos e passivos, não é?
Treu corou, um pouco pelo contato do pé que subia por suas pernas e se encaminhava para a virilha e um pouco porque Ami tocou no ponto exato da situação.
-Eu sei que sexo não é tudo... Mas é uma parte importante da relação e era a única coisa que nos fazia brigar, então nós decidimos não fazer mais o que só piorou e nos afastou – Treu olhou para Ami tentando não gemer quando seu pênis foi tocado.
Ami sorriu e retirou o pé cuidadosamente.
-Vamos comer em outro lugar? Acho que nós dois estamos com muita fome.
-Eu estou realmente faminto! Por que não vamos pra minha casa?
-Estou de total acordo.
Eles saíram sem se importarem com o olhar feio que o rapaz do caixa deu a eles por passarem tanto tempo na lanchonete sem pedirem nada, naquele momento eles só queriam estar nos braços um do outro trocando calor e fluídos corporais, nem eles entendiam como podiam ter esquecido das preocupações que os assolavam há pouco e estarem com tanta urgência e tanto tesão. O policial morava a alguns minutos de distância, eles caminharam de mãos dadas, enquanto Ami o provocava acariciando sua palma com o dedo indicador.
-Assim vou ter que te devorar aqui mesmo! – disse Treu em um sussurro.
-Eu não iria ligar, mas acho que as pessoas ao redor não ficariam muito felizes com isso. – disse Ami rindo.
A conversa foi interrompida pelo hino de um time de futebol, era o celular de Ami, rapidamente ele atendeu sem nem olhar quem estava ligando.
-Alô? Mond?
-Esse é o nome do seu novo namorado? Achei que ele fosse só um amigo de longa data. – disse Messe do outro lado da linha embolando um pouco as palavras.
-Ah é você – respondeu Ami desanimado – Sim, ele é só um amigo de longa data, estou apenas preocupado ele não está em uma situação muito boa.
-Lamento em ouvir isso, mas acho que trarei mais algumas preocupações pra você essa noite.
-Você está bêbado?
-Sim.
Ami olhou para Treu que caminhava ao seu lado segurando sua mão alegremente.
-Eu estou no meio de um compromisso.
-Eu não te liguei querendo uma foda! Eu estou na frente da casa dele e...
A ligação ficou muda de repente.
-Alô? Alô? - Ami olhou para o celular confuso, a ligação não foi desligada, ele conseguia ouvir o barulho da rua no fundo Messe apenas não respondia.
Ami olhou pra frete e se deparou com Messe à alguns passos de distância parado com o celular na mão encarando os dois.
-Messe? – chamou Ami.
-Tenente Messe? – disse Treu – O que você está fazendo aqui?
-Então vocês dois se conhecem? – disse Messe encarando aquela cena inacreditável seu ex amor e ex namorado com quem ele havia dormido há alguns dias atrás e seu colega de trabalho, ex namorado e atual amor de mãos dadas bem na frente dele.
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