— Aaah! — exclamou Klaudo, jogando-se no chão e protegendo a cabeça com suas patas. — O senhor ainda não tem poder o suficiente. Precisa guardar mais energias.
— A bruxa que me derrotou vai pagar caro. Assim que os meus poderes forem restabelecidos vou matar todos! — rindo alto e para ao ouvir Klaudo gargalhando. — Calado!!! — mais trovões caem do céu e atingem o castelo. — Agora, preciso pensar na primeira arma que utilizarei para destruir Framon e todos que nele vivem!!!
Enquanto Cen idealizava um plano diabólico, Julius executava o seu, para o desespero de Bartolomeu e Romeu, que conseguiram colocar o jovem dentro do Centro de Batalha. O local lembrava uma arena usada pelos gladiadores, mas a ideia era formar guerreiros e não matá-los. Os bastidores eram agitados, uma vez que muitos homens queriam participar e integrar a artilharia real.
Diferente do irmão, Bartolomeu era um rapaz alto e moreno. Seus olhos castanhos ganhavam destaque na pele morena conquistada com muito treinamento e horas debaixo do sol. Os trajes dele ficaram grandes em Julius, então, eles precisaram adaptar algumas peças, como o colete amarrado com uma corda de lã e o elmo sem a parte da viseira.
— Eu preciso aquecer antes. — garantiu Julius, dando pequenos socos no ar e derrubando um dos competidores. — Desculpe. É a minha primeira vez aqui. — ajudando o homem a levantar.
— Pelo jeito que você derrubou o homem está preparado. — disse Romeu, procurando uma forma de tirar a ansiedade de Julius.
— Preparado ou não, meu caro amigo, ele já estamos aqui. — dando uma última conferida no traje de Julius, que era, basicamente, um colete de couro, um capacete velho e uma bainha com a espada de Bartolomeu.
— Os próximos concorrentes podem entrar. — anunciou um dos guardas do Centro de Batalha.
— É agora. — soltou Romeu, pegando no ombro de Julius e percebendo a tensão do amigo. — Ei, você consegue.
— O que eu faço?
— Aquilo que você faz de melhor, Julius. — aconselhou Romeu, olhando para o amigo de uma forma carinhosa.
— Improvisar. — falam Romeu e Julius.
Do lado de fora, uma pequena plateia acompanhava os testes dos novos recrutas, incluindo, Celdo que gostava de saber quem eram as novas promessas. Agoniado por causa da roupa, Julius tropeçou, mas manteve a pose de guerreiro. O sol forte atrapalhou a visão do jovem, uma vez que Bartolomeu retirou a viseira do Elmo.
— Quem são os desafiantes? — perguntou Celdo para o comandante Ferbus, que segurava um papel com o nome de todos os recrutas.
— Teremos agora, o embate entre Pum Aghora, como é? — questionou Ferbus fazendo uma careta engraçada, porém, continuando com a apresentação. — Pum Aghora contra Marco Angelos. Que comece a batalha!
— Pum? — Romeu tentou segurar o riso, sem sucesso.
— Eu sou péssimo nessas coisas. O importante é que ele vai mostrar suas habilidades. — desconversou Bartolomeu, que foi o responsável por inscrever Julius na disputa.
O adversário de Julius tinha 100 quilos de puro músculo, além de uma voz grave e ameaçadora. O rapaz segurava em sua mão esquerda a estrela do amanhã, uma esfera de metal com espinhos, presa diretamente a uma corrente, e na mão direita o escudo padrão do Centro de Batalha.
Os rivais ficaram se olhando por alguns segundos, quando Marco tentou o primeiro golpe contra Julius. De forma habilidosa, o filho de Celdo conseguiu desviar dos ataques e chutou o concorrente.
Em seguida, Julius desferiu vários golpes em Marco que recuou e ficou de joelhos no chão. O jovem pulou por cima do brutamontes e conseguiu tirar seu escudo. Irado e fora de controle, Marco girou a estrela do amanhã e focou nas pernas de Julius.
— Você é um homem morto!!! — esbravejou Marco, correndo em direção a Julius, que aguardava com uma oportunidade de contra atacar.
— Você sabia que a raiva é determinante para quem perde ou ganha. — comentou Julius, desviando de um novo ataque.
— Cale-se e lute. — gritou Marco, dessa vez, sendo mais rápido e atingindo Julius no rosto.
— Julius!!! — gritaram Bartolomeu e Romeu, preocupados com a direção da batalha.
— Marco, para quê tanta violência? Segundo os estudiosos, a agressividade é causada por um trauma que passamos na infância. Sabe, se você controlasse isso, talvez, eu disse, talvez pudesse ganhar a batalha. — Julius falou de uma forma rápida, o que confundiu Marco.
A luta chamou a atenção de outros funcionários do Centro de Batalha. No primeiro momento, Celdo aprovou a técnica de Pum Aghora, apesar do nome estranho, mas percebeu uma agitação fora do normal da parte de Bartolomeu e Romeu, que acompanhavam a luta com muita preocupação.
— Eu conheço esse rapaz. — pensou Celdo, cerrando as mãos e controlando-se para não fazer confusão.
— Tá ardendo. — disse Julius, passando a mão no rosto e olhando atentamente para Marco. — Passou o que na tua espada, pimenta?
— Neném fez dodói? — Marco perguntou aproximando-se de Julius com velocidade.
— Ah! — gritou Julius preparando um contra-ataque. — Isso vai deixar marca, seu bobalhão! — golpeando Marco com o escudo e batendo com a espada em seu capacete. — Vai demorar para sair!!! — aplicando um golpe corporal no adversário que caiu no chão como um saco de batatas.
— E o que você falou sobre raiva? — questionou Marco, finalmente, abraçando sua derrota.
— Faça o que eu digo, mas por favor, não faça o que eu faço. — batendo com violência em Marco, que desmaia e precisa ser socorrido pela equipe médica.
A plateia aplaudiu a luta, afinal, não havia um espetáculo desses no Centro de Batalha desde o empate entre Bartolomeu e Romeu. Animado com a vitória, Julius correu na direção de seu irmão e lhe deu um forte abraço. Em seguida, abraçou Romeu que precisou segurar o lado protetor ao ver o corte no rosto do amigo.
— Senhor, o seu está chamando. — um dos funcionários chamou Bartolomeu.
— Com licença. — pediu Bartolomeu saindo com o homem.
— Romeu, eu ganhei! — gritou Julius levantando os braços. — Eu ganhei. Eu ganhei. Eu ganhei. Ele veio todo cheio de valentia e eu derrubei ele. Oh, meu Deus. Eu derrubei um homem de 100 quilos. Eu sou tipo, um herói. Você viu como ele voou e caiu no chão como se fosse uma pedra!!
— Seu moleque teimoso. — tirando o Elmo de Julius.
A euforia nos desarma. Ela nos faz esquecer as principais regras da sociedade. Ao ver a alegria de Julius, Romeu tocou em seu rosto e foi se aproximando aos poucos. Sem reação, e percebendo o que estava prestes a acontecer, o filho de Celdo não negou e entregou-se.
Um beijo. Um beijo calmo e carinhoso. O tempo parou para os dois. A linha foi cruzada. O coração de Julius batia forte e seu cérebro tentava acompanhar (sem sucesso) os mistos de sentimentos que lhe atingiam como um raio. Já Romeu, não conseguiu evitar, no final, a euforia que o traiu.
No corredor, Celdo carrega Bartolomeu pela orelha e corta o clima entre os pombinhos. Eles pegam distância um do outro, porém, Julius não consegue esconder o choque e Romeu queria procurar um buraco para esconder o rosto.
— Vocês querem me matar do coração? — perguntou Celdo, largando a orelha de Bartolomeu e agarrando a de Julius.
— Desculpa, pai. Desculpa. — pediu Julius, gemendo de dor, esquecendo completamente do beijo com Romeu.
— Você também tem parte nisso, Romeu? — quis saber Celdo, enquanto apertava a orelha direita de Julius.
— Eu ajudei, senhor. Lamento. — afirmou Romeu, que estava com as mãos trêmulas e geladas.
— Que vergonha. Saia daqui. Deixe-me a sós com os meus filhos. — ordenou Celdo, finalmente, largando a orelha de Julius.
— Com licença. — Romeu saiu e não teve coragem de olhar para Julius. — Eu não fiz aquilo. Eu não fiz aquilo. — pensou o jovem descontando a raiva em um balde de água. — Maldição!
Duas horas de sermão. Celdo não conseguia entender a paixão de Julius por batalhas, mas o caçula da família Mazzaro continuava com a mesma opinião. Eles discutiram durante todo o trajeto para casa e a teimosia de Julius rendeu um bom castigo.
— Vá para o seu quarto e pense na bobagem que você fez. — Celdo estava preocupado com a possibilidade de Julius se ferir que seguia inflexível.
— Pai, eu não sou um garoto inútil. Eu quero pertencer a algo maior. Quero ser igual a você.
— Julius, eu não quero esse fardo para você. Vá para o seu quarto, por favor. Vou pedir para levarem o seu jantar. — pediu Celdo com um semblante cansado.
A fome não veio. O sono não apareceu. Julius não conseguia pensar em nada, apenas no beijo que deu em Romeu. A cena ficava passando em sua cabeça e seu coração acelerava do nada.
Perdidos em seus pensamentos, Julius nem reparou que Romeu batia em sua janela. Ao perceber a presença do amigo, ele se desequilibrou e caiu da cama. Sem jeito, Julius rastejou até a janela, levantou e deixou Romeu entrar.
Um de frente para o outro. As palavras não saiam por nada. Então, Romeu decidiu tomar a dianteira e tocou no rosto de Julius, que imediatamente fechou os olhos. Carinhoso, Romeu passou o dedão no machucado do amigo.
Naquela noite, Julius não conseguiu comer, dormir e nem conversou direito com a mãe. Ficou pensando no beijo que recebeu de Romeu. Para sua surpresa o amigo decidiu visitá-lo.
— O seu rosto está melhor. Fico feliz. — comentou Romeu, ainda tocando no rosto de Julius.
— Olha, eu preciso dormir e...
— Desculpe. — pediu Romeu, cortando a linha de raciocínio de Julius. — Quero me desculpar pelo beijo. Eu estava feliz por você. Eu não me segurei.
— Estou confuso com essa atitude... eu... — Julius sentiu o toque de Romeu, que continuava acariciando o seu rosto e fechou os olhos.
— Fui um tolo. Não deveria.
— Eu...
— Você gostou?
— Eu não sei... você gosta de meninos? — perguntou Julius, assustando Romeu que se afastou do amigo.
— Julius, não conte a ninguém, por favor. Eu preciso desse trabalho.
— Tudo bem. Por favor, saia daqui.
— Tudo bem. — concordou Romeu, que saiu da casa de Julius com o coração em pedaços.
O beijo apareceu até no sonho de Julius que acordou assustado com a possibilidade de estar apaixonado pelo melhor amigo. Na cabeça dele, aquele seria o fim da linha. Porém, como muitos sabem, infelizmente, não mandamos nos nossos sentimentos.
— Essa não. — Julius levantou da cama e foi em direção a janela. — Romeu, o que você fez?
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