FRAMON ANOS ATRÁS
Três pessoas fogem desesperadas em um labirinte de pedras. Eles são Malody, Celdo e o príncipe Nilo, todos adolescentes. O trio foge de Cen, uma ameaça para o reino de Framon e um feiticeiro mortal. Depois de muito andar, eles descem em uma espécie de tumba.
De repente, algumas caveiras aparecem e os atacam. Apesar do cheiro de carne podre, o trio lutou com bravura. Celdo e Nilo, usaram suas habilidades de luta, enquanto, Malody, tentava decifrar as palavras escritas na parede da tumba.
— Sit lux viam ostenderet nobis! — grita Malody falando em Latim e fazendo a tumba abrir.
Aos poucos, Celdo e Nilo, conseguiam destruir as caveiras. Para ajudar os amigos, Malody, usou seus poderes e as raízes das árvores que cercavam a tumba amarram os mortos-vivos. Não ouve tempo para comemoração, pois, uma forte explosão lança os três contra a parede.
— Seus malditos! Vocês vão me pagar! — gritou Cen que apareceu quando a poeira baixou.
— Vocês dois. — disse Malody com dificuldade de ficar em pé. — Fujam. Eu consigo lidar com ele.
— Não fale bobagem. — falou Celdo, limpando o sangue que escorria de sua boca e ficando na frente de Malody. — Essa luta é nossa.
FRAMON ATUALMENTE
Quem conhece a Lady Malody, nem imagina que ela enfrentou um feiticeiro de igual para igual. Dona de belos cachos loiros, uma pele branca como o primeiro floco de neve do inverno e olhos castanhos claros, a mãe de Julius, com certeza era referência para as mulheres da alta sociedade de Framon.
É muito difícil para uma mãe escolher um filho favorito, mas no fundo, Malody tratava Julius de uma forma especial, ainda mais devido à sua personalidade imperativa. Naquela tarde, durante o chá da tarde, os dois tomavam chá, porém, ela percebeu que o caçula estava perdido em seus pensamentos.
Quem olha para mãe de Julius, nem desconfia que ela enfrentou um feiticeiro maligno. Lady Malody era um exemplo de classe e tentava passar para os filhos tudo que havia aprendido com o passar dos anos. Sem dúvidas seu favorito era Julius. Durante o chá da tarde, Malody tentava manter uma conversa com o filho, mas ele viajava nos pensamentos.
— Meu filho, você está bem? — perguntou Malody, servindo chá em uma xícara azul.
— Estou ótimo. — respondeu Julius tendo um espasmo e derrubando sua xícara. — Desculpa.
— Julius, olhe para mim. — pediu Malody, sabendo que havia algo de errado com o filho caçula.
— Estou bem, mãe. Com licença. — levantando e indo em direção às escadas.
— O que deu nesse menino?
Beijo. Beijinho. Beijão. Tudo na cabeça de Julius lembrava o beijo em Romeu. Para espairecer, ele decidiu sair com suas melhores amigas, Clarissa e Cássia, duas vizinhas e confidentes do jovem.
Durante o passeio pelo Vale das Nuvens, Julius, esqueceu do beijo e de suas dúvidas internas. Em seguida, os três seguiram para o Centro de Framon visitar alguns alfaiates. Ele distraia as amigas com o seu principal talento: fazer imitações de pessoas conhecidas.
— Imita a dona Ivone, por favor. — pediu Clarissa, batendo palmas e arrumando o vestido, antes de sentar na cadeira da praça.
—Meninos. — falou Julius tossindo e mudando a voz. — Eu vou bater em vocês. — imitando Dona Ivone, a costureira mais famosa da cidade. — Eu vou bater em vocês! — gritando, levantando as mãos e esbarrando em um homem.
— Cuidado, garoto! — advertiu o homem com um tom de voz áspero.
— Perdão, senhor. — pediu Julius, dando pequenos tapas no ombro do homem.
— Por isso que as pessoas fazem comentários ao seu respeito. — reclamou o homem.
— Razão de quê? — perguntou Celdo surpreendendo todos.
— Nada.
— Razão de quê? — perguntou novamente Celdo, mas dessa vez, pegando no ombro do homem e apertando.
— Ele é diferente do seu outro filho, né? Esse é mais desastrado. Bem, eu preciso ir. Boa tarde, Sr. Mazzaro. — saindo apressado.
— Vocês estão bem? — Celdo direcionou a pergunta para os três.
— Sim. — eles responderam em uníssono.
Em casa, Julius parecia um fantasma, andando de um lado para o outro. À noite, ele não conseguiu pregar o olho e fazia de tudo para evitar Romeu, principalmente, em seus pensamentos. Até mesmo na missa, os dois, que sempre sentavam juntos, ficaram em lados opostos.
Após o sermão do Padre, algumas pessoas e o próprio Rei Nilo, governante de Framon, foram convidados para um café da manhã na casa dos Mazzaro. Pães com ervas finas, bolos de vários tipos, geleias produzidas a partir de pétalas de rosas e chá de canela. Todos se reuniram em torno da mesa para celebrarem as graças conquistadas pelo reino.
— Você tem sorte, Celdo. Os seus filhos são focados em suas atividades. Soube do que aconteceu com o Julius no Centro de Batalha.
— Sim. Esses meninos pensam que podem tudo.
— Eu seu que o jovem Romeu pode. — disse o Rei, quando Romeu passou ao seu lado. — Bartolomeu e ele são imbatíveis juntos. Queria que Mitty fosse parecido com eles, mas, infelizmente, o meu filho só dá dor de cabeça.
— Entendo, meu Rei. Entretanto, se você me permite mudar de assunto, ontem vi que mensageiros trouxeram novidades de Kinopla. — comentou Celdo, tomando uma taça de suco.
— Bem, eu não queria te dar essa notícia agora, porém, fontes fidedignas garantem que o Cen está vivo. — Rei Nilo garantiu fazendo uma expressão séria.
— Impossível. — a taça escorregou das mãos de Celdo, caiu no chão e chamou a atenção dos convidados. — Aquele desgraçado. Isso não pode estar acontecendo. — murmurou o pai de Julius.
— Acho melhor a gente averiguar essa história. — pediu o Rei Nilo, mantendo a discrição, apesar de estar preocupado.
A comida pode nos distrair de todos os problemas. No café da manhã, Julius, pegou o maior prato e encheu de guloseimas. Ele sentou distante de todos, queria aproveitar o momento para refletir. Só que Romeu não é de desistir e surpreendeu o amigo, que ficou assustado e quase derrubou os alimentos no chão.
— Desculpa. — Romeu tentou manter a seriedade, mas o lado desastrado de Julius sempre tirava um sorriso de sua boca.
— Isso não é engraçado. Deveria ter mais cuidado e prestar atenção no que as pessoas estão fazendo. E se fosse uma arma? — repreendeu Julius, olhando para os lados com medo de que alguém se aproximasse.
— Relaxa, Julius. Eu não vou fazer nada.
— Como posso relaxar? Depois do que fizemos ontem? Oh, céus. Se o meu pai descobrir ele vai nos matar, me matar. Isso é mal, muito mal. A gente não pode contar para ninguém. Se o Bartolomeu desconfiar, ele vai, ele vai cortar a tua cabeça fora. Oh, não. — Julius falou tão rápido que Romeu quase não entendeu nada.
— Então, isso é uma coisa boa. — afirmou Romeu, sentando ao lado de Julius e cruzando as pernas, com um ar de convencido no rosto.
— Isso é grave. É pecado.
— Não, isso. — Romeu coloca o dedo na boca de Julius. — Você preocupado comigo. Tá com medo que cortem a minha cabeça. Isso é algo bom. — Julius tentou falar algo, porém, foi impedido por Romeu.
— Me encontra hoje, por favor. Meia-noite no celeiro. — levantando e deixando Julius sozinho.
— Mas...
Longe dali, Cen, tramava a primeira investida contra Framon. Ele recuperou um esqueleto que havia jogado fora e iniciou um ritual de ressurreição. Klaudo observava tudo escondido, assustado, ele não entendia muito bem o que estava acontecendo, porém, não gostava.
— Ressurja das cinzas, volte para a terra. Você tem uma missão, meu amiguinho. — Cen jogou uma poeira vermelha dentro de um caldeirão.
O poder das trevas tomou conta da sala. Do nada, os ossos da caveira começaram a se juntar e ganhar "vida". Os olhos de Cen ficaram vermelhos e cintilavam em uma frequência constante. Aquele era o sinal que os seus poderes voltaram a ganhar força. O feiticeiro seguiu até a bola de cristal e viu a pacata rotina de Framon.
— Idiotas. Em breve vocês receberão notícias minhas. — rindo alto e olhando para a caveira.
À meia-noite em ponto, Julius, desceu pela janela de seu quarto. Por pouco, o filho de Celdo não se estabanou no chão, afinal, desastre e Julius são palavras que andam juntas. O vento frio soprou, então, o jovem apressou os passos para não congelar.
O celeiro estava escuro, apenas a luz do luar clareava o caminho. Receoso, Julius pensou em voltar, porém, criou coragem e abriu a porta principal. Além dos seus passos, que quebravam o feno no chão, a única coisa que ele escutava eram as batidas de seu coração.
— Ro...Romeu? — cochichou Julius, tendo dificuldade de enxergar no breu. — Tá um pouco escuro aqui né? — tropeçando, mas mantendo o equilíbrio. — Ai. Acho que você já... já pode aparecer.
— Oi. — disse Romeu aparecendo atrás de Julius, que no susto acabou dando um tapa no amigo. — Aí, essa doeu. — reclamou Romeu, pegando no rosto e rindo.
— Desculpa, mas você apareceu assim do nada. Foi um reflexo. Machucou? Tá feio? Na verdade, eu nem sei onde você tá direito — tateando no ar até encontrar Romeu. — Porque tá escuro e quando está assim a gente não consegue ver nada mesmo e.... — a voz de Julius e silenciada por um beijo.
Dessa vez, Romeu não teve pressa e caprichou na pegada. Ele segurou a cabeça de Julius com a mão direita e acariciava o seu rosto com a esquerda. Por um momento, o filho de Celdo ficou inerte, não reagiu e seguiu o fluxo da situação. O seu coração batia forte e seus pés começaram a tremer.
De repente, o peito de Julius foi inundado com uma vontade de ter mais de Romeu. Eles foram andando até que caíram no feno. Entre carícias e beijos, os dois começaram a se despir, mas no fundo, Julius ainda não estava preparado para ultrapassar qualquer tipo de linha.
— Não. — pediu Julius, tentando sair daquela situação.
— Porque não? — questionou Romeu, tentando tirar a camisa de Julius.
— Você tá me machucando. — avisou Julius, dessa vez, usando a força para que Romeu saísse de cima dele.
— Desculpa. — soltou Romeu, percebendo a burrada que estava fazendo e deitando ao lado de Julius.
— Isso tá muito rápido. Eu não sei o que eu quero. — garantiu Julius, nervoso e ofegante.
Confuso, Julius tentou sair do celeiro, porém, Romeu de um jeito carinhoso pediu para que ele ficasse mais um pouco. Eles ficaram deitados no feno, em completo silêncio, mais uma vez, o único som era de seus corações acelerados. Um espirro de Julius quebra todo o gelo existente entre os dois.
— Saúde. — disse Romeu, colocando a mão direita como apoio para sua cabeça.
— Obrigado. Romeu?
— Oi?
— Quando... quando... você...
— Não sei, desde sempre, mas até agora, só tive olhos para você. — garantiu Romeu, que conseguiu tirar uma confissão de Julius.
— O primeiro que eu gosto é você.
— Sempre gostei muito de você. — Romeu vira e acaricia o rosto de Julius. — Fico com ciúmes quando está dando atenção para outra pessoa.
— Sério? Romeu, estou com medo. — confessa Julius.
— Eu também.
Infelizmente, um forte estrondo atrapalha a conversa do casal. Eles saem correndo para fora do celeiro e veem um clarão vindo do Centro de Framon. Sem pensar duas vezes, Romeu pegou um cavalo e deu a mão para Julius subir.
Eles correram em disparada até o local da explosão. Muitas pessoas saíram desesperadas de suas casas, algumas foram pisoteadas. O cenário era de caos total. Romeu e Julius, levaram menos de 10 minutos para chegar ao Centro.
— Eu vou ajudar essas pessoas. Descubra o que está acontecendo. — Julius avisou, pulando do cavalo e auxiliando alguns moradores.
A praça de Framon estava destruída, destroço para todos os lados e a fumaça dificultava a visão. Romeu era um escudeiro experiente, mas congelou ao avistar um esqueleto trajando uma armadura diferenciada. Ele não acreditava em coisas sobrenaturais, entretanto, ali na sua frente estava um esqueleto portando armas.
A caveira não falou nada, apenas riu e deu várias investidas contra Romeu. Devido ao peso da armadura que cobria os ossos do esqueleto, Romeu teve dificuldade em encontrar um ponto fraco. Então, aos poucos, ele recuou para uma área cheia de escombros.
— É forte para quem está morto. — comentou Romeu, enquanto, desviava dos ataques da caveira.
Com um único ataque, o esqueleto jogou Romeu contra uma parede de pedras. Julius chegou no momento certo e ajudou o amigo a levantar. Ao ver o inimigo de perto, Julius, quase soltou um palavrão, só que precisou manter a concentração para não ser atingido pela caveira.
— Que diabos é isso? — Julius perguntou para Romeu, ainda confuso por causa do monstro.
— Sei tão pouco quanto você.
Não demorou muito e os cavaleiros reais chegaram para batalhar contra o esqueleto. Ao ver a quantidade de pessoas, a caveira triplicou de tamanho e com apenas um golpe conseguiu derrubar todos no chão. Alguns saldados caíram inconsciente, então, Romeu pensou em um plano de ação mais efetivo.
Os cavaleiros reais chegaram e cercaram o esqueleto. Ele ficou maior, crescendo a cada novo golpe, e dessa forma, assustou os cavalos. Alguns soldados caíram no chão inconsciente.
— Ei, magricela! — gritou Julius, chamando a atenção da caveira. — Você mesmo. — dando língua para o monstro. — Que dieta é esse? Tem uma amiga que ficaria louca com algumas dicas sua.
A caveira andou em direção a Julius e desferiu vários golpes com sua espada. A lamina chegou perto do filho de Celdo, porém, ele sempre dava um jeito de desviar, usou até mesmo frutas que estavam em uma feira.
Já Romeu aproveitou a distração do monstro e pegou um arco e algumas flechas que estavam jogadas no chão.
— Para alguém em estado de decomposição você é bem fortinha. — acertando o elmo da caveira com a espada.
— Eu falei quase a mesma coisa, que sintonia. — disse Romeu, aparecendo de surpresa ao lado de Julius, que soltou um riso abafado.
O Rei Nilo viu a cena horrorizado, um flash de lembranças ruins apareceram em sua mente. Ele lembrou da adolescência, quando precisou enfrentar o exercício de Cen. Apesar de temeroso, o Rei de Framon orientou seus cavaleiros da melhor forma possível.
— Senhor. O que está havendo? — perguntou Celdo, chegando ofegante e usando um pijama.
— Seu filho. Está mostrando ser um grande guerreiro. — comentou Rei Nilo, apontando para a Praça de Framon.
— O Bartolomeu?
— O Julius. — garantiu Rei Nilo, prestando atenção nos jovens que lutavam contra o monstro.
— Esse menino é....
— Espere. — pediu Rei Nilo, segurando no ombro de Celdo, que ficou desesperado ao ver o caçula lutando contra um monstro.
O Parque de Framon virou um caos, pessoas feridas e saldados desmaiados, então, Bartolomeu encontrou Romeu e Julius para batalharem juntos. De forma rápida, os dois passaram o plano para Bartolomeu que aprovou.
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