A pacata vida dos moradores de Framon estava perto de ser transformada. Enquanto, os homens trabalhavam, as mulheres ficavam em casa cuidado dos filhos, os jovens iam estudar e outros tramavam o mal.
Após a derrota da última semana, Cen, preparava um novo monstro para atacar a cidade. Dessa vez, ele decidiu preparar uma aberração de areia. A ideia era criar um inimigo à prova de armas.
O castelo do feiticeiro tinha um ar soturno e o clima estava sempre abaixo de zero. Quem sofria era Klaudo, pois, fazia todo o trabalho doméstico para Cen. O monstrinho acompanhou de perto a criação da nova aberração de seu mestre.
— Quero ver quem vai te destruir. Uma vez que não pode ser machucado. — falou Cen, enquanto organizava os materiais que utilizaria para criar o monstro.
— Muito bom mestre. — disse Klaudo, varrendo o salão de uma maneira desastrada.
— Para suas atividades e pegue mais areia. — ordenou Cen, fazendo Klaudo gritar de medo.
— Pode deixar. — respondeu Klaudo, quase chorando e deixando a vassoura no chão.
O retorno de Cen trouxe uma instabilidade para a casa de Celdo Mazzaro. Ele e a esposa tiveram uma discussão calorosa. Ela organizava um evento beneficente para o orfanato local e ele, por outro lado, queria ter uma conversa que lhe traria muita dor.
— Ele voltou e tenho certeza que está planejando alguma coisa. — garantiu Celdo com as mãos trêmulas e demonstrando toda ansiedade existente dentro dele.
— Se as pessoas souberem sobre mim. Celdo, perdi tanto por causa do nosso amor. — Malody entendeu o nervosismo do marido, porém, lutava contra os próprios medos.
— O rei deu a permissão. Você pode ficar tranquila. — disse Celdo pegando na mão de Malody. — Eu nunca deixaria ninguém fazer nada contra você.
— Celdo. — Malody segurou firme na mão do esposo e respirou fundo. — Podemos deixar para depois do evento? Os meninos já estão se arrumando e as carruagens estão prontas.
— Pense com carinho, por favor, o futuro de Framon depende de você. — beijando a mão da esposa e saindo do quarto.
— A minha vida também. — olhando o próprio reflexo no espelho. — A minha vida também.
Existem pessoas que adoram eventos da alta sociedade, mas esse não é o caso do Bartolomeu e Julius. Eles detestavam as vestimentas para os bailes que a mãe planejava. Os irmãos enrolavam o máximo no quarto, entretanto, Malody apareceu para os apressar.
Por outro lado, a Catherine estava animada e apaixonada pelo vestido novo. Ela usava um vestido rosa com babados brancos, desejado por todas as garotas da aristocracia. No pescoço, a filha de Celdo ostentava um colar de safira e, também, pulseiras de pérolas. Ela se sentia uma verdadeira princesa.
Descendo as escadas da mansão, Bartolomeu e Julius, procuravam arquitetar um plano para escapar do baile. Gripe? Não. Eles usaram essa desculpa no Festival da Canção. Diarreia? Também não, desculpa usada no baile de Halloween. Infelizmente, não havia um motivo disponível no momento.
Na carruagem, a família conversava sobre a importância da doação. Até que um cheiro peculiar chamou a atenção de todos. Catarine, havia feito o próprio perfume, porém, a flagrância não agradou muito.
Desesperado, Celdo, abriu todas as janelas da carruagem, apesar do frio, ele preferia não passar mal. De repente, a conversa agradável se tornou uma discussão sobre o aroma de Catherine.
— Que cheiro é esse? — perguntou Julius, desesperado e colocando as mãos no rosto.
— O perfume que fiz. É baseado no Le Cruise, a última tendência. — afirmou Catherine, cheirando o pulso e não sentindo nada diferente.
— Minha filha. — soltou Celdo enjoado. — Acho que você exagerou.
— Tenho medo até de sentir o cheiro da primeira. — comentou Bartolomeu que riu ao olhar para o pai que passava mal.
— Ao contrário de vocês peões, as damas precisam estar sempre belas. E como papai não abriu o bolso, eu pesquisei e fiz minha própria colônia. — Catherine se defendeu dos ataques e não escondeu o aborrecimento.
— Essa produção toda é para o Mitty? — perguntou Bartolomeu piscando para a irmã e soltando um sorriso irônico.
— Não fale bobagens. — repreendeu Catherine, ficando calada por um tempo, mas lembrando de um antigo caso do irmão. — Sabe quem foi convidada? A Lily.
— Aí! — gritou Julius pegando no peito e rindo. — Essa foi no coração.
— Não, não tenho nada com essa menina. — desconversou Bartolomeu cruzando as pernas e os braços.
— E nem pode. Ela está de compromisso marcado com o filho mais velho do Sr. Wellderman. — continuou Catherine mexendo com os sentimentos de Bartolomeu.
— Vocês dois. Chega. Não vamos estragar o dia da mamãe. — pediu Julius, ao perceber que a mãe não estava bem.
Apaziguador. Essa era a função de Julius dentro de sua família, apesar de ser o irmão mais novo, ele sempre precisou apaziguar os ânimos de seus irmãos. Após a discussão por um motivo fútil, Bartolomeu e Catarine, selam a paz com um aperto de mão.
A sociedade de Framon preparava os melhores eventos. Enquanto, as carruagens chegavam em grande número na entrada do castelo, o Rei Nilo preparava o seu discurso encorajador. O monarca adorava falar sobre união, amizade e negócios.
Na entrada, Romeu tentou puxar assunto com Julius, mas acabou levando não como resposta. Afinal, Julius não conversava com o melhor amigo há dias. O clima entre os dois não poderia ser mais estranho. Por algum motivo, o Romeu não gostava do sentimento de perda.
— Escuta. Naquele dia no celeiro, eu fui um idiota. Eu não quero passar a impressão errada e...
— Chega, Romeu!!! — pediu Julius de forma ríspida, abrindo os braços e acertando uma mulher. – Me desculpe. Perdão.
— Tudo bem. — disse a mulher arrumando o vestido e seguindo seu caminho.
As falhas de Julius enchiam os olhos de Romeu. Ele não conseguiu segurar o riso. Já para Julius, o sorriso de Romeu podia iluminar todo um planeta. O filho caçula de Celdo não queria admitir, mas os seus sentimentos pelo melhor amigo só cresciam. E isso, de forma errada, poderia render situações ruins.
Conversas. Sorrisos. Comida. Bebida. Música. Esses eram os pontos fortes de uma festa em Framon. Naquela noite, o Rei Nilo não economizou, pois queria mostrar que apesar dos recentes ataques o reino continuava próspero.
No meio da multidão, Catherine parecia impaciente. Ela andava de um lado para o outro, mostrando a destreza de usar um vestido de cinco quilos com salto alto. Na verdade, Catherine procurava por vestígios do Príncipe Mitty.
Como o velho ditado diz: "Quem procura acha". A irmã de Bartolomeu encontrou o herdeiro do trono no centro de uma roda de moças solteiras. De uma forma melancólica, Catherine respirou fundo e deu meia volta, entretanto, foi impedida por Bartolomeu.
Os dois foram até uma enorme mesa de vidro onde estavam servindo bolinhos de siri. Mesmo procurando esconder, Catherine não conseguiu enganar o irmão.
Catherine parecia impaciente. Andava de um lado para o outro. Procurava por vestígios do Príncipe Mitty. Ela o encontro numa roda de mulheres e por alguns segundos ficou triste.
— Vamos, Cat. Você é a mais bonita que todas elas juntas. — falou Bartolomeu enchendo a boca de salgadinhos.
— Eu vou lá. — respirando fundo e andando em direção ao príncipe Mitty.
O evento foi um sucesso. Todos se divertiam e conversavam sobre assuntos aleatórios. De repente, Cen, envolvo à uma nuvem de fumaça, apareceu na torre do castelo. O feiticeiro ergueu os braços e uma forte ventania tomou conta das ruas da cidade.
Nesse momento, Julius, conseguiu fugir de Romeu e ajudou a mãe na tradução de uma conversa com os barões de Anistir, um reino distante de Framon. Romeu observa o amado em busca de forças para sair, quando olha para a esquerda percebe uma pedra gigante na direção de Julius.
Com uma velocidade impressionante, Romeu conseguiu tirar Julius do caminho da pedra. Os dois 'bolam' juntos pelo salão. O colar que o jovem recebeu de Cen sai de seu traje e toca Julius. Os convidados começam a correr, enquanto, os soldados investigam a origem da pedra que estragou o porcelanato do castelo.
— Você está bem? — pergunta Romeu, tocando no rosto de Julius e sorrindo.
— Você me salvou. — respondeu Julius, ainda em choque e com as mãos trêmulas.
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