Malody acordou sonolenta, estava zonza, e demorou um pouco para recobrar os sentidos completamente. Com ajuda de Celdo e Rei Nilo, a mãe de Julius levantou e tomou água. Ela não lembrava de ter sido possuída por Cen, nem do que aconteceu na última hora.
De acordo com a mãe de Julius, o feiticeiro Cen acessou a fonte dos seus poderes de feiticeira branca. Afinal, ele estava reunindo uma concentração tremenda de energia.
— Espero que os nossos jovens estejam vindo. Que Deus nos ajude. — lamentou o Rei Nilo, se afastando e olhando para a lua, através das grades da janela.
Naquela manhã, Romeu estava sonolento. Durante uma reunião para definir o trajeto para Kinopla, o jovem se assustou com a aproximação de Julius. O filho de Celdo aproximou-se e beijou Romeu na frente de todos, que não se reagiram.
— Oh, Romeu. Acho que estou pronto. — disse Julius sentando no colo de Romeu, que tremeu na base.
— Está? Agora? Aqui?
— Sim. — Julius respondeu, tirando o colete de couro marrom e a camiseta. — É assim que você gosta?
— Sim... sim... Vou explodir. — comentou Romeu, no ápice do prazer.
— Devemos pegar aquele monstro desgraçado e dar uma lição nele! — soltou Julius, mudando de expressão para a surpresa de Romeu.
— O quê?! — Romeu questionou falando alto e abrindo os olhos assustado.
— Romeu. Acorda. — estralando os dedos Julius chamou a atenção do amado.
Em uma guerra, a melhor arma é o fator surpresa. Bartolomeu reuniu os amigos para debater a viagem para Kinopla e a rotina de treinamento para evitar os ataques de Cen.
Ele usou pequenos bonecos de seus amigos que foram feitos por Catherine. A ideia era usar Mitty e Clarissa como distração, já Catherine na defesa. Enquanto, o próprio Bartolomeu, Romeu e Julius no ataque.
Depois, o assunto da conversa foi a origem de Cen. Eles queriam conhecer a história do feiticeiro para descobrir suas fraquezas. A ideia acabou sendo chamar a mãe natureza para conseguir mais respostas.
Um dos líderes da comunidade, o seu Virgílio, informou que os ataques dos monstros foram recentes. Então, os jovens ficaram preocupados com as futuras investidas do feiticeiro.
— Existem outras comunidades até a montanha de Kinopla? — perguntou Julius, querendo conhecer mais sobre a geografia local.
— Umas três. Espero que estejam todos bem. — disse o seu Virgílio, tirando o chapéu e torcendo para que os outros moradores ficassem em segurança.
Cen não aparentava, mas começou a ficar preocupado com a força de seus inimigos. Ele criou um outro monstro para lhe fazer companhia.
O feiticeiro pegou uma flor, restos mortais de um lobo e lágrimas de fada, além do poder de Melody. Com os ingredientes em mãos, ele os colocou em um caldeirão e entrou em transe.
— Levanta-se! Levante-se, Lin! A minha nova guerreira. — gritou Cen rindo e batendo palmas.
De dentro do caldeirão, saiu uma mulher vestida com roupas de couro. Nas costas, um par de asas desabrochou. Ainda confusa, a nova criação de Cen se ajoelhou e chamou o feiticeiro de mestre das trevas.
— Lin, a minha nova criação. Seja bem-vinda. — disse o feiticeiro.
— Em que posso ajudá-lo, mestre das trevas. — perguntou Lin, que continuava ajoelhada em sinal de respeito ao seu criador.
— Em que posso te ajudar? — perguntou
Através de uma janela, Klaudo assistia a cena com uma melancolia no olhar. O monstrengo verde não gostou de ser trocado por outra criatura mais poderosa.
Em Framon, um famoso ditado popular dizia: "O vento pode contar histórias". Na masmorra, Melody sentiu uma brisa. Emocionada, a mulher de Celdo começou a chorar.
— Você está bem? — perguntou Celdo, se aproximando da esposa.
— Estou ótima. A minha mãe mandou uma mensagem. Ela está conversando com o Julius. — contou Melody, esperançosa, pois os filhos continuavam vivos.
— Julius, meu filho? O que ela está falando? — quis saber Celdo, pegando no ombro da esposa.
— Espere. — pediu Melody, buscando captar a mensagem que o vento carregava.
Enquanto isso, na vila. A equipe tirou mais algumas dúvidas com a Mãe Natureza, que se fez presente na forma de uma flor vermelha. Ela contou que Melody conseguia ouvir a conversa.
— Mãe... mãe... espero que estejam bem. Olha, aconteceu algo muito maluco. — Julius disse, procurando as melhores palavras para narrar a descoberta do universo mágico. — Maluco mesmo. Nós conhecemos a sua mãe, ou seja, nossa avó. E ela nos deu poderes para enfrentar Cen. Mãe, quero pedir desculpa se eu fiz, ou disse, algo errado, e lembrar também que a amo e o papai, também. A gente vai conseguir tirar vocês daí. Prometo. — fazendo uma pausa, respirando fundo e olhando para a mãe natureza. — Já.
Aos prantos, Melody recebia a mensagem do filho e torcia para que tudo desse certo, uma vez que o Cen representava um perigo real e traiçoeiro.
— Ele pediu desculpa se fez algo errado para nós. — Melody contou para Celdo, que se arrependeu de todas as palavras de ódio que proferiu contra o filho.
— Fui um tolo, Melody. Um tolo. — Celdo se aproximou da janela e olhou para cima. — Deus. Faça eles vencerem. Por favor. Eu preciso abraçar meus filhos, todos eles!
Mãe Natureza conversou bastante tempo com Julius e os outros. Ela lhe entregou uma carta contando toda a história de Cen.
— Bem, quem vai ler? Catherine, Pode ser? — sugeriu Bartolomeu, curioso para conhecer mais sobre o inimigo.
— Claro. — pegando a carta e tossindo para limpar a garganta.
"Essa é uma história que iniciou em um momento de mudança para Framon. Em uma pequena aldeia viviam várias pessoas de uma mesma família. Klino, o pai, Noely, a mãe e seus nove filhos. O mais novo era Cen. Ele era um jovem alegre e bastante brincalhão.
Porém, escondia um segredo. Dentre todas as garotas da ilha, ele se apaixonou por outro homem. Cen fazia de tudo para se aproximar dele. Utilizou até mesmo seus amigos próximos para ter contato com seu amor. O problema era que a paixão não era correspondida. E isso, lhe trouxe dor e desespero"
FRAMON - ANOS ATRÁS
Antes de Nilo assumir o trono de Framon, o mundo vivia um momento delicado. As criaturas mágicas, que antes andavam lado a lado com os humanos, começaram a se rebelar. Muitas pessoas morreram e, nesse processo, Celdo acabou gravemente ferido. Ele só não morreu por causa de Melody, uma ninfa que se tornaria uma feiticeira branca.
Uma parceria entre um humano e uma ninfa? Isso nunca poderia acontecer. Mesmo, indo contra as regras, Melody usou seus poderes e curou Celdo. A ferida em seu tórax sumiu e não ficou nem a marca para contar a história.
— Não se preocupe, não vou contar a ninguém, mas será que eu posso te ver novamente? — perguntou Celdo, segurando a mão de Melody.
— É perigoso demais. — Melody tentou sair, porém, Celdo segurou em sua mão.
— Por favor, eu te imploro. Venha ao meu encontro.
— Tudo bem. Vamos nos encontrar perto da cachoeira, amanhã de tarde. — pediu Melody, correndo em direção à floresta.
Sim, Celdo se apaixonou por uma criatura mágica, mas ele sabia que aquilo poderia ser um problema. Depois de muito caminhar, Celdo, chegou na pequena vila de Tsunai. Ali funcionava um quartel general improvisado.
Dentre os muitos amigos e companheiros de Celdo, um lhe tratava de forma diferente. O seu nome era Cen, um jovem delicado que trabalhava no estábulo. Ele fazia de tudo para se aproximar de Celdo, inclusive, se alistou no exército de Framon, porém, não conseguiu entrar para a linha de frente.
Apesar da vida triste, Cen, esforçava-se para ganhar destaque dentre das suas funções. Afinal, a presença de Celdo nos estábulos era limitada, já que o guerreiro vivia no Centro de Treinamento, aprimorando suas habilidades de batalha.
— Você já vai treinar? — Cen perguntou para Celdo que entregou o seu cavalo no estábulo.
— Sim, jovem Cen. O Nilo me aguarda.
— Por favor, tome cuidado, Celdo. Te vejo mais tarde? — Cen questionou, enquanto prendia o cavalo na baía.
— Claro. — soltou Celdo, estranhando a pergunta, mas sendo educado com Cen e saindo para o Centro de Treinamento.
Antes de se tornar Rei, Nilo, sofria, pois, ia contra às ideias de seu pai, o Rei Thales. O jovem não entendia o ódio que os humanos sentiam dos seres mágicos, entretanto, por causa de seu papel dentro da monarquia, não podia expressar seus sentimentos.
A sua amizade com Celdo foi se fortalecendo com o tempo. Eles treinavam juntos todos os dias. Inclusive, a batalha entre os dois se tornava motivo de aposta, pois a dupla tinha uma sincronia impressionante.
Além de grandes guerreiros, os dois eram confidentes um do outro. Naquela tarde, Celdo contou para o melhor amigo sobre o encontro que teria com a ninfa, Melody.
— E se ela tentar alguma coisa? — perguntou Nilo, afiando sua espada com uma pedra.
— Ela é linda! — exclamou Celdo, fazendo um passo de dança estranho e arrancando uma risada de Nilo. — Ela cuidou tão bem de mim.
— Vou te dar cobertura, mas tome cuidado. Sabe que eu simpatizo com as criaturas mágicas, mas os reis de todos os reinos estão massacrando eles.
— Quando você for rei. — pegando no ombro de Nilo e apertando forte. — Vai mudar tudo isso. E vou poder me casar com Melody.
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