Frio, tédio, nenhum ataque ou informação. O grupo de novos heróis seguia até Kinopla, entretanto, até o momento, não havia plano ou estratégia. Apenas chegar e resgatar os pais.
Entre uma parada e outra, a Clarissa, que tentava controlar os seus poderes, treinava. Ela conseguiu levitar por um tempo, mas caia.
Na opinião de Bartolomeu, os melhores poderes ficaram com as meninas. Afinal, quem não queria controlar a magia ou voar pelo céu.
— Prefiro ter força. Viu como a gente deu uma surra naquelas caveiras?! — afirmou Julius, abrindo os braços e batendo em Romeu. — Desculpa.
— A gente se acostuma. — soltou Romeu, fazendo os amigos rirem.
— Precisava ver nas nossas férias, Romeu. — disse Bartolomeu, lembrando várias histórias embaraçosas de Julius. — Ele era um acidente ambulante.
— Bartolomeu! — exclamou Catherine tendo um acesso de riso. — Nossa, lembra do tio Eron?
— O que o Julius fez de tão terrível? — questionou Clarissa curiosa para saber da história.
— Foi culpa dele. Ok. — defendeu-se Julius, que cruzou os braços e cuspiu no chão.
— O que ele fez?! — foi a vez de Romeu perguntar a peripécia do amado.
— O tio Eron chegou com uma bandeja de champanhe para nos receber, maldito aristocrata. Então, o Julius, meu irmãozinho, o derrubou. Titio caiu da escada e, desde esse dia, a gente é proibido de ir lá. — contou Bartolomeu, que parou para rir várias vezes.
— Só porque o Julius derrubou ele? — perguntou Romeu que não viu motivo para tal proibição.
— Nada. O titio tinha uma coleção de vasos de vários lugares do mundo, peças únicas. — explicou Catherine. — O Julius tentou o levantar e escorregou.
— Ele derrubou a coleção inteira. Eram 700 peças. "Seu endiabrado", gritou o titio. — Bartolomeu fez uma péssima imitação do tio e todos começaram a rir, quer dizer, menos o príncipe Mitty.
— Querem parar de rir! — gritou o príncipe ficando em pé e andando em direção às tendas.
— Calma, realeza. — interveio Bartolomeu que seguiu o príncipe.
Julius olhou para Romeu. Apenas através dos olhos, eles conversaram e decidiram não ir com o Bartolomeu. Afinal, a situação já estava complicada demais e arrumar confusão com o príncipe de Framon não ajudaria em nada.
Por causa do comportamento de Mitty, os jovens levantaram acampamento e seguiram pela floresta à dentro. O terreno ficava íngreme, só que graças aos poderes, ninguém ficava cansado.
A caminhada continuou até que o grupo encontrou mais um vilarejo. Dessa vez, tudo aparentava estar normal. O povo recebeu os jovens bem, até ofereceram um local para eles dormirem.
A casa em questão estava localizada no Centro do vilarejo. Era de dois pisos e possuía sete quartos. Ao entrarem, eles ficaram maravilhados com uma mesa farta.
Para começar, eles tomaram um delicioso caldo de frutos do mar, em seguida, comeram uma carne de cordeiro assada. Foi a melhor refeição dos últimos dias, eles até repetiram.
Após o jantar, Gerfo, o responsável pela vila, fez um pequeno tour pela casa e mostrou os aposentos. A decoração do local tocou o coração de Julius, porque lhe lembrou o próprio lar.
— Gerfo, meu amigo, mais uma vez quero agradecer a hospitalidade. — afirmou Bartolomeu pegando no ombro do homem.
— Claro, olha precisando de qualquer coisa, vocês podem chamar. Vou trancar a porta, pois, de madrugada essa vila fica um gelo. — Gerfo explicou, se despedindo dos jovens e trancando a porta da casa. — Aproveitem à noite. — soltando um riso malicioso.
A aparência de Mitty passou a preocupar Bartolomeu. Em menos de três dias, a fisionomia saudável do príncipe de Framon estava definhando. Eles tiveram uma longa conversa e Mitty assegurou que tudo estava sob controle.
Todos se acomodaram em seus aposentos. Quer dizer, Romeu fugiu do seu para dormir com Julius. Nas pontas dos pés, o guerreiro apaixonado dirigiu-se para o quarto de seu amado.
O que os jovens não sabiam é que a casa fazia parte de um plano de Cen, uma verdadeira armadilha. Sem perceber, Romeu, passou por uma fumaça verde, que como se estivesse viva, entrava no quarto de cada um.
O sono de Clarissa foi atrapalhado por causa de um ruído que vinha da parede. Ela levantou da cama e aproximou-se para ouvir melhor.
O barulho ia ficando mais alto. De repente, várias aranhas foram saindo das paredes e assustaram a garota que tentou sair do quarto, mas não conseguiu, porque a porta estava trancada.
Aos gritos, Clarissa, lembrou dos seus poderes e levitou para evitar contato com as aranhas venenosas.
No corredor da casa, o silêncio era absoluto. Tanto que Bartolomeu dormia tranquilamente, ou melhor dizendo, igual a uma pedra. Só que uma grande explosão o acordou.
Sonolento, Bartolomeu ficou em pé e pegou a espada. Ele percebeu que um incêndio começou na casa.
— Isso é fogo!!! Fogo!!!! — exclamou Bartolomeu indo em direção da porta, porém, queimando-se ao tocar na maçaneta. — Deus. Socorro. Julius, Catherine, a casa está pegando fogo!!!! Abram. — tossindo devido à fumaça.
A jovem Catherine Mazzaro escondia um segredo: a paixão pelo príncipe Mitty. Naquela noite, sonhou com o amado. Só que sentiu alguém fazendo cócegas em seus pés.
— O que é isso? — Catherine perguntou, puxando a coberta e acendendo a vela com um estalar de dedos.
— Calma, Cathy. — Mitty falou em pé na frente da amiga.
— Mitty. O que você está fazendo aqui? Não estou em trajes decentes. — repreendeu Catherine se cobrindo com os lençóis.
— Cathy. Eu confio em você. Estou apaixonado pelo Julius. — soltou Mitty sorrindo de forma bizarra e se aproximando dela.
— Mitty. O que significa isso?! — Catherine ficou em pé e conjurou um feitiço de proteção que viu no livro.
A feição de Mitty começou a mudar. De humano para réptil. O príncipe se transformou em um grande lagarto. Desesperada, Catherine lançou bolas de energia na direção do inimigo, mas nenhuma fazia efeito no couro do réptil.
Do outro lado do corredor, o príncipe, de verdade, não conseguia dormir. Ele começou a ouvir vozes. Aparentemente, o veneno de Cen estava fazendo efeito, ou seja, no pior momento possível.
Assustado, o príncipe de Framon levantou e decidiu descer para pegar ar fresco. Ao chegar na porta principal a surpresa, toda a casa estava trancada, inclusive, as janelas.
— Mas, que inferno! — esbravejou Mitty. — Quem colocou madeira nas janelas?
Sem outra opção, o príncipe bateu à porta do quarto de Bartolomeu e não obteve resposta. Ele fez o mesmo nos quartos de Clarissa e Catherine, e mais negativas.
Enquanto isso, Romeu e Julius conversavam sobre vários assuntos e aproveitavam para namorar mais. Até que ouviram Mitty bater à porta.
— Se esconde. Debaixo da cama. — Julius pediu para Romeu, levantando e arrumando os cabelos.
— Tudo bem. — silenciosamente, Romeu, rolou para baixo da cama de Julius e tomou cuidado para não fazer nenhum barulho.
— Oi? — Julius abriu a porta e ficou surpreso com Mitty. — Oi, príncipe.
— Aproveita. Mata ele! — ordenou a voz na cabeça de Mitty, que se controlou para não atacar Julius.
— Mitty?
— Tem, Tem algo de errado. A casa está toda trancada e ninguém abre a porta dos quartos.
Julius correu e bateu à porta de Bartolomeu. Ele forçou, porém, não conseguiu quebrá-la. Ao ver a demora do parceiro, Romeu, saiu debaixo da cama e seguiu para o corredor.
— O que houve? — perguntou Romeu saindo do quarto de Julius e Mitty desviou o olhar.
— Mata eles, Mitty. Aproveita. Você não quer essa raça dominando o mundo. — mais uma vez, a voz falou com Mitty que suava frio para não atacar o casal.
— Aconteceu alguma coisa. A casa está toda trancada. Ninguém responde. Tentei quebrar a porta e não consegui. Meus poderes não funcionam. — Julius explicou e Romeu percebeu a urgência na voz do amado.
— Cala a boca!!!! — gritou Mitty prostrando-se e colocando as mãos nos ouvidos.
— Mitty? — perguntou Julius assustado, mas mantendo uma distância do príncipe.
— Tem alguma coisa de errado com essa casa. — afirmou Mitty com um olhar paranoico.
Eles correram para a sala. De fato, todas as paredes e portas estavam trancadas. Romeu tentou espiar através das tábuas, porém, a escuridão dificultava sua visão. Com as mãos, ele puxou uma tábua, só que seus poderes não funcionavam.
Pensando em um plano, o trio voltou para o corredor dos quartos e, pela primeira vez, trabalhando como equipe, forçaram a porta do quarto de Bartolomeu. Eles encontraram o irmão de Julius dormindo profundamente na cama, mas, não conseguiram acordá-lo.
O processo foi repetido nos quartos de Catherine e Clarissa. Na mesma situação, ninguém acordava. O fato que assustou os jovens foi a feição de sofrimento dos amigos.
— Deve ser algum tipo de feitiço. — soltou Julius, sem ter noção do que de fato estava acontecendo.
— Precisamos encontrar um jeito de sair dessa casa. — sugeriu Romeu, olhando em volta e buscando uma rota de fuga.
— Mate-os! Mate-os! — ordenou a voz para o desespero de Mitty.
O único lugar sem tábuas era a chaminé. Só que nem o príncipe ou Romeu passavam pela pequena entrada.
— Julius é perigoso.
— Precisamos investigar os moradores da vila. — tirando a armadura e ficando apenas com ceroulas. — Vou levar. Pode ser útil.
— Mitty. — Romeu chamou a atenção do príncipe que estava mais estranho que o normal. — Vai dar uma olhada no pessoal, por favor...
— Não precisa me dar ordens, maricas. — Mitty subiu as escadas, porém, as vozes os chamavam de covardes.
— É arriscado. Não vai. — pediu Romeu acariciando o rosto de Julius.
— Tem alguma coisa de errado com esse lugar. Precisamos descobrir. — em uma atitude apressada, os dois acabaram se beijando.
— Ok. Por favor. — pediu Romeu, aproximando a sua cabeça da de Julius. — Por favor, cuidado.
— Estou pronto. — Julius suspirou fundo e olhou para a chaminé. — Cadê os limpadores de chaminé quando precisamos deles?
Como o previsto, Julius não teve dificuldades para sair pela chaminé, apesar de ficar todo sujo com a fuligem, não se machucou. Silenciosamente, ele começou a investigar o vilarejo. Porém, tudo estava vazio, desde as casas até o centro comercial.
Ele ouviu um ruído vindo de uma grande construção e decidiu averiguar. O filho de Celdo encontrou várias pessoas dormindo no porão do local.
— Gostou do meu trabalho? — perguntou um monstro com aparência de coelho. — Me chamo Morfeus, sou o seu pior pesadelo.
— Mais uma criatura horrenda de Cen. — observou Julis, empunhando a sua espada.
O monstro pediu para que Julius tivesse cuidado e mostrou os seus irmãos e Clarissa lidando com seus piores pesadelos. Clarissa, chorava com medo das aranhas que formaram uma espécie de escada para alcançá-la. Já Bartolomeu estava desmaiado no chão por causa da fumaça do incêndio. Enquanto, a Catherine fugia dos ataques de um réptil.
— Se algo acontecer comigo. Os teus amiguinhos ficarão presos nesse sonho para todo o sempre!!! — ameaçou Morfeus, sumindo e deixando Julius desesperado.
— Droga. Deve haver um jeito. — pensou Julius, ainda assustado com o ataque do monstro.
— Você pode derrotá-lo. — afirmou Klaudo aparecendo das sombras e assustando Julius.
— Fique longe! Quem, quem é você?!
— Sou Klaudo. Me escute. Temos pouco tempo. Existe uma maneira de quebrar os sonhos de Morfeus. Precisa pegar o colar que está no pescoço dele. Ele prende as pessoas lá. — Klaudo orientou Julius e sumiu.
— Espere!! — pediu Julius, querendo saber mais informações. — Ok, roubar o colar. Entendi.
Quando Julius saiu da casa tomou o quinto susto da noite. Várias caveiras estavam à sua espera. Sem opção, o filho mais novo de Celdo lutou contra os monstros. Um a um, eles iam aparecendo. A espada do jovem parecia mais afiada que nunca.
Depois de derrotar as caveiras, Julius correu e conseguiu abrir a porta da casa onde estavam seus amigos. Ele contou a novidade para Romeu e Mitty.
— Eu vou matar esse monstro! — esbravejou Mitty tentando sair de casa, mas sendo impedido por Romeu.
— Escuta só. — apertando o braço do príncipe. — Sabemos que você tem um problema com a nossa relação, mas o que está em jogo aqui é a vida dos nossos amigos. Pessoas que todos amamos. — empurrando Mitty na direção da cadeira, que não teve outra opção a não ser sentar.
Nas montanhas distantes de Kinopla, os pais dos jovens ficavam desesperados a cada segundo. Ele temia pela vida dos filhos e da população de Framon.
No castelo de Cen, Celdo ficava mais desesperado a cada segundo. Ele temia pela vida dos filhos e da população de Framon. Na cabeça do marido de Melody, a culpa de Cen ganhar os poderes era dele, uma vez, que a denúncia de sodomia partiu dele.
— O motivo não é esse. — garantiu Nilo pegando no ombro de Celdo. — Antes de toda confusão acontecer, o Cen já era mal, apenas não sabia.
— Tenho medo que isso possa acontecer com o Julius.
— O seu filho pode ser muita coisa. Menos uma pessoa de coração ruim. Ele sempre está disposto a ajudar. — disse o Rei fazendo Celdo chorar copiosamente.
— Que papinho chato. — soltou Cen que escutava toda a conversa. — E saiba que eu não me interesso mais por você. — fazendo Celdo levitar e ser lançado várias vezes contra a parede da masmorra. — Eu vou possuir o seu filho. E não poderá fazer nada.
— Você está machucando ele! — gritou Melody, tentando usar seus poderes em vão.
— O sofrimento de vocês está apenas começando. — avisou Cen, mostrando o sofrimento de Bartolomeu, Catherine e Clarissa, através de uma bola de cristal.
— Cadê, o Julius? — perguntou Celdo, ofegante e com machucados pelo corpo.
— Essa é a melhor parte. — Cen falou dando uma risada tenebrosa. — Vai morrer. Envenenei o filho do Rei Nilo. Ele mesmo fará o trabalho para mim.
— Mitty nunca seria capaz de tal atrocidade. Seu monstro!!! — Rei Nilo gritou segurando nas barras da prisão.
— Verdade. Ele vai matar os outros, mas, trazer o Julius para mim. Nesse momento, querido Celdo, você vai saber o que é sofrimento. — levantando Celdo e o jogando uma última vez contra a parede.
— Para com isso. Me mate. Acabe com a minha vida. — Celdo rastejou na direção de Cen e pediu que Julius fosse poupado.
— Mas, Celdo, qual seria a graça. — entrando na cela e segurando Celdo pelo pescoço. — Quero te fazer sangrar pelos olhos e pela alma. — sumindo em uma nuvem verde e fazendo Celdo cair no chão de forma violenta.
Criar um plano de resgate deve ser fácil, né? Não para Julius, Romeu e Mitty. As personalidades deles colidiram a cada minuto.
— Então. — Julius explicou pegando uma xícara. — Esse sou eu. — Esse é o Romeu. — pegando uma faca. — Esse é você. — usando uma coxa de frango representando Mitty.
— Eu sou o pedaço de frango comido? — perguntou Mitty, odiando a comparação.
— Preste atenção no plano.
— O Romeu ou você não podem ser o pedaço de frango? — sugeriu Mitty, sendo atacado mais uma vez pelas vozes.
— Mate-os! Mate-os!
— Tá. — Julius revirou os olhos e deu o frango para Romeu, que não gostou da ideia.
— Ei...
— Tá. — jogando o frango longe. — Eu sou a colher. Romeu é o copo. Mitty é a xícara. Satisfeitos? Posso continuar o plano?!!
De repente, o príncipe Mitty levanta da cadeira, puxa uma flecha e prepara o arco para o ataque. Julius e Romeu ficam em pé e não entendem a atitude da realeza de Framon.
— Tarde demais. — falou Mitty lançando a flecha na direção do casal.
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