A flecha passou próximo ao rosto de Julius e acertou o ombro de Morfeu, que se materializou na frente dos jovens. O monstro que lembrava um coelho humanoide deu um pulo e, com um movimento rápido, puxou a flecha.
— Qual é o plano?! — perguntou Romeu, segurando sua espada e esperando uma ordem.
— O melhor de todos! O improviso. — gritou Julius jogando a xícara em Morfeu, que correu na direção do jovem e o jogou contra uma parede.
Três contra um. Enquanto, Julius e Romeu, atuavam na linha de ataque, o príncipe Mitty aproveitou para imobilizar Morfeu com suas flechas. A voz falou mais alto dentro da cabeça de Mitty e, por um tempo, ele parou e sorriu quando viu os colegas sendo agredidos pelo monstro de Cen.
— Mitty! — gritou Romeu, tirando o príncipe do transe. — Ajuda.
Em um golpe certeiro, o monstro agarrou Romeu pelo pescoço. Mitty até tentou acertá-lo, porém, ele começou a correr. Romeu batia nas patas da criatura, que apertava o seu pescoço com uma força extraordinária.
A velocidade de Morfeu impressionou os guerreiros. O coelho conseguiu derrubar qualquer investida de Julius e Mitty. Nem preciso dizer que a casa estava completamente destruída. Os móveis quebrados dificultaram a locomoção do monstro, ele tropeçou em uma cadeira e Julius aproveitou para arrancar o colar.
— Nãããããoooooo! — gritou Morfeu, desesperado, sumindo em uma nuvem de fumaça verde, algo característico de Cen.
Romeu caiu no chão. Ele começou a tossir e demorou um tempo para o ar voltar aos seus pulmões. Com a ajuda de Julius, Romeu ficou em pé e limpou a poeira do corpo. Sorridente, o filho de Celdo segurou o colar de Morfeu e levantou para cima.
— Maricas. — sussurrou Mitty, mas foi o suficiente para Julius escutar.
— Qual o teu problema? — perguntou Julius, empurrando o príncipe e começando uma pequena discussão.
— Julius. — Romeu pediu tirando o amado de perto do herdeiro de Framon. — Não vale a pena. Precisamos acordar os outros.
Após uma luta difícil, Julius entrou no quarto de Bartolomeu e colocou o colar na testa de seu irmão. O jovem foi teletransportado para o sonho dele.
Deitado no chão, Bartolomeu rastejava, pois, imaginava-se no meio de um incêndio. Julius abaixou para conversar com o irmão e explicar toda situação.
— Bartolomeu, não se aflija, por favor, isso é um sonho. Não é real. — Julius ajudou Bartolomeu a ficar em pé.
— Estou morrendo? A casa está em chamas.
— Olha. — deixando Bartolomeu e tocando no fogo. — Estou pegando e não estou sentindo nada. Isso é uma armadilha de um dos monstros de Cen. Você precisa acordar. É um sonho. Você é forte irmão. Você consegue.
— É um sonho?! — soltou Bartolomeu fechando os olhos. — Esse fogo não existe! Esse fogo não existe.
Aos poucos, Bartolomeu despertou do pesadelo e recebeu um abraço apertado de seu irmão. Sem perder tempo, eles correram para o quarto de Catherine. De repente, o colar apontou para Mitty e, mesmo contra vontade, Julius deu permissão para o príncipe salvar a irmã.
Com o colar em mãos, Mitty, o aproximou da testa de Catherine, que dormia profundamente. Ele piscou e parou dentro do pesadelo da filha de Celdo. Por pouco, o príncipe foi acertado por uma bola de energia.
— Mitty é você? — Catherine perguntou, correndo na direção de Mitty e o abraçando. — Ajuda, o homem lagarto quer me matar.
— Caterine. Isso é uma ilusão. Essa é mais uma armação de Cen. Ele criou algo para entrar nos nossos sonhos.
— Estou com muito medo, Mitty. Quero ir para casa. — pediu Catherine chorando, mas sendo confortada pelo príncipe de Framon.
— Ei. Estou aqui. — fixando o olhar em Catherine e tocando em seu rosto. — Vou levar você pra casa em segurança. Agora você precisa acordar.
Aos prantos, porém, aliviada. Foi assim que Catherine sentiu-se ao despertar do seu pesadelo. Ela abraçou os irmãos e agradeceu pela ajuda de Mitty. Enquanto a jovem se recuperava do susto, o colar brilhou na direção de Bartolomeu e sobrou para ele a missão de invadir o pesadelo alheio.
Em um estalo, Bartolomeu viu-se no quarto cercado por aranhas de todos os tamanhos e espécies. Com medo, ele subiu na cama, entretanto, lembrou de que os insetos eram frutos de uma magia.
— Bartolomeu. Graças a Deus. A casa está infestada de aranhas. Para onde vocês foram? Não consegui alcançar a porta. — Clarissa explicou, ainda flutuando.
— Clarissa. — Bartolomeu explicou, descendo da cama e pegando nas aranhas que sumiram em contato com sua mão. — tudo isso é uma ilusão. Essas aranhas não existem. Vamos. Os outros estão nos esperando.
Após uma noite mal dormida, os seis jovens viram o sol sair das colinas do reino. Eles encontraram os moradores do vilarejo presos dentro de uma casa. Todos também atormentados em seus piores sonhos.
Com a ajuda do livro, Catherine conseguiu entrar nos pesadelos dos moradores da vila e conseguiu os trazer para a realidade. Agradecidos, eles serviram um banquete para os heróis de Framon.
— Pessoal, mais uma vez quero agradecer ao serviço de vocês. — falou Gerfo, o responsável pela vida, entregando para Bartolomeu uma sacola com provisões.
— Não se preocupe. Estão a salvo agora. — garantiu Bartolomeu aceitando de bom grado o presente.
— Fiquem tranquilos. Conjurei um feitiço para a proteção de vocês. — contou Catherine, que ficou especialista em campos de energia.
— Vocês não querem ficar mais uma noite? — perguntou Gerfo, para o desespero dos jovens.
— Não! — responderam todos juntos.
— A gente ainda tem muito chão. — afirmou Julius, ficando vermelho de vergonha e dando um sorriso amarelo.
Mais uma vez na estrada. No trajeto, eles falaram sobre os seus piores pesadelos, no caso, os verdadeiros. Para Catherine, o maior pesadelo era não ser boa o suficiente para alcançar seus objetivos. Já Clarissa, disse que um sonho ruim que a perseguia era perder a sua irmã gêmea.
Na onda de todos, Bartolomeu, confessou o seu maior pesadelo: acordar pelado no meio da missa. Foi impossível não rir com tal informação. Quando chegou na vez de Julius, o jovem garantiu que o seu maior pesadelo já havia se realizado, ou seja, o pai lhe virou as costas.
Com o clima estranho, Bartolomeu decidiu mudar o rumo da conversa e parabenizou o trabalho em equipe do irmão, Romeu e Mitty. Afinal, eles conseguiram derrotar a criatura de Cen.
Em uma das paradas para descansar, Julius e Romeu contaram para Bartolomeu algumas atitudes de Mitty. Eles sentiam que algo não estava certo. No fundo, Bartolomeu, sentia-se da mesma forma e apenas confirmava suas suspeitas.
— Ele pode ser um peso para nós. Vamos deixá-lo na próxima cidade ou vila. — sugeriu Julius, querendo dar um fim na convivência com Mitty.
— Precisamos das habilidades dele. — interveio Bartolomeu, que não achava a ideia boa. — Vamos ficar de olhos abertos.
A viagem continuou por algumas horas. Os jovens sabiam que o destino de todo reino dependia deles. A pressão de encontrar Cen, resgatar o Rei e a família Mazzaro só aumentava. O grupo chegou em uma bela praia, o cenário começou a mudar. Saiu da mata fechada e entrou nas belas praias de Framon.
— Esse sol que não está ajudando. Acho que precisamos de outras roupas. — Catherine disse ao ver todo mundo sofrendo devido ao calor.
— Você poderia fazer pra gente, né?! — perguntou Julius, tropeçando em uma pedra na areia.
— Verdade. Quero um sapato que não fique tão apertado. Estou com bolhas nos meus pés. — reclamou Clarissa, usando o poder de flutuar para descansar os pés.
Aos poucos, o veneno de Cen chegava perto do coração de Mitty. Ele estava suado e, visivelmente, chateado, só que ninguém entendia o motivo para tal comportamento.
— Vou tentar criar roupas para nós. Vamos para aquela parte. Ei, você está bem? — Catherine pegou no ombro de Mitty.
— Estou. Concentre-se na sua magia. — falando de forma ignorante e andando na frente dos outros.
— Ei. A gente tá no mesmo barco, ok. Não precisa falar com ela desse jeito. — Julius aproximou-se do príncipe e pegou em seu ombro. — Estou falando com...
Em um movimento rápido, Mitty desviou de Julius e o jogou para longe. O filho de Celdo bateu contra um coqueiro e machucou o braço. Ao ver a cena, Romeu gritou e correu em direção de Mitty, socando o seu rosto.
— Maldito! Nunca mais encoste no Julius! — Romeu acertou mais duas vezes o rosto de Mitty.
— Chega!!! — gritou Catherine fazendo os dois levitarem. — Escutem. Estamos cansados, podemos divergir, porém, não é preciso violência. Somos uma equipe.
Revoltado por apanhar de um plebeu, Mitty, isolou-se do grupo e Bartolomeu aproveitou para realizar uma reunião com amigos. A pauta? As atitudes de Mitty.
Bartolomeu temia que o comportamento do príncipe atrapalhasse a missão de salvar o reino. Ele pediu para que todos redobrassem a atenção para Mitty, principalmente, com seus acessos de raiva.
Deitado na areia, aproveitando a brisa do mar, Mitty, dormia, porém, o seu descanso foi atrapalhado pela voz misteriosa.
— Eles estão tramando contra você. Vai ficar parado?! Seria mais fácil se você ficasse do lado de Cen. Framon seria apenas sua. — disse.
A voz não assustava mais Mitty. Ao invés disso, ele sentia-se bem e estava cansado de lutar contra ela.
À noite chegou e os jovens ficaram com medo de dormir. Catherine levou algum tempo para proteger o acampamento. Ela também conseguiu criar roupas com sua magia. Adeus armaduras pesadas, olá roupas de verão. Eles não precisavam se preocupar com o calor.
Porém, o clima esfriou durante a madrugada. Nem a fogueira conseguia dar um jeito, então, Catherine reforçou a proteção das barracas para que o frio não fosse um problema.
Em volta à fogueira, eles começaram a pensar em coisas positivas como, por exemplo, o que iriam fazer quando Cen fosse destruído. A esperança andava lado a lado com o desespero, principalmente, no final do dia.
— Vai dar tudo certo! — soltou Clarissa, que contava as horas para abraçar sua irmã e seus pais.
— As estrelas estão tão bonitas hoje. — observou Julius, deitado na areia e observando o céu.
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