Como queria abrir e ler de vez o que tinha lá dentro. Não teria respostas a não ser que fizesse. Por fim, seus pensamentos se foram por causa da conversa das irmãs à frente:
— Agora quero ver como vamos sair daqui. — Moly apoiou as mãos na cintura e suspirou olhando para cima. — Você sempre tem essas ideias tolas de vir para esse labirinto, não, querida irmã?
— E você sempre me segue, não é?
— De fato. Sou mesmo uma imbecil. — Olhou para trás e se lembrou que a outra ainda a acompanhava, assim se afastando de Britney e caminhando ao lado de Ashley. — Você... — Olhou para o animal ainda apreensiva. — Já deu um nome para ele?
— Oh, ainda não pude pensar em algo.
— Você gosta de animais, não? — A dos cabelos enrolados apoiava as mãos em sua nuca com os cotovelos para cima. Com certeza seu título não tinha nada a ver com ela, ao menos com os padrões que lhe eram impostos. — Ele é fofo até. — Não a deixou responder. — Mas me dá arrepios.
— Que tal chamá-lo de peludinho? — A mais delicada sugeriu, juntando as mãos ao lado do rosto, empolgada pela opinião da dos cabelos negros.
— Credo, Moly. — A gêmea novamente não deixou com que a outra falasse. — Que falta de criatividade para alguém que vive com o rosto grudado aos livros. Chame ele de Carrots, é mais legal! Olhe para ele, laranja como as cenouras. — Riu. — Enferrujado igualzinho ao Ethan, puffff. — Ria como se não houvesse amanhã. Ethan era um de seus inúmeros irmãos, um jovem rapaz de cabelos ruivos, que apesar de belo, sofria com tais piadas vindas de seus outros irmãos.
— Pufffff... — Moly também não conseguiu aguentar. Dirigiu a mão fechada em frente à boca dando risadas bem baixinhas. — Se te vires dizendo tais bobagens, não irá hesitar em lhe dar uns tabefes bem ardidos. — Respirou fundo para que pudesse deixar de rir. — Enfim, ainda gosto mais de peludinho.
— Ah, cale a boca, Moly. — Revirou os olhos. — A decisão final é da... Er...
Ashley olhou para o filhote por poucos segundos, pensando em um nome que lhe servisse bem. Logo se lembrou de como o encontrou, observando a lua antes que ouvisse o sussurro que a levaria para cama, sendo guiada até a raposa após os barulhos na cozinha. Se abaixou e fez carinho na cabeça peluda dele, então deu um sorriso sereno e decidiu qual seria.
— O que acha de Luar? — Falava com o pequenino. Parecia ter gostado!
— Luar? Por quê?
— Foi pouco depois de observar a lua que o encontrei... — Olhou para Britney. — Assim sempre vou lembrar-me de como nos conhecemos.
— Hmm... — A de rosa levou a mão ao queixo novamente. — De fato é um belo nome.
— É. Dá pro gasto.
Passou-se um tempo desde que voltaram a andar, frustradas por não conseguirem chegar a saída. Era como se estivessem sido presas lá, perdidas para sempre. Mesmo assim, ainda tentavam puxar assunto com Ashley para passar o tempo, mas era tão difícil. A menina mal falava, respondendo-as com frases curtas, dificilmente esboçando alguma emoção a não ser espanto com a agitação das gêmeas.
Moly era alegre e gentil, tentava se portar bem como a dama que era. Costumava usar as cores rosa e lilás em suas vestes, já que eram suas favoritas. Além disso, também amava tirar sorrisos das pessoas, pois gostava da alegria dos demais naquele reino tão cinzento.
Quanto a Britney, era uma menina brincalhona e também muito alegre. Não era tão delicada como sua irmã, entretanto, tentava manter a pose à qual fora instruída, mesmo que, no fundo, quisesse sair escalando árvores e ralando os joelhos. Adorava fazer piadas em horas impróprias, além de não levar desaforo consigo, sempre respondendo a altura. Também era apaixonada pela cor lilás, só que substituindo o rosa pelo azul, pois era sua combinação favorita.
Não demorou muito para que Ashley descobrisse sobre o título das meninas. Eram as princesas daquele reino. Ah, sim, tal revelação fez com que o coração da dos olhos como o oceano disparasse, tinha medo de que agora as duas tentassem algo contra ela. Realmente não conseguia confiar em alguém assim tão rápido.
Riram novamente da plebeia, uma zombando e a outra tentando a confortar. Chamava a atenção da irmã mais nova, dizendo que talvez fosse por sua má conduta que a pobre garota não tivesse notado de quem as duas se tratavam, o que a zangou e a fez caminhar mais para frente de braços cruzados. Era como se marchasse.
Ashley tentou tratá-las como "mereciam", algo que não foi a melhor das alternativas. Preferiam que as pessoas fossem sinceras. Respeitosas, claro, mas honestas já que ainda se tratavam de serem apenas meninas, no fundo, assim como as outras, mesmo que às vezes os títulos subiam em suas cabeças, olhando os mais pobres com desprezo. Mas não eram más.
— Oh... Mas se não lhe tratar como devo, minha senhora me puniria por toda minha vida.
— Sua senhora? — Britney já não estava mais tão afastada. — Você é algum tipo de empregada?
— Não seja indelicada, Britney! Mas é claro que uma moça tão bela quanto Ashley não seria uma mera empregada. — Não tinha noção do quanto suas palavras pesavam.
— Ah, claro. Bonita do jeito que é, poderia servir os homens pervertidos das tabernas. — Riu, logo levando um tabefe em sua nuca. — Aí! Moly!
Ashley suspirou. Se perguntava se realmente tinha ouvido aquilo. — Não sou empregada, tão pouco sirvo homens pervertidos. Minha senhora é minha guardiã. A chamo dessa forma porque chamá-la de guardiã soa estranho para mim.
— Oh, claro! Seria uma mãe adotiva, não?
— É... Algo assim...
— É... Algo assim... — Britney a imitou. — Qual é, garota? Se solta!
A olhou assustada, como fazia frequentemente por aquele labirinto. "Oh, céus... Onde fui me meter?", perguntou em seus pensamentos.
Moly dirigiu o olhar para a cesta da menina. Encarou o livro por alguns instantes, se perguntando se iria se arrepender caso pedisse para que a dona começasse a ler. Mesmo com aquela reação, ainda sim tinha curiosidades para descobrir o que ele reservava em si. E assim o fez.
— Acho espantoso o fato de que uma plebeia como você possa ler. — Britney comentou. Apoiava as mãos na cintura. — Treinou a leitura escondida, foi?
— De fato. — Moly concordou. — Ainda sim, são letras peculiares. É mais curioso pensar que nem ao menos nos foram apresentadas. Quanta falta de responsabilidade de nossos instrutores. — Balançava a cabeça em descontentamento.
— Eu posso ler desde que me conheço... — Enfim falou algo. — E elas não me parecem estranhas... Se não comentasse, nem mesmo repararia.
— Bem... Por que não lê um pouco para nós? — Pediu, colocando as mãos na bochecha e esboçando uma feição meiga. — Perdidas por esse labirinto, teremos todo o tempo do mundo! Assim, você descobre o que há pelas páginas e mata a nossa curiosidade!
— Mas... Isso não te faria mal?
— Own, você é uma fofa! — Apertou a bochecha de Ashley a fazendo corar. — Acho que exagerei um pouco mais cedo. Não se preocupe quanto a isso.
— É! Ela sempre exagera.
— Quieta, Britney! — Agora era Moly que revirava os olhos. — Vá em frente, pequena flor de lótus!
"Pequena flor de lótus?", a moça estranhou. Mesmo assim, a princesa falava com carinho, afinal, tal flor é símbolo de graciosidade, elegância e pureza, assim como enxergou a jovem.
Encarou a capa por alguns segundos, então a abriu lentamente se maravilhando junto às outras com os belos desenhos de galhos de rosas brancas, os quais eram muito bem detalhados. E na primeira página dizia:
Adorei a ideia que tivera, dando-me um belo diário para que não me sentisse solitária durante a viagem. De fato, não me sentiria tão sozinha assim, já que vim acompanhada de uma velha amiga. Ainda assim, ter esse caderno com meu nome escrito na capa me tira suspiros sempre que o pego. É tão romântico, Mono, tudo o que faz. Tão carinhoso mesmo nas pequenas coisas.
E claro, não posso deixar de registrar isso, afinal, não poderia começar a compartilhar meus pensamentos em outro lugar a não ser esse. É tão semelhante ao que nos conhecemos quando mais jovens.
Um lindo campo repleto por flores, tendo lindas rosas brancas, que realçam a beleza desse lugar cercado por um grande muro natural de pedras. Não podia ser outro a não ser aqui nosso portal, não é? Tão seguro... Tão calmo e sereno... Decidi nomeá-lo como Vale das Rosas, pois ainda que repleto de diversas outras espécies, essas são as minhas favoritas.
Naquele dia o sol estava tão brilhante, não? Mas o calor que sentimos nem se comparava ao de quando estava em seus braços, meu querido Mono. Confesso que já estou com saudades, mesmo sem sequer completar uma semana longe um do outro.
Sim, com certeza sou a pessoa mais feliz desse infinito universo. Mal vejo a hora de voltar e me tornar sua, ao mesmo tempo em que você se tornara meu, zelando pelo tempo em nosso reino perfeito.
— Credo, que meloso! — Britney fazia careta enquanto simulava um vômito. Era muito doce para ela.
— Eu gostei. — A do vestido rosa sorria juntando as mãos abaixo da cintura, balançando de um lado para o outro com delicadeza.
Por mais que já tivesse lido uma página inteira, as outras não a deixaram descansar. Queriam ouvir mais. Nem ao menos notaram como o céu havia se fechado desde então, como se fosse cair uma tempestade, só que, realmente aqueles registros faziam com que o tempo passasse mais rápido, aos poucos encontrando os caminhos corretos.
Pudera ler apenas mais a segunda página, que não era tão longa quanto à outra, sendo preenchida por desenhos de relógios e ampulhetas de diversos modelos, junto ao pequeno poema de Agatha:
O que se pode dizer sobre o tempo?
Algo que vai, mas não volta nunca mais.
A menos que...
Oh, não. É proibido tal ato.
Tão precioso... Tão curto...
E por isso, deve ser resguardado...
Oh, meu querido guardião do tempo...
Espero que não tome tanto dele
para que possamos nos ver novamente.
・*:.。.・ ♥ ・.。.:*・
Se sentava ao poço folheando o diário. Mesmo que tivesse lido tão pouco, ganhara tamanha afeição por Agatha que até mesmo se admirou de tal feito. Era tão romântica, tão doce... Queria poder ler mais, só que tinha que cumprir suas tarefas e ir para a cama após o jantar. Caso Clerence a pegasse lendo ao invés de dormir, lhe daria palmadas. Sendo assim, o deitou ao seu lado e se levantou para que pudesse pegar água.
Puxava as cordas do pequeno balde do poço, como lhe fora ordenado ao chegar a sua humilde casa de madeira. Foi uma aventura e tanto sair daquele lugar, já que nenhuma das três meninas conhecia os caminhos do labirinto. Deixou de ler quando se aproximou da saída, pois tinha medo de que mais alguém descobrisse seu hobby.
O recipiente era tão pesado quando cheio de água. Algumas gotas de suor escorriam de sua testa por conta de seu tremendo esforço, logo levando o antebraço a ela a secando, todavia, acabou por soltar as cordas e quase caiu dentro do poço. Vendo o perigo, a pequena raposa mordeu a saia da garota dos cabelos negros a puxando de volta com toda sua força.
— Essa foi por pouco... — Apoiava-se nas pedras observando o balde flutuar sobre a água, então se afastou e ajoelhou-se pegando no rosto de seu pequeno animal encostando a testa à dele. — Obrigada, Luar.
Por sorte, o diário também não tinha caído. Achou que fosse melhor tirá-lo de lá, assim voltando a folhear suas páginas para que pudesse descansar.
Segurando o balde com as duas mãos e o livro em meio ao seu braço e cintura, caminhava até sua casa observando o sol se pôr, colorindo o céu de forma deslumbrante. Atrás de si estava azul, e em sua frente, nuvens se espalharam fazendo um degrade com as cores laranja, rosa e roxo, nessa mesma ordem de baixo para cima.
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