Por um tempo, Ashley permaneceu por cima dele, escondendo o rosto em seu peitoral. Estava vermelha como os morangos que comera há pouco, se sentia corrompida. Mas teve seus pensamentos tomados pelo cheiro gostoso do perfume do príncipe, que diferente de vários outros homens do reino, cheirava bem.
— Bem... Por mais que eu goste de ter uma donzela tão bela como você por cima de mim... Não acha inapropriado sem nem me conhecer? E em meio a florestas? — Gargalhou.
— O QUE ESTÁ DIZENDO? — Olhou para o menino ainda zangada, querendo dar-lhe outras pancadas.
— Não te julgo. Eu também não resistiria ao meu charme.
Aquilo foi o suficiente para que ela se levantasse e deixasse o lugar, correndo para longe. Quando se deu conta, caminhava pelo reino abandonado, o qual costumava ser o lar dos cidadãos de Aredamon antes da grande tragédia; a história da princesa e da bruxa.
Fora tomado pela natureza, destruído pelo tempo e esquecimento. Nunca tinha chegado até lá, admirando cada detalhe. Devia ser tão bonito quando habitado, um palácio enorme, com pilares nos dois arredores da varanda onde ficava as grandes portas da entrada. Em sua frente, havia uma pequena escada de pedra, polida e esculpida com galhos espinhosos de rosa em seus degraus. Várias torres imensas, janelas por todos os lados, com o resto do pano das cortinas que restou voando com o sopro do vento. Além de que a vila parecia muito próxima, só que, por ser mais frágil, se encontrava em ruínas.
Abraçava a si própria, tinha muito medo. Como voltaria para sua casa agora? E se ela se perdesse para sempre? Se sentou sobre a escadaria e encostou a cabeça sobre os joelhos, desabando.
Por mais que parecesse, o príncipe não era perverso como imaginava, apenas brincalhão. Bem... Um tanto mulherengo, talvez? Só que ainda sim um bom rapaz. Estava realmente interessado na moça, não demorando muito para encontrá-la. Teve seu coração entristecido ao ouvir o choro dela, se sentindo mal pelas coisas que dissera há pouco. Cruzou os braços e caminhou para perto, logo se sentando ao lado da outra sem a olhar.
— Me deixa em paz...
Suspirou, então apoiou os cotovelos nos degraus mais altos e deitou um pé em cima do outro olhando para o céu, o qual ainda era tomado pelas nuvens negras. — Deve estar com medo... Eu também estaria se estivesse em seu lugar. Não deve ser nada fácil ser uma menina. — Ashley o olhou por uma fresta criada entre seu joelho e braço. Talvez tivesse o julgado mal? Agora parecia sensível, mas... Não podia se deixar levar tão depressa, assim escondendo-se novamente. — Às vezes eu acabo indo longe, sabe? — Deu uma gargalhada suave, balançando a cabeça como se negasse. — Ah, está bem. Eu sempre acabo dizendo bobagens, mas isso não significa que eu realmente seja o lobo que enxergara em mim.
— Você não entende...
— É... Acho que tem razão... Ainda sim, peço a chance para provar o contrário. — Chamou a atenção dela, deixando de se esconder e logo ambos encararam-se, sentando corretamente. — Você confia em mim? — Continuou quieta. — Posso lhe acompanhar até seu lar. Olhe para o céu, logo irá desabar. E as árvores da floresta podem te enganar... Eu conheço bem o caminho, estará segura comigo.
— Você não entende... — Repetiu. — Não podemos ficar juntos...
— Mas por quê não? Por que tem tanto medo?
— Perdoe-me. — Se levantou afastando-se, todavia, pouco longe, o olhou por uma última vez assim o deixando para trás.
Caminhava por minutos que pareciam-se anos. Não fazia ideia de qual direção seguir, não conhecendo um caminho sequer que a levaria para casa. Gostava tanto da floresta, nunca imaginou que se encontraria em tal situação. Esperava por algum sussurro do vento, alguma pista que a guiasse, mas nada. Estava tão sozinha...
Logo escurecia, deixando Ashley ainda mais nervosa. Se deu conta de que nem mesmo Luar estava com ela, mal tinha notado que a raposa sumira durante a fuga. "Ela deve estar melhor do que eu..." pensou, o que era verdade já que o animal já conhecia bem os caminhos, além de ter vantagens especiais que seres humanos não possuem.
Cansada, com medo, frio e sozinha, ajoelhou-se fechando os olhos e juntou as mãos implorando por ajuda daquele cuja face é um mistério.
— Ainda aqui? E orando? Bem, seu reforço chegou. — Fora atendida tão rápido.
— Ah, não... — Apoiou as mãos sobre o chão o encarando como se tivesse sofrido uma derrota tremenda. — O que eu fiz de errado para merecer tal castigo...?
— Assim você me magoa. — Riu. — Está ficando escuro, não? — Apoiava as mãos na cintura olhando para o céu. — O que acha de ser acompanhada por mim?
— Por que você não me deixa em paz?
Riu mais uma vez. Abaixava-se na frente dela e então pegou em seu rosto acariciando sua bochecha, dava um sorriso sereno, que emitia tamanha paz. Se levantou e estendeu a mão. — Eu não posso deixar com que ande pela mata sozinha, ainda mais quando a lua tomar o lugar do sol. Eu lhe imploro, me deixe te levar.
—... É como nas histórias... Mas o mundo não é um conto de fadas... — O olhou triste. — Eu nunca confiaria em um estranho... Deixe-me, posso cuidar de mim mesma...
Suspirou. "Tão difícil." pensou, mas não perdia a paciência. Estava disposto a convencê-la de que não era um rapaz ruim. — Bem... O caminho é longo e eu deixei meu cavalo para trás quando tentava chegar até você... Também devo voltar ao castelo, logo pegaremos o mesmo caminho.
—... Então você...
— Sim, haha. Mas não se preocupe, não vou usar meu poder para lhe forçar a conceder meus desejos. — Já esperava que seu comentário não causasse uma boa impressão, então gargalhou tentando quebrar o gelo. — Pufff... Não tem senso de humor, bela dama das florestas?
De fato o dia estava prestes a se tornar noite. Se não conseguia achar o caminho com luz, imagina sem ela. Foi aí que decidiu tomar seu próprio caminho, mesmo que fosse desaprovado por sua senhora. Segurou a mão do príncipe, que a ajudou a se levantar, mas logo a soltou quando já estava de pé.
Ouviu a barriga da moça roncar, entristecendo-se por não ter nada a lhe oferecer. Também a via se abraçar por conta do frio. Por fim, tirou a capa e a cobriu, fazendo as bochechas da menor ficarem rosadas. "Ele é gentil..." pensava, "Mesmo sem pensar muito antes de falar, ainda sim não parece mal...". Olhava-o de canto, então direcionou o olhar ao chão e deixou escapar um sorriso tranquilo, sentindo-se segura ao lado daquele jovem. E ele notou, claro, mas decidiu que não diria nada pois sabia que não sairia coisa boa. Não queria acabar com aquele momento.
・*:.。.・ ♥ ・.。.:*・
Sentando-se à janela naquela mesma noite, tinha o sono roubado já que o jovem não saia de seus pensamentos. Acariciava a pequena verbena vermelha que o mesmo lhe dera pouco antes de se despedir, prometendo que a veria novamente em breve. Claro que não respondeu nada, era o que costumava fazer. Se dissesse, pediria para que ele abandonasse aquela ideia estúpida e a esquecesse, mas seu coração implorava para que um dia o visse de novo.
O ranger da porta chamou sua atenção; se assustou, logo notando a presença de sua raposa aproximando-se da cama e pulando sobre ela para que pudesse deitar.
— Oh, Luar... — Deu um sorriso, estava aliviada em ver o pequeno em casa. — Bem-vindo de volta. — Desceu da janela e a fechou, dirigindo-se à penteadeira onde havia deixado o diário de Agatha. Deitou a flor sobre ele e acariciou a capa com o dedo dando um longo suspiro. — Então era assim que você se sentia por Mono... Oh, céus, o que estou dizendo?
Deitava-se ainda olhando para as frestas da madeira da janela, que eram iluminadas pela luz dos raios. Nem ao menos sabia o nome do jovem e estava tão ansiosa para conhecer mais sobre ele. De fato, o primeiro a mexer com seu coração, o primeiro a ser gentil e a mostrar um certo interesse por ela. Mesmo travesso, gostando de provocar e dizer bobagens, era como se aflorasse um lado nela que não conhecia, como se pudesse amar alguém.
Mas como se entregar dessa forma em um dia? Isso não era certo, ao menos era a opinião dela. Se quisesse sentir algo de verdade, tinha que saber quem ele era de fato, qual sua índole e se era um bom homem. "Céus, onde estou com a cabeça?", se virou e cobriu-se por completo. Segurava a coberta junto ao travesseiro em frente ao rosto, fechando os olhos e enfim podendo dormir.
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