O quarto das duas princesas de Aredamon era um cômodo elegante e sofisticado. Um sonho de princesa, como chamamos nos dias de hoje. Havia duas camas com um lindo dossel, qual tinha panos brancos delicados e cintilantes, quase transparentes. Entre elas, se encontrava uma penteadeira esculpida em sua madeira branca o formato de borboletas e margaridas, de forma harmoniosa ainda mantendo seu modelo tradicional. Em frente a esses móveis, do outro lado do quarto, qual era imenso, dois guarda-roupas com figuras semelhantes ao citado a pouco e uma estante ao meio com livros de contos de fadas e etiqueta se encontravam posicionados rente à parede. Dava-se para identificar qual lado era de cada irmã já que uma gostava de rosa e a outra de azul, algo que muito provavelmente você já tenha imaginado.
Moly penteava os cabelos cacheados de Britney com bastante cuidado para que eles continuassem lindos do jeito que eram, sem perder o formato. Tentavam diversos tipos de penteados, além de provar seus novos vestidos que usariam no baile, o qual aconteceria em breve. Tendo esse evento por conhecimento, mesmo que de forma secreta bisbilhotando as conversas de seu pai, eram tomadas pela ansiedade. Talvez assim poderiam encontrar algum jovem rapaz que ganharia certo interesse nelas. Era o que mais desejavam.
— O que acha desse, minha irmã? — Moly girava com seu traje cor-de-rosa. Era rodado, com panos finos e delicados, cheio de babados e laços presos a ele.
— Divino, querida irmã. E o meu? — Segurava o cabelo para cima como um coque. Era um lindo vestido azul com mangas compridas e bufantes, uma saia por cima dando abertura a debaixo, qual era bem rodada. — O que acha?
— Oh, Brit! É maravilhoso! — Juntava as mãos e sorria de olhos fechados, muito alegre e esperançosa. — Ganharemos inúmeros pretendentes!
— Podem me desejar, mas não me terão. — Mostrou a língua tirando risadas da outra, que colocava a mão em frente à boca ao mesmo tempo em que gargalhava.
— Deixe de ser má, minha irmã. — Sua voz era amigável. — Espero ter lugar no coração de algum deles.
Suas palavras eram puras, desejava ser amada, só que ao mesmo tempo, elas machucavam. A do vestido azul se jogou na cama, estava pensativa. Olhava para o teto e dava um longo suspiro. Não demorou muito para que a outra se sentasse à penteadeira, também se sentia desanimada.
— A quem queremos enganar...? — Britney comentou com tristeza. — Ninguém se preocupa em conhecer quem realmente somos...
— Nos acham intrometidas e arrogantes... — Se virou em direção ao espelho e encarou-se. Logo um sorriso fraco se formava em seu rosto. — Só porque nós não somos como as outras...
— E eu me orgulho disso. — Cruzou os braços e fechou os olhos. Seu tom mudava de repente, como se algo a enfurecesse. — Acham que nós devemos permanecer caladas. Concordando com ideias estúpidas que nem ao menos sei de onde tiram. Fingindo nos interessar por futilidades como: "Oh, como gosto de tomar chá ao nascer do sol observando as borboletas pousavam nos lindos lírios... — Parecia tirar sarro no começo, logo alterando o tom de sua voz mostrando novamente sua fúria. —...que nem ao menos existem em nosso jardim!". Ah, qual é? O que querem de nós?
— Oh, sim... Eu também não consigo compreender...
Se encontravam apoiando-se no para-peito da janela, tendo o queixo deitado em uma de suas mãos. Observavam o jardim. Infelizmente, raramente florescia algo lá. Alguns diziam que o solo era ruim, outros, que simplesmente as espécies não se adaptavam, só que a verdade era mais profunda. Os tempos eram difíceis, não no clima natural, mas naquele que o rei deixava manifestar. Toda sua crueldade perante aqueles que o mesmo julgava, todo o seu mau caráter. Às vezes as coisas ruins que temos dentro de nós podem contribuir para a destruição de nosso próprio lar, afetando o que há ao nosso redor.
— Você ficou sabendo? — Moly perguntou não revelando de cara aonde queria chegar.
— O quê? — Olhou para ela.
— Dominic está apaixonado. Não percebeu?
— Ah, sério? Para falar a verdade, não.
— Oras, Brit. — Suspirou. Dominic era um dos poucos irmãos que as gêmeas gostavam e se davam bem. Não que não as provocassem às vezes, mas conseguiam se entender. Além de crescerem bem próximos. De fato, o favorito delas era Drake, o mais velho. Bonitão, honrado e muito gentil. Também sério em seus compromissos e responsável. Um perfeito futuro rei. — Enfim, eu reparei que ele está andando sobre as nuvens nesses últimos dias, um pouco mais alegrinho por sinal. E claro, tentei ir mais a fundo perguntando para o enferrujado se ele sabia de algo. — O tal "Enferrujado" era Ethan. Creio que se lembre o porquê desse apelido de mau gosto. — E adivinha! Dominic está apaixonado por nossa Ashley!
— Quem é Ashley? — A memória de Britney não era tão boa. Não que não se lembrasse de Ashley, apenas tinha esquecido seu nome.
— A Ashley, oras! Nossa amiga da vila dos pobretões! Aquela que lê um diário!
— Ahhhh! Sim, sim! — E enfim se deu conta. — CÉUS! — Exclamou. — EU OUVI ISSO DIREITO?
— Sim, minha irmã! Dominic está apaixonado por ela!
— Que notícia boa! — Sorriu.
— Você não acha que seria maravilhoso trazermos ela ao baile?
E mais uma vez, o sorriso da dos cabelos ondulados deu lugar a uma feição triste e pensativa, assim fazendo com que Moly visse o quão estúpida era sua ideia. Tinha boas intenções, claro, todavia, era um baile para pessoas importantes, e na visão do rei, nenhuma das donzelas, sendo ela a mais bela entre todas, podia entrar em seu palácio caso fosse uma plebéia pobre e sem valor.
Era uma pena, já que grande parte das meninas que participavam do evento eram chatas e entediantes. E claro, muito metidas. Caso não encontrassem o príncipe dos sonhos, tinham certeza de que teriam apenas uma a companhia da outra durante aquelas noites de festa. Não que fosse um dos maiores problemas, gostavam de estar juntas como já deve ter reparado, só que havia uma pessoa que era capaz de arruinar os bailes das duas princesas, qual era bonita por fora, mas um pesadelo por dentro.
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Era tão belo o pôr do sol visto da grande montanha onde se encontrava uma pequena cachoeira, não muito distante da floresta negra de Aredamon. Se sentavam por lá em uma grande pedra, admirando o brilho das águas tendo os raios do sol batendo-se contra ela. Ashley deitava a cabeça no ombro de Dominic, que brincava com o cabelo dela fazendo carinho em seu braço ao mesmo tempo. Apenas o príncipe conhecia aquele lugar, já que gostava de explorar seu reino.
Estava ficando tarde e a menina das madeixas negras não se dava conta. Seus pensamentos eram tomados por aquele momento, estava muito alegre por estar com o rapaz. De fato, roubou o coração da menina. Mas quando notou que o sol sumia, levantou-se se afastando.
— Oh, não! — Ashley parecia preocupada. — Já é tarde!
— Ah, é mesmo. — Deu um sorriso e se levantou como ela. — Mal vi o tempo passar.
—... Eu tenho que ir!
A moça se virou, correria entre as árvores como se fugisse do rapaz. Mesmo com toda a proximidade que ganharam nos últimos tempos, ainda sim agia daquela maneira. Dominic entendia, sabia que não estava acostumada, contudo, se machucava com aquilo, sentindo-se um dos lobos que Ashley tanto tinha medo.
— Espere... — Segurou à mão dela com delicadeza a impedindo, então ela se virou e o encarou suavemente, olhando nos olhos dele. — Não precisa mais fugir de mim dessa forma...
— Oh, não é isso... Eu não estou fugindo... — Desviou o olhar, suas bochechas coraram ao mesmo tempo. Mesmo assim, estava muito preocupada. — Mas é que... Minha senhora irá se preocupar... Estamos tão longe de casa...
— Ah... Me desculpa... — Fez o mesmo que ela, entristecendo-se ainda mais. — Eu sempre estou te colocando em apuros...
— Não! Não está não! — Enfim segurou as duas mãos dele, levando-as para cima chamando sua atenção. Voltavam a se encarar, suas feições eram puras, apaixonadas. — Para dizer a verdade... Eu... — Mas era Ashley naquele corpo. Como se declararia? Era tão tímida para aquilo, se sentia tão pequena. — Oh, céus...
— O que ia me dizer? — Não a deixou olhar para outro lugar. — Por favor... Continue...
— Você pode me prometer algo antes?
— Claro! O que quiser!
— Mas deve ser sincero... Promessas são importantes...
— Eu irei.
— Está bem... — Respirou fundo, tentava continuar o olhando. Tão difícil... — Você promete que não vai partir meu coração se eu admitir que estou apaixonada por você...? Que... Que você é a pessoa mais doce e gentil... Talvez um pouco excêntrico em seu modo de agir... — Ele gargalhou com isso, certamente era. — Mas... O primeiro a... Talvez... Sentir algo forte por mim...
— O que está dizendo? Ninguém nunca se apaixonou por você antes? — O silêncio foi o suficiente para que ele entendesse a resposta. — Ruim para eles. Eu prometo. Eu nunca vou partir seu coração. E eu sempre vou fazer questão de que você saiba que há alguém que te ama de verdade.
A acompanhava até sua velha casa de madeira, não falaram um "a" desde então. Mesmo assim, estavam de mãos dadas, ainda mais nervosos com a declaração e promessa. Sabia que daquele dia em diante teria de ser mais responsável, o que não estava sendo algo tão difícil, pois desde que conheceu Ashley, só teve olhos para ela.
Mas faltava algo... Por mais engraçado que fosse, ainda não tinham revelado seus nomes. Eram tão avoados que sempre acabavam deixando passar. Já estavam próximos do lar de Ashley, fora da floresta. Dominic deixou de andar, estavam um de frente com o outro.
— Antes... Deixe-me saber seu nome...
— Oh! — Se envergonhou, o que novamente tirou gargalhadas do rapaz, qual acariciou a cabeça dela a consolando.
— Não se preocupe quanto a isso! Eu devia ter voltado a perguntar.
Sorriu. — Meu nome... — Então segurou a mão dele a trazendo para perto de sua boca, assim dando um beijo suave e logo direcionando seus olhos azuis aos dele. Tal ato o fez se aproximar ainda mais, chegando perto de seu rosto como se a fosse beijar.
— Sim... Eu preciso saber como se chama.
— Como me chamo...
Talvez pudessem realizar tal desejo caso não estivessem justamente em frente à casa da menina. Mesmo com aquela distância, Clerence pôde ver os dois, estava tão preocupada que já não esperava dentro de casa.
Se direcionou a eles com gritos, segurando o cabo de sua vassoura para que atacasse Dominic e o fizesse se afastar de sua garotinha. Saiam ofensas de sua boca, aquelas qual a mulher costumava pronunciar.
"Me encontre na fonte da vila depois do amanhecer.", foram as últimas palavras do príncipe antes que corresse para longe em meio às árvores, não queria que a mulher o reconhecesse e o visse como um predador.
O vendo sumir por causa da distância, foi puxada contra sua guardiã, que procurou por manchas em seus braços e rosto. Estava realmente preocupada com a menina, e quando viu que parecia estar bem, a pegou pelos cabelos e puxou até a casa a castigando dessa forma.
Sentada à mesa, Ashley observava sua senhora cozinhar um ensopado de legumes no grande caldeirão. Mantinha-se em silêncio por estar zangada com sua protegida, quanto a mais nova, não conseguia esquecer o quão próximo chegaram naquele fim de tarde. Acabara por deixar um sorriso meigo escapar:
— Tire esse sorriso do rosto, menina perversa! Lembre-se do que conversamos.
— Senhora Clerence... — Olhava para outra direção, já que era difícil de encarar a mais velha com a seguinte pergunta: — A senhora nunca se apaixonou?
— A paixão é uma tolice. Não caia na dele, é tudo mentira. — Era fria.
— Mas e se não? Sabe que terei de me casar um dia... Não está feliz por ter encontrado alguém?
— Oras, mas o que está dizendo? Ainda é uma criança!
— Mas logo não serei mais... — Suspirava com doçura em sua voz.
— Cale-se e tome sua sopa. — A repreendeu. Caminhava até a porta de seu quarto e a encarou antes de entrar. — Está proibida de vê-lo novamente. E também proibida de caminhar pela floresta! Amanhã, quero que vá ao centro da vila e observe como moças decentes se portam! — Bufou zangada. — Caso ainda exista alguma delas.
— Está bem... — Nem estava feliz por aquela ordem. — Tenha uma boa noite, senhora Clerence.
— Quanto a você, que sua noite seja terrível.
Via seu reflexo em sua refeição ainda dentro do caldeirão, repetindo em sua mente todo o tempo que passara com o rapaz naquele dia. Se sentiu tão corajosa ao se dar conta de que tinha se declarado a ele. Colocava uma tigela no chão, logo após chamar por sua raposa, e ambos partilharam o jantar antes de irem para cama.
No quarto de Ashley, dentro da primeira página do diário de Agatha, onde a mesma tinha descrito seu romance, estava a flor que a menina dos cabelos negros havia ganhado de seu amado. Era como se, enfim, as duas irmãs estivessem mais próximas do que nunca.
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