You said this could've been
the best thing
That ever happened to you
So you decided not to do it
Now you come back every summer
Like a carnivorous flower
And I stare at your hands in
the heat and I
Think that you're the most
beautiful thing I've ever seen
—The Bomb, Florence + The Machine
Você disse que isso poderia ser a melhor coisa
Que
já aconteceu com você
Então
decidiu não seguir em frente
Agora
você volta todo verão
Como
uma flor carnívora
E
eu encaro suas mãos no calor e penso
Que
você é a coisa mais bonita que eu já vi
Aleksey estava acostumado a más decisões — já as tomara de diversas formas, em todas as áreas existentes e em algumas situações que ele mesmo criara, decisões das quais ele raramente se arrependia, apesar de julgar que talvez fosse melhor não passar por aquela experiência. Se havia algo em que era especialista, era em más decisões.
Então é claro que soube que havia cometido um grande erro assim que pisou na estação de Kinchyk, rumo à festa de verão dos Medinikov, acompanhado de Laszlo.
A lista de motivos que tornavam aquela viagem uma má ideia era extensa antes mesmo de chegarem ao local. Para começar, os Medinikov eram a família da esposa de seu tio, Yakov, e Aleksey não estava com saco para paparicar ninguém naquele verão e tampouco fingir ser o que não era. Para piorar a situação, a moda daquele ano era horrenda e ele odiava ver gente malvestida. Porém, Laszlo era um homem extremamente persuasivo, tão habilidoso com a língua quanto era com os dedos, e era impossível para Aleksey resistir à qualquer argumentação que ele fizesse.
Aleksey fora convencido facilmente ao ser lembrado de que os dois eram feitos do mesmo tecido social. Vladislav Olgaevich Poroshenko havia passado vinte e oito anos de sua vida como o quinto e último filho da Princesa Poroshenko, sem chance alguma de se tornar herdeiro. Toda sua existência até aquele momento havia sido moldada por aquele fato: ser o filho que sobrava para o treinamento da Azote, destinado a virar Alquimista. O filho que poderia dedicar grande parte de seu tempo a aprender a tocar violino para impressionar as visitas, que podia gastar seus dias com corridas de cavalo e pulando de festa em festa, criando uma reputação que não era das melhores. No entanto, a sorte havia se virado contra ele, e uma série de tragédias levara toda a sua família, com exceção da sobrinha, filha da irmã mais velha e legítima herdeira do oblast da família. Ela virara sua responsabilidade assim como as terras e pessoas que acompanhavam o cargo de Príncipe de Khostovinist'.
Por mais que tivesse assumido essas responsabilidades há quase uma década, sempre seria visto como um inútil que acidentalmente havia conseguido um espaço na corte.
Um intruso, assim como Aleksey. Quando os dois começaram a andar juntos — ambos concordavam que namorar era uma palavra forte demais para o relacionamento livre que tinham — havia sido consenso entre as fofoqueiras da corte de que os dois combinavam. O príncipe inútil de Khostovinist' e o príncipe boêmio de Seleni, lado a lado, de mãos dadas, causando terror na corte.
O segredo, Lazslo lhe dissera, era que como ninguém nunca esperava muito deles, podiam fazer o que bem quisessem. Poderiam ir para a casa de verão dos Medinikov e aproveitar, sem nenhuma preocupação adicional, sem nenhum dever social. Apenas diversão pura e simples, com direito a beijos de frente para a vista mais paradisíaca de toda a costa de Argon.
E aquilo poderia até ser verdade se não fosse pelo casal que também aguardava na calçada à frente da estação. Kinchyk era uma cidade relativamente pequena, colocada no mapa pela moda de possuir uma casa de praia que empesteara a corte nas últimas décadas, existindo em grande parte para servir aos desejos extravagantes da nobreza que veraneava nos arredores. A estação ficava exatamente no centro, alinhada com a rua principal que cruzava a cidade, exibindo vitrines que ofereciam todos os tipos de produtos, de roupas a móveis. E lá, diante da pequena livraria vizinha à estação, estavam os dois, em uma conversa compenetrada, sem sequer perceber que Aleksey estava por perto.
Seu coração havia acelerado antes mesmo de vê-los, como se o corpo soubesse da presença deles instintivamente, quase como um reflexo. Sentiu a respiração se acelerar quando a mulher levantou o rosto, apontando para uma vendinha de frutas que ficava rente ao meio-fio, o sol iluminando suas feições, não deixando dúvida alguma de quem eram: Morena e Ivan, as últimas pessoas que Aleksey esperava ver ali.
Ele tinha sido ingênuo, claro. Era o primeiro verão desde a formatura deles — de Aleksey e de Ivan, porque Morena se formara quase um ano antes dos dois, em um evento que Aleksey preferia esquecer — e era óbvio que a Princesa e o Príncipe de Mièdz participariam de todos os eventos sociais daquele ano. Havia um limite de paciência que a corte demonstrava com relação aos nobres que se formavam como Alquimistas e a paciência acabava no instante em que estivessem fora da Azote. Pular um evento social naquele primeiro ano era o equivalente a romper todos os laços e alianças que poderiam beneficiar seus respectivos oblasts. Ao contrário de Aleksey, Morena não tinha o privilégio de errar ou fazer qualquer coisa que pudesse gerar um mínimo de repreensão. Não podia fugir ou se dar ao luxo de se divertir.
Talvez por isso estivessem fazendo um esforço para passarem despercebidos, para parecerem nobres comuns, pessoas respeitáveis que seguiam à risca os costumes de Argon. Nenhum dos dois usava o uniforme de Alquimista ou as roupas que geralmente preferiam, mais frescas e adequadas ao clima quente do norte do país. Morena vestia uma camisa branca de algodão com mangas curtas adornadas com um bordado típico de Khostovinist' verde-escuro, o decote modesto exibindo a correntinha de ouro que pendia do pescoço e a saia longa verde-musgo marcando o lugar perfeito para o marido repousar a mão. Ao lado dela, Ivan estava com uma calça justa bege clara, parecida com a de Aleksey, a camisa de manga comprida coberta por um colete cor de vinho com pequenos bordados brancos. Os dois estavam tão bonitos que chegava a causar uma dor física em Aleksey.
Ele ficou observando enquanto Ivan pescava uma cigarreira do bolso do colete, escolhia um cigarro com cuidado e o colocava entre os lábios, inclinando-se ligeiramente na direção da esposa. Com um meio sorriso, Morena estalou os dedos e acendeu o cigarro do marido. Era um gesto tão comum, tão banal, tão eles que Aleksey quis dar meia volta e desaparecer, nunca mais pisar naquele lugar, fingir que nunca havia aceitado o convite, se afastar de vez deles e fugir, exatamente como havia feito nos últimos dezesseis meses.
— As nossas bagagens já estão no balão junto com as outras, a caminho da mansão das Medinikov. — Laszlo se juntou a ele, completamente alheio ao fato de que Aleksey estava morrendo por dentro, e apoiou uma mão nas costas do rapaz. — Sempre me impressiono com esses balões de carga, acho que nunca vou me acostumar. Toda vez eu fico pensando que eles vão explodir a qualquer momento e destruir todas as nossas coisas. Meu guarda-roupa é caro demais para correr esse tipo de risco. Ainda bem que não trouxe meu violino, se acontecesse algo com ele, eu cometeria um crime.
— Toda vez você fala isso e toda vez dá tudo certo — murmurou Aleksey, tentando desviar a atenção de Morena e Ivan, olhando para o homem ao seu lado com um meio sorriso. — Embora não me pareça tão ruim assim pra mim você ficar sem ter o que vestir.
— Eu sou um homem muito respeitável, Alex, não posso ficar tantos dias pelado...
— Eu tenho provas do contrário — Aleksey o interrompeu, abrindo o sorriso, fazendo Laszlo gargalhar.
Mesmo com os dedos compridos de Laszlo apoiados nas suas costas, a risada dele em seus ouvidos, mesmo com as memórias inapropriadas que a conversa besta entre os dois evocavam em sua mente, Aleksey não parava de pensar no outro casal. Ele estava completamente ciente de que Morena havia entrado na loja e saído alguns minutos depois com um pequeno pacote nas mãos. Conseguira ver de canto de olho quando ela entregou o presente para Ivan, que se iluminou inteiro ao desembrulhá-lo. Não precisava nem continuar olhando para saber o que era: um caderninho, porque Ivan provavelmente perdera o dele em algum lugar na longa viagem de trem de Stronnik a Kinchyk, e ele nunca ficaria em paz se não tivesse onde rabiscar as suas ideias. Aleksey se virou para Laszlo, pronto para continuar o assunto do qual ele nem mais se lembrava, mas conseguia imaginar Ivan abraçando Morena pela cintura, inclinando na direção dela e beijando-a suavemente na ponta do nariz, algo que Ivan tinha certeza de que era a expressão de afeto mais apropriada para ambientes públicos, mas para Aleksey era pior do que se eles de repente decidissem arrancar a roupa um do outro ali mesmo.
Poderia até se enganar achando que estivessem ali por qualquer outro motivo, mas Kinchyk não era grande nem relevante o suficiente para que não estivessem ali aguardando para ir para uma das casas de praia da nobreza espalhadas pelo litoral. A menos que nos últimos dezesseis meses eles tivessem mudado radicalmente seu ciclo de convivência, não tinha nenhuma chance de não estarem indo para o mesmo lugar. A festa de verão dos Medinikov era um dos eventos mais esperados da corte, reunindo todos que tinham alguma relevância sob o mesmo teto durante uma semana completa de festividades. Era onde acordos eram firmados e desavenças eram estabelecidas, onde negociações eram feitas e amizades eram cimentadas. Não poderiam perder aquilo por nada.
Saber de tudo isso não tornaria mais fácil passar sete dias sob o mesmo teto dos dois, imaginando o que estariam fazendo, observando-os de modo furtivo, o coração acelerando todas as vezes que ouvisse suas vozes. Aleksey já sentia que estava prestes a perder o juízo e fazia menos de trinta minutos que estavam parados ali, aguardando as carruagens que os levariam para a casa de praia.
O barulho dos cascos de cavalo contra os paralelepípedos da rua chamou sua atenção e Aleksey e Laszlo observaram enquanto a carruagem com o brasão dos anfitriões parava na frente da estação. Laszlo tirou o relógio do bolso e o consultou.
— Suponho que seja a nossa, está na hora marcada.
— Pontualidade é tudo.
Se não estivesse tão atordoado, Aleksey perceberia que havia algo de errado imediatamente. Além deles e de Morena e Ivan, a Condessa Zotov e a esposa saíram da estação ao verem a carruagem. Os seis haviam chegado no trem que saíra de Zhelezho, a capital da região de Khotsovinist', naquela manhã, os únicos vindos de cidades que não fossem a Capital Azul, chegando um pouco depois do fluxo mais intenso de convidados. Os três casais se aproximaram da carruagem ao mesmo tempo, Laszlo tomando a dianteira.
[Continua na Parte 2]
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