[Continuação da Parte 3]
— Não é, Aleksey? — Laszlo comentou algo e Aleksey piscou duas vezes, voltando o olhar para o homem à sua frente.
— Perdão?
— Laszlo estava falando sobre as bebidas que produz e como você gosta muito da Horilka de pimenta e recomenda para todo mundo — explicou a Condessa Zotov gentilmente.
— Na primeira vez que convidei Aleksey para me visitar, ele bebeu umas duas garrafas de uma vez e achei que ele ia morrer — Laszlo falou, rindo, e Aleksey ensaiou um sorriso, tentando desesperadamente não reparar na reação do casal ao seu lado com aquela anedota. — Ele capotou na minha cama com bota e tudo, foi impressionante.
— Eu não tenho culpa se o negócio é tão gostoso que eu esqueci a quantidade de álcool que tinha nele — retrucou Aleksey, tentando manter o tom leve, mesmo desejando estar em qualquer outro lugar, com outras pessoas, falando de outro assunto. — Mas Laszlo é um excelente anfitrião e cuidou de um hóspede terrível como eu de forma extremamente atenciosa.
Aquele comentário felizmente fez a condessa e a esposa rirem e Aleksey se esforçou para pensar em uma forma de mudar o assunto, mas a mão de Morena encostou contra a dele e absolutamente qualquer esperança de formar um pensamento coerente foi por água abaixo.
Era esquisito como a ausência deles em sua vida ficava mais óbvia com eles ali do lado, como estranhos, mantendo uma distância fria. Doía vê-los usando a máscara que usavam quando estavam na Corte com ele, reconhecendo sua existência apenas por educação. A perna de Morena encostou em Aleksey, e ela sussurrou um "Desculpa" meio sonolento antes de se recolher novamente e ele quase abriu a porta da carruagem e pulou para fora dela em movimento.
— A propósito, muito bonita a cidade de Kinchyk, Principe Poroshenko — disse Ivan antes que um silêncio esquisito pudesse se formar ou o assunto continuar, com seu tom educado. — Um dos garotos da estação de trem me explicou como a cidade foi reorganizada após a compra da casa de verão pelos Medinikov e me pareceu um esforço formidável.
— Ah, sim, é meu maior orgulho — comentou Laszlo, os olhos brilhando enquanto se inclinava para a frente, gesticulando. Seja lá que Santos abençoavam a cabeça de Ivan, estavam fazendo um bom trabalho porque era quase surreal a frequência com que ele acertava em cheio o assunto com pessoas que mal conhecia. Com Laszlo, eram dois: cavalos e as suas ideias de urbanismo. — Quando... bem, no período logo antes de eu assumir como herdeiro, houve muita confusão e as finanças estavam todas erradas e a melhor forma que achei para resolver o problema foi me livrar de meia dúzias de casa da família e trazer dinheiro de outros lugares. Então a próxima etapa foi...
A perna de Morena encostou novamente na de Aleksey e ele prendeu a respiração, tentando não se mexer, tentando não chamar atenção para que ela continuasse ali, ao seu lado, o calor da pele dela irradiando tão próximo dele. E então a cabeça dela se encostou contra seu ombro, com os olhos fechados, a respiração suave e uniforme e ele precisou conter um sorriso e a pontada de... algo que acompanhou a lembrança de que ela sempre caía no sono em veículos em movimento.
Era questão de instantes até Ivan acordá-la e pedir desculpas pelo incômodo, então Aleksey continuou imóvel, quieto, aproveitando a sensação de proximidade que sentia tanta falta. Porém, quando o seu olhar cruzou com o de Ivan, Aleksey percebeu um fantasma de sorriso, a expressão de triunfo que o outro homem sempre tinha quando algum experimento dava certo, e percebeu que estava completamente equivocado.
Morena se virou mais para o lado, se acomodando melhor contra Aleksey e Ivan concordou com algo que Laszlo falara com a cabeça enquanto tirava o braço do encosto do banco e o apoiava no joelho de Morena mais próximo de Aleksey, em um gesto descuidado que serviria para proteger a esposa caso a carruagem parasse de forma abrupta. Aleksey observou Laszlo, que continuava conversando com Ivan animadamente, de canto de olho e, por um instante, seus olhares se cruzaram. O peito de Aleksey parecia prestes a explodir na expectativa de algum comentário, de alguma reação do homem, mas ele só riu de algo que Veronika dissera e desviou o olhar, como se estivesse dando privacidade a Aleksey.O universo estava de complô contra ele, só podia ser.
Porque não demorou para Aleksey perceber que, na posição em que estavam, era inevitável que os dedos de Ivan roçassem contra a sua calça a cada buraco e pedra que a carruagem encontrava, a cada oscilar do veículo, queimando como se estivessem contra a pele dele. Aleksey fechou os olhos e apoiou a cabeça no vidro da carruagem, rezando para que as próximas horas passassem rápido, a mente presa em uma única certeza: sem dúvida, aquela fora a pior decisão da vida dele.
Continua…
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CRÉDITOS
Autora: Isabelle Morais Edição: Laura Pohl e Val Alves Preparação: Laura Pohl Revisão: Bárbara Morais e Val Alves Diagramação: Val Alves Título tipografado: Vitor Castrillo
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