O homem encapuzado pôs sua pesada mão sobre o ombro de Faith que apenas olhou sem necessariamente se virar para observa-lo.
_ Nessa cidade você logo vai perceber que há um grande jogo de poder por trás dos panos. – Continuou o Regente agora bem próximo à Faith.
Faith não disse nada. Apenas observava as ações do Regente e lembrava-se das palavras de seu mentor. Como o Regente tinha dito, seu mentor estava neste jogo do poder, jogando cuidadosamente à medida que os grandes e poderosos vampiros da cidade disputavam palmo a palmo o controle sobre a cidade do Regente. E neste jogo que ele sempre fora cauteloso, ele decidiu por um movimento audacioso, senão perigoso, mover um de seus peões duas casas à frente... Sim! Neste perigoso jogo de poder, Faith sabia que era um mero peão nas mãos de seu mentor e senhor. Ela sabia que deveria jogar e agir de acordo com as ordens de seu mentor e agora de acordo com as regras do Regente. Um caminho perigoso onde ao menor deslize poderia ser fatal.
_ Pois então Faith... – O Regente fez uma breve pausa. – Seja bem-vinda à cidade, estarei ansioso para ver o seu progresso.
_ Obrigada senhor. – Faith fez uma leve reverencia com a cabeça.
_ Assine este termo de compromisso e pode ir. – Disse o Regente pondo sobre a mesa um pergaminho com algumas inscrições.
Faith correu os olhos sobre o documento e constatou que era como um termo de responsabilidade que estava ciente das leis da cidade e suas obrigações. Não chegou a ler em detalhes e nem precisava. Só precisava assinar... Procurou em sua volta e não viu uma caneta. Ela também não tinha uma caneta consigo...
_ Estou sem uma caneta senhor. – Confessou Faith com a voz tímida.
O Regente sorriu e aquilo de certa forma deixou Faith preocupada.
A mulher encapuzada que nada tinha dito até o momento, aproximou-se, pegou a mão direita de Faith que a olhou sem nada entender. Então a mulher mostrou um punhal.
_ Estenda a mão senhorita Faith. – Ordenou ela sorrindo de maneira estranha.
Faith então percebeu que seria assinado com sangue... Ela abriu a mão e a mulher perfurou seu polegar com o afiado punhal. Faith sentiu uma pontada de dor, pois, não foi apenas um furinho e sim um corte profundo.
_ Os termos devem ser assinados com o seu sangue. – Esclareceu o Regente.
_ Sim senhor... – Respondeu Faith enquanto marcava o documento com seu sangue.
_ Você pode ir agora. – Disse o Regente recolhendo o documento, enrolando-o e amarrando-o com um cordel vermelho.
_ Obrigada mais uma vez. – Faith se levantou e novamente fez uma reverencia ao Regente.
_ Já tem um lugar para ficar? – Perguntou o Regente.
_ Ah sim... Estou alugando um apartamento no subúrbio. Não é muita coisa, mas, já está ótimo.
_ Faith... – Falou o Regente novamente. Mas, ele tinha um tom diferente em sua voz.
_ Sim senhor?
_ Estou curioso sobre uma coisa...
Faith que estava prestes a sair ficou parada olhando para o Regente esperando o que ele tinha para dizer. Ela tinha medo dele perguntar mais alguma coisa, ou até mesmo coloca-la em uma situação difícil.
_ Pode deixar... – Disse o Regente de maneira estranha. – Depois eu vejo isso. Pode ir.
_ Obrigada senhor. – Faith agradeceu antes de sair pela porta dupla que se fechou assim que ela passou.
Do lado de fora, o homem que a havia guiado até ali estava aguardando.
_ Bem-vinda senhorita...
_ Faith. – Respondeu ela aliviada. – A pronuncia é Fate.
_ Ah sim! – Ele respondeu em um sorriso. – Bem-vinda senhorita Faith.
_ Obrigada.
_ Quando quiser falar com o Regente recomendo marcar um horário com antecedência.
_ Pode deixar.
_ Como sabe que ele me deixou ficar?
_ Você saiu da sala não é?
A resposta pegou Faith de surpresa que nada disse.
Já se passava das uma da manhã quando Faith saiu da igreja. A rua estava com pouco movimento e uma suave e fria brisa soprava quando seu telefone começou a vibrar.
Faith rapidamente pegou o telefone e como suspeitava era seu mentor: D. Simons.
_ Senhor? – Respondeu ela ao atender a ligação.
_ Como foi com o Regente? – Perguntou Simons de forma direta.
_ Foi bem... Ele me aceitou...
_ Ele não questionou sobre seu passado e seu senhor?
_ Sim senhor. Mas, não quis entrar em detalhes.
_ Isso é bom.
_ Que bom que ficou satisfeito.
_ Estamos apenas começando Faith. – Dizia Simons. – Tenho planos para você e logo irei pô-los em pratica.
_ Ficarei feliz em poder servi-lo no que for possível senhor. – Faith estava curiosa para saber quais seriam estes planos, mas, preferia confiar em seu senhor. Ele inspirava uma confiança e Faith sabia de alguma forma que ele não a prejudicaria e isso a tranquilizava.
_ Lembre-se! Para nosso plano dar certo, não podemos ser relacionados de forma alguma.
_ Sim senhor.
Simons já tinha advertido isso antes e pelo visto ele dava muita importância a este detalhe em seu plano. Simons era um vampiro poderoso da cidade, muito rico e de muita influência... Faith por outro lado era uma vampira recém-chegada de passado conturbado e aparência, um tanto, peculiar demais para a alta classe. Não seria bom que os dois fossem vistos juntos.
_ Tenho um trabalho para você Faith.
_ Trabalho? – Faith achou estranho o modo como Simons disse aquela frase.
_ Preciso te colocar em um ponto estratégico. Para isso você precisará ganhar a confiança do Regente.
_ Como farei isso senhor?
_ Basta seguir minhas ordens...
_ Eu farei senhor.
_ Um grupo de praticantes de Voodoo estará reunido essa noite no cemitério da cidade. O Regente não tolera essas práticas na cidade, ainda mais quando há membros envolvidos.
_ O senhor quer dizer que há vampiros praticantes de Voodoo?
_ Sim e o Regente não tolera isso de forma alguma.
_ Acho que tinha algo escrito sobre a pratica de outras religiões nos termos...
_ Mas, este não é o maior dos problemas. Este vampiro está de certa forma... Traindo o Regente, passando informações que não deveriam ser divulgadas.
_ Isso é perigoso...
_ Sim.
_ Você vai caça-lo e devolver os documentos ao Regente.
_ Caça-lo? – Perguntou Faith surpresa. – Quer dizer mata-lo? Não acho que eu seja capaz senhor...
_ Não seja modesta Faith... Você não anda com uma faca escondida não é à toa.
_ Sim senhor...
_ Vá. Acredito que com suas habilidades você possa dar conta dele fácil. Nicholas te levará lá... Ele já deve estar chegando.
_ Sim senhor, eu ligo quando terminar.
_ Alguma dúvida?
_ Na verdade tenho sim...
_ Diga.
_ E os mortais que estiverem com ele?
_ Mate a todos.
_ Sim senhor...
_ Boa noite Faith. – Despediu-se Simons finalizando a ligação.
Era verdade que Faith andava com uma faca escondida no cano de sua bota e também era verdade que ela já havia a usado para se defender. Mas, assassinato? Faith não se sentia à vontade com essa ideia, mas, algo em seu interior lhe dizia que aquilo era o correto a se fazer. Simons não estaria errado! Além do mais, um vampiro não é algo que ela deveria ter misericórdia e nem humanos que se aliam a vampiros. Será que eles não sabem com o que estão se metendo?
Pouco tempo depois, a buzina do taxi amarelo de Nicholas indicava que ele tinha chegado. Nicholas, ou Nick como Faith costuma chama-lo, é um rapaz que Simons pôs para ficar junto de Faith e ajuda-la.
_ Fala Faith! – Disse Nicholas ao parar o taxi próximo a Faith que estava sentada na calçada.
Nicholas é um taxista e conhece muito bem a cidade, ele é negro, cabelos trançados e costuma usar óculos esportes com lentes coloridas. Ele agora mora com Faith dividindo o apartamento e as contas do lugar. Muito bem-humorado Nicholas sabe da situação de Faith e foi incumbido por Simons a ajuda-la no que fosse possível seja levando-a para os lugares, ou até mesmo conseguindo algum bêbado para que ela possa se alimentar em dias difíceis.
_ E aí Nick! – Respondeu Faith levantando-se com dificuldade e entrando no taxi para sentar-se no banco do carona.
_ Resolveu as paradas?
_ Parte delas... Agora tenho outro trabalho.
_ O chefe disse por alto... Tenho de te levar no cemitério não é mesmo?
_ Isso aí.
O carro deu partida. Nicholas como sempre ouvia seus rap no rádio. Por mais que Faith não gostava daquelas músicas, ele tinha deixado claro que o taxi é dele. Por mais de uma vez, mesmo que em tom de brincadeira, Faith ameaçou trocar de motorista.

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