Yukon – Canada – Anos antes
Estávamos nas férias de verão. Alguns amigos do meu curso de hotelaria e turismo planejavam acampar e um tio de um de meus amigos, ofereceu a cabana de férias que ele tinha nas montanhas para nós passarmos uns dias. Iria eu, meu namorado e mais dois casais.
Lógico que meus pais não gostaram em nada dessa ideia, mas, eu os convenci, falando que era para um trabalho da faculdade, afinal, eu iria tirar muitas fotos das paisagens e fazer uma espécie de book mostrando as belezas naturais e aquela coisa toda.
Bom... De toda forma, saímos no sábado bem cedo. Fomos na van do Lucas, o tio dele que tinha emprestado a cabana. A viagem era bem longa, chegamos sábado de tardezinha às montanhas, mas, teríamos de fazer o resto da trilha a pé. Pegamos nossas mochilas e fomos caminhando montanha acima. Apesar de ser verão, fazia um pouco de frio, era possível ver o alto das montanhas ainda branco de neve, mas, a floresta ao nosso redor era bem verde e viva. Aproveitei para tirar umas fotos.
Luan (irmão de Lucas) contava que tinha muito tempo que ele e sua família não passavam alguns dias na cabana, mas, pelo o que ele lembrava era um local muito bonito, com um grande lago de água cristalina, cercado por uma volumosa floresta verdejante. O caminho trilha acima corroborava com as descrições de Luan e Lucas, a região montanhosa era cortada por riachos que contornavam as rochas se dividindo e se reencontrando diversas vezes durante o percurso, tudo muito bonito.
Algum tempo de caminhada depois, chegamos a tal cabana. Uau! Que lugar lindo! A cabana de madeira, que não era grande, mas, parecia ser bem aconchegante, ficava às margens de um grande lago de águas cristalinas, ao redor do lago um verde bosque e por detrás das arvores era possível ver uma linda cadeia de montanhas que ainda estavam cobertas de neve em seus cumes. E além das montanhas, podíamos ver um magnifico por do sol que tingia todo o cenário de alaranjado.
Entramos para a cabana e como eu suspeitava ela era bem simples, mas, era tudo muito bem organizado e bonito, um tapete felpudo cobria o chão da sala que era mobiliada com dois sofás grandes e bem confortáveis, uma lareira que Lucas já se preparava para acender; havia uma pequena cozinha, com fogão, micro-ondas, geladeira; dois quartos, um maior e outro menor e um banheiro com banheira. Luan explicou que precisava ligar o gerador que ficava no lado de fora para podermos ter energia elétrica... Pelo menos tínhamos sinal de telefone, apesar do sinal de internet ser bem ruim naquela região montanhosa.
Durante a noite tivemos um lindo céu estrelado com lua crescente que parecia muito mais brilhante ali do que na cidade. Fizemos uma fogueira às margens do lago e assamos marshmallow enquanto bebíamos e ouvíamos música que era tocada no meu notebook. Bom... Eu bebia pouco, qualquer um ou dois copos já me deixava alterada e não queria ficar bêbada no meio do nada. Eram quase meia noite e o pessoal já estava bem alterado pelo álcool, cantarolávamos as músicas em voz alta e riamos das imitações que tentávamos fazer. Uma parte do grupo começou a usar drogas... Bom, eu morria de medo de usar e era muito contra a ideia, mas, fiquei quieta no meu canto abraçada com meu namorado para me aquecer do frio que estava começando a incomodar.
Duas da manhã já estavam de volta à cabana. Meu namorado e eu ficamos em um dos quartos, onde aproveitamos o frio para dormirmos abraçados debaixo dos cobertores e claro, nos aquecemos de uma forma mais... Intima. Luan e sua namorada ficaram no outro quarto já Lucas e sua “amiga”, ficaram na sala.
Aquele lugar era incrível!
No dia seguinte, Lucas nos levou rio acima até uma região rochosa, que para minha surpresa tinha uma linda cachoeira que desaguava em um rio de águas cristalinas. Não era uma cachoeira tão alta, devia ter uns 5 metros por aí. O rio era bem extenso naquela parte, o que o deixava bem raso, com pouco mais de um metro de profundidade nas partes mais profundas, suas margens era como uma praia de pedrinhas pequenas e arredondadas pelo tempo, essas pedras cobriam todo o fundo do rio e com a agua tão transparente era possível ver peixes pequenos que se afugentavam quando nos aproximávamos.
Nadamos por um bom tempo naquela parte do rio, Luan fez uma fogueira para nos aquecer, pois, pela manhã a água era bem fria. Enquanto o pessoal tremia de frio e se aquecia na fogueira, eu tirava dezenas de fotos do lugar. Era tudo tão bonito que eu me esquecia do frio...
Voltamos na hora do almoço, onde todos ajudaram a preparar a comida. Comemos, bebemos e nos divertimos muito durante a tarde. Pena que nosso fim de semana já estava para terminar... Iriamos partir na manhã seguinte. Quase todos trabalhariam na segunda de manhã.
Mas, eu não podia ir embora sem tirar mais fotos do lugar! Ao final da tarde, avisei ao pessoal que ia sair para tirar mais algumas fotos do por do sol, os meninos já estavam bêbados, então não chamei meu namorado, afinal, não precisava ter medo de nada naquele lugar paradisíaco.
Subi o rio novamente.
No caminho tirei muitas fotos até chegar novamente na cachoeira. Como eu imaginava a posição dela seria ótima para tirar algumas fotos do por do sol, pois, dependendo do ângulo eu poderia registrar um lindo espetáculo de cores e luzes.
Eu estava na água, apenas de maiô e minha câmera na mão, a agua estava abaixo de minha cintura, eu queria uma foto com a luz do sol refletindo na água... Foi então que eu o vi... Era enorme! Um urso caminhava pela margem em minha direção! Eu não consegui raciocinar direito no que fazer, fiquei paralisada olhando para ele... Foi então que ele começou a correr!
O urso começou a correr em minha direção! Eu desesperada comecei a correr para fora do rio, a água e as pedras dificultavam minha tarefa. Mas, eu precisava correr! Saí do rio e pensei em correr de volta para a cabana, mas, teria de passar por aquele urso gigantesco! Então decidi tentar despista-lo e dar a volta até chegar à cabana. Eu corri como se fosse a última coisa que pudesse fazer em minha vida! Mas, eu sabia que ele estava logo atrás de mim! Eu ouvia seus rugidos e o som de suas patas quebrando os galhos que pisava. Eu gritava por socorro e corria. Tentei correr por entre as árvores e pedras, pois, ele era muito grande para poder passar por alguns lugares, mas, não conseguia me distanciar e para meu desespero eu começava a me cansar rápido! Parei de gritar... Precisava controlar a respiração, ou então seria meu fim. Joguei a câmera no chão, ela só me atrapalhava e mesmo que aquelas fotos fossem muito importantes, era a minha vida que estava em jogo!
O urso continuava a me perseguir...
Eu já não aguentava mais correr, estava cansada e ofegante, estava começando a ficar lenta... Eu não tinha mais forças para correr! Pensei que seria aquela a hora de minha morte. Então decidi correr em direção a um paredão de pedra, se eu conseguisse escalar nem que fossem uns poucos metros estaria salva, mas, à medida que me aproximava eu começava a me desesperar, pois, não via como conseguiria escalar as pedras da montanha a poucos metros de distancia. O paredão de pedra era mais íngreme e liso que eu imaginava, eu certamente não conseguiria escalar o tanto que seria necessário. Mas, ainda sim, eu corria em direção à montanha, o som dos passos do urso e de seus rugidos me impulsionava, fazendo com que eu tirasse forças de onde eu não tinha.
Impossível! Não teria como escalar aquilo! E agora estaria encurralada!
Nessa hora eu vi uma pequena fenda na rocha. Parecia a entrada de uma caverna, mas, era bem estreita até mesmo para mim. Ou seja, o urso nunca passaria e eu estaria segura ali dentro. Impulsionada por mais esse fragmento de esperança eu corri o máximo que podia!
Eu jamais correria daquela forma novamente...
O urso estava em meu encalce, eu já podia sentir o calor de sua respiração em minhas costas. Mas, eu finalmente alcancei a fenda e me espremendo eu passei e me joguei lá dentro.
A dor... Uma dor que não sei como descrever... A pior dor que eu já senti em toda a minha vida...
Eu não fui rápida o suficiente... O urso mordeu minha perna direita e tentava me arrastar para fora da caverna. Eu gritava de dor e tentava me segurar em qualquer lugar que fosse possível, mas, ele era muito mais forte do que eu. Com a perna esquerda eu me apoiei na entrada e me agarrei em uma rocha. Minha perna ardia e eu podia ouvir o som de meus ossos estalando. Tudo o que eu podia fazer era me segurar com todas as minhas forças e gritar de dor... Doía demais! Pensei que fosse morrer...
Mas, não... Ele me soltou... Eu tinha sobrevivido...
Arrastei-me para o fundo da caverna, que era ainda menor do que eu imaginava, devia ter uns dois ou três metros de profundidade. Eu chorava de dor enquanto tentava chegar ao mais fundo da caverna possível. Foi quando eu me virei e vi um rastro de sangue... Meu sangue... O desespero tomou conta de meu coração novamente, quando eu vi que o urso tinha arrancado a minha perna, deixando uma ferida horrível que sangrava bastante espalhando meu sangue pelo chão.
Desesperada eu não sabia o que fazer e comecei a chorar e gritar por socorro... Mas, estava perdendo sangue demais... Minha voz estava fraca e logo a dor sumiu, meu corpo começou a ficar dormente e minhas vistas começaram a embaçar e escurecer. Eu estava morrendo! Eu não podia desmaiar, eu tinha de ficar consciente...
Não adianta... Estamos há quilômetros de distancia de um hospital... Eu perdi muito sangue... Perdi minha perna... Eu vou morrer!
_ Alguém... Me ajuda... – Mas, minha voz era apenas um sussurro.
E tudo ficou frio e escuro...

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