Aquela cidade sem nome parecia ser avulso naquela realidade, todas as pessoas seguiam sua rotina diária, realizando afazeres sem a utilização de máscaras de gás, muito menos vestimentas especiais que iriam protegê-los de qualquer tipo de contaminação, não era notável alguma deformidade em decorrência de alguma enfermidade daquele tempo, é como se o fim do mundo não alcançasse eles.
Os cinco chamavam muita atenção, utilizando macacões e máscara de gás, no caso da Soraya, carregando um cão deformado.
Aqui tem um bar, campo de criação de gado e de plantação, uma escola, tudo precário porém funcional. - Concluiu Lis.
Isso aqui é o paraíso! - Disse Roger estupefato.
Mas o que é estranho é como a névoa tóxica não chegou até aqui, mesmo sendo um plano elevado, por conta da mudança de temporada pela questão de tempo até que eles fossem alvejados por ela. - Comentou Nicholas.
Seja o que for, não temos tempo a perder, vamos atrás de peça para nosso tanque e sumir daqui.
Roger parou em frente há um estabelecimento com uma placa de há vagas e um filme passou pela sua cabeça, desde antes do mundo acabar, ele não teve um minuto sequer de paz, sofrendo de ansiedade, estresse pós traumático entre outros problemas psicológicos, ele sempre lutou para sobreviver, atrás das trincheiras, atrás do bunker, e foi aí que ele percebeu o que ele mais queria, paz e tranquilidade.
Uma comunidade unida para mantê-la funcional, você só precisava manter sua função e teria o resto do dia para descansar, trocando de escala com outro que pudesse fazer o mesmo trabalho que você, se preocupando apenas no que comer, ou o que vai vestir no dia seguinte.
Sabe, não seria de todo ruim se passarmos alguns dias por aqui!
Você tá brincando? É o remédio do Nicholas. - Protestou Soraya.
Veja ele, ele não teve mais crise de tosse, sem contar que dúvido que o bunker móvel será consertado em apenas um dia, podemos ficar por aqui, ver como tudo funciona e decidir o caminho de cada um.
Mas… - Nicholas interrompeu Soraya pegando-a pelo braço.
Está tudo bem Soraya, eu também estou cansado de comer enlatados ou cogumelos, vamos nos instalar por aqui por ora.
Vocês sabem minha opinião de desconfiança ao desconhecido, mas não acho que essa cidade seja tão ruim assim. - Disse Lis.
Eu ainda quero ver uns gados de verdade, não aberrações como vimos anteriormente, sem ofensas ao Seboso.
Seboso assentiu com um latido.
Eles removeram as máscaras, o macacão e foram atrás de uma pedra para enterrá-los, Soraya permaneceu na entrada da cidade para poder vigiar algum movimento suspeito, e por ser a primeira a retirar todas as vestimentas de proteção antes dos demais, eles foram primeiro para uma loja de roupas onde puderam trocar os pijamas que eles utilizavam por baixo do macacão e assim poder parecer mais natural e não chamar tanta atenção.
Não temos dinheiro para isso! - Afirmou Roger.
Dinheiro? Isso é um costume do mundo antigo, aqui trocamos trabalho coletivo pelas peças de roupa, ajude a comunidade da forma que vocês puderem ser mais úteis e assim o valor será quitado.
Não é muito diferente do antigo mundo.
Nicholas foi interrompido com uma cotovelada da Soraya no tórax.
Vocês eram os esquisitos de roupa de proteção, não é mesmo? - Perguntou a atendente.
Nós chamamos tanta atenção assim?
É lógico, faz muito tempo que grupos das terras tóxicas vieram para cá, pois bem, sejam bem vindos, irei documentar as vestimentas que vocês tiraram na prefeitura para que seja registrada o protocolo de débito.
“Prefeitura” e “burocracia” eram bem comuns no velho mundo.
Para com isso Nicholas! - Retrucou Soraya.
A atendente riu.
O velho mundo tem práticas da qual discordamos, mas o que concordamos era a forma de organizar os trabalhos, é por isso que adotamos algumas ferramentas do passado para reerguer essa cidade.
Estou impressionada, o doutor Geto ficaria feliz em estudar sua comunidade, o sonho dele era erguer uma civilização do zero.
Doutor Geto? - Disse a atendente assustada.
Sim! Você o conhece?
Não! Apesar do nome familiar, sejam bem vindos a cidade…
Com o intuito de pesquisar melhor aquela cidade, cada um foi para um canto, Nicholas e Roger foram direto para a clínica, talvez não encontrassem o remédio que ele precisava para estar de vez curado da doença dos fungos, mas vale a pena arriscar, dentro do hospital eles foram muito bem atendidos, Nicholas passou por uma bateria de exames, enquanto Roger mostrava receoso com a situação.
Vocês são novos por aqui? Podem ficar tranquilos, ele estará em boas mãos. - Disse a enfermeira.
Está tão na cara assim?
Sim, e também porque a notícia de cinco esquisitões terem aparecido na cidade espalhou por toda a cidade, aqui é bem pequeno, as notícias vêm muito rápido.
A porta do consultório se abriu, um senhor calvo com cabelos nas laterais e grisalho, portanto um jaleco branco e óculos de grau chamou Roger para dentro da sala, ele entrou e notou que Nicholas o estava aguardando.
Vocês vieram em uma boa hora, o caso do Nicholas foi analisado e receio que está em um processo bem avançado, se demorassem um ou dois dias ele seria levado ao óbito.
Meu senhor! - Disse Roger colocando as mãos na boca.
Mas contudo, temos o remédio para poder tratá-lo, ele só precisa tomar diariamente uma dose a mais e em menos de um mês ele estará curado.
Uma expressão de alívio tomou conta do rosto de Nicholas, ele já tinha aceitado o fatídico fim, e agora tinha a chance de se recuperar e continuar vivendo junto com quem ele mais importava.
Os dois saíram da clínica completamente extasiados, aquela cidade tinha tudo a oferecer, remédios, educação, comida, era um ambiente nada hostil como eles imaginavam.
Eu estou feliz que seu egoísmo nos levou a minha cura Roger.
Desculpa por pensar em mim, mas fico feliz de tudo ter dado certo.
Lara estava maravilhada com tantos animais diferentes que ela podia ver, vacas, bois, ovelhas, galinhas, criaturas que ela só conhecia nos livros ilustrados estavam à sua frente, ela até tentou brincar com um galo, mas logo foi atacada pelo mesmo.
Lis e Soraya estavam hospedadas no hotel da cidade, o quarto minúsculo, porém munido de duas camas, uma tv e uma porta que levava ao banheiro, iluminação a vela, Lis estava sentada na cama tentando zapear algum canal, mas todos estavam fora do ar.
Porque diabos tem uma tv se não funciona então? - Reclamou Lis.
Soraya saiu do banheiro feliz da vida.
Escuta Lis, aqui tem banho quente, nunca imaginei que eu pudesse voltar a tomar banho com água morna.
Ela se deitou na cama, e Lis protestou.
Sai da cama de roupão, você vai molhar todo ele e pegar um resfriado.
Que eu pegue um resfriado, eu sei que tem uma clínica aqui perto que curou o Nicholas, estou tão feliz.
Sério mesmo? Isso é incrível.
Soraya se levantou.
Eu pensava que este doutor Geto tinha inventado o remédio de fungo.
Não, ele estava disponibilizado em todos os bunkers, na verdade o criador original foi o primeiro a prever que o fim do mundo seria ocasionado por contaminação da água e ar, apesar de ele tratar todos como cobaias e sua bússola moral ser bem quebrada, foi graças aos trabalhos dele que pudemos cuidar de pessoas com doença do fungo.
Será que esse cientista veio parar aqui?
Dificilmente, ele fugiu do país antes do mundo colapsar, pode ser que o pessoal dessa cidade encontraram esse remédio em bunkers abandonados e alojaram por aqui.
O fim do dia chegou e os cinco estavam esgotados, cada um apresentaram seus relatórios sobre a cidade, Lis sugeriu ir ao bar para averiguar a qualidade dos destilados, Roger queria ir à prefeitura ver como funciona toda a questão burocrática e quitar os débitos que eles haviam deixado na cidade, Nicholas queria ir para o mecânico em busca de peças de carros que eles pudessem utilizar no bunker móvel e Lara chamou a Soraya para ver os animais da fazenda.
Mas antes de cada um ir para seus quartos, Lis chamou Roger para conversar em particular.
Sabe, tudo que está acontecendo aqui, você não acha um pouco suspeito?
Em que sentido?
Aqui é perfeito demais, é uma cidade civilizada, tem médico e educação disponível e tecnicamente de graça, comida farda, até água quente, pelo que pude ver utilizando o equipamento de medidor de toxicidade, tudo está muito baixo o que indica que tudo aqui é comestível ou perfeito para o uso.
Eu entendo sua desconfiança, também penso o mesmo, mas lembre-se, estamos aqui até conseguirmos arrumar o bunker móvel.
É verdade.
Roger riu, o que irritou Lis.
O que é heim!!
É porque alguém que desconfia de nós três deste sempre, você me chamar no particular para dizer sua desconfiança em relação aos demais me surpreendeu.
Lis se envergonhou por um momento.
Eu não tenho escolha, se eu não posso confiar em vocês quatro, quem mais eu posso contar.
Está bem! Espero que no fim dessa jornada você possa abdicar desse bracelete estúpido.
Não seja por isso. - Ela tirou do bolso um relógio de pulso. - Se um de nós estivermos em perigo, é só pressionar seu bracelete ou eu pressionar esse pino do relógio e enviaremos nosso rastreamento um para o outro, assim nós garantimos para qualquer adversidade.
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