Nadya estava mentindo. Ivan contaria para Morena se estivesse envolvido em algo grande assim, não tomaria uma decisão dessa magnitude sem consultá-la. No entanto, Nadya falara com tanta segurança. E se ela soubesse de algo que Morena não sabia? E se aquele detalhe em sua história, de Ivan deixá-la por um projeto de pesquisa, na verdade fosse uma realidade?
Quando saiu do banho, Ivan estava deitado com um braço cobrindo o rosto, atravessado na cama larga, usando o único sanfu que trouxera para a viagem, uma peça única em azul-escuro trespassada e amarrada na cintura por um cinto do mesmo tecido. O peito subia e descia de forma controlada, da forma que indicava que estava concentrado na própria respiração para tentar desacelerar o fluxo de pensamentos. Morena se encostou na soleira da porta, admirando-o. O desenho dos músculos do marido ficava perfeitamente delineado sob o tecido, das curvas do braço às linhas rígidas do antebraço que levavam até os dedos longos, as coxas firmes que se transformavam em pernas compridas, todas as linhas conectadas como um quadro de um exímio pintor.
Nos últimos meses, Ivan tomara para si a sabedoria popular de Xenon de que para praticar boa Alquimia, o corpo e a mente deveriam estar bem trabalhados, e adicionara treinos físicos às rotinas de concentração e foco que faziam todos os dias pela manhã. Enquanto Morena só ganhara peso desde que saíra da Azote — racionalmente, ela sabia que as magias que Entropias usavam gastavam muita energia do corpo, mas nunca parara para considerar que quando parasse de fazê-las com tanta frequência, se transformariam em coxas e quadris mais grossos — Ivan ficava cada vez mais afiado, mais uma das lâminas que seu pai tinha fabricado.
As palavras da tia de Aleksey ainda ressoavam na mente de Morena e ela tentou se imaginar em um mundo em que Ivan não estivesse por perto, em que ela não convivesse com suas ideias, com seu entusiasmo inesperado, com a doçura e a gentileza que ele sempre oferecia. Tentou imaginar um mundo em que não podia compartilhar o que pensava e sentia com ele, em que sua voz grave não ocupava todos os espaços da casa, em que não estava ao seu lado para acompanhar cada mudança que acontecia em sua vida. Era quase impossível imaginar, quase insuportável de pensar. Não fazia muita diferença se fosse seu marido ou não, se o relacionamento deles possuísse a parte sexual ou não, para ela, era a intimidade e a confiança que compartilhavam entre si que era o mais importante. Todo o resto vinha depois e era consequência daquilo. A única pessoa em quem confiava tanto quanto confiava em Ivan era Aleksey.
Porém, se perguntassem para ela dois anos antes o que faria se Aleksey a deixasse, a resposta teria sido exatamente a mesma que dera quando Nadya perguntara a respeito de Ivan: impossível.
Nunca iria acontecer.
Só que havia acontecido.
Ela respirou fundo e deu um passo em frente, fazendo barulho para que o marido não se assustasse. Ele tirou o braço do rosto e levantou a cabeça, abrindo um sorriso imenso ao vê-la, os olhos se estreitando. Começou a se levantar, mas Morena o impediu com um gesto e subiu na cama, se aninhando contra ele, afundando o rosto em seu peito. Ivan a abraçou pela cintura, acomodando-a melhor contra si. Conseguia ouvir o coração de Ivan batendo contra o peito em um ritmo constante, a respiração dele a acalmando um pouco, ancorando-a de volta à realidade.
Precisava focar no que estava acontecendo ali, e não nas preocupações que sempre manchavam seus pensamentos.
— Você está com fome? Quer comer algo? — perguntou Ivan e passou uma mão no cabelo de Morena, beijando-a na testa.
Ela encostou o ouvido em seu peito, sentindo a voz reverberar e suspirou, tentando encostar mais de seu corpo contra o dele.
— Está tudo bem, eu só quero ficar assim um pouquinho, pode ser? — murmurou contra a pele dele, a voz saindo um pouco abafada.
Ivan concordou e a ajeitou, apoiando a cabeça dela no braço, puxando uma das pernas dela para cima do quadril dele, encaixando-a contra si em uma posição que era quase inerente a eles. Morena levantou o rosto e o beijou no queixo, usando uma das mãos para explorar os músculos das costas de Ivan por dentro do tecido do sanfu, fazendo-o suspirar de forma quase inaudível, como sempre fazia quando estava satisfeito de tê-la junto de si, segura.
— O que aconteceu? — perguntou ele baixinho e levou uma mão à coxa dela, imitando os movimentos que ela fazia em suas costas.
— Nada demais — mentiu, subitamente ciente de que ele também poderia mentir com a mesma facilidade que ela. Ciente de que se fosse para não incomodá-la no momento confuso em que viviam, talvez ele guardasse informações para si. Ela engoliu em seco. — Eu só não gosto de… ficar perto dessas pessoas. É um lembrete constante de que não há lugar para mim entre eles. Fico sempre com a sensação de que estou sozinha, mesmo rodeada de gente. Não gosto de me sentir assim.
— Morena, meu amor… — Ivan levou uma mão ao queixo dela e levantou seu rosto, acariciando os lábios dela com o dedão. — Você sabe que eu estou com você, sempre. Eu estaria com você hoje o dia inteiro, se você tivesse permitido. Se depender de mim, você nunca vai ficar sozinha. Nunca, em nenhum momento da sua vida. Lembre-se disso.
Morena sentiu seu coração se acelerar e lutou para não desviar o olhar, afastando uma mecha de cabelo preto do rosto do marido, de onde insistia em cair.
— Não tem como você estar comigo em todos os momentos, Ivan — brincou ela, focando na parte que a deixava menos nervosa.
— Ah, mas eu posso tentar, não posso? — Ele deu um meio sorriso, subindo a mão que acariciava a coxa mais para cima, puxando o tecido da roupa junto, e ela riu. — Pelo menos você sempre vai ter certeza que tem alguém que odeia tudo isso tanto quanto você.
— Eu nunca me esqueço disso. — Morena segurou a mão que ainda estava em seu rosto e depositou um beijo delicado nos dedos dele. — Eu sinto que nem tenho como agradecer por tudo que você faz por mim e por ter topado me acompanhar nessa vida doida na Corte.
— Morena, meu amor, você estar aqui, nos meus braços, é agradecimento mais do que o suficiente — disse ele em voz baixa, ainda tranquilo. — Você me deixar estar ao seu lado, me deixar ser seu companheiro nessa jornada é muito muito mais do que eu pedi. Eu vou estar aqui para você até o fim, em todas as dificuldades, em todos os problemas, do seu lado, te apoiando e te esperando para te abraçar ao fim de um dia difícil como hoje.
O coração de Morena acelerou, as palavras dele pesando sobre o cômodo. Ela perdeu o fôlego sob o olhar intenso de Ivan, sentindo as lágrimas subirem aos olhos, sem conseguir formular uma resposta. Perceber a certeza na voz dele era o suficiente para lembrá-la de que Ivan era seu parceiro, acima de tudo, e que estava ali porque era o desejo dele, porque se importava com ela, porque juntos eram mais fortes para enfrentar tudo que o mundo jogasse contra eles. Morena passou uma mão pelo cabelo de Ivan, beijando as duas bochechas, os olhos fechados, seguindo a linha reta do nariz até encontrar seus lábios, a outra mão apoiada contra o peito dele, por dentro da roupa.
Ivan retribuiu o beijo, enfiando os dedos no cabelo de Morena e puxando-a para mais perto para ter um acesso mais fácil para explorá-la com sua língua, fazendo-a se arrepiar e soltar um gemido involuntário. Ele virou o peso dela na cama, de costas, e a beijou como se dependesse daquilo para respirar, mordiscando-a, chupando seus lábios, acariciando-a com uma voracidade de um homem faminto, deixando-a com as pernas trêmulas. Subiu a mão que estava na coxa, erguendo a chemise, e traçou a tatuagem que os unia com a ponta dos dedos, fazendo-a gemer novamente quando chegou nos galhos que se acomodavam embaixo do seio. O toque parecia colocar fogo na pele de Morena e quando ele envolveu com a mão um dos seios que estavam pesados, sensíveis, ela mordeu o lábio inferior dele, fazendo os dois gemerem juntos. Ela nunca fora tocada daquela forma por ninguém além de Ivan, mas tinha certeza que ninguém faria igual ele, ninguém pareceria ser feito tão sob medida para o corpo dela, ninguém conheceria seu corpo tão bem.
Morena deslizou a mão pelo tórax de Ivan, acariciando-o até a altura do cinto que fechava a roupa nos quadris e o puxou para cima de si, uma das coxas dele entre suas pernas, seu peso um lembrete muito bem-vindo de que ele estava ali, de que sempre estivera e sempre estaria. Conseguia sentir a pele quente das coxas contra a de Ivan, a excitação dele presa atrás do tecido do sanfu, roçando contra a sua barriga, fazendo o desejo se acumular entre as pernas dela. Ela queria se livrar de tudo que separava sua pele da dele e deslizou dois dedos pelo cinto até chegar no nó que o prendia.
Ele se afastou, ofegante, e a ajudou a passar a chemise por cima da cabeça e em seguida jogou a própria roupa pela lateral da cama. Depois, ficou apoiado com um dos braços na cama, descendo o olhar lentamente pelo corpo dela, umedecendo os lábios. Morena moveu os quadris, roçando contra a perna dele, o prazer que vinha da fricção só acentuando a tensão que sentia. Ivan a beijou novamente, dessa vez não deixando que ela o capturasse com a boca, desenhando uma linha de fogo com seus lábios no corpo dela, um dos seus dedões acariciando o osso do quadril. Desceu os lábios pelo pescoço dela, cada centímetro que avançava fazendo-a desejá-lo mais, fazendo-a se mover contra ele com mais insistência.
Então, Ivan parou a trilha de beijos um pouco cima da junção entre os seus seios, encarando-a como se ela fosse a pessoa mais importante do mundo inteiro, como se fosse a razão pela qual o sol se levantava todos os dias pela manhã, como se ela fosse uma deusa, ali, em suas mãos, e ele mal pudesse acreditar a sorte que tinha.
— Eu te amo — declarou ele, se inclinando para beijá-la nos lábios novamente.
Morena passou uma mão pelo cabelo dele carinhosamente e o fez olhar para ela mais uma vez, esperando que ele visse em seus olhos o quanto ela também o amava, o quanto ela se importava. Que Ivan soubesse que ela também estaria ao seu lado enquanto ele a quisesse, que não havia nada que a fizesse abrir mão da confiança e do conforto que forneciam um para o outro. Desenhou os lábios dele com um dedo antes de provocá-lo:
— Ama mesmo? Eu acho que preciso de uma demonstração.
Ela ergueu uma sobrancelha e Ivan gargalhou, abrindo as pernas dela e se ajoelhando entre elas, uma mão apoiada em cada joelho, olhando para baixo demoradamente. Morena sabia que não precisava falar nada do que sentia, porque podia mostrar. E que forma melhor de fazer isso do que se entregar completamente para ele? Do que transformar aquilo em um dos jogos que Ivan gostava tanto, que ela gostava tanto?
[Continua na Parte 4]
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