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Chemtrails: Quark Children

Corpos de Água

Corpos de Água

Mar 22, 2023

Num amanhecer chuvoso, em uma planície há longa distância do vilarejo, surgia a mesma criatura sem cor que havia invadido a aldeia, voando baixo e inspecionando cada arbusto e árvore que encontrava, até se deparar com um arandeiro, planta do mirtilo, logo abaixo de uma solitária árvore ao meio do pampa.

De apenas um caule, e nenhum galho sequer, com suas folhagens diretamente ligadas ao tronco, o que não foi detalhe importante para a criatura, que focou em suas frutas. Embora tivesse um bico enorme e deformado, conseguia pegar os mirtilos com precisão cirúrgica. Porém assim que mordiscou o último mirtilo, o bicho é atingido em cheio por um raio.

Após permanecer flutuando estático, com faíscas elétricas surgindo ao redor, a criatura se contorce como um pano de chão, até seu corpo quebrar por inteiro, despedaçando-se como vidro, os fragmentos se desfazendo em uma nuvem escura que dissipou em questão de segundos.

A origem do raio foi o clima, mas não apenas. No meio de uma das florestas próximas, uma figura coberta pelas sombras das árvores permanecia com sua mão estendida na direção do local onde o bicho estava. Possuía pele azul, mas nada além disso podia ser determinado.

Mantinha seu braço estendido, mesmo depois de ter, de alguma forma, causado o evento que afetou a criatura da noite.

Aos poucos, uma figura muito menor caía de onde a criatura estranha foi expurgada, porém, sua descida se fazia mais lenta que o normal, como se resistisse à gravidade, até pousar suavemente ao lado do mirtilo.

Era um filhote de pastor alemão, de apenas nove semanas, desacordado, mas parecia ainda respirar. Parte de sua pelugem estava coberta por uma tinta escura e oleosa que lentamente evaporou na mesma fumaça escura liberada pela criatura anterior.


— A princípio, a entidade parece estável, doutora. — Uma voz distante ecoava.


A paisagem ao redor derrete, a visão era engolida por um turbilhão de cores, claros e escuros, e aos poucos, a entidade vermelha surgia, e percebia que estava olhando para sua própria mão estendida, uma experiência que jamais havia presenciado antes, mas que de certa forma, também era muito familiar.

— Mas, ainda tenho uma dúvida. — A voz prosseguia.


— Por que... Por que não tem batimentos?

Ao se levantar, percebeu que a menina não estava mais ali, nem mesmo o colchão. A entidade logo saiu de sua cama, a deixando desarrumada e indo até a porta, espiando os arredores através do pano.

Caminhando ao longo do corredor nos passos mais leves que conseguia fazer, a fim de não causar muito ruído no assoalho da casa, até chegar a porta e finalmente, sair.


Embora houvesse muitas casas no topo do morro onde o casarão ficava, grande parte da vila ficava na baixada, escorrendo ao longo do vale até chegar ao rio que dividia os montes.

Assim que seus pés tocaram na grama, notou que estava usando chinelos, e só aí também percebeu que estava vestido, uma camisa e saia similar à de Lídia, com a exceção de não ter o mesmo cinto, e sim uma corda escondida, da mesma cor que a roupa.

A curiosidade lhe convidou a passear, seguindo a estrada de chão e mergulhando a fundo dentre as casas, os moradores lhe seguindo com o olhar intrigado, e nervoso.



As moradias eram em sua maioria, feitas de concreto em um padrão estranho de pilares e ângulos espessos, com algumas exceções, como o casarão.

Em frente de uma dessas casas em específico, haviam decorações de várias estacas de ferro, apontando afora da porta, que estava aberta, e, ao ter sua atenção fisgada, a entidade se aproximou, até chegar na entrada.

 

Quando seus olhos se adaptaram à luz do interior, avistou uma figura ao meio do pequeno salão, confortada em meio a diversas almofadas, uma senhora, de idade incerta.

Sua pele tinha diversas cicatrizes inchadas, que seguravam uma bengala.

Ela levava a mão até uma pequena mesa, a trilincar com vários utensílios, uma colher, uma xícara, um pequeno pote com algum componente de uma planta triturado, e um bule pequeno.

A senhora não tinha percebido a presença do Ser na porta, mas quando este saiu, ela se virou, seus olhos, cujo um dos quais tinha a íris descolorida, e o outro, a pupila distorcida, estavam arregalados.

 

Um arrepio subia a espinha da entidade, conforme continuava a descer o desfiladeiro.

Não muitos passos depois, sua atenção era fisgada por outra figura, um rapaz alto, a subir o morro, levando apoiado em suas costas, uma espécie de tambor escuro, o qual de alguma forma, o menino sabia que continha água.

Mas esta não era a razão de seu instinto apitar, e sim pelas marcas que o rapaz tinha no braço e no rosto, ferimentos enfaixados que pareciam ser queimaduras, mas que de longe teriam sido causadas por fogo, tinham um aspecto similar aos da senhora do templo.

Embora suas mãos enervassem, em vontade de fazer algo sobre aquilo. Mas no fim, sobrou apenas um pressionar dos lábios, conforme o maior já teria passado e seguido seu caminho.

 

 

 

— Ei, você.

— AH!

Atrás do Ser, coberto por um manto grosso e com um olhar frio, estava outra figura, o conselheiro.

O susto do menor em sua aparição apenas contribuiu para seu desdém, que se espalhava dos olhos para o resto da cara.

— O que pensa que está fazendo?

— Uhm, estou... Procurando.

— Por?

— Lídia?

— Ela está trabalhando, fazendo tarefas para o vilarejo, coisa que você também deveria estar fazendo agora mesmo.

A mão do conselheiro sai de seu manto, indo direto ao peito da entidade, lhe cutucando.

— Não é simplesmente porque você foi brincar de peixinho ontem e quase se afogou que vais ganhar uma auréola pra ser o anjinho que nada faz nesse lugar, está me entendendo?!

— Si-... Sim!

Antes que pudesse se afastar do conselheiro, este o agarrou pela gola de sua camisa, o puxando para perto de novo.

— Me chame de senhor Leivos, sempre.

— Certo... Senhor Leivos.

O canto esquerdo da boca da entidade tem um pequeno arrepio.

— Ah, já tenho uma tarefa para ti.

Soltando a figura, e marchando até uma das casas próximas, encontrou um cesto qualquer, e o jogou para a entidade, que o segurou por pouco de o deixar cair, cambaleando o objeto dentre cada palmo algumas vezes.

— Encha essa cesta com frutas-do-conde e traga até o casarão para mim.

A figura assentiu, sendo respondido com o conselheiro fazendo um gesto de apontar dois dedos aos próprios olhos, e então apenas o indicador na direção da entidade. Após isso, o conselheiro se afastou, voltando a subir a estrada para ir até o casarão.

Durante sua caminhada, a figura notou que ele tinha um andar estranho, e ao prestar mais atenção, quando o vento ergueu o manto que o velho vestia, mostrava que uma de suas pernas era uma prótese improvisada com mecanismos de metal.

 

Olhou para a cesta, e para as casas, escolhendo se aproximar de uma onde moravam um grupo de garotos, todos eles usavam uma espécie de brinco de um componente eletrônico na orelha direita, um capacitor.

— Com licença, onde... Onde encontro a fruta-do-conde?

Apenas silêncio foi transmitido, conforme eles se olhavam, e até que um consenso foi tido ao simplesmente entrarem dentro da casa, e fecharem a porta.

— Oh... Obrigado, huh.

 

— O conselheiro jogou você na lama também, não é? — Ela chegou.

De imediato o Ser se virou para a nova voz, e finalmente desabafando.

— Nem me fale, ele me pediu pra encher esse cesto de-

— Pinhas, é um outro nome para aquela fruta, sei onde encontrar. Aliás, — A garota olha para a casa dos piás de brinco esquisito, especificamente pra um deles ainda visível através da janela. — Ei!

A atenção do rapaz é capturada, e ele se aproxima da abertura, olhando para Lídia.

— Algum progresso no conserto daquele negócio? — Ela inquiriu, apontando para o lóbulo da própria orelha, referindo-se ao brinco do rapaz.

O menino olha de volta para dentro da casa, sua boca se movia, mas o que estava dizendo não podia ser ouvido pelos dois ali fora.

Seu olhar saltava entre vários pontos, recebendo a resposta de várias pessoas. Até que voltou a pôr a cara pra fora da janela, retornando a Lídia.

— Conseguimos fazer ligar, o alto-falante tá funcionando, mas tudo que conseguimos foi chiado, porque a antena tá com problema.

A garota não vocalizou uma resposta, apenas assentindo com a cabeça e realizando um gesto de mão fechada, exceto por um polegar erguido. Voltando seu foco para a entidade carmim.

Lídia inicia a caminhada, descendo ainda mais no vilarejo em direção ao rio, e a entidade, a seguindo, percebia nela, diversas manchas, de sujeira, de estresse físico, e até ferimentos rasos na região de suas mãos e braços.

— Então, quais outras frutas você conhece? — Perguntou Lídia, ao chegarem na borda do rio.

— Mais nenhuma por nome, mas eu lembro da imagem de uma, que é a favorita da minha mãe.

— Pois é o seu dia de sorte, afinal, eu conheço todas as que existem aqui em Linha Castanha.

— Linha Castanha?

— É... O nome desse vilarejo.


Lídia parou e ergueu o rosto. Ao longo do rio, quando chegaram próximos a uma pequena cachoeira, onde haviam várias paredes monolíticas, e ao topo de uma delas, que estava do outro lado do rio, se mostravam os galhos de uma árvore, carregada com as tais frutas-do-conde.

Demorou um tantinho, mas a entidade também parou, percebendo o mesmo que ela.

— Aí estão, pinhas. Quer que eu pegue pra você?

— Não, deixe comigo.

Largou a cesta na grama, e se aproximou da água. O rio era estranhamente bem limpo apesar das marcas de corrosão nas pedras, que acompanhavam a linha das águas. Parecia raso, mas o contrário logo se provou ao mergulhar, começando com a perna esquerda.

Embora fosse fundo, ainda dava pé, o suficiente para ele conseguir atravessar, com no mínimo, o pescoço acima da água.

— Tenta não molhar as suas mãos!

Alertou a menina, que sentou na grama ao lado do cesto, descansando enquanto assistia como que a entidade se sairia.

Eventualmente se distraiu ao avistar uma trilha de saúvas que percorria ao lado dela, um sorriso surgia em seu rosto conforme ela assistia as formigas levando pedaços de folhas, como bandeirinhas, para sua colônia.

 

Assim que recebeu o aviso, o Ser ergueu ainda mais os braços acima da água, perdendo um pouco o balanço, pois agora tinha de navegar apenas pelos pés, com seu rosto quase submergindo a cada passo.

Chegando a um dos paredões rochosos da cachoeira, percebeu pequena fissuras que haviam nas rochas, fendas nas quais podia colocar seus dedos para ganhar apoio.

Mão por mão e pé por pé, escalou a lateral da cachoeira, a subida parecia se tornar cada vez mais longa conforme ele olhava.

Apesar da demora, chegava ao topo, e estendia a mão até um dos frutos em um galho próximo, raspando a unha na fruta que queria pegar, sentiu de imediato que algo estava errado em sua outra mão, e ao olhar no meio segundo que teve, percebeu que na fenda da pedra que se agarrou, havia uma folha, e que estava se segurando nesta folha, e esta deslizou, dando-lhe um tíquete de ida gratuita e expressa para a entidade cair de volta no rio.


— Tchi-bum!


A luz do meio dia passava por dentre as folhas, e por dentre as águas, criando faixas de luz que bailavam no fundo do rio onde a entidade havia se deitado. Uma vista muito familiar, como se fosse sua primeira memória.

Uma sensação ressurge na figua, aquele mesmo arrepio de quando interagiu com a criatura da noite, um impulso energizante que lhe sobe, e ele se levanta, apoiando os pés em pedras firmes que haviam no fundo do rio.

A água se agitava ao redor dele, milhares de bolhas pequeninas surgindo na superfície de sua pele, como se o rio todo fosse fervido em um só instante, até se soltar.

Ao se soltar, as águas o arremessam para cima, com ímpeto suficiente para alcançar a árvore, agarrando um de seus galhos mais robustos, e apenas se pendurando nele, ir para o pilar rochoso era possível, mas arriscado de que ele cairia novamente, decidindo apenas pegar as frutas ali e naquela hora.

— Ei!

Chamou a atenção de Lídia, e na falta de uma resposta, apenas jogou uma das frutas na direção dela, a acertando na cabeça.

— Ou!

Ela se vira pra o Ser e nota que este já alcançou as frutas, e estende a mão para as pegar e pôr na cesta. Após jogar algumas, descansou e trocou de braço pra continuar se segurando na árvore, a fim de aliviar um pouco da fadiga que seu braço sentia, e depois continuou.

— Acho que já deve ser suficiente. Quantas tem aí?

— Cerca de doze. — Lídia torce a boca para o lado. — Já é mais que suficiente, para aquele mal costurado saco vazio de batata-doce. — Terminou cochichando.

Olhando para baixo, controlou seu peso para mirar seu corpo em direção a água, se soltando e caindo novamente na bacia da cachoeira, nadando até a beirada onde a garota o esperava.

Ela lhe dá a mão e a entidade segura, o ajudando a sair da água.

— Então, foi Amora que me ensinou o nome das frutas, até porque o nome dela é o de uma fruta também.

Lídia tenta puxar assunto, assim que avista um pé de amorinhas enquanto caminhavam ao longo do rio.

A entidade vai até a planta que Lídia avistou, se agachando e observando seus frutos, mas seu olhar não parecia focar na fruta em si. Analisou as folhas, pinçando uma delas com os dedos, sem a arrancar.

Podia sentir algo vertendo dali, passando e sendo processado, as áreas da planta em que a luz do sol tocava pareciam ainda mais agitadas.

O Ser ergue o olhar, observando as casas através das árvores, e volta seu olhar para Lídia.

 

— Eu também posso ter um nome de fruta?

Ela pausa por um momento, olhava ao redor, mas para nada em específico, e depois de um passeio, seus olhos voltam para o Ser, lhe trazendo a resposta com um levantar de ombros e uma embeiçada de aprovação.

— Pode, se já não tiver um nome, eu acho.

— Então eu quero o nome da fruta preferida de minha mãe.

— E qual seria?

— Pior que eu não sei o nome, mas lembro de que era vermelha e amarela.

— Posso te levar a algumas que conheço. — Propôs a garota, pegando o cesto de frutas para o levar, iniciando mais uma caminhada.

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Emile Baudran

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Em um mundo tomado por múltiplos apocalipses simultâneos. Lídia, uma arqueira sobrevivente acidentalmente revive Caju, uma divindade esquecida, tendo agora de guiá-la a seu propósito enquanto navega o fim dos tempos.

Escrito e Ilustrado por: Emile "Ridochi" Baudran
Gênero: Fantasia Científica
Período de Publicação: 22 de Março de 2023 — presente
Episódios: 90 (estimativa)
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