Lídia acompanhou o Ser até a mais distante árvore do vilarejo, uma que tinha frutos vermelhos amarelados, suspensos por um caule fino.
— Esta, é uma macieira, que produz, maçãs!
A entidade leva a mão até o queixo, o segurando. Alcançando e tirando uma das poucas maçãs que sobravam, a segurando a frente do rosto, conseguiu ver até seu reflexo através da fruta.
— Hm... Não é essa.
E então, Lídia acompanhou-lhe até o final do rio onde coletaram as frutas do conde.
Com a chegada da corrente de água em uma pequena lagoa, e no outro lado desta, havia uma árvore com frutos que seguiam um gradiente, de vermelho, para amarelo, e um pouquinho até de verde no final, destacando-se através do espelho da água.
Próxima a esta, havia outra árvore, sem frutos, mas coberta de flores amarelas, no berço de suas raízes, havia um pequeno monólito de mármore.
— Pêssegos... — Lídia apontou, enquanto tomava um momento para respirar profundamente, sentando-se na sombra de uma das árvores próximas e deixando a cesta de frutas sob uma pedra.
O Ser coloca o palmo na linha da sobrancelha, protegendo os olhos da luz para avistar os frutos. Apertava os olhos, mas no fim, apenas virou para Lídia novamente, e balançou o rosto para os lados.
Após a resposta, Lídia apenas se deixou desmoronar a postura em um suspiro pesado.
— É, não lembro de mais nenhuma fruta vermelha e amarela que fique perto.
Ela se agacha e olha seu próprio reflexo na água que se acalmava na lagoa, sua imagem na água, um tanto sufocada, pela maneira que vitórias-régias se estacionavam a beira da água-redonda.
Em uma das brechas das plantas em que a água espelhava, era visto uma parte da árvore que lhe dava sombra. Parecia ter frutos, frutos amarelos, cada um com uma grande semente embaixo, muito parecida com uma castanha, talvez porque de fato, era uma.
— Caju! — Exclamou, enquanto se sentava na beirada da lagoa, seus chinelos quase caindo no lago, eventualmente se deitou, apontando para cima, direção onde a entidade seguiu com o olhar.
— Esse é um cajueiro, ou cajuzeiro, o fruto que produz é o caju. A fruta pode ser vermelha, ou amarela, e muitas vezes, ambas.
O Ser analisa os frutos por um momento, aplicando uma pitada de imaginação para tentar ver a fruta em cores diferentes, testando se alguma aparência da mesma lhe lembraria algo, click!
— Ah! Hahah! É está!
Mostrava um pequeno sorriso, que logo se esparramava ao longo do rosto, acompanhado do abaixar leve das sobrancelhas e de um suspiro aliviado.
Se sentou no gramado também, porém levemente afastado da água, e mais chegado à árvore, contando e recontando seus frutos pra passar o tempo.
Um longo minuto se passa, com o olhar de Lídia frequentemente passando pela imagem do Ser, e sempre percebendo que este parecia olhar para o mesmo ponto, fixamente, ao longo de todo aquele tempo, claro, ele piscava algumas vezes, mas parecia não o fazer.
— Acho que, nunca te falei meu nome, não é? — Só agora ela percebeu.
— É Lídia, certo?
— Como você sabe?
Um arregalar momentâneo lhe ocorreu aos olhos, conforme assistia a água passar.
— Sei lá, acho que ouvi por aí.
A única resposta que Lídia conseguiu dar naquele momento foi um quieto levantar de sobrancelhas, tendo compreendido toda a situação, mas pressionou os lábios e bufou pela metade de um instante, permanecendo em silêncio por mais um minuto ou dois, que pareciam durar décadas.
O cansaço da caminhada e das tarefas que já tinha feito durante toda aquela manhã lhe deixavam cansada a ponto de quase fechar os olhos e dormir toda vez que repousava, seja sentando ou deitando ao chão.
Mas o sono perdeu dessa vez, quando ergueu seu rosto como uma toupeira daqueles jogos de circo junto de uma lâmpada acendendo acima da cabeça. Se deitando de lado na grama, olhava para o menino.
— Mas, espera. — Disse Lídia. — Você prefere o Caju, ou a Caju?
— E qual a diferença?
Uma das sobrancelhas da menina se arqueia por um breve instante, enquanto ela processava.
— Não é lá uma coisa tão importante, eu acho, mas é a maneira que você prefere ser tratado.
Vasculhou o perímetro visualmente, e travou na primeira plantinha que viu, apontando o indicador.
— Por exemplo, se eu me referir a este arbusto como ele, o arbusto, os frutos dele, eu estaria usando pronomes masculinos, os quais, também podem servir como pronomes neutros.
— E os seus seriam quais?
— Femininos, onde os o's são geralmente trocados por a's.
— E eu posso ter pronomes femininos também?
— É claro!
Em um pique de energia, ela esgueira até a beirada do lago e estende a mão na direção das vitórias-régias, alcançando uma de suas flores.
Ao ter dificuldade para a arrancá-la, Lídia retorna a mão até a faixa que ela tinha na cintura, retirado do meio desta, uma pequena faca, usando-a para cortar o caule e obter a flor da planta aquática.
Voltando até a entidade, ficou à frente desta, e ergueu a flor e a faca ao mais alto que seus braços podiam.
— Então, de agora em diante, eu renomeio-te como Caju, a... — Ela amassou a cara, olhando para o ambiente ao redor, procurando alguma coisa, até lembrar da cesta de frutas-do-conde — Coletora de Pinhas!
Ao exclamar, ela corta o caule sobrado da flor no meio, o dividindo e o colocando em meio ao cabelo, perto do topo da cabeça do menino, que fechou os olhos e sorriu
E ao se levantar, a entregou um abraço, pegando a caçadora de surpresa, mas ainda assim, retribuiu, e alcançando a faixa da cintura da roupa de Caju, lhe entregava também, a faca que tinha recém utilizado, a amarrando na corda escondida.
— Use-a pra se defender.
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