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Chemtrails: Quark Children

Cartas Inviáveis

Cartas Inviáveis

Apr 02, 2023

Embora os céus estivessem mais limpos do que nunca, haviam cada vez menos estrelas.

Os passos de Lídia através da escuridão da estrada se tornavam cada vez mais pesados e curtos, assim como sua respiração, ofegante e áspera como se suas entranhas fossem de areia seca.

Suas habilidades podiam lhe trazer apenas a certo ponto, e se deixar no automático resultou em uma crise de tosse, e um corpo caindo estirado ao chão.

 

Só conseguiu abrir os olhos ao ouvir o estremecer da poeira na estrada, de algo arrastando e rapidamente se aproximando, vários faróis surgindo no horizonte do mesmo sentido de onde ela veio.

Ao cobrir seu corpo em luz, Lídia sorriu, sua visão embaçando.

 

Os ruídos diminuem até o que estava se aproximando parar, e ainda mais lanternas acendem, vasculhando a floresta ao redor.

 

— Mas ué, nessas horas?

Vozes abafadas surgindo por dentre os barulhos, alcançando a garota e a investigando com as lanternas nas pontas de seus rifles.

 

— Pera, ainda está acordada!

 

Suas pernas formigavam, sentindo apenas a ponta dos pés arrastando na terra batida.

 

— Alguém tem água sobrando?

 

— {Kh-tric!} Coroa lima, aqui é papa-estrela quatro, encontramos um sobrevivente na zona da alvorada, aguardando ordens, QSL.

 

— Entendido, papa-estrela. Contenha o sobrevivente e o traga para Satilha, QSL.

— TKS então, coroa lima, QAR. [Trrr-clic!]

 

 

 

 

 

Os grilos estavam quietos a ponto de se ouvir a correnteza do rio acompanhando o murmulho das árvores sem interrupções, raras eram as noites em que Linha Castanha fosse tão tranquila.

Descansando os braços sobre a janela de sua casa, Carlo olhava o vilarejo afora, observando principalmente o casarão ao topo do morro, e os arredores que o cerca.

Haviam terminado de trocar as tábuas da parede queimada e restaurar a estrutura do telhado, que agora era coberto por uma ampla faixa de lona.

— O que foi, mano? Venha jogar!

Fernan o cutucou, e saiu do quarto do mais velho para ir até a sala de estar onde os outros irmãos estavam, jogando cartas.

— Tá, tô indo.

Carlo disse, se afastando e sumindo no breu do interior do quarto.

— Faz quase uma hora que você tá olhando pra casa daquela velha.

Sentaram ao chão, ficando um de frente pro outro, com Damasco e Ellen em cada lado, cercando um pequeno espaço do assoalho onde iriam jogar, onde havia um caderninho e uma caneta a descansar.

 

— Tem alguma coisa errada. — Disse Carlo. — Lídia ainda não saiu de lá.

— Nhoon, ele tá com saudade!

Damasco apontou e riu, junto de Ellen, que terminava de armar o jogo, deixando três cartas para cada um, e o monte de cartas em verso encima de um quatro de paus.

— Você começa, Fernan.

— Ah, cala a boca Damas. — O maior retrucou.

 

— Ela não foi junto dos outros pra cidade? — Fernan comenta, pondo um dez de copas no piso.

— Exato, ela não foi! — Disse Damasco, largando um seis de ouros. — Carlo contou pra Amora que ela iria fugir.

— Eu não disse nada. — Carlo joga uma carta virada pra baixo. — Deve ter sido a Nádila, sei lá.

— Pera, ãhn?

Soltando um valete de copas, Ellen junta as cartas daquela rodada e as põe encima do monte.

 

— A Lili queria fugir de Castanha? — Ele soltou uma dama de ouros.

— Pelo visto, faz tempo. — Fernan põe um sete de espadas por cima. — Mas eu não sei por quê.

— Ah, não me faça rir! — Damasco larga um cinco de ouros. — Ficou azedinho porque ela não fez o que tu pediu.

— Damasco, eu vou te socar. — Carlo joga um cinco de espadas. —  Até você ir parar embaixo do piso dessa casa.

 

Juntando as cartas, Carlo as coloca por cima do monte e larga sua última carta, um rei de paus.

— Ui ui! — Ellen recua, soltando um ás de copas. — Ele tá bravinho de novo!

— Poxa cara. — Fernan põe sua carta no monte. — Pra que sabotar a mina desse jeito?

— Sai fora, palhaço. — Damasco taca sua carta no monte. — Não tenho tempo pras suas briguinhas.

 

Unindo todas as cartas da pilha, Damas as embaralhou, recomeçando o jogo. Ellen anota mais uma vitória para sua dupla, apelidada "Chacalzeira Sem Limites", marcando um placar de quatro a dois contra "Os Bala Perdida".

Largando dois montes em frente a Carlo, os dois ficam a se olhar por uns longos segundos, mas algo chama a atenção do mais velho a desviar seu olhar.


— ...


— ...


— Cadê o Nico? — Fernan pergunta, tirando a casca de uma ferida no joelho.

— Tá dormindo. — Respondeu Ellen, rabiscando no caderno. — Sortudo que não teve o quarto queimado.

— Pah! — Damasco bate no assoalho. — Vai logo, mundícia!

Carlo se levanta, e Damasco recua já erguendo os braços, porém, o mais velho o ignora, indo a seu quarto.

— Ué.

— Ei! — Fernan chamou. — Não vai mais jogar?!



Carlo observava a grande cabana, ainda que escondido escorado ao lado da janela.

Logo por baixo da moldura, passava Elasto, esgueirando a contornar a morada dos irmãos para tomar a trilha mais direta até chegar a varanda da oficina, indo até uma torneira, com a qual lavou suas botinas cheias de lama.

Ao ouvir o barulho da água, Silica vai até a porta, a abrindo.

— Achou alguma coisa? Alguma pista?

Elasto respondeu apenas com um balançar do rosto, tirando as botas para caminhar no piso cerâmico, Silica o bem-vindando.

Náilin se apoiava em uma cadeira para ter altura suficiente para ver através de uma das janelas do galpão, sua visão se recusava a olhar pra outro lugar além do casarão.


Amora acabava de sair do casebre, trazendo seu machado consigo, para descer a longo do vilarejo, indo em direção ao templo da senhora e do rapaz da cicatriz.

Ao ver ela entrar no santuário, Carlo saiu, subindo para a moradia da guardiã.

Náilin olha para Silica e Elasto, e ambos também chegam a olhar através, percebendo a movimentação.


No mesmo instante, Peamel descia a escadaria, e vê os outros costureiros espiando.

— Uhm. — Ele leva a mão a cobrir a boca. — Oh dear.

Indo a uma das paredes do galpão, virava uma das tábuas para revelar uma lança, a qual pegou pra levar consigo enquanto caminhava até a porta.




Chegando a grande casa, Carlo entrou sem dificuldade, sendo bem-vindo apenas pela escuridão do ambiente, cortada apenas por finos feixes foscos de luz que adentravam através dos buracos e frestas da madeira velha das paredes do quarto da guardiã, o único com alguma iluminação acesa.

Ao fechar a porta, prosseguiu caminhando ao espaço de Lídia, sendo acompanhado por um dos pontinhos de luz.

 

Acendendo a incandescente lâmpada a qual parecia ter sobrevivido ao fim do mundo, encontrava o quarto de Lídia da mesma forma de quando saiu.

A cama ainda estava bagunçada, o arco e a aljava faltando, uma das portas do guarda roupa ainda abertas, mostrando algumas roupas penduradas.


Agachando-se a uma das gavetas, puxou o compartimento até este sair do armário, encontrando uma caixinha, escondida em um dos espaços mortos da base da cômoda.

O vento chiava ao bater na casa, escondendo o ruído do gramado a farfalhar ao redor.


— Ainda no mesmo lugar. — Carlo sussurrou.

Largando a gaveta ao lado, pegou a caixinha e a abriu, encontrando um monte de cartas. A mais recente delas, tendo como destinatário: Caju.

— Mas, que desgraçada.

— Cre-ec! — O assoalho do casarão rangia.

— Huh?!

Guardando a carta consigo, rapidamente colocou a caixinha de volta ao lugar, repondo a gaveta e se levantando.

Serpentinou até a cortina da porta, mas ao alcançar a mão para abrir uma fresta, Leivos entra no quarto, sem ter muita surpresa ao notar a presença de Carlo, que pula em recúo ao ver o conselheiro.


— Ah! Senhor Leivos! Há quanto tempo!

O rapaz estende a mão, mas Leivos ignora o gesto, apenas permanecendo na entrada do quarto, olhando fixamente para o rapaz.

— Vejo que anda de olhar afiado como sempre, não é?

Ele força um sorriso enquanto disfarçava de voltar o braço a si, como se nunca tivesse tentado o cumprimentar.


— Bem, eu só estava dando uma olhada, então. — Carlo caminha em direção a porta. — Se me der licença, eu já estou de saí-Ghn!

Leivos agarra o rapaz ao pescoço, seu braço ganhando a textura vítrea e escura de um anulador, conforme o aperto drenava Carlo de seu fôlego e a cor de sua existência.

A última coisa que viu sendo a imagem do conselheiro se tornar sua própria, enquanto sentia sua pele petrificar e erodir até se tornar apenas uma areia cinza que dissolve em pleno ar.


Sobrou apenas a carta, arremessada aos ares pela agitação, capturada pela mão poligonal do anulador, conforme seu braço terminava de imitar a imagem do irmão mais velho.

Sequer olhou o papel, apenas o inseriu adentro do próprio corpo, para logo olhar para o lado, e ver uma lança rapidamente se aproximando através do breu da janela.


— CHTRAN-N-N!

O piquete finca numa das tábuas da parede, balançando a vibrar todo o cômodo, a meros centímetros do rosto de Carlo.


— Não irá conseguir ficar escondido dessa vez.

Peamel forçou uma voz grossa e áspera como basalto. Através da janela, o mestre costureiro saltava, pousando logo à frente de Carlo, arrancando a lança da parede para a ter de volta em mãos, apontada ao rapaz, que recuava com as mãos erguidas.


Luvas de forno, cobertas com vários espinhos de metal surgem através da cortina, vestidas pelas mãos de Silica, que entra no quarto, logo as erguendo a ter os punhos prontos.

Encurralando-o contra um dos cantos do quarto, ambos avançam, com as pontas agudas indo a o perfurar.


Ao revelar sua forma, o anulador salta para ricochetear ao longo das paredes e o teto, contornando ambos os costureiros por cima do cubículo.

Pousando sobre a cama desarrumada, a entidade foge através da janela em voo, derrubando a estatueta de Iuven do balcão.


Fora do casarão, destacados apenas em contorno das luzes, estavam Náilin e Elasto, ambos com estilingues em mãos, apontados para a criatura foragida.

Zarpando ao longo dos ares, o anulador errou terrivelmente ao se movimentar de forma retilínea e uniforme em relação aos mirins, que facilmente pipocaram vários chumbinhos em sua forma cristalina.

Desnorteado em seu voo, a entidade capotava contra a floresta ao descer do morro.

Sem sofrer fatalidade, o amontoado de blocos se reestrutura na base do vale, continuando sua fuga até estar mais do que longe do vilarejo, sumindo por dentre as nuvens mais uma vez.

 

 

Tão longe quanto, em uma clareira afastada da estrada que seguiam, cobertos pela sombra de uma árvore solitária em meio à pampa, estavam os caçadores, reunidos a acampar.

Figo havia subido na árvore, com sua lanterna na boca para iluminar suas mãos amarrando cordas em alguns dos galhos.

Caju e Pomelo estavam averiguando a engenharia de se montar uma fogueira, um conhecimento técnico quase arcano sendo aplicado.

Aranji estendia vários panos a um mesmo pedaço de chão, e depois de um árduo cuidado de deixar todos os tecidos alinhados uns sobre os outros, deitou sobre os panos, se espreguiçando, colocando a mochila como travesseiro, e abraçou sua espingarda.

Nádila vasculhava os arbustos próximos, coletando frutinhas de arandeiros.


— Bem, vamos lá! — Pomelo encorajou. — Faça sua mágica!

— Uhm, tem um pequeno detalhe. — Caju apontou.

— E qual seria o pequeno detalhe, Ju?

— Eu preciso de fogo pra fazer mais fogo.

— ...

Os grilos do gramado ao redor discutem sobre o assunto.


Figo desce da árvore através de uma das cordas que amarrou, entregando a lanterna a Pomelo, que a segurava para iluminar o menor e a vermelha em suas gambiarras.

Através de sua engenhoca de varais, Figo estende uma ampla faixa de tecido, formando um pequeno telhado de pano.

— Podia ter me dito isso antes de sairmos de Castanha, eu teria levado um isqueiro.


— Pera, eu lembro de um negócio.

Disse Caju, pegando e olhando as pedras colocadas ao redor do fogo de chão. Ela segura uma pedrinha em específico, a olhando contra a luz da lanterna.

— A-ha!

— Hm? — Pomelo a observava.

Aranji franziu o cenho, também assistindo.

Ela retira sua adaga da faixa na cintura, e raspa a brita encontrada contraparte da lâmina.

— Rrch! Rrch! — Faíscas surgem, mesmo que apenas brevemente.

Na segunda vez, mesmo sendo menores, Caju consegue capturar as faíscas em sua mão, as unindo até uma flama surgir sobre o palmo, largando a faca e levando as chamas até as lascas de madeira, até que mordessem a lenha, acendendo o fogo de chão.


— Huh, eu conhecia apenas uma pessoa que sabia fazer isso direito.

Aranji comentou, se escorando sobre os panos.


— Não era dela que a gente não podia falar?

Nádila seringou a conversa, chegando ao grupo a trazer uma bolsa de juta cheia de frutinhas, lhes oferecendo.

— A Lídia e a Amora não estão aqui, então, sim. — Pomelo pegou um punhado.

— Ela quem? — Disseram Caju e Figo ao mesmo tempo.

Ambos selecionaram os frutos que pensaram estar mais maduros.

Ao olhar para Aranji, Nádila deu uma piscadela, e sentou-se perto da fogueira para sentir o calor, mantendo a sacola com os frutos para si.

— Odessa.


Os grilos na vegetação ao redor discutem novamente.


Os caçadores se aconchegam no gramado em torno do fogo já firme, se aquecendo.

— Oh, eu já a vi!

Caju apontou, guardando a faca e a pederneira.

— Como assim, você a viu?! Ela morreu faz anos!

— Shh, Pomelo! — Figo o cutuca. — Não seja escandaloso.

— Tem um altar dedicado a ela, perto do lago. — Caju explicou.


— Pera, aquela é a Odessa?

Pomelo torce as sobrancelhas, olhando para algo distante.

— Sim, ué. Sabia não? — Disse Nádila.

— Bom, só tem uma foto dela e mais nada lá.

Ele defende, erguendo as mãos.


— Muito obrigada!

Aranji anotou em sussurro, se virando para deitar e fechar os olhos, deixando os outros caçadores a lhe olhar de das mais diversas formas retorcidas.

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Em um mundo tomado por múltiplos apocalipses simultâneos. Lídia, uma arqueira sobrevivente acidentalmente revive Caju, uma divindade esquecida, tendo agora de guiá-la a seu propósito enquanto navega o fim dos tempos.

Escrito e Ilustrado por: Emile "Ridochi" Baudran
Gênero: Fantasia Científica
Período de Publicação: 22 de Março de 2023 — presente
Episódios: 90 (estimativa)
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