-Hum, será? -O sarcasmo fez o outro reagir.
-Ah sim, eu comprovei isso no banheiro. -Com uma risada descrente, um empurrão no outro e um pedido para que parasse de brinca, Lisa se jogou na cama afofando seus travesseiros. O rapaz puxou uma mexa do cabelo se sentindo infeliz.
-Okay, tô indo. Mas guarde essa ideia. -Ele recitou as palavras alheias com uma voz mais melodiosa, Lisa reagiu rindo e o encarando com olhos divertidos e surpresos.
-Ah vou sim! -Apoiou a mão no queixo observando o outro se levantar para trocar as roupas para sair de casa. Se deixou jogar um segundo na cama e quando percebeu estava quase cochilando. -Ou talvez eu durma. -Ela saltou ao escutar o outro sair do quarto e com agilidade se arrumou para se juntar ao outro.
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Estavam em frente a casa de Juan, onde dava para se escutar a festa fervendo ao lado de dentro. Estavam encostados no carro preto de Juan, esperavam Zack aparecer, sabe-se da onde, com as chaves para leva-lo embora. Lisa estava tentando ignorar o rapaz ao seu lado, os braços cruzados, os dedos de uma das mãos grudados nos lábios, evitando qualquer sorriso. O olhar travesso do outro era cortante, ela podia sentir sua pele arrepiando mesmo antes de Juan se inclinar e sussurrar em seu ouvido.
-No fim você não conseguiu ficar longe? -Ela sentiu os lábios a milímetros de sua pele, encostando em si ao dizer algumas palavras.
Lisa parou em um instante, respirou fundo e tentou reunir todo o foco do mundo, mas tudo parecia girar e sua respiração parecia querer ficar presa e sair depressa de si, tudo ao mesmo tempo. Estava ficando tonta com a carícia leve em sua pele, quando sentiu o outro afastar seus cabelos e lhe dar um beijo quente na nuca.
-Pare. -Ela respirou, tentando encontrar motivos fortes o suficiente, para não se jogar em cima do outro no meio de tanta gente.
-Por que? Não gosta? -Uma mão firme do outro se prendeu a sua cintura, lhe trazendo para perto, e ele analisou seu rosto.
-Não é isso... -Respirou fundo tentando pensar rápido em suas palavras. -É que estamos em público. -Lisa por fim deixou seus olhos procurarem os do outro, ele a inspecionou, passando por todos os pontos de seu rosto anguloso.
-Linda, você acha que eles estão fazendo o que lá dentro?
-Ele riu da expressão da outra e se deixou relaxar, seu rosto entre os cabelos perfumados. -E não há nada de errado ficarmos juntos... -Juan subiu leves beijos pelo maxilar dela, a fazendo se arrepiar. Puxando uma das mãos dela a fez abraça-lo, ela riu e o apertou de volta. -Bem assim.
Ele observaram as pessoas transitando por entre as entradas da casa de Juan, a casa era ampla, era ladeada por algumas árvores, os portões escondiam tanto quanto mostravam as fachadas mais para dentro. Era um estilo minimalista, parecia agradável de se viver, e Lisa se perguntou se ele se sentia dessa forma, ou se alguma vez foi solitário.
Perto dele ela podia perceber o quanto ele era confiante, mas de longe parecia que algo estava errado, algo estava o deixando distante. Ela não sabia do que se tratava, a ultima vez que conversaram sobre algo em suas vidas eles estavam em sua sala, as lágrimas em seus rostos, as mãos entrelaçadas. Lisa pesou que que estaria mais disposta e confortável para falar com ele, mas quando se aproximava de algum assunto que fosse sério, ela sentia a necessidade de fugir. Ela estava se sentindo a cada segundo mais, uma covarde.
-Eu estava pensando, a gente poderia ir ver o mar? -Com um sorriso fraco o outro tirou os fios macios do cabelo dela do caminho para seus lábios.
-Eu to morta de sono, é real. -A voz dela caiu um pouco na última palavra. -Mas gente pode ir dá uma voltinha na praia.
-Bom, faremos rápido. -Lisa o olhou e ele lhe sorriu.
-Juan. -A voz dela tinha suspeitas, com um toque de insatisfação.
O rapaz a olhou com o rosto enrugado, como lhe perguntando o porquê da súbita mudança de expressão da outra. O clique em sua mente o fez rir.
-Oh, não! A volta na praia. -Explicou a soltando mais para olhar melhor seus olhos.
-Não melhorou muito. -Lisa entortou os lábios, sentiu graça.
-Desculpa aí, mas... -Com um olhar pesado o outro se aproximava para sua provocação, ela se deixou levar.
-Olha o bacalhau de pistola.
A ofensa demorou meio segundo para cair em consideração dentro da mente de Lisa e Juan. Primeiro pensou que fosse Zack, mas sua voz não estaria tão diferente ou ácida daquela forma. Eles avistaram o rapaz e pareceu-se séculos na mente de Lisa, pareceu que cada movimento era tão lento que quase não estavam acontecendo. Ao mesmo tempo que pareceu um flash, o flash mais lento de sua vida.
Pensou que estava pronta para aquilo, mas não estava. Estava esperando, sabia que poderia acontecer a qualquer momento, mas não sabia como reagir. E antes que pudesse perceber, Juan já estava em cima do rapaz.
Era como estar em um filme de ação, onde de repente ela era a vítima, onde pulavam para salva-la. Não era com ela, não podia ser, não parecia real. Não pareceu real quando ela gritou, pedido que Juan parasse. A voz não parecia dela, os sentimentos estavam fora de ar, os sentidos também. Lisa soube que se buscassem seu corpo no chão iriam encontra-la, e ela observaria tudo de cima, como se sentia fazendo agora. A estranha cena de várias pessoas apartando uma briga, onde um deles gritava mais insultos, e Juan lhe insultava de volta. Sentiu que precisava caminhar, e o seu corpo processou alguns segundos depois lhe levando para longe, pisando em falso.
Só se deu conta da realidade segundos depois, quando escutou seu nome e olhou para trás, caminhou desesperada e envolveu o braço de Juan, suas mãos frias e tremulas o fez lhe olhar. E a expressão do rapaz a fez perceber que era hora de irem.
-Eu vou chamar a polícia, ele precisa pagar. Um covarde, babaca! –A fúria na voz do outro fez Lisa engolir um nó, quase sentindo desfalecer.
-Juan, não. –Sua voz pareceu oca.
-Você tá pálida! –Juan piscou exasperado, sua cabeça movendo de um lado ao outro com irritação. - Olha o que ele fiz.
-Eu tô bem, vamos embora. –Ela o soltou, não conseguindo suportar o peso dele para puxa-lo, ela mesma se sentindo fraca.
-Você não tá bem. Não tem nada de bom nessa situação.
-Juan. Por favor. –Implorou, já começando a se afastar.
Algumas pessoas por perto estavam assustadas, preocupadas, outras paralisadas ao redor. Era um momento tão tenso, o garoto no chão tinha uma mão no olho e outra em baixo de seu peito. Lisa apenas virou-se e bambeou na rua, indo em direção ao lado do motorista, pronta para fugir dali naquele segundo.
-Mas o que foi isso? –Uma voz na multidão fez Juan desviar os olhos de Lisa e lançar mais um comprimido aviso ao rapaz ainda jogado no chão.
-Isso é loucura. –O moreno suspirou, embalado pela adrenalina e a raiva.
Suas mãos doloridas pediam por um alívio, e quanto mais ele as mexia, dobrando e esticando seus dedos, mais borbulhava sua vontade de ir até o garoto, voltar a expressar sua infelicidade e sua força.
-Sempre foi ok?! Sempre é! Sempre, sempre. -Lisa o olhou exasperada dentro do carro. Juan suspirou e levou a cabeça para o apoio do banco enquanto sentia o carro arrancando.
-Puta que pariu.
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