Uma porta, que até então estava fechada, se abriu com um estrondo.
- Ei, velhote, não está vendo que são menores? Não é porque são o dobro do seu tamanho que podem ingerir álcool. Paciência, viu. - Disse o garoto que saiu da porta, ele tinha um par de asas em suas costas e flutuava ao invés de andar.
- Você é uma fada? - questionou Augusto, pasmo.
- Sim, parabéns ao sabe-tudo! Sou uma fada, meu nome é Thistledown, sou um dos aprendizes de caçador de cristal sob os cuidados do velhote.
Então, de outra porta que aparentava ser o banheiro, emergiu uma mulher alta e bonita, com pele e cabelos roxos, além de uma orelha pontuda. Ela estava ocupada escovando os dentes e parecia estar completamente alheia ao ambiente ao redor. Tropeçando em algo, ela perdeu o equilíbrio e caiu.
- Ei, olhe por onde anda! - Exclamou uma voz fina e irritada.
- Me desculpe, eu não te vi, Mardnab. - Respondeu a mulher roxa, visivelmente envergonhada.
Com um suspiro, o garoto fada fez uma careta.
- Pronto. - Bufou. - Demorou para vocês aparecerem e assustar os convidados!
Uma pequena garota de cabelos brancos, tão brancos quanto a neve, adentrou o ambiente. Surpreendentemente, ela era ainda menor que o velho anão, mas sua expressão curiosa denotava uma inteligência afiada. Ela observou atentamente os novos rostos que acabavam de entrar na cabana do senhor anão.
- Me desculpe, Leshanna. Eu estava verificando se eles eram tão problemáticos quanto o Thistledown. - Reclamou a pequena garota.
O mestre Einkill, um anão de aparência experiente, riu com diversão.
- Vocês estão bem animados como sempre!
Thistledown interveio com uma explicação.
- A propósito, essa mulher de pele roxa é a Leshanna. Ela é uma Elfa da Noite, porém perdeu a memória há alguns anos e não se lembra de sua origem exata. E, como notarão, ela não é muito falante. - O garoto fada apresentou Leshanna.
- E eu sou Mardnab! Uma gnoma do país do vento. Estou sempre em busca de aventuras e objetos valiosos!
Os três amigos observaram a cena com fascinação, absorvendo as peculiaridades dos novos seres que haviam encontrado. A cabana do mestre Einkill estava agora cheia de indivíduos extraordinários, cada um com sua própria história e motivações.
Todos ficaram em um breve silêncio, observando uns aos outros. Era evidente que aquela cabana era um ponto de encontro para pessoas com histórias incomuns e habilidades singulares. O velho anão, conhecido como mestre Einkill, parecia ser o elo que unia aqueles indivíduos tão diversos.
Leshanna, a elfa da noite com amnésia, finalmente rompeu o silêncio com um aceno tímido.
- Prazer em conhecê-los. Desculpem pelo incidente, não costumo ser desajeitada assim.
Arkos, Augusto e Rachel sorriram, entendendo que até mesmo seres extraordinários tinham seus momentos de vulnerabilidade.
Mardnab, a jovem gnoma do país do vento, esboçou um sorriso travesso.
- Então, vocês têm uma história interessante para compartilhar? Afinal, quem entra na cabana do mestre Einkill geralmente não é normal.
Thistledown, o garoto fada, flutuou próximo ao grupo, exibindo uma atitude de quem já tinha visto de tudo.
- Verdade, esta cabana é um refúgio para aqueles que possuem um destino fora do normal. E, pelo que parece, vocês também estão envolvidos em algo maior do que imaginam.
Arkos trocou um olhar com seus amigos, pensativo, antes de responder.
- Nossas histórias estão entrelaçadas com os recentes eventos em nossa vila. Ela foi atacada, e nossos pais estão desaparecidos. Parece que algo sombrio está acontecendo, e acreditamos que só conseguiremos resolver tudo isso com os cristais do poder.
O olhar de Thistledown brilhou com um misto de surpresa e interesse.
- Cristais do poder, vocês dizem? Isso é muito mais interessante do que eu esperava. Vocês são mais corajosos do que aparentam.
Mardnab se aproximou, curiosa.
- Cristais do poder? Essa é um assunto que chama a atenção. Não é todo dia que se ouve alguém falar que vai atrás deles.
Leshanna manteve seu olhar distante, como se estivesse tentando se lembrar de algo.
- Eu já ouvi algo sobre esses cristais em algum lugar, mas minha memória é fragmentada. Talvez, com o tempo, eu consiga juntar as peças.
Mestre Einkill permaneceu em silêncio por um momento, como se estivesse avaliando os jovens à sua frente. Então, ele finalmente falou.
- O que vocês desejam fazer agora? Estão dispostos a seguir o caminho dos caçadores de cristais? Não é uma jornada fácil, e vocês enfrentarão muitos perigos. Mas, se escolherem essa trajetória, estarão lutando por algo muito maior do que imaginam.
Os amigos se entreolharam, cada um ponderando sobre a proposta do anão. A jornada que tinham à frente estava repleta de incertezas, mas também de possibilidades e descobertas. Juntos, eles precisariam tomar uma decisão que moldaria seus destinos e poderia mudar o curso dos eventos em seu mundo.
- Como podemos nos tornar caçadores de cristais? Somos apenas filhos de mercadores, não temos nada de especial. - questionou Arkos a todos.
Um breve silêncio encheu a cabana, deixando os três amigos com olhares baixos.
Senhor Einkill então puxou uma cadeira e se sentou. Havia uma lareira acesa à sua direita, que fez seus olhos brilharem.
- Bem, eu não posso prometer que vocês se tornarão excelentes caçadores de cristais apenas com a força de vontade. Isso não dependerá apenas de mim, mas também de vocês. De que forma vocês pretendem lutar? - Perguntou o pequeno senhor.
Os três seres extraordinários ouviam atentamente, empolgados com as palavras do senhor Einkill.
- Eu gostaria de usar uma armadura legal e uma espada enorme! - explicou Arkos ao se levantar e fazer uma pose em que parecia segurar uma espada de duas mãos invisível.
Augusto pensou um pouco, com os dedos em seu queixo, enquanto Arkos retornava à pequena mesa.
- Eu quero ser capaz de proteger meus amigos e curar suas feridas, se possível, é claro. - explicou calmamente.
Leshanna ficou animada e estava prestes a falar algo, mas o pequeno anão acenou com a mão pedindo para esperar um pouco.
- E você, Rachel?
- Eu... não sei... - Rachel estava envolta em muitos pensamentos e parecia com medo.
Então Arkos colocou a mão em seu ombro e deu um sorriso de orelha a orelha.
- Está tudo bem! Você não está sozinha. Olha quantos amigos estão a sua volta. Você é capaz, se assim desejar.
Todos, inclusive o velho anão, ficaram surpresos com a atitude de Arkos. Ele poderia não saber naquele momento, mas tinha o que era preciso para ser um ótimo líder.
- Eu estou encantada com as magias que o senhor Einkill mostrou até agora... poderia ser isso? - Disse Rachel.
Einkill abaixou um pouco o rosto encarando a mesa.
- Amanhã começaremos os preparativos, então. Mardnab, poderia mostrar o quarto para a Rachel? E..
- Já entendi, velhote. Eu vou mostrar o quarto vago para os dois garotos. - Disse Thistledown, interrompendo o anão antes que ele pudesse terminar de falar.
Já era muito tarde, todos precisavam ir para a cama, principalmente os três novos inquilinos da cabana, que haviam passado por muito naquela noite.
O quarto de Rachel era compartilhado com Mardnab, que estava completamente contente por ter uma nova companheira de quarto. Leshanna dormia em um quarto separado, ninguém sabia o motivo.
O garoto fada levou os dois jovens para um quarto praticamente vazio, contendo apenas uma beliche, um guarda-roupa pequeno e uma escrivaninha.
- Bom, sintam-se em casa. Qualquer coisa, meu quarto é ao lado. Boa noite, e por favor, não façam muito barulho.
Augusto se acomodou na cama de baixo, e Arkos subiu para a cama de cima. Então, ambos ficaram alguns segundos deitados olhando para cima sem dizer nada
Arkos quebrou o silêncio primeiro, com um suspiro pesado. - Augusto, não posso acreditar em como tudo mudou tão rapidamente. Parece que estávamos brincando na vila apenas ontem.
Augusto assentiu. - Eu sei, Arkos. É como se tivéssemos entrado em um mundo completamente novo, cheio de magia e perigos.
Arkos franziu a testa. - E esse lance dos cristais do poder... Você acha que conseguiremos poder suficiente para salvar nossa vila?"
Augusto ponderou a pergunta por um momento. - É difícil dizer, Arkos. Mas algo me diz que devemos seguir essa pista. Talvez seja a chave para entender o que está acontecendo.
Arkos concordou, mas sua expressão era pensativa. - E Rachel... Ela está correndo um grande risco com esse dom dela. Devemos ajudá-la a aprender a controlá-lo.
Augusto concordou com um aceno de cabeça. - Com certeza. Estamos todos juntos nessa jornada, e isso inclui proteger nossos amigos.
Os dois amigos deram um sorriso reconfortante e, finalmente, fecharam os olhos para dormir, ansiosos pelo que o novo dia traria
***
O dia amanheceu, todos, menos Leshanna, acordaram tarde.
- Bom dia. - Disse Arkos bocejando ao sair do quarto.
- Bom dia? Bom dia nada, boa madrugada, quem está fazendo tanto barulho às onze horas da manhã? Esse povo não dorme não? - Reclamou o velho anão.
Leshanna então abriu a porta da frente da cabana, empunhando um martelo e uma armadura peitoral, ambos de bronze amaronzado. Ela entrou na cabana em silêncio e olhou calmamente para o mestre Einkill.
- Mestre, o barulho na floresta era…
- OLÁ, MEU VELHO AMIGO! - Disse uma voz grossa e poderosa.
- Ha! Então é você, chegou rápido.
Todos saíram da cabana do senhor Einkill para ver o que estava acontecendo, e então eles notaram uma figura enorme de três metros de altura, nada humana. Essa criatura lembrava levemente uma formiga gigante, e seu exoesqueleto parecia ser feito de metal. Nas costas da criatura, havia uma imensa espada de duas mãos.
- O que é isso embaixo do meu pé? Parece que pisei em algo. - Reclamou a grande criatura.
Ao levantar um de seus pés, todos notaram um pequeno golem feito de pedras, que estava reclamando da situação. O pequeno golem não media mais que trinta centímetros de altura e tinha uma leve semelhança com um bebê emburrado.
- Cuidado com o pequeno Lasquinha! Ele é meu bichinho de estimação. - Reclamou o velho anão.
Augusto correu até o pequeno golem para verificar se ele estava bem.
- Você está bem, pequeno?
O Lasquinha era pesado demais para ser carregado por Augusto, mas ele pegou um pano e começou a limpar um pouco da sujeira que estava impregnada no corpo do pequeno golem.
- É a primeira vez que vejo um golem, e, por sinal, é bastante fofo. Vem, vou terminar de te limpar.
O Lasquinha ficou com seus olhos de pedra brilhando, parecendo realmente gostar do jovem Augusto. Os dois foram para a parte de trás da cabana, deixando o resto do pessoal com o novo visitante.
- Bom, velho amigo, recebi sua mensagem espiritual. Você disse que tinha um emprego para mim, então vim o mais rápido possível. - Disse a grande criatura.
- Você chegou rápido. - Reclamou Einkill.
- Não é de conhecimento de outras raças, mas nós danianos temos túneis subterrâneos espalhados por quase toda a Alcaria. A movimentação é mais rápida do que por terra. Saí do meu lar assim que recebi sua mensagem ontem à noite.
Arkos e Rachel estavam impressionados com a imponência da criatura. Eles nunca tinham visto um ser tão diferente em toda a sua curta vida.
- Bom, crianças, este é o Drilinac, um grande guerreiro da raça Daniana. Eu e ele já partimos em aventuras como caçadores de cristais há muitos anos atrás. - Explicou calmamente o velho anão.
- HA! Eu lutava, e ele ficava cantando, era basicamente isso. - Drilinac explicou, rindo.
O pequeno anão parecia genuinamente incomodado com a explicação simplória do seu velho amigo.
- Enfim… Arkos, ele será seu mestre de esgrima a partir de agora e te ensinará o caminho do guerreiro com tudo que precisa saber. - Disse o velho anão.
Arkos ficou um pouco assustado, mas também empolgado. A grande criatura que carregava uma espada imensa seria seu mestre, e isso com certeza poderia dar certo.
Augusto voltou para a frente da cabana, secando as mãos em uma toalha pequena para entender melhor o que estava acontecendo, e o Lasquinho o seguiu de forma desajeitada.
- Arkos vai precisar nos deixar? - Perguntou Augusto, com dúvidas.
- Eu enviarei vocês três para um treinamento árduo e rápido, para que possam se tornar caçadores de cristais o quanto antes. Em três meses, vocês voltarão aqui para esta mesma cabana e iniciarão suas jornadas. - Explicou Einkill de forma rabugenta.
- Espera, então também vamos com o Drilinac? - Perguntou Rachel, sem entender muito bem a explicação.
Leshanna então entrou na conversa após ficar em silêncio desde que saíram da cabana.
- Não, eu fui designada pelo mestre para levar o Augusto para a catedral onde me formei como paladina, para que ele encontre seu caminho como clérigo. - Explicou Leshanna lentamente.
Augusto se perdeu por alguns segundos em pensamentos. Ser clérigo abrangia tudo aquilo que ele ansiava naquele momento, e ele tinha muitas curiosidades sobre o deus dos mercadores, Hermes.
- E eu…? - Perguntou Rachel, parecendo desamparada.
- Eu vou te inscrever na melhor escola de magia que conheço, e quando vocês se encontrarem novamente, vocês serão jovens aventureiros prontos para enfrentar seus desafios. - Explicou o pequeno anão com convicção.
Os três amigos se abraçaram, compartilhando a empolgação e o sentimento de que estavam prestes a embarcar em uma aventura emocionante e cheia de desafios. Mesmo que tivessem que se separar temporariamente, eles sabiam que estariam juntos novamente em três meses, prontos para enfrentar o mundo e proteger sua vila.
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