Sábado chegou, as duas garotas estão ansiosas sobre se encontrarem, mas vai ser bom o encontro porque elas vão aproveitar para levar o bicho no veterinário e comprar coisas para a casa de Tayná, para a de Alice ela disse que vai comprar depois por não estar na casa do pai.
Deu oito horas, Tayná está chegando com o gato no cesto da bicicleta, quando viu Alice usando um macacão preto e blusa laranja sentada no banco esperando.
— Você chegou cedo. - Tayná disse.
Alice olhou para a garota reparando a aparência dela. Tayná é uma garota branca com olhos verde escuro, um cabelo branco cacheado e curto com um undercut, usa brincos e piercings na orelha inteira e tem dois piercings de anel na boca, ela está com uma corrente prata ligando o brinco da orelha ao da boca no lado esquerdo, está vestida com uma calça moletom larga e uma camisa de um canal do youtube além de coturno preto e as várias pulseiras no braço esquerdo.
A mãe de Tayná demorou muito tempo para deixar ela fazer todos aqueles piercings, a garota pede desde que tem treze, mas a mãe só deixou ela fazer aos quatorze anos principalmente porque a filha estava passando por uma fase ruim devido a morte da avó que a lembrou da morte do irmão. Então Deolinda ficou um pouco mais maleável deixando a filha fazer quantos quisesse para ver se ela se animava e voltava a ir na escola.
O irmão do meio de Tayná sempre provoca a mãe sobre os piercings da garota, principalmente falando quando ela coloca o com correntinha e isso, às vezes, faz com que a mãe mande a garota ir tirar o da corrente pelo menos para sair. Mas dessa vez o irmão dela não estava em casa, então a garota conseguiu sair sem grandes problemas.
Alice ficou se perguntando sobre toda essa realidade que ela ainda desconhece de Tayná. Sobre quão tranquilo os pais dela são para a deixar usar tantos piercings, sem conhecer a família da garota ainda, ela só pode ficar no campo da imaginação sem saber toda a complexidade da relação pais e filhos daquela casa.
— Terra chamando Alice.
— Ah, sim. Eu gosto de chegar cedo nos lugares - explicou-se desviando o rosto porque ficou envergonhada de ter ficado encarando a outra garota.
— Então ainda bem que eu resolvi vir na hora, eu costumo me atrasar para quase tudo, mas esse bicho aqui ficou arranhando minha porta, até parece que sabia que ia te ver.
— Mas é claro que ele sabia, ele nos escutou combinando. - Alice pegou o gato do cesto da bicicleta.
— Você trouxe dinheiro?
— Trouxe meu cartão.
— Que chique, ter cartão. Eu trouxe o que minha mãe me deu, uns cento e cinquenta reais, isso vai ter que ser o suficiente.
— Acho que vai sim. Mas deixa que eu pago a ração e a areia dessa vez, porque os finais de semana ele vai ficar com você, daí das próximas a gente divide isso.
— Tudo bem, não vou reclamar.
— Vamos?
— Vamos.
As garotas começaram a andar até o veterinário com Alice segurando o gato. Tayná se posicionou do lado de Alice para andar e enquanto caminhavam reparou que a garota deve ser uns vinte centímetros mais baixa que ela e por alguma razão ela achou isso fofo. Ela estava olhando o brinco da Alice, que é uma lua minguante, quando tropeçou.
— Tudo bem? - Alice perguntou.
— Sim, está tudo bem. - Tayná falou envergonhada com o que houve e disfarçando para a outra garota não perceber que tropeçou por estar olhando para ela.
Elas andaram bastante porque todo pet shop que passaram estavam fechados, até que encontraram um no centro, bem longe de onde se encontraram, que está funcionando.
Esse petshop é um dos mais caros que tem, mas é o único aberto que encontraram até o momento. Alice sabe que ele é caro porque sempre que pensou em ter um bicho de estimação, ela sai pesquisando preço das coisas. Mas como é o único que encontraram funcionando e elas já andaram muito mais do que pretendiam, teria que ser esse mesmo.
— Boa tarde. Em que posso ajudar? - O funcionário as recebeu.
— Vocês têm veterinário? - Tayná perguntou.
— Sim, temos, só ir naquela salinha ali.
— Com licença. - Alice entrou na sala.
— Bom dia. O que traz vocês aqui?
— Este gato. - Tayná apontou para o gato nas mãos de Alice.
— Aconteceu algo com ele?
— Não, nós o encontramos ontem e trouxemos para fazer exame, castrar e vacinar. Você pode dar uma olhada nele? - Tayná falou quando viu Alice um pouco relutante.
— Claro. - O veterinário pegou o gato das mãos de Alice.
Ao contrário de muitos gatos que precisam de paciência do veterinário para o manusear para que se deitem, esse deitou e se mexeu de acordo com o que o veterinário queria. Então examiná-lo foi uma tarefa extremamente fácil.
O veterinário ficou surpreso com um gato tão educado e fácil de lidar como aquele, se sentindo abençoado por cuidar de um bicho tão manso depois de ter tido que cuidar de um cachorro no dia anterior que era praticamente o demônio na Terra.
— Ele está bem, saudável. E ele já foi castrado pelo que vi. - O veterinário disse.
— Já?! Bem, isso poupa um gasto. - Tayná se surpreendeu.
— E quanto às vacinas? - perguntou Alice.
— Vocês podem fazer uma ficha dele que vamos fazer uma carteirinha de vacinação e vocês podem trazer ele aqui para vacinar.
— Quanto custa a consulta e a vacinação? - Tayná perguntou.
— A consulta vai ser cinquenta, a vacinação cento e cinquenta.
— Alice… Eu só tenho cento e cinquenta.
— Paga o que você conseguir e eu pago o resto.
— Obrigada, de verdade. Onde fazemos a ficha dele?
Alice está se sentindo inútil por causa de como não consegue falar quase nada e quando fala sente que a voz está saindo em um tom estranho, então ela se encolheu um pouco no canto do consultório. Parecendo que percebeu isso, o gato foi até ela e a rodeou até ela o pegar e então lambeu o braço dela um pouco.
— Ei, ele te lambeu. Ele não me lambeu ainda. - Tayná interrompeu o veterinário.
— Ele gosta mais de mim. - Alice mostrou a língua.
Tayná queria falar algo, mas achou aquela atitude tão adorável que perdeu os argumentos já formados em sua cabeça.
— Bem, como eu ia dizer, vocês podem fazer a ficha lá na frente enquanto eu vacino ele.
— Ah, sim! Claro! - respondeu Tayná.
As duas garotas deixaram o gato com o veterinário e foram para o balcão de atendimento, o rapaz que falou com elas antes demorou um pouco para aparecer para atendê-las, ele está arrumando algumas coisas no estoque.
Enquanto o rapaz não aparecia, se formou um silêncio estranho entre as garotas. Alice começou a olhar as coisas que tem no petshop para diminuir o sentimento de estar sendo inútil em resolver qualquer coisa esse dia e também para sair um pouco de perto de Tayná porque ficou um pouco desconfortável com o silêncio entre elas, já que a garota não sabe o que falar.
— O que precisam? - O atendente chegou.
— A gente queria fazer a ficha do nosso gato. - Tayná falou.
— Claro. Qual o nome do gato?
— Qual o nome do gato? - Tayná se virou para Alice.
— Que tal Estrela?
— Nome de cavalo isso. Que tal Brilhante?
— Parece nome de produto de limpeza. Que tal Luminoso?
— Parece nome de lâmpada. E Raio?
— Parece que a gente está xingando. Que tal Sol?
— Sol é um bom nome, gostei.
— Então Sol será.
— O nome do gato é Sol, moço.
— Entendido. Nome da dona?
— Nós duas somos donas dele, tem como colocar o nome de ambas? - Tayná questionou.
— Claro.
— Então, começa por mim, meu nome é Tayná Coelho Coutinho.
— E eu sou Alice Andrade da Silva.
O atendente pegou mais alguns dados das duas como telefone e endereço de residência. Depois imprimiu em um papel mais durinho um cartão de vacinação do gato e as instruiu a pedir ao veterinário que escrevesse ali a vacina que ele deu.
As garotas começaram a analisar o cartão de vacinação para verem se estão todas as informações escritas corretamente. Além de verem quão bonitinho ele é. O cartão é todo azul com gatinhos e cachorrinhos desenhados nos cantos da parte da frente dele.
Depois de conferirem todas as informações, elas se voltaram novamente para o atendente que já estava se preparando para voltar aos afazeres.
— Vocês fazem aquelas coleiras personalizadas com nome e telefone das pessoas? - Tayná perguntou.
— Sim, fazemos.
— Quando que fica para fazer uma com nossos nomes e telefones com as cores do arco-íris?
— Fica em duzentos reais.
— Nós podemos pagar depois de pronto?
– A gente trabalha com pagamento parcial adiantado. Então vocês teriam que pagar metade.
— Podemos encomendar. - Alice falou quando viu Tayná desanimada por não ter mais dinheiro para pagar.
— Mas você já vai ter que comprar a caixinha de areia, a pazinha, os potes, basicamente tudo por mim. Eu estou me sentindo uma péssima dona de gato.
— Não tem problema, eu sempre me preparo para as coisas, eu tenho bastante dinheiro, então vai dar para pagar tudo, eu acho.
— Moço quanto fica tudo que ela falou, mais ração e areia?
— Todas elas devem ficar em cento e noventa reais, se vocês comprarem um quilo de ração.
— Então podemos pegar a coleira. - Alice anunciou.
As duas garotas foram até o veterinário, pegaram o carimbo dele, depois voltaram e pagaram tudo, Alice comprou a ração e a areia como prometeu para Tayná, além disso comprou uma coleira guia para Sol, então elas amarraram tudo na bicicleta, colocaram Sol no cesto e saíram fazendo o caminho de volta para o parque de onde vieram.
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