Conforme eu ia passando, olhava de um lado para o outro, via as paredes de concreto liso, pixo, caixas de energia, latas de lixo. Baratas passavam por cima dos meus pés e eu ouvia os leves grunhidos de vários guaxinins e ratos. Ao final do beco, há uma porta.
-Uma porta? - Tem uma porta no final do beco.
-Uma porta? No final de um beco? - Tem a porra de uma porta no final do beco.
-Abre essa porta Dai - Ao abrir da porta, se dá luz a um salão escuro, é cheio de poeira, dominado por documentos, papéis e caixas, o lugar que aparenta ser uma recepção, iluminado por luzes vermelhas como uma câmara escura de revelação de fotos, entrei em uma quando Seu Wilson me levou para revelar fotos de suas filha, a Monique, é feio, assustador, e fede.
-Que diabos é isso?
-Que lugar estranho… - Ditou Café, continuamos andando, num corredor à frente da porta que se estendia no mesmo padrão até o seu fim, que culmina num salão, com várias cadeiras, local que parece uma pequena sala de espera, em algumas paredes, uma logo e um título, “PH Odontologia” dizia. Sob as cadeiras, pacotes com algum sólido condensado, e jarras de ácido.
O lugar possuía uma abertura ao lado, que levava para um salão escuro, em que não era possível ver seu conteúdo, e logo à nossa frente, mais um corredor, com várias portas, que deviam ser os consultórios.
-Ah! Finalmente achei você! - Disse uma voz grave vinda das nossas costas, tanto eu quanto os outros nos voltamos para trás, e vimos um brutamonte que vestia uma balaclava e carregava uma espada, era gordo, enorme, e vestia uma regata branca amarelada de sujeira, era possível ver sua boca pingando um líquido verde e seus olhos estavam esbugalhados. Puxou uma lanterna de trás da sua calça e apontou pra uma parede, e a luz revelou uma criatura humanóide, branco como uma folha e com um cabelo dourado, armado e longo, que se erguia em vários espinhos, e algo curioso, essa criatura estava saindo de um buraco.
-Você não cansa mesmo né? - Continuou empurrando o próprio corpo para fora do buraco. Pudemos ver que estava nu, aquele ser era estranho, se parecia com um humano, mas tinha olhos enormes, a pele pálida, e orelhas pontudas, sua boca tinha um formato estranho, um zigue-zague, como se sua mandíbula fosse deformada. Além disso, na sua região pélvica, possuía uma genitália anormal, estranha, não era um pênis, tão pouco uma vulva. Logo, o buraco atrás dele se fechou, deixando a matéria da parede torcida no arredor de onde o buraco estava. Me virei de volta para o homem gordo atrás de nós e percebi que seu corpo estava repleto de marcas pretas, eram como se fossem furos mesmo, mas não possuíam um outro lado, era somente uma superfície côncava com a escuridão voltada para o além. A criatura humanóide apontou o dedo na direção do homem e os furos no seu corpo se fecharam, torcendo, logo o homem grita em agonia e as partes torcidas jorram sangue. Ele cai morto, todo comprimido no chão.
-E isso aqui é meu - Diz a criatura, se aproximando do corpo e pegando a espada que o gordo carregava. - Quem são vocês? - Perguntou para nós três.
-Primeiro, quem é você. - Retrucou Café, eu acho que merecemos uma resposta antes dele.
-Não sei dizer.
-Qual o seu nome? - Perguntei, tentei parecer mais específico.
-Eu não sei, aprendi o que é nome há um tempo mas só me chamavam de um código estranho… - Sua voz é fina, como a de uma mulher, mas tem tons grossos como de um homem, a criatura é de fato uma figura estranha.
Logo reparei uma marca no seu peito, uma tatuagem, estava escrito o código “D1L4N”.
-Olha, D1L4N… É… Dilan! Seu nome é Dilan. - Ditou Lucca.
-Parece bom. - Respondeu Dilan
-Inclusive pegue as roupas desse cara. - Apontei pro homem que morreu quando Dilan dirigiu seu indicador à ele. - Inclusive, esses buracos são uma habilidade sua? - Perguntei.
-Os buracos? São minha encarnação. - Soltou a espada no chão e respondeu enquanto se vestia. - O Capi chama de encarnação, porque ele diz que um tal de Don também deu o mesmo nome.
-Encarnação, é? E você controla ele com toda essa facilidade?
-Sim, controlo.
-Como aprendeu?
-Eu não sei, foi uma coisa meio instintiva, quando percebi já usava, tal qual um macaco sabe que bananas são “descascáveis”.
Dilan enfim terminou de se vestir, as roupas ficaram largas, mas ao menos cobriam o seu corpo, “Está muito calor” ele reclamava, o que era estranho, já que as roupas eram bizarramente largas, pegou a espada de volta do chão e ficou segurando-a na canhota.
Logo ouvimos uma voz familiar, que vinha de cima.
-Acharam um amigo? Hum? - Era Mona, ao olharmos para o teto vimos a silhueta da mulher, que derrete até cair no chão e se distorce como uma massa até se transformar no seu corpo completo, todos acompanham o movimento e Café fica à frente, cerca de três metros de distância. Ela estava de fato vestindo um maiô de látex como eu disse, mas agora pude ver botas que subiam até abaixo do joelho, ela possui um corpo jovem e sensual, pernas longas e malhadas, com coxas tão grossas quanto os braços de Café, chega a ser estranho ver algo do tipo, pois em toda a minha vida, só vi jovens mulheres em estado de subnutrição, tirando Monique, que se despiu na minha frente, que detém sim, coxas grossas e um corpo volumoso, mas é diferente de Mona que tem um corpo atlético. Monique tem gordura, Mona tem carne
-Seguindo aquele corredor vão encontrar o meu líder. Hum? Acho que é um bom primeiro passo no seu sonho, ruivo. Hum? - Disse a tal, imaginei que estivesse falando do corredor com as várias portas que vimos anteriormente. Lucca puxou a metralhadora e apontou na direção dela, segurou o gatilho e vários disparos voaram em sua direção, e dessa vez ele acertou todos. Mas algo estranho aconteceu, todas as balas atravessaram o corpo dela e foram parar do outro lado e os buracos dos tiros se fecharam, curando todo dano infligido na tal. - Isso não vai funcionar, querido, minha encarnação não permite esses ferimentos, inclusive a dei um apelido bem legal assim como você, Dai, é Hole, o nome da minha encarnação é Hole. Hum? - Ditou em voz alta, é uma habilidade de entendimento fácil, ela só parece ser feita dessa maçaroca borrachuda que se reconstrói sozinha. Café de repente começou a se aproximar dela.
-Dilan! Vem comigo, você parece que sabe mais daqui do que eu, Lucca, você fica aí.
-Ahn? EU?! - Respondeu meu irmão, soltou a metralhadora no chão. Café começou a se aproximar dela, chegando a uma distância de um metro.
-Oh! Então vai tentar se aproximar de mim hum? Saiba que seus golpes também não vão funcio… - Foi cortada quando tomou um soco de direita poderoso no meio da boca, o soco foi forte o suficiente pra arremessar Mona alguns metros pra longe, sangue espirrou da sua boca enquanto ela voava para longe. - Agh! Como!? - Perguntou escandalosa. Dilan, estava, estático, e meio delirante, não parecia estar prestando atenção em nada.
-Dilan, porra!
-Sim senhor. - Se devolveu pra realidade e correu junto comigo. Em direção ao novo corredor, reto.
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