Era quase meia noite quando Batgirl se escondia entre as vielas do porto de Gotham. Ela já podia ver o navio com o enorme logo das Indústrias Stagg gravado em sua lateral enquanto trabalhadores do porto e funcionários da empresa se moviam ágil e silenciosamente para abordar a chegada do transporte. Barbara estava muito à vontade, e se movia pela escuridão com uma proficiência que não acreditava poder ter algum dia, subindo muros e se esgueirando em pequenas aberturas e janelas. Estava em cima do teto de um dos armazéns enquanto conversava com Dick.
- Tudo ocorrendo tranquilamente, estou num ponto que eu consigo ver todas as rotas de entrada dos horários.
- Estou com número da polícia aberto na linha de chamada segura.
- Não se esqueça, é só quando começar, e vê se me deixa me divertir um pouco.
- Isso não é diversão Barbara, são ladrões e mafiosos interferindo com a perigosa transferência de armas numa cidade violenta.
- Bla bla bla, porque eu te trouxe pra isso mesmo?
- Essa operação não acontecia sem a minha ajuda, lembra?
- É… – Barbara murmurou entredentes – Infelizmente. Espera… Acho que vi algo.
Em uma das vielas, ela viu o movimento de várias sombras entrando em um armazém, e ainda se escondendo entre as sombras, partiu para interceptar os elementos estranhos. Assim como ela fez toda noite, silenciosamente adentrou o armazém por uma das janelas, atrás de uma das grandes prateleiras cheias de grandes caixotes de entregas. Logo, ela pode ver uma massa de seis pessoas se movimentando pela escuridão, todos eles usando números distintos em suas camisas, os números de 1h à 6h, os seis primeiros horários.
Eles engatilhavam suas armas, compostas por pistolas e metralhadoras, e sussurram instruções que Barbara ainda não podia ouvir. O pico de adrenalina subiu a cabeça da jovem Gordon, que se escondeu no maior caixote e se comunicou novamente com Dick nos sussurros mais silenciosos que podia.
- Oráculo, os horários de 1h à 6h estão aqui. Fortemente armados.
- Aqui aonde?
- Bem aqui! – Uma vez ressoou alta, e intensas luzes tomaram o recinto.
A prateleira onde Barbara se escondia caiu para trás dela, e todos os horários apontavam suas armas para a garota, que prontamente se pôs de pé, estendendo a mão para algo em suas costas lentamente, mas o homem que se revelou no centro da gangue com sua voz estridente à corrigiu.
- Eu não faria isso se fosse você, pirralha – Rei Relógio se dirigiu calmamente para a direção dela, batendo sua bengala em forma de ponteiro no chão – Você é a mesma que descobriu minhas operações semana passada, não é? Não faz mal, te temos na mira agora. Chegou a hora de eliminarmos sua assincronia com meus planos definitivamente. Temp Tock, Temp Tock.
- Barbara, o que tá rolando?! – A voz de Dick soava desesperada do outro lado da chamada.
- A polícia já sabe do que tá acontecendo aqui – Barbara disse para Rei Relógio, e Dick, que se pôs a chamar a polícia – Se você me matar, vai adicionar homicídio na sua lista de crimes, Rei Relógio.
- Vejo que você já me conhece. Mas eu não te conheço… Batfã. É assim que você se chama? Minibat? Battete? Não… Batgirl – Ele claramente se sentiu satisfeito ao ver a reação dela ao nome certo – Acontece que você morrendo aqui servirá muito bem para os meus planos, menina dos morcegos.
- Me mate e tudo o que eu sei das suas operações cai nas mãos da polícia. O plano final, as operações de acobertamento, tudo.
- Você claramente é uma novata, você acabou de falar que a polícia já está vindo, então eles já devem saber de algo, isso foi um péssimo blefe.
- Só tenho uma coisa a dizer… Agora Oráculo! – Ela gritou o sinal, e as luzes de todo o porto se apagaram.
- Matem-na! – Rei Relógio soou vicioso, e os sons de tiros se espalharam pelo armazém, mas Batgirl já havia fugido pela escuridão entre as outras prateleiras.
A heroína respirava alto e fundo enquanto os sons de tiros ainda soavam, e a pólvora das armas ainda iluminava o ambiente com rapidez imperceptível e caos. Ela armou a primeira de suas bugigangas, a infame corda com pesos. Mirando no pé do assaltante mais próximo, lançou a engenhoca e derrubou um deles, mas tendo cuidado para avançar para o próximo esconderijo, uma vez que a queda do homem com a metralhadora chamou a atenção dos outros cinco horários. Os gritos de impaciência do líder podiam ser escutados através dos baques secos das balas rasgando o ar, até que ele deu a ordem para todos pararem. O armazém ainda estava mergulhado em escuridão, e o Rei tentou encontrar a garota pela voz.
- Batgirl… Não existe saída. Essa queda de energia pode ter atrasado meus planos, mas não os impediu. Restaure a energia daqui cinco segundos… E talvez eu pense em deixá-la ir embora! – Ele esperou os cinco segundos – Bom… Vejo que você não vê um bom negócio quando ele está bem na sua frente. Temp Tock, dada as circunstâncias, agora o seu tempo está acabando…!
Se esgueirando novamente entre a escuridão, fazendo o mínimo de barulho possível, Batgirl se encontrou com um objeto peculiar dentro do armazém: Uma grande estrutura metálica coberta por um lenço. Tateando um pouco mais, ela percebeu tarde demais do que se tratava. O som do motor do carro ligando soou, os faróis brilharam por baixo do lenço, e no ritmo que ele disparou em sua direção para atropelá-la, ela deu um rápido salto, se agarrando na parte de cima da carroceria.
O carro disparou para fora do armazém, destruindo os portões de madeira, a luz de seus faróis eram a única coisa iluminando o porto, mas as fracas e distantes luzes de Gotham deram clareza o suficiente para Barbara conseguir enxergar o carro: Era uma espécie RelógioMóvel, Um antigo calhambeque estilizado para parecer ser feito de carvalho escuro, números espalhados na janela e ponteiros nos faróis. Ele disparava em alta velocidade em direção à parede de outro armazém de madeira mofado, Batgirl se agarrava na lataria superior do carro com tudo o que podia, foi aí que retirou o Batrangue, como havia batizado a arma que o Batman usou no dia em que se conheceram, e ficou ele, atravessando o teto e segurando com as duas mãos.
Batgirl era um vulto roxo e amarelo que se debatia contra o vento enquanto conseguia, com um sucesso esguio, se desviar dos detritos enquanto o RelógioMóvel atravessava outro armazém. Logo, o carro freou bruscamente, e Barbara só não saiu voando dele por causa do seu Batrangue, mas as extremidades afiadas da arma acabaram cortando pela sua luva e fincando na palma de sua mão esquerda. Com a adrenalina à flor da pele, ela se recompôs, se pondo de pé no capô do carro e retirando o Batrangue. Foi aí que viu por que o carro freou: Rei Relógio agora estava na frente do carro, apontando a ponta de sua bengala para ela, que aparentemente também servia como espada.
- Chegou a sua hora! – Ele anunciou triunfante enquanto Batgirl levantava os braços lentamente.
- Polícia de Gotham! – Um anúncio vindo de um alto-falante soou quando três viaturas da polícia chegaram, a voz para familiar para a jovem heroína, era Crispus – Rendam-se imediatamente!
- Olá, policiais! – O Rei Relógio sorriu – Vocês não falharam em sua missão, meus parabéns. Funcionando como um bom relógio, todas as engrenagens funcionando.
- Cala a boca, seu marginal! – Renée saiu de uma das viaturas e apontou a pistola para ele.
- Me desculpe por papear com tanto gosto, mas gosto quando cumprimos nossos compromissos na hora marcada. Dito isso – Ele bateu a bengala no chão, fincando a ponta do ponteiro na madeira – Tenho um compromisso pra daqui três segundos.
E assim, depois dele bater o pé no chão três vezes, um tiroteio começou por de trás das viaturas que haviam acabado de chegar: De uma das vans que Barbara havia visto outro dia, saiu os outros seis horários da gangue, com Meia-Noite liderando o ataque, forçando os policiais a contra-atacar, desviando a atenção que tinham voltado para o homem vitoriano. A heroína não pensou duas vezes, pulou do capo para cima do terrorista, jogando seus braços em volta dele, tentando imobilizá-lo. Ele se debateu com muita força, afrouxando o agarre dela, logo após a puxando pelo braço esquerdo, apertando sua mão cortada com força e a jogando com tudo no chão. Logo após, ele a agarrou pelos ombros e a levantou.
- Você é uma criança muito enfurecedora! – Ele a apertava cada vez mais enquanto a levantava acima da cabeça – Mas serviu ao seu propósito. Está na hora de me livrar de uma variável imprevisível nos planos em cinco… Quatro… Três… Dois…
E assim, sincronizado com contagem dele, uma enorme explosão se acionou nas fundações do enorme guindaste do porto, estremecendo toda estrutura do porto, as chamas começaram a se espalhar rapidamente, suas luzes preenchendo a escuridão novamente enquanto o cheiro de madeira queimada e pólvora preenchiam o ar através da sinfonia do porto ruindo em harmonia com o tiroteio. Barbara se debatia para se soltar, mas o vilão aguardou pacientemente o momento certo, e quando o guindaste começou a cair, ele a lançou na direção da estrutura. A jovem Gordon não havia sentido antes uma forma tão pura e vívida de medo como sentia naquele momento. A adrenalina tomou todo o seu corpo e ela agiu por puro instinto nos milissegundos que iriam definir a linha entre vida ou morte. Estendendo o corpo o máximo que pode, ela conseguia sentir o vento deslizando por seu corpo enquanto se projetava o mais longe que podia, se sentindo um verdadeiro morcego abrindo as asas enquanto atravessava a estrutura do guindaste em alta velocidade, se esgueirando entre as vigas com uma precisão milimétrica.
Logo, se encolheu de novo, e rolou por vários metros até conseguir agarrar o chão, espirrando sangue de sua mão esquerda enquanto desacelerava sua trajetória. Logo, como se finalmente conseguisse escutar qualquer coisa de novo, ela conseguia ouvir a voz do amigo no comunicador, gritando por seu nome, perguntando se tudo estava bem. Ela se levantou, e observou todos os veículos indo embora enquanto o chão afunda por trás deles. Ela se pôs a correr, não na direção da saída do porto, mas para a costa. Pulou de uma plataforma para o duro cascalho abaixo, e se escondeu nas sombras, caminhando sorrateiramente para a abertura das catacumbas que havia descoberto com Dick ali a pouco tempo, esperando usar o que lembrava do mapa de lá para voltar para a Academia.
Não muito longe dali, um espectador
observava seus movimentos, atraído pela chamada anônima a respeito dos
problemas nas docas, ele conseguiu apenas chegar a tempo de ver o resultado, e
observar o movimento de uma convidada indesejada que havia despertado a
curiosidade, e a ira, do Cavaleiro das Trevas.
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