A aula de Alice está correndo bem, é sexta-feira e ela forçou Kleber a ver todas as fotos que ela tirou do Sol e as que Tayná a enviou do gato, o garoto já está enjoado de saber que ela tem um gatinho e mais uma amiga. Está no intervalo e Alice está se preparando para mostrar mais fotos para Kleber.
— Kleber, Klebinho. - Alice disse chegando perto do amigo no refeitório.
— O que Alice? Mais foto de gato?
— Siiim, mais foto do meu bebê. - Sentou-se do lado do amigo.
— Você não vai enjoar de fazer isso toda aula?
— Não, não vou. Ainda mais que semana que vem ele vem para minha casa e eu já arrumei tudo para receber ele, até as telas já foram instaladas no meu quarto.
— Entendi, você vai tirar foto produzida dele, né?
— Com certeza, eu já tenho ideias dos cenários que vou montar para meu filho.
— Você colocou tela no seu estúdio?
— Coloquei, foi o primeiro lugar que coloquei.
— Eu ainda acho que você deveria participar das coisas de artes que tem na escola.
— Ah, mas você sabe que eu ia me sentir deslocada, o pessoal não gosta de mim.
— Mas você ainda nem conhece todas as pessoas do clube de artes.
— Não, mas eu ouvi um deles falando que fotografia não é arte, então por que eu entraria num clube com gente assim?
— Entendo.
— Além do mais, eu não quero sair da escola oito da noite nas quintas-feiras.
— Justo, mas eu ainda acho que você deveria dar uma chance.
— Vou pensar no seu caso, mas agora olha aqui - disse chegando o celular perto do amigo, mas ela ainda não desbloqueou.
— Olha, você está usando a foto que tirei de tela de bloqueio.
— Sim, eu gostei da foto, olha como está meu bebê.
— Olha como você e sua amiga estão, vocês parecem casal típico de filme, exceto que as duas são garotas.
— Isso é detalhe - falou envergonhada em pensar em ser um casal com Tayná.
— Olha como você fica envergonhada em pensar nisso, você tem um crush na pessoa que conheceu há uma semana, Alice.
— Tenho não, eu só sou amiga dela.
— Você até tem uma contagem de há quantos dias se conheceram.
— É para saber há quantos dias eu tenho o Sol também.
— Aham, sei. Você só não quer admitir para mim. Mas saiba que daqui uns dias estará vindo me pedir conselhos porque você se entrega muito, igual quando gostou daquele garoto no fundamental.
— Ei, não fala dele, não gosto de lembrar porque eu realmente gostava dele até ele começar a ser mal comigo e eu ainda demorei a perceber igual uma idiota.
— Eu tinha esquecido, me perdoa, Alice. E eu também sei como você demora a se apaixonar por alguém por ser demi e tals. Mas você está começando a gostar dela de maneira bem rápida. Alguém te encantou.
— Vamos mudar de assunto. Deixa eu te mostrar meu bebê.
Alice desbloqueou o celular e entrou na conversa com Tayná e então começou a mostrar as fotos que a garota mandou para ela, O gato em cima do ventilador, as duas não sabem como ele chegou lá, ele em cima do guarda roupa, mesma coisa da anterior,, debaixo da cama brilhando, nessa foto, Kleber interrompeu ela.
O garoto já foi informado que o gato das duas brilha como uma estrela, porém não acreditou até o momento e achou que talvez Tayná colocou algum led debaixo da cama como aquelas pessoas mais por dentro do mundo dos jogos que gostam de por led em tudo que é canto para deixar os ambientes mais legais.
— Tem alguma luz debaixo da cama dessa garota?
— Não, eu já te disse que o Sol brilha.
— Não é possível um gato brilhar.
— Mas ele brilha, eu juro para você. Quando ele estiver lá em casa eu te mostro.
— Olha, se seu gato for radioativo, você fique longe de mim, porque eu não quero pegar qualquer doença, hein?!
— Calma, ele não é radioativo, senão a Tayná já estaria passando mal e eu também.
— Você tem um ponto.
— Agora vamos voltar para ver as fotos.
Alice continuou mostrando, ela passou para uma que não era o gato, mas Tayná mostrando um arranhado que o Sol fez nela enquanto amassava pãozinho na coxa dela, a garota percebeu que era essa foto e passou rápido.
Ficando extremamente envergonhada e torcendo para que o amigo não tenha visto, ela continuou com falsa naturalidade mostrando as fotos e falando quão incrível o Sol é, que ele é um garoto muito esperto.
Mas Kleber não deixa passar nada com os olhos afiados. Ele começou a cutucar Alice até ela se incomodar e perder a compostura e o olhar com cara de indignada com cara de “Que foi?”.
— O que foi isso, Alice?
— Nada não. - Alice falou afastando o celular devagar para não levantar suspeita.
— Alice, eu te conheço, o que foi essa foto, Alice?
Kleber percebeu que ela estava afastando o celular, pegou o aparelho da mão da garota e voltou pelas fotos procurando a específica que ele está questionando.
Ao encontrar a foto, ele olhou por um tempo decidindo o que falar, o que fazer. Olhou para Alice envergonhada e escondendo o rosto com as mãos e decidiu por pressionar um pouco.
— Ela te mandou foto da coxa dela, Alice?
— Não era para você ver essa foto, ela vai ficar brava comigo.
— Espera que eu resolvo isso.
— Como?
— Tayná, aqui é o Kleber, amigo da Alice. Ela estava me mostrando fotos do gato de vocês e sem querer passou na foto que você mandou dos arranhões, você desculpa ela porque minha amiga não tinha intenção de me mostrar, então pode continuar seduzindo ela, tá bom? - Kleber gravou um áudio e mandou.
Alice estava tão envergonhada que não conseguiu impedir o garoto de fazer isso, ela ficou ansiosa e com medo da reação de Tayná.
O tempo todo da gravação do áudio a garota ficou olhando o amigo com cara de desacreditada sobre a cara de pau dele. As atitudes do amigo sempre a surpreendem.
Kleber é o tipo de garoto que resolve as coisas na base da sinceridade, mas às vezes de forma incompreensível, porém Alice está acostumada com isso.
“Sem problemas, eu confio que ela não faria isso propositalmente”
“Não parece a cara dela.”
“E EU NÃO ESTOU SEDUZINDO ELA!”
— Aqui, viu, deu tudo certo.
— Você me fez passar vergonha seu maldito. - Alice disse e começou a dar soquinhos no amigo.
— Seus socos fazem cócegas, eu já disse isso. Você é muito fraquinha.
— Me dá esse celular.
Kleber entregou para ela e voltou a almoçar, não antes de insistir que a garota deveria comer também, mas ela se recusou, disse que comeu um sanduíche de frango.
Alice sempre come que nem um passarinho, ainda mais na escola. O amigo sabe que é por conta da ansiedade que faz ela querer vomitar tudo que coloca para dentro do estômago e quanto mais perto do fim de semana, menos a garota come.
Sempre preocupado, Kleber vive sugerindo que ela coma mais. Às vezes ele até mesmo compra algum lanche ou alguma besteira para dividir com ela com a desculpa de que não vai conseguir comer tudo porque sabe que a garota não gosta de desperdiçar alimento, assim conseguindo fazer ela comer um pouco a mais de vez em quando.
Além de não comer muito, a saúde da garota às vezes é meio frágil e Kleber suspeita que seja por conta do estresse que ela passa semanalmente com a mãe. Estresse esse que a deixa sem dormir às vezes.
“Você já chegou da escola?” - Alice enviou.
“Cheguei sim”
“Mas uma e meia eu saio para a natação.”
“Você ainda está na escola, né?!”
“Estou sim. Desculpa o Kleber ter visto aquela foto.”
“Está tudo bem, você não mostrou de propósito”
“Só toma mais cuidado da próxima vez.”
“Próxima vez?” - Alice enviou curiosa.
“Sim, eu queria te mostrar que o Sol fez dessa vez.”
“Você quer ver?”
“Mostre, agora você me deixou curiosa.”
Alice recebeu uma foto da Tayná puxando a camisa um pouco para baixo para mostrar entre os peitos vários furinhos vermelhos formando um coração, com a legenda “Ele entrou por dentro da minha camisa e eu acordei quando ele fez o último furo, porque parece que ele fez propositalmente dolorido.”. Alice foi para o banheiro e ficou lá encarando aquela foto por muito mais tempo do que gostaria de admitir. Tayná é uma garota linda e ela mostra coisas assim para Alice como se fossem nada e isso está mexendo com ela de forma que ela não queria admitir, mas que Kleber estava certo anteriormente.
Alice realmente tem uma queda por Tayná, não do tipo sexual porque ela é assexual estrita, mas do tipo afetiva e estética. A aparência da amiga agrada ela, além do jeito dela de agir e falar.
“Ainda está aí?” - Tayná enviou tirando Alice do transe que estava.
“Ah, sim, estou.”
“Ele fez um coração em você, achei fofo.”
“Está achando fofo agora”
“Espera até ele começar a fazer com você para ver como dói e arde no banho, ainda mais na piscina.”
“Ele não faria isso comigo.”
“Aham, a gente vai ver se ele vai fazer ou não.”
“Você está linda por sinal, com essa roupa.” - Alice escreveu, mas não ia enviar, porém esbarrou no botão sem querer. Ela tentou apagar, mas Tayná viu antes.
“Obrigada, deixa eu te mostrar ela completa.”
“Está mais simples do que eu gostaria porque vou precisar de tirar na natação.”
Então Alice recebeu outra foto. Tayná está com uma blusa preta estampada, com uma camisa de botão verde musgo por cima, uma calça jeans boca de sino, um cinto preto com o encaixe de dragão. Realmente, Alice confirmou, ela está linda.
“Realmente maravilhosa.”
“Obrigada, você também é maravilhosa.”
Alice ficou envergonhada demais para dizer algo, então ela guardou o celular, sem visualizar a mensagem e voltou para o refeitório com um sorriso bobo na cara, fazendo Kleber suspeitar do que aconteceu.
— Ela te enviou mais fotos dela, né?
— Sim, enviou. Ela é linda. - Alice disse sem perceber.
— Viu, eu sabia que você está começando a ter um crush nela. - Kleber falou com ar presunçoso.
— Não, eu não estou. - Alice percebeu o que fez e tentou disfarçar.
— Claro que está, olha como você está envergonhada.
— É que ela me chamou de maravilhosa - admitiu.
— Olha só e você ficou desse jeito, toda derretida, você gosta dela.
— Gosto como amiga.
Tayná esperou que Alice respondesse, mas não teve uma mensagem de volta, então ela pensou que a garota provavelmente foi chamada pelo amigo para discutir alguma coisa, por isso não viu a mensagem. Mesmo assim ela está com medo de acabar tendo afastado Alice por a chamar de maravilhosa sem ela ter feito algo, era só que ela sentiu que tinha que retribuir o que foi dito e fazer a outra entender que ela pensa o mesmo dela.
Depois de esperar algum tempo, resolveu que era melhor deixar de lado, então foi terminar de se arrumar e resolveu desta vez ir de skate para a natação, seria melhor do que ir de bicicleta, porque às vezes o bicicletário está lotado, já o skate ela pode deixar dentro do Sesi, perto de suas coisas.
No clube, enquanto nadava, Tayná acabou pensando no que Alice disse dela ser maravilhosa e os sentimentos dela começaram a ficar confusos, ela gosta da Alice como amiga, mas a garota mexe com ela de uma maneira que outras pessoas não conseguem fazer. Além disso, normalmente, Tayná é fria com as pessoas e as afasta, mas com Alice, ela quer a garota perto, cada vez mais perto, como se não fosse o suficiente para ela dividir um gato com a garota. A cada onda de pensamento, Tayná deu braçadas mais e mais fortes, cortando a piscina de um lado a outro cada vez mais rápido, até que quando percebeu, ela está sentindo uma dor absurda no braço porque usou ele sem jeito, então ela teve que encerrar mais cedo.
Normalmente a garota fica três horas no clube, nem sempre nadando, mas às vezes só boiando e aproveitando a água. Ela nada só por uma hora mesmo, o resto do tempo é aproveitando, porque apesar de muitas pessoas irem lá, não muitas usam a piscina. Dá para contar quantas usam, são seis com ela.
As outras pessoas já tentaram se aproximar da garota, mas ela as cortou, uma dessas cortou o mais rápido que pôde porque é um velho bizarro que ficava olhando para os peitos dela. Nem dos instrutores Tayná é amiga, ela só fala o básico e vai embora. A garota saiu da piscina e o instrutor que está no dia viu.
— Ué, vai mais cedo hoje? - O instrutor falou.
— É, eu vou. - Tayná disse e foi para o chuveiro, sem falar mais nada.
Enquanto toma banho, viu os furinhos formando um coração e percebeu como os olhando assim, junto com os peitos dela, parece que realmente está seduzindo alguém se mostrar e ficou envergonhada de ter mostrado essa foto para Alice. “Como eu pude fazer isso?!”, Tayná pensou, seguido por “E se ela pensar que realmente estou tentando seduzir ela?”, daí ela pensou “Mas… Não seria ruim se ela gostasse assim de mim.” e “Não, o que estou pensando?!”.
— Aaaaaah! - gritou entre os dentes fazendo o som ficar abafado.
Tayná foi para a praça de skate ficar andando um pouco para passar o tempo, ela está evitando os trabalhos da escola, sempre faz isso quando quer enrolar. Enquanto estava andando na rampa virou o rosto e percebeu onde está, ela não sabia que a praça de skate fica em frente a escola de Alice, na verdade a garota nunca reparou porque não tinha algo importante naquela escola, como tem agora.
Por estar distraída, Tayná caiu e ralou o braço, ela xingou todos os nomes possíveis quando olhou de novo e tem uma Alice tapando a boca e rindo da cara dela, a olhando.
— Você, para de rir!
— Desculpa, desculpa. É que foi engraçado, o que você estava olhando?
— Estava olhando a sua escola, eu sempre venho aqui, mas é a primeira vez que eu percebo como essa praça fica em frente dela, acho que é porque agora eu tenho alguém importante lá - disse sem perceber.
Alice abriu os olhos e fez uma expressão de surpresa bem caricata, Tayná ia perguntar o que houve e então percebeu o que disse.
— Ah, meu deus. Não é assim, você é importante para mim, claro. Mas é porque é minha amiga e eu… - Tayná estava falando, mas Alice estendeu a mão para ela que parou de falar.
— Que tal se levantar primeiro?
Tayná segurou a mão da garota e se levantou com a ajuda dela e a olhou por um tempo, as duas se encarando sem dizer qualquer coisa.
— Você está saindo mais cedo. - Tayná disse quebrando o silêncio.
— É porque eu esqueci meu remédio para ansiedade.
Foi aí que Tayná percebeu como a garota está tremendo, a voz dela está no ponto de choro e o impulso dela foi descer da plataforma de skate e abraçar Alice.
Ela se aproximou sem ser muito rápido para não espantar a amiga, passou os braços gentilmente entre os de Alice e a aproximou apertando o corpo dela contra o seu.
Depois disso levou uma das mãos até a nuca de Alice que não resistiu quando ela fez a cabeça da garota descer até o ombro dela.
— Vai ficar tudo bem, você está segura - falou o mais calmo que consegue.
Alice envolveu os braços nela, retribuindo o abraço, segurou-a firme e então começou a chorar.
— Você é forte, ia para casa a pé segurando todos esses sentimentos? - perguntou quando Alice parou de chorar.
— Meu pai não pode me buscar, ele está em reunião, então eu ia - explicou, agora com a cabeça já encostada nos peitos de Tayná.
— Eu vou com você, só eu pegar meu skate.
As duas se separaram e enquanto Alice enxugou os olhos, Tayná pegou o skate e a mochila.
— Se você segurar minha mão, vai te ajudar a ficar calma?
— Eu acho que sim, funciona quando é com meu pai.
— Então vem, me dá a mão. -levou a mão na de Alice que a segurou.
— Obrigada.
— Não precisa agradecer, eu te quero bem, então estou mais sendo egoísta do que realmente te ajudando.
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