No momento em que fiz aquelas escolhas, eu jurava que
era o certo, que não iria me arrepender depois, contudo, eu me enganei. O peso
das minhas decisões me sufoca os pulmões, mas nada me aflige mais do que a
pressão do arrependimento no meu coração. – NAHEM
Saphira andava pelo campo vendo a destruição que estava formada em sua frente. A batalha tinha terminado há algumas horas, os inimigos completamente derrotados e aniquilados e aqueles que sobreviveram fugiram como baratas entre os corpos dos moribundos.
Ela viu grandes fogueiras sendo acesas em todos os cantos, o cheiro de sangue e carne queimada enchendo suas narinas, os corpos enchiam o solo em que ela passava, aliados e inimigos jaziam de uma forma que não poderiam mais levantar. A fumaça manchava o céu escuro da noite, e tornando o campo um pouco mais claro.
Não de maneira boa, a luz só tornava toda a destruição visível. Saphira sentiu sangue escorrendo pelo seu rosto, ela passou a mão sobre apenas para descobrir se a fonte era dela, ficou satisfeita ao descobrir que era de outra pessoa. Significava que tinha menos um ferimento para tratar.
Ela ouviu passos atrás dela, e virou o rosto para quem se aproximava, Alessio estava lá, a armadura coberta de sangue igual a ela, o rosto vazio igual a ela. A mão em sua espada guardada no coldre, diferente de Saphira que estava com a sua na mão, deixando-a tocar o chão enquanto caminhava pelo campo.
- Princesa. -Alessio chamou – Os soldados estão terminando de juntar os corpos para queimar. Os inimigos que fugiram ainda não foram encontrados.
Saphira concordou com a cabeça.
-Deixe-os ir. – Ela disse. – Servirão de testemunho para que seus superiores pensem duas vezes antes de mandar mais tropas. Apenas os que viram de primeira mão, conseguirão espalhar o terror que preciso que eles sentem.
- Os corpos dos capitães estão separados como pediu.
-Coloque-os enforcados, para serem comidos por corvos e servirem de aviso.
-A senhorita está mandando muitos avisos.
Saphira o olhou, o rosto machucado de seu soldado, com cortes finos na garganta e a mão enfaixada.
-Nenhuma quantidade de medo é pequena demais.
Saphira andou de volta para o acampamento com Alessio a seguindo, ela era uma guerreira, estava acostumada com sangue, batalha e corpos, não era uma coisa que a deixava desconfortável mais, Saphira andou por cima pelo campo como se fosse dela, pisando em cima de corpos e usando a própria espada como apoio.
-O Rei Regente mandou uma mensagem a senhorita. -Alessio disse.
-E o que a mensagem diz? Já que você já leu a carta. – Ela perguntou com a voz apertada.
- O Rei deixa bem claro suas preocupações em ultrapassar tantos os territórios limites.
Saphira continuava a andar, o corpo começando a sentir o cansaço de todas aquelas horas com tanto esforço físico.
-E o que mais?
Quando Saphira começou a entrar no acampamento ela sentiu os olhares em si. Os soldados gostavam de encara-la, admira-la, mas no mais comum das opções, teme-la, não entendiam como ela conseguia fazer o que fazia e ainda sair viva de tudo aquilo. Bom, eles não precisavam entender. Só precisavam obedece-la.
Os soldados estavam ao redor de fogueiras se aquecendo, nas barracas dormindo e descansando aqueles que conseguiram suprimir toda a adrenalina da guerra e não se afetar pela bruta violência.
-O Rei insiste que a Alteza instaure um cessar-fogo. – Alessio respondeu. Saphira entrou em sua barraca, o lugar no meio de todo o acampamento e o mais bem–estruturado, afinal, uma Princesa sempre deveria ter o melhor. – E começar as negociações para o fim dos conflitos.
Saphira sorriu para Alessio.
-Agora que estamos vencendo ele quer paz? – Saphira perguntou com os olhos lançando facas para Alessio.
Alessio já acostumado com sua agressividade, não se abalou pelo escrutínio.
-Ele continua dizendo que suas ações foram precipitadas e sem o seu consentimento.
Saphira pega uma caneca de barro e a afunda dentro de uma grande bacia de água fresca. Ela bebe como se estivesse sedenta.
-Continue, por favor, Alessio. A mensagem toda estava tão interessante. – Saphira fala.
-O Rei Regente termina falando que apesar de sua reputação se alastrar por todos os reinos, ele a alerta que uma imagem ruim, como a da Alteza, de Colecionadora de Olhos, reflete exatamente em Sivínia de uma forma que o Rei não quer ou aprova.
-Bem, todo mundo tem seus hobbys. – Saphira reclamou dando de ombros.
Saphira, encheu sua caneca de água de novo e tomou tudo, ela se sentou em uma cadeira de madeira e soltou um gemido alto.
-O dia foi muito exaustivo, Alessio. – Saphira disse- Tudo o que eu quero é descansar o máximo até o próximo pelotão inimigo chegar.
-Entendo, Alteza. – Alessio falou a encarando.
-Então, a mensagem do Rei Regente. – Saphira falou. – É só aquilo?
Alessio concordou com a cabeça.
-Sim, senhora. – Saphira sorriu.
-Ótimo. Você está com a carta com você? - Saphira perguntou.
Alessio confirmou como a cabeça, ele retirou de dentro da sua armadura um papel grosso, entregou para Saphira que abriu a carta com o selo do Rei Regente e leu de novo todas as suas palavras. Saphira, então, balançou a cabeça, suspirou, ela se aproximou da pequena lamparina que espalhava luz por toda a tenda, já perto dela, aproximou o papel no fogo.
Saphira e Alessio viram o papel se incendiar e queimar completamente enquanto Saphira o segurava. O papel tinha virado cinzas, e da mesma forma as palavras do Rei.
Saphira se virou para Alessio de novo, que estava em pé com as mãos juntas na frente do corpo esperando que Saphira desse o próximo comando.
-Avise as tropas que iremos avançar dois quilômetros daqui a dois dias. E aos capitães que invadiremos a próxima vila em busca dos recursos mais importantes e queimaremos todo o resto. Os homens que lutarem serão mortos, mas as crianças e mulheres não, todas aqueles que se curvarem poderão se tornar escravos, aqueles que escolherem não se ajoelhar serão queimados.
-Se ainda tiver alguém nessas vilas. – Alessio disse. – Com certeza, em razão dos conflitos todos fugiram para o norte.
Saphira deu de ombros.
-Sempre ficam alguns. – Ela respondeu. – Eles tornam tudo mais divertido. – Ela sorri com um brilho cruel nos olhos.
-E a mensagem da Majestade?
-Não mandarei resposta. Mas, eu acho que ele sabe que se quiser me parar, ele mesmo terá que vir aqui. O que nós dois sabemos que não vai acontecer.
-Só isso, Princesa? – Saphira assentiu.
– Está dispensando,
Alessio. Descanse um pouco. Amanhã
teremos mais cabeças para arrancar. Afinal, Astoria não vai se destruir
sozinha.
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