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A Ira dos Deuses Perdidos

Capítulo 3: A Abadia de Celene -Parte 1

Capítulo 3: A Abadia de Celene -Parte 1

Oct 03, 2023

Existem momentos em que eu desejo não ter nascido. Nenhuma vida vale o tanto de sofrimento que eu passei. - #####

No reino de Astoria, existia um cargo específico para Contadores de Histórias.

Eram homens e mulheres espalhados por todo o limite territorial que tinham como objetivo conservar as culturas e histórias que a população estava ocupada demais para aprender sozinha. Essas pessoas, apesar de escolherem o campo de estudo em que mais gostavam – como guerras, música, política- sempre espalhava uma mesma história.

Eles diziam que na época da conquista dos Condados Capitais, no momento em que Astoria foi formada, o Conquistador Yasima criou o reino em cima de três pilares essenciais. Coisas que o Conquistador acreditava ser a chave para uma civilização em paz e avançada.

Ele acertou em pelo menos uma das coisas, Astoria com certeza era avançada, em paz, nem tanto.

Contudo, os pilares eram simples, Ciência, Religião e Poder. Essas três bases criaram Astoria e ainda eram valorizadas acima de qualquer outra coisa. Alguns diziam que era o que mantinha Astoria unida e funcionando.

Amira Yasima sempre acreditou nisso. Ela foi ensinada a acreditar nisso. Que valorizar os saberes científicos os tornariam inteligentes, sábios e estratégicos, que ter em mente os deuses e sua adoração os traria paz, benção e proteção e que confiar no poder, tanto na política quanto nos exércitos era a chave para a proteção em geral.

Contudo, naquele momento, todas as coisas que Amira acreditava estavam sendo desafiados.

O conhecimento não fazia nenhuma diferença em sua vida, mesmo com sua inteligência ninguém dava a ela credibilidade real, apesar das orações e juras feitas, nada impediu que os deuses tirassem seu pai, e o poder, político e militar, estava se despedaçando ao perder cada vez mais em uma guerra que durava cinquenta anos. 

Amira mergulhava nesses pensamentos sombrios, quando sabia que aquele era o último lugar aonde devia ter tais pensamentos.

Estavam todos orando. Suas cabeças baixas e bocas se mexendo sentados em tapetes no chão com olhos fechados e cabeça se concentrando.

Amira devia estar fazendo aquilo, o que todos estavam fazendo. Mas seu coração estava gelado demais para fazer a adoração que todos faziam.

Ela decidiu se concentrar em outra coisa. Seus olhos se movimentos dentro da abadia, o segundo lugar mais bonito que tinha visto.

Amira ia para lá toda semana, mas nunca teve a oportunidade de explorar cuidadosamente todos os detalhes incrustados.

Existia três lugares que representavam os pilares de Astoria, o Palácio de Mármore, a sede do poder do reino e a morada dos reis e rainhas, a Abadia de Celene, o templo em que adoravam a protetora dos humanos, e A Biblioteca Real, o lugar que continha os conhecimentos de tudo o que os humanos conseguiam relatar.

De todos eles, Amira tinha que admitir que a Abadia era a melhor, bem, Amira nunca tinha entrado na Biblioteca Real para saber, mas apenas pela fachada de pedra escura, deteriorada pela idade, ela descobrira que a Abadia era mais bonita.

Tudo era para representar a importância, o lugar extremamente cuidado, construído de forma elementar para evidenciar como Astoria valorizava esses pontos.

Na Abadia aquilo tinha tido todo o sucesso, as paredes eram revestidas de pintura, imagens da deusa e dos outros deuses que mostravam sua vida esplêndida enquanto ela ainda vivia na terra.

Tudo esculpido do ouro, os detalhes feitos em pedras preciosas, o lugar era esplêndido, Amira poderia o olhar por horas, e não se cansar disso.

-A visão é linda, não? – Alguém se dirigiu a Amira. Ela virou os olhos em direção aquela voz baixa que sussurrava para não incomodar os outros. – Passo a maior parte dos meus dias aqui e ainda não me acostumei, acho que nunca acontecerá.

Era o Sacerdote. A grande autoridade da Religião, o homem que podia falar com os deuses, entender seus desejos. Aquele homem tinha poder. Até magia. Se os boatos estivessem certos.

- Realmente. – Amira concordou. – Venho a anos aqui, já devia ter me acostumado. – Ela falou olhando para os detalhes.

O Sacerdote a olhou, era um homem velho, de idade avançada, seu cabelo caído por causa da idade. A pele marrom escura e os olhos cansados, sempre sombrios.

Ele se aproximou de Amira e pigarreou.

-Não posso deixar de notar... – O Sacerdote falou. – Que a Vossa Alteza que não está muito concentrada hoje. Existe algo que gostaria de conversar?

Ele perguntou com a voz gentil, Amira sorriu um pouco, meio constrangido por ter sido pega pela única pessoa que poderia ver aquilo como um insulto grave.

Ela respirou fundo, o Sacerdote nunca tinha sido um inimigo para sua família ou para o Rei, todos os líderes dos três pilares, na verdade andavam unidos, pois acreditavam na unidade dos poderes e em sua eficiência.

Porém, Amira estava sofrendo, e nenhuma conversa aliviaria suas dores.

-Meu pai morreu, meu senhor. – Amira disse. – Não estou pronta para agradecer aos deuses ainda.

O Sacerdote a olhou surpreso, ofereceu seu braço para ela o acompanhar, Amira fez uma careta, uma careta na frente do Sacerdote que viu aquilo, ele, porém, sorriu, Amira tinha o hábito de ser sincera, aquilo muitas vezes não era algo politicamente bom. O Sacerdote, contudo, não parecia ligar, ele tinha conhecido pessoas demais, para entender que a honestidade era sempre a característica mais favorável em uma pessoa.

E ele não a deixaria se lamentar no chão da igreja, quando sabia que apenas sua companhia poderia fazer Amira se sentir melhor.

-Nunca tive a chance de dar minhas condolências. – O Sacerdote disse para Amira depois de começarem a andar pelas laterais da Abadia observando as pinturas nas paredes.

-O senhor fez o funeral do meu pai. Aquelas palavras foram o suficiente para mim. – Amira respondeu.

- Aquilo, porém, jamais vai ser o suficiente para mim. – Ele sussurrou.

-Sacerdote... – Amira começou.

-Sua mãe parecia ter uma visão parecida com a sua. – O Sacerdote falou. – Se recusando a vir a Abadia, de até mesmo falar comigo.

-Sinto muito por isso. – Amira respondeu. – Minha mãe tinha que culpar alguém. Ela direcionou sua fúria aos deuses.

-Bem, vamos orar para que as entidades não façam o mesmo com ela.

Amira engoliu seco, não falou como com o passar dos anos a rainha ficara cada vez mais fraca na fé, como ela mau acreditava que deuses existiam e que eles olhavam por nós, e ela só estava ali naquele momento para aplacar uma profunda consciência culpada e por puro desespero. Como um moribundo procurando por coisas impossíveis apenas por estar desesperado para se salvar. Mas naquele caso, a rainha só queria salvar o marido.

-E mesmo assim, ela está ali. – O Sacerdote olhou para a rainha. – Com os olhos fechados e os joelhos no chão.

-Algo a fez mudar de ideia.

-E o que seria? Ela está orando pelo seu irmão? Faz sentido ela pedir por sua segurança.

Amira balançou a cabeça negativamente.

-Na verdade não, minha mãe está orando pelo meu pai. – Amira respondeu. – Por mais que ela esteja brava com Celene por tira-lo do mundo dos vivos, ela não consegue cogitar que meu pai não esteja em um mundo de paz agora.

-Um sentimento lindo. – O Sacerdote falou. – A devoção de uma esposa mesmo na morte do cônjuge. Muitos casamentos políticos são fadados ao fracasso. Seu pai e sua mãe sempre fizeram a diferença.

Os olhos de Amira ficaram molhados, lembrando da dor e solidão da mãe por ter perdido o amor de sua vida, o homem que compartilhou com ela tudo o que ele tinha.

Ela devia estar devastada. Amira tinha perdido o pai, mau estava aguentando aquela dor, e ela se perguntou se o sentimento da mãe era ainda maior em intensidade.

-E você?  - O Sacerdote perguntou enquanto a mente de Amira divagava. – Eu tenho que admitir que a encontrei orando também.

O rosto de Amira esquentou. Ela deu um sorriso torto.

-Bem, eu não consegui resistir. Estava pedindo por minha paz de espírito e a calma em minha mente.

Aquilo fez o Sacerdote se surpreender, as sobrancelhas se levantaram em confusão.

-Não vai pedir pelo seu irmão? – Ele perguntou, Amira deu de ombros. 

-Todos estão pedindo pelo meu irmão. Alguém tem que pedir por mim.

O Sacerdote ficou em silêncio, a analisando intensamente, depois ele desviou os olhos e apertou o braço de Amira de forma forte.

 -Eu tenho olhado para você, Amira. – Ele falou. – E tenho pedido por você também.

Amira engoliu seco, seus olhos se movendo para baixo. Ela deu um sorriso falso e disse mesmo no limiar da emoção.

-O senhor me comove. Agradeço muito. Mas, tenho certeza que há causas maiores do que a minha.

O Sacerdote sorriu.

-Como o que?

Amira deu de ombros.

-Temos um conflito que vem conquistando Astoria, Sacerdote. Não há como negar por mais que gostemos de ser ignorantes.

O homem arregalou os olhos, não esperando que Amira falasse sobre isso.

-Eu peço por isso também, princesa. Pedi por vinte anos. E devo dizer que teremos uma resposta dos deuses em um futuro próximo.

Amira levantou as sobrancelhas. Ela não replicou ou perguntou porque, o Sacerdote tinha contato direto com os deuses, Amira não podia duvidar.

-Uma resposta boa?

-Não sei. Talvez não seja boa para nós. – O Sacerdote franziu a testa- Mas o assunto foi deixado de lado. Você sabe que sempre me preocupei com sua saúde.

Amira paralisou, o sangue em suas veias ficou gelado, ela desviou o olhar e seu queixo trincou, ela não queria falar sobre isso, era um assunto delicado que a deixava desconfortável.

-Agradeço por isso.

Ela não desenvolveu, não contou todas as informações que ele queria saber, mas o Sacerdote tampouco se afastou.

-Como estão suas crises? Pediu opinião de mais alguém?

Amira ficou em silêncio, seus olhos vidros focaram em uma das pinturas em sua frente, era Celene, a Deusa da Vida, a Protetora dos Humanos, com uma espada grande na mão, seus cabelos pretos estavam esvoaçados e seu rosto em uma careta de ódio, atacando outra divindade. Ela se perguntou porque a deusa estava com tanta raiva? Por que ela brigaria com outras entidades que sempre estiveram com ela?

Quando Amira era menor, ela perguntava a aquele mesmo Sacerdote as histórias por trás das imagens. Algumas ele sabia, explicava as ocorrências de modo mágico e divertido prendendo a atenção de Amira, contudo, aquele era um dos desenhos que não tinha nenhuma explicação. A Abadia tinha sido construída séculos atrás, algumas das histórias tinham sido perdidas com o passar da autoridade de pessoa para pessoa.

Sempre diziam que Amira tinha sido abençoada por Celene, por ter tido mais uma chance na vida, dada a uma experiência de quase morte na infância, e que, querendo ou não, Amira era muito parecida fisicamente com os desenhos registrados na Abadia. As características eram semelhantes, a pele escura, os cabelos pretos longos e escuros caindo em cascata, e os traços nos rostos. Diziam que Amira tinha sido abençoada com sua beleza.

Amira não iria mentir ao dizer que os elogios sempre foram muito bem-vindos, ela não sentia, porém, muita simpatia compartilhada com a deusa naquele momento.

-Amira? – O Sacerdote perguntou.

Ela saiu do transe, seus olhos se afastando da pintura e reencontrando o Sacerdote que a olhava com sobrancelhas levantadas.

-Me perdoe. Viajei dentro da minha mente. – Ela se desculpou, querendo evitar o assunto. Aquilo preocupou ainda mais o Sacerdote.

Ele assentiu com a cabeça, como se dissesse que não tinha problema, mas seus olhos falavam outra coisa, mostravam fascínio, preocupação, a analisavam profundamente.

-Sempre foi muito avoada, não? – O Sacerdote perguntou. – Trabalha mais dentro de sua cabeça do que fora.

Amira o olhou e engoliu seco, os olhos do Sacerdote, que a dissecavam como se quisesse corta-la para descobrir o que há dentro, eram pesados demais.

-Você não respondeu minha pergunta.

Amira fechou os olhos fortemente, ela pensava que tinha se livrado de seu escrutínio.

-Os episódios tem sido mais frequentes, deixando-me e minha família mais assustados. Minha mãe principalmente.

O Sacerdote assentiu, entendendo.

-E assumo que as respostas não foram encontradas por nenhum dos Mestres?

Amira balançou a cabeça negativamente.

-Eles não entendem o que está acontecendo comigo. Acham que eu fiquei louca, assim como todas as outras pessoas que perguntei sobre a fonte da minha doença.

-Mas, pelo menos seus episódios não são recebidos com violência, certo? Tudo o que há de errado fica simplesmente na sua cabeça.

Amira se virou para o Sacerdote. Pelo menos?


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