Não faço o meu primeiro gol no jogo de segunda-feira em Valência, mas marco um encontro com uma mulher. Existem outras formas de vencer na vida, certo?
— Volto sozinha para Barcelona — aviso o time quando estamos prestes a deixar o vestiário.
É uma viagem curta de trem de Valência a Barcelona, fácil de fazer sozinha. Pelo menos, é o que minhas pesquisas indicam. A viagem de ida com o time foi feita de ônibus. Mas, por mais que eu não goste de perder esse momento de interação após um jogo que acabamos de vencer, preciso dessa pausa.
— Quer que eu... — Emily começa, e devo fazer alguma cara suspeita, porque ela mesma se interrompe. — Ah, já entendi tudo. Até amanhã, pegadora.
Termino de me despedir das meninas, ignorando o olhar confuso de Ember e o sorrisinho astuto de Sofia. Depois saio das imediações do estádio, caminhando devagar até o bar que, segundo o Google Maps, fica só a três quadras de distância.
Lá, busco pela mulher que já deve estar me esperando. Vestido preto e cabelo loiro platinado, o mais diferente de Ember que consegui encontrar.
Avisto-a em uma mesa dos fundos.
— Rebeca? — ela pergunta, assim que estou a um passo de distância.
Assinto, abrindo um sorriso nervoso. Faz muito tempo desde que fui a um encontro com uma pessoa que não fosse o Stephen, pois estive com ele desde os dezenove anos de idade. Quanto tempo perdido.
— Oi, Olga.
Ela é mais bonita do que nas fotos, com a pele branca levemente bronzeada, as pernas compridas e a maquiagem impecável. Seu vestido vai só até o meio das coxas e a meia-calça preta lhe confere um ar de elegância que faz com que eu me sinta como um peixe fora d’água.
Sento na cadeira oposta à dela, já acenando para o garçom.
Álcool. Preciso de álcool para dar conta disso.
Não que ela seja bonita demais para mim — mas talvez seja —, é que somos de mundos tão diferentes. Eu peço uma gin tônica e sorrio, com o coração na boca, enquanto ela começa a falar sobre como quase não conseguiu vir hoje, porque o chefe dela no trabalho queria que ela fizesse hora extra.
Só depois que o assunto muda, percebo que eu deveria ter perguntado com o que ela trabalha. Por educação mesmo.
— E você? — ela pergunta de repente, logo que nossas bebidas chegam.
Ela pediu uma taça de vinho, e leva-a à boca, tomando um gole lento e deixando uma mancha de batom vermelho na borda.
— O que tem eu?
Ela dá uma risadinha.
— Como foi seu dia? Algum chefe irritante?
Penso no nosso técnico, que fala pouco e faz muitas caretas que me deixam ansiosa, e assinto.
— Muito irritante.
— Com o que você trabalha?
Inclino o rosto para o lado, dizendo, num tom um pouco mais baixo:
— Não quero falar de trabalho.
As bochechas dela ficam coradas. É fofo. Me dá até um frio no estômago, mas ainda não sei se é porque me sinto atraída por ela ou se é devido ao nervosismo que toda essa situação me provoca.
— Sabe, você me parece familiar — ela murmura, franzindo a testa e bebendo outro gole de vinho.
— Todo mundo diz isso — asseguro, sem explicar exatamente por que as pessoas dizem isso.
A conversa segue assim, com ela fazendo a maior parte das perguntas. É tudo novo demais para chegar a ser entediante, mas educado demais para ser de fato divertido. Algo no meio do caminho.
Depois do meu terceiro drink e da segunda taça de vinho dela, Olga diz que a música alta está começando a irritá-la e que quer me ver em um lugar mais iluminado. É tão sutil que, dessa vez, quem deve ficar corada sou eu.
— Vamos até a minha casa — ela diz com uma casualidade que eu não conseguiria replicar. — Moro perto e estou de carro.
Eu aceito. Foi para isso que vim até aqui, afinal.
Observando-a dirigir pelas ruas noturnas, com as luzes da cidade iluminando-a em intervalos de segundos, finalmente sinto o início de um calor na base do estômago.
No apartamento, ela me oferece outro drink, mas começa a me beijar logo depois que dou o primeiro gole. Ela tem gosto de vinho e de hortelã, e seus lábios são a coisa mais macia que sinto em anos.
A atração cresce, alimentada pelo beijo e pelo álcool.
Tiro o vestido dela e passo os polegares pelo sutiã de renda, circulando os mamilos. Ela ofega, arqueando o corpo. Depois, é a vez da meia-calça, que eu tiro devagar, olhando nos olhos dela.
A calcinha dela combina com o sutiã. É bonita. Esfrego o tecido contra a sua boceta, sentindo como ela está molhada, o quanto me deseja.
Não consigo me lembrar da última vez em que iniciei algo com alguém de forma romântica. Um toque, um beijo.
Assumo o controle.
Quando a fodo no balcão da cozinha, é como despertar.
Ela chama o meu nome, geme, grita.
Depois que goza, pergunta, ofegante:
— Quer que eu...?
— Não precisa — digo, sorrindo, depois levo os três dedos melados à boca e chupo.
Durmo na casa dela. De manhã, quando volto para Barcelona, fotos borradas de nós duas naquele bar mal-iluminado já estão em todo lugar.
A Champions começa. É só o primeiro jogo realmente sério.
Eu não devia me cobrar tanto, mas é como se os comentários que li estivessem tatuados na minha mente.
Ela nunca está satisfeita.
Ela não era boa o bastante para ele.
Vadia.
Mau-caráter.
Ela nem joga bem.
Faço meu primeiro gol.
O segundo.
Depois o terceiro.
Eles nunca saberão quem eu realmente sou, esses urubus com seus celulares, suas mensagens de ódio. Não é como se tivessem qualquer interesse por futebol feminino, ou por mim. Não verão os três gols, a forma como Emily me abraça, como minhas outras colegas comemoram comigo.
Mas eu sei.
Eu vejo.
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