Emma desce uma escada larga o suficiente para duas pessoas caminharem uma ao lado da outra. Vestindo uma roupa simples, ela se parece uma camponesa, com uma camisa branca de algodão e uma saia longa de cor azul. Um lenço verde prende seus cabelos cacheados, deixando poucos cachos escaparem. Uma pequena bolsa de couro fechada com um nó de corda está presa do lado direito de seu ombro.

Agora, já dentro da cozinha, Emma apertou o lenço que envolvia sua cabeça e arregaçou as mangas de sua camisa, preparando-se para o árduo trabalho de cozinhar para a guarnição da noite no quartel. A refeição da guarnição seria um banquete completo: massas de pão harmonizadas com carne seca, um caldo encorpado e nutritivo com vegetais e especiarias, e, por fim, uma pequena dose de um licor caseiro feito com frutas exóticas e ervas únicas, destinado a auxiliar na digestão.

Emma começa erguendo facilmente uma grande panela de ferro negra sobre o fogão a lenha, onde as chamas alaranjadas dançantes trepidam e fazem estalar os escuros pedaços de carvão. Com habilidade, ela prepara ingredientes especiais e coloridos, incluindo as raízes escuras de cheiro forte, que adicionam um toque azulado e sabor adocicado, e legumes exóticos, de casca prateada e sabor levemente apimentado, enchendo a cozinha com aromas únicos.

Após dourar os ingredientes na panela, Emma despeja água, desembrulha uma carne temperada e a prepara para a panela, cortando-a com destreza e adicionando-a. A jovem então finaliza o caldo com um toque de vinho e cobre a panela cuidadosamente. Paralelamente, começa a trabalhar na massa, colocando ao forno os pedaços redondos de pão, com generosas tiras de carne que exalam uma essência salgada muito saborosa.

Ela se senta em uma cadeira próxima à mesa e, com um pano retirado de sua pequena bolsa, enxuga o suor de sua testa e busto. Lentamente, a luz do sol começou a diminuir e o canto dos grilos anunciou a proximidade da noite. Apesar de quase tudo estar pronto para a noite, Emma não descansou e acendeu duas lamparinas para iluminar a cozinha, pois ainda precisava trabalhar no licor, que seria o toque final da noite.

Do interior de um pequeno armário feito de madeira escura e redondo, ela retira um grande pote hermético bem vedado e o leva até a mesa, retirando o pano que envolvia o recipiente. Balançando o pote, dentro dele há um líquido de cor avermelhada com algumas frutas que ainda estão inteiras. Era necessário dar um último toque para o sabor. De sua bolsa de couro que carregava, envolvida em um pequeno pano decorado, ela retira uma pequena fruta.

Ao desembrulhar, ela examina o pequeno fruto de cor branca. "Uma amora lunar", diz ela olhando para o fruto, de formato redondo e um brilho claro que reflete as cores das lamparinas a sua volta. Abrindo o pote, um forte cheiro cítrico e ácido exalam de dentro dele. Mas rapidamente, Emma lança a fruta dentro dele e rapidamente o tampa novamente. Em poucos segundos, a reação começa a acontecer, o pequeno fruto se dissolve lentamente, deixando a cor do licor mais clara, indo do vermelho para um tom mais amarelado.

Ela balança curiosa novamente o pote, analisando o processo e depois o abre, e um cheiro completamente diferente exala dele, levemente doce e mais suave. "Perfeito!" pensa ela mais uma vez, sentindo-se orgulhosa, como se tivesse encerrado o processo de criação de uma obra de arte.

Enquanto observa o pote refletindo as luzes alaranjadas das lamparinas, Emma não percebe um homem alto de armadura que estava parado a observando na porta.

“Olá Emma, boa noite. O cheiro está delicioso…”

Diz ele se aproximando com cuidado, batendo levemente na porta de madeira. 

Este jovem soldado era Frederick, um homem ruivo alto e muito gentil. Vestindo uma armadura comum entre os soldados do forte, era um conjunto completo feito de aço negro. A armadura parece pesada e protege bem o corpo do soldado, mas no caso de Frederick, que precisa abaixar para passar na porta, ela se tornava ainda mais imponente. 

Além de alto, Frederick aparentava ser musculoso, tendo ombros e mãos largas. Ele segura em uma das mãos o seu elmo fechado e escuro, estando assim com a cabeça completamente descoberta. A expressão do jovem é risonha e seu olhar acolhedor. O seu cabelo tem um tom alaranjado que caem até as suas orelhas, parecido com seus olhos que são um pouco mais escuros.

“Ah!! Ora Fred. Você me assustou! A quanto tempo estava aí?”

Emma se assusta por um instante e quase se desequilibra com o pote de vidro na mão. Apesar disso, recebe o amigo com um largo sorriso e estende a mão para que ele se sente na à mesa, perto dela.

“Obrigado. Estou aqui desde que colocou os pães para assar. Tenho certeza que vão ficar deliciosos.”

Diz ele balançando a cabeça em agradecimento pelo convite e puxando o banco para se sentar, colocando o seu elmo em uma outra cadeira que estava perto.

“Céus! Você está aqui há muito tempo!! Por que não disse nada??”

Emma cobre o rosto com o pano que havia limpado o excesso de suor mais cedo, envergonhada. Ela encara com seus olhos amarelados o jovem ruivo, esperando por sua justificativa. Apesar do rosto coberto, seus olhos denunciam um grande sorriso.

“Você parecia estar tão concentrada, não queria atrapalhá-la. Inclusive, tudo o que vi você fazer, foi feito com grande habilidade. Eu estou impressionado!”

O jovem coloca um dos cotovelos em cima da mesa, fazendo sua armadura ranger sons metálicos. Enquanto demonstra interesse de que irá continuar a falar:

“Confesso ainda, que sempre achei que minha mãe fosse a melhor cozinheira do mundo. Ela sempre fez muito sucesso em nossa vila, mas isso até lhe conhecer.”

Encerra ele ficando levemente corado e com um brilho no olhar, ao falar da jovem.

“Hahaha!! Você me deixa envergonhada… porque diz isso?

Novamente, a jovem continua sorrindo por de trás do pano que está cobrindo o rosto.

“Bem… acredito que se o gosto da comida for tão bom quanto o cheiro, meus colegas certamente vão querer mais. Hahaha!! Além disso, nunca vi algo parecido com o que foi feito com a bebida. Foi fascinante. O que fez?”

O jovem ruivo não consegue conter o sorriso sincero ao elogiar Emma e ao mesmo tempo, a ansiedade pela vontade de poder saborear o banquete que está tão perto dele. Seu rosto está ainda mais avermelhado que antes.

“Obrigada! Eu usei uma fruta para diminuir a acidez do licor de morangos selvagens. Essa bebida é excelente depois de uma refeição pesada, então acreditei que vocês iriam gostar de tomar algo para diminuir o peso e não sentirem sono durante a noite.”

Emma explica para Frederic de forma simples o processo feito, mas dá a entender ao mesmo tempo que não deseja entrar em detalhes, pois sabe que talvez seja um pouco mais complicado do que aparenta. Mas ainda assim, passa para o jovem uma sensação de propriedade e conhecimento.

“Nossa… você é incrível Emma. Sabe de tantas coisas!”

A fala do jovem é carregada de sinceridade e um toque de inocência que destoam de sua aparência forte e robusta. Os olhos alaranjados de Frederick continuam a brilhar de admiração por Emma e ao que sua admiração indica, não é apenas por seu talento na cozinha.

“Ah… e-eu vim aqui também para ajudá-la! Posso te ajudar com alguma coisa?”

Pergunta ele sem jeito, escondendo o rosto dentro do elmo negro que havia deixado no banco. Rapidamente, o soldado se levanta e fica parado ereto diante dela.

“Pode sim, vou precisar de sua ajuda. Vou pegar algumas caixas e colocá-las em cima da mesa. Vamos manter a temperatura dos alimentos com alguns panos.”

Com um sorriso, é evidente que Emma domina o jovem soldado. A impressão pela forma que o rapaz fica perto dela, é que ela poderia pedir para que ele fizesse qualquer coisa e ele o faria sem pestanejar. Apesar da aparência intimidadora, Frederick aparenta ser um bom rapaz, inexperiente, com um leve toque de inocência, fazendo com que Emma o provoque a todo o instante.

Com sua camisa de algodão bem folgada, a jovem se abaixa para pegar as caixas de madeira, deixando bem visível o decote de seus seios, que com o  movimento, parece que a qualquer momento podem acabar saindo. Mesmo sem olhar para o soldado, ela sabe que ele está a encarando e por mais que ele esteja vestindo uma armadura, pode sentir ele engolindo seco o desejo de ver mais, enquanto a encara.

“Aqui está! Uma caixa para os pães, uma caixa para a panela e eu irei levar o licor nessa garrafa. Está tudo bem?”

Ao se levantar de repente, Emma percebe o olhar fixo de Frederick nela e finge não ter percebido para ver sua reação. O soldado quase se desmonta dentro da armadura ao ser percebido por ela.

“N-ão não! Está tudo certo! Eu posso carregar tudo se quiser!”

Diz ele prontamente prestativo, preparado para ajudá-la.

Emma sorri de forma gentil, sabendo a verdade, mas não faz qualquer comentário. Ela sabe que tem controle sobre o rapaz. Os dois organizam os tabuleiros de pães e a panela de forma bem organizada nas duas caixas de madeira, devidamente envolvidas em panos grossos para manter a sua temperatura até chegar ao forte militar, que na realidade, não ficava tão distante.

Com cuidado, Emma também despeja o licor em uma outra garrafa e o tampa com uma rolha amarronzada. Por pouco tempo o cheiro adocicado faz Frederick suspirar, mal podendo ver a hora de se deliciar com o banquete, arrancando algumas risadas da jovem.