"Vamos andando?"

Pergunta Frederick, erguendo as caixas. Os três soldados tomam a frente, e Emma os segue logo atrás depois de passarem pelo grande portão do forte.

O coração de Emma parece que irá sair por sua boca. Ela sente dentro dela uma excitação tão grande, pois em mais de um ano que estava naquela cidade, essa foi a primeira oportunidade segura que teve de entrar naquele lugar protegido. Sua ansiedade era tanta que ela não parava de observar, olhando para cada detalhe que seus olhos pudessem ver.

Emma examina cuidadosamente a quantidade de tochas, até mesmo as janelas, locais escuros, barris e caixas de madeira. Nada escapa de seus olhos inquietos enquanto segue os três soldados à sua frente. Ela sabe que eles estão conversando, mas sua concentração está totalmente voltada para os arredores.

Ela está ciente de que estão indo em direção ao refeitório do forte militar. Apesar de contar com muitos corredores e várias portas, o caminho por onde passam é predominantemente reto. Um grande corredor de pedras iluminado por tochas. Há algumas aberturas superiores no corredor que permitem que a luz do luar entre, assim como a brisa gelada da noite.

Enquanto avançam pelos largos corredores do forte, Emma e os soldados passam por uma série de ambientes funcionais, cada um com seu próprio propósito. Os corredores são construídos com pedra sólida, criando uma sensação de segurança.

Caminhando, o pequeno grupo passa em frente a uma sala, onde Emma nota um armazenamento de suprimentos militares, com armaduras penduradas nas paredes e prateleiras repletas de armas e equipamentos. O brilho metálico das espadas e das lanças reflete a luz das tochas. Mesmo que por um breve momento, ela observa com atenção, mantendo seu passo constante e controlando a respiração para acalmar sua ansiedade.

Mais adiante, eles passam por uma área de convivência, onde alguns soldados descansam em bancos de madeira, jogando cartas e conversando. Quando o pequeno grupo passa, os soldados fazem sinal para que os outros os sigam. Os homens na sala rapidamente se levantam e preparam-se para sair. Por um momento, Emma se aproxima de Frederick, que caminha à sua frente. No entanto, ela continua a observar o local com atenção, contando a quantidade de soldados que estão lá e traçando, em sua mente, uma rota de fuga, caso seja necessário escapar do local.

Conforme continuam, o corredor se abre para um grande pátio interno, onde uma fogueira crepita, e mais soldados se reúnem ao seu redor, desfrutando de uma breve pausa e aquecendo-se. Ao avistarem o grupo, os cinco soldados próximos à fogueira tomam a liderança e seguem em direção a uma grande porta dupla, que provavelmente leva ao refeitório.

Ao adentrarem o refeitório do forte, Emma observa que o local é espaçoso e iluminado, com o brilho das tochas nas paredes refletindo três longas mesas de madeira escura que se estendem pelo salão. No centro do refeitório, uma grande lareira crepita, proporcionando calor e um ambiente acolhedor. As paredes são feitas de blocos maciços cinzentos, com algumas tapeçarias decorativas com o brasão de uma águia prateada, conferem um ar de solidez e tradição militar ao lugar. Escudos e espadas também decoram as paredes.

O local rapidamente enche-se de soldados famintos que esperavam ansiosamente pela refeição. Alguns deles usam apenas parte de suas armaduras, sugerindo que estão em momento de descanso. Outros estão completamente vestidos com seus escudos ao lado. Suas armaduras seguem o mesmo padrão que Emma já havia observado, feitas de ferro escurecido. Outro detalhe que chama a atenção de Emma é a presença de bestas entre os soldados, indicando que a infantaria é proficientemente armada com essa arma de fogo.

Os soldados se acomodam e Emma olhaatentamente a aparência de cada um. A maioria parece não ter mais do que 30 anos, embora alguns se destaquem como veteranos devido às cicatrizes em seus rostos e cabelos grisalhos, indicando que podem chegar aos 45 anos.

Frederick leva as caixas até a proximidade da lareira, onde Emma se prepara para esquentar a refeição. Os outros dois soldados que os acompanhavam, juntam-se ao grupo, enquanto Frederick permanece ao lado de sua amiga, ajudando-a a retirar a grande panela de ferro da caixa. Outros soldados distribuem pequenos pratos e colheres de madeira para agilizar a distribuição das refeições.

No meio da preparação da comida, um dos soldados deixa seu prato às pressas e corre em direção a outro cômodo, desaparecendo da vista de Emma. Não demora muito até que ele retorne com um alaúde. O jovem parece ter cerca de 17 anos e não usa armadura na parte de cima do corpo. Ele tem a cabeça completamente raspada e está com um sorriso caloroso. Ao voltar os outros soldados começam a aplaudi-lo.

O rapaz se senta em uma das mesas e começa a afinar o instrumento, enquanto alguns soldados em meio aos risos começam a vaiá-lo pelo som desafinado que sai do instrumento. Emma também não consegue conter seu sorriso, mas ainda se mantém atenta ao número de soldados e a forma que cada um deles está se portando diante da situação. Finalmente, o rapaz começa a tocar uma linda melodia, enquanto os outros se levantam e formam uma fila em frente de Frederick que posiciona os pratos para que Emma despeje uma generosa quantidade de sopa.

Enquanto os soldados desfrutam de suas refeições e da música, Emma continua a observar o ambiente com discrição. A conversa animada dos soldados cria uma atmosfera calorosa e amigável, e ela começa a se sentir mais à vontade no meio deles. Apesar de ninguém tê-la hostilizado, a jovem está ciente de que está no meio de um povo que a qualquer momento pode considerá-la uma intrusa e tentar lhe prejudicar.

Os homens começam a saborear a sopa de Emma e suspiram de prazer. Um deles, inclusive, é flagrado com lágrimas nos olhos, dizendo que fazia semanas que não comia algo tão delicioso. Isso arranca gargalhadas e tapas amigáveis dos companheiros que estão a seu lado. Até mesmo Frederick, depois de ajudar a servir todos os outros, ao experimentar a sopa, é tomado pela nostalgia. Ele sequer consegue agradecer Emma pela refeição, emitindo apenas suspiros longos sem conseguir proferir uma palavra sequer.

O aroma delicioso permeia o ambiente, que também ecoa com os comentários dos soldados sobre a comida e o quanto ela está saborosa. Emma, inchando o peito com orgulho, se acomoda perto do fogo com um largo sorriso. Entretanto, seus olhos perspicazes ainda estão atentos, mantendo-se completamente alerta. Apesar da descontração, Emma detecta alguns olhares de reprovação de alguns soldados, possivelmente indicando que nem todos concordaram com sua presença no local.

O jovem músico de cabeça raspada parece indeciso sobre o que fazer. Ele considera se continua a tocar para alegrar o ambiente ou se deixa de lado o alaúde para finalmente aproveitar o banquete diante dele. Antes que o jovem tome uma decisão, outro soldado gentilmente toca seu ombro, solicitando o alaúde. Emma olha para o homem e percebe algo completamente estranho. Apesar de estar no local há poucos minutos, ela já havia se familiarizado com a fisionomia de todos, mas aquele soldado misterioso permanece uma incógnita.

Emma o observa como se fosse a primeira vez, como se ele acabasse de chegar. A sensação estranha dura apenas alguns breves segundos, deixando Emma com a impressão de que, ao desviar o olhar, ela o esqueceria completamente. Ele não se destaca em altura, veste-se como os outros soldados e sua cabeça está oculta sob o elmo. Ao pegar o alaúde, ele encara Emma enquanto ocupa o lugar do jovem músico na mesa. Mesmo com o elmo, ela percebe que o homem tem um olhar penetrante e uma coloração azulada nos olhos que a deixa alerta, embora não compreenda bem o motivo.

O jovem soldado, anteriormente alegre, agora aproveita a sopa e o pão com a alegria de uma criança, cantarolando de felicidade. O outro soldado, tranquilamente assentado à mesa, faz alguns ajustes finais no instrumento. Enquanto os demais continuam suas conversas, risadas e o manuseio de pratos.

Emma o analisa com cuidado e nota que sua mão não é a de um jovem. Os dedos são robustos, e a mão exibe cicatrizes que denunciam uma vida de trabalho braçal. Ao concluir a afinação do instrumento, os três primeiros acordes que emanam do leve dedilhar instigam um silêncio absoluto em questão de segundos.

Um pesado silêncio toma conta do salão, no qual é possível discernir apenas os estalos das tochas e o crepitar da lareira no centro. O homem prossegue com o dedilhado, evocando uma melodia triste e harmoniosa. O jovem músico, colega de mesa, levanta o dedo como se pretendesse dizer algo, mas é interrompido por outro soldado que segura seu ombro e cobre-lhe a boca, indicando que ele deve permanecer calado.

A mente de Emma está agora permeada por incertezas ainda maiores do que antes. Ela não apenas desconhece aquela melodia, como também não compreende por que os soldados permanecem completamente silenciosos diante da música misteriosa. Com uma voz grave e profunda, o homem começa a entoar uma balada triste e compassada, cujo ritmo parece sincronizar-se com a dança suave das chamas que tremulam no salão, projetando sombras no chão.