Emily me puxa e eu a sigo, desviando de algumas pessoas. Ela anda rápido, quase esbarrando em alguns dos sofás e poltronas espalhados pela varanda. Adentramos no salão, onde a música está mais alta agora, e meu peito parece ser comprimido só pela proximidade com tantas pessoas de uma vez só.
Olho ao redor, procurando por alguma indicação de onde fica o banheiro. Emily, um pouco à minha frente, continua andando com propósito, como se soubesse aonde estamos indo. Deixo que ela me puxe até um canto do salão, perto do bar.
— Duas tequilas — ela ordena ao bartender.
— Pensei que a gente fosse ao banheiro.
— Pensou errado. — Ela se vira para mim enquanto o cara atrás do balcão serve a tequila nos copos de shot. — Eu odeio isso.
— O quê, exatamente?
— Alba.
— Você odeia a Alba? — Me parece exatamente o oposto. — Emily, me conta logo que merda aconteceu.
— Não odeio a Alba, odeio esta situação envolvendo a Alba.
Ela se vira para o balcão e entorna o copo de shot. Eu me adianto, estendendo a mão para o outro copo, mas Emily é mais rápida, pegando-o antes de mim e bebendo o conteúdo dele também.
— Vai com calma aí.
— Vai se foder. — Ela faz um careta. — Desculpa, não vai se foder, não, fica aqui comigo.
— Fico, mas me deixa beber também. Você não é a única pessoa que precisa de álcool.
Quando o bartender enche os copos de novo, ela de fato me deixa ficar com um deles. Tequila é a pior das ideias em uma situação dessas. E eu viro o copo mesmo assim, deixando o líquido queimar garganta adentro.
— Eu sei que a Alba gosta de mim — Emily diz.
— É, você comentou. Mas você gosta da Dêssa, certo?
Se eu faço uma careta dizendo o nome da minha ex-companheira de útero, não é culpa minha. Apenas uma reação involuntária.
— Isso. — Emily suspira. — Mas...
Ela suspira de novo, e já estou começando a ficar impaciente.
— Emily, pelo amor de Deus...
Ela levanta as mãos, como quem se rende.
— A gente se beijou. Alba e eu.
Eita pega. Por essa eu não esperava.
Olho para trás, na direção das portas que levam à varanda, mas daqui não dá para ver Alba, tem muita gente na frente.
— Tipo, agora?
— Não, né! No início do ano. Em uma festa bem parecida com esta.
— E aí?
— E aí nada. Eu estava bêbada, ela também, e no dia seguinte eu fingi não me lembrar de nada.
— Porra, amiga.
— O que você espera que eu faça? — Ela se volta para o balcão, onde o bartender já repôs as bebidas. Não sei se ele é nosso amigo ou nosso inimigo com essa velocidade. — Minha cabeça é uma bagunça, Becs. Eu só faço merda, e a Alba é uma pessoa boa. Ela merece mais do que isso, mais do que eu.
— Quer dizer que você só está investindo na minha irmã, em vez de na Alba, porque acha que a Dêssa merece... menos?
Ela vira o shot de tequila e faz uma careta, não sei se pela bebida ou pelo que eu disse.
— Talvez? Desculpa.
Não é muito diferente de algo que eu já disse a ela um tempo atrás, sobre ela escolher o caminho mais difícil de propósito. Pelo menos agora ela está admitindo isso.
— Nisso até que você não está errada. — Algum espírito do bem me faz acrescentar: — Também não está certa. Ninguém merece gente fodida da cabeça. Mas, amiga, você não é fodida da cabeça e muito menos alguém ruim. Você merece alguém que te queira de volta, caramba.
Ela olha na direção da porta, do mesmo jeito como fiz segundos atrás.
— Quando eu vi a Alba dando em cima daquela vagabunda... — Dá até para ver o feminismo deixando o corpo dela. — Não sei, só me deu ódio de tudo.
— Entendo, amiga.
— Aí eu virei para elas duas e falei para buscarem um quarto.
— Meio ruim.
— E a Alba virou para mim e perguntou "Por quê? Tá com ciúmes?".
— Arrasou.
— Rebeca! De que lado você está?
— Mentira, não arrasou. Que atrevida. E o que você respondeu?
— Mandei ela se foder. — Fico em silêncio, então ela insiste: — Não vai dizer que eu arrasei?
— Não. — Viro para o balcão, pondero sobre beber o próximo shot, mas o Espírito Santo fala mais alto e mudo de ideia. Olho de lado para Emily. — Agora que você está bêbada, faz como naquela festa do início do ano e aproveita para beijar a Alba de novo. É o momento de fingir que não tem consequências.
— Isso não faz o menor sentido!
— Por que não? Já beijou antes e deu certo, vai lá e beija de novo.
— Rebeca…
— Faz o teste, encosta a boca na dela e conta dez segundos na sua cabeça. Se não estiver bom, ainda dá tempo de se afastar, pedir desculpas e dizer que você só tropeçou.
— Esse é o seu melhor conselho?
— Não, mas é o único que acredito que você vai ouvir.
Estou sendo uma amiga horrível? Possivelmente.
Mas existe a esperança de que, dessa vez, a desculpa de ter esquecido o beijo não funcione para Emily. Quero ver o que acontece depois.
— Tinha uma vagabunda dando em cima da Ember também, caso você não tenha notado. — Emily apoia o cotovelo no balcão, seu olhar se tornando astuto. — Vai deixar?
— Tem noção de que se alguém ouvir você chamando essas mulheres de vagabundas vão cancelar a gente no Twitter?
— Puta merda, amiga, esquece a porra do Twitter.
Talvez ela tenha um ponto.
— Tá, tá, eu vi aquela garota. — De alguma forma, faço "aquela garota" soar pior do que "vagabunda". — Mas tenho que focar na Lúcia.
— Ah, é, esqueci dela.
Pior que eu também tinha me esquecido. Viro para o cara atrás do balcão e peço duas taças de vinho. Emily se apoia no meu ombro, resmungando:
— Você ama a Lúcia mais do que eu?
— Não.
— E a Ember?
— Eu não amo nenhuma delas, Emy.
— Se eu fosse uma minhoca...
Pego as taças de vinho e digo para ela:
— Amiga, bebe uma água, beija a Alba e depois me conta o que aconteceu, tá? Não posso deixar a Lúcia ali sozinha esse tempo todo.
Ela suspira e assente, endireitando a postura.
Volto a andar pela multidão, segurando firme nas hastes das taças e respirando pela boca. O mundo gira, mas eu continuo andando. Não acho que meus passos estão muito firmes, então tento compensar em atitude, levantando o queixo.
Stephen pode estar por aqui.
Ember está logo ali.
E a Lúcia me espera lá fora, então preciso dar um jeito de chegar até lá.
O universo não me concede isso assim de bandeja. Em vez disso, coloca a pessoa que eu menos queria ver no meu caminho. Lá está ele, cabelo loiro em ondas, olhos azuis e sorriso falso. Stephen. Está conversando com outros jogadores do Real Madrid que reconheço dos jogos que assisti e das festas que frequentei na mansão dele.
Por um momento, Stephen não me nota. Ando mais rápido, torcendo para continuar passando despercebida, mas aí um dos filhos da puta dos amigos dele o cutuca e aponta na minha direção.
Tenho um segundo de contemplação antes do caos.
Posso ver dois caminhos se bifurcando diante de mim, um em que esta noite termina da maneira mais controlada possível e todo mundo se comporta. E outro em que, mais uma vez, serei a vilã da história.
O problema é que não sei o que fazer para terminar no caminho certo. Stephen vem na minha direção e eu ando para trás, esbarrando em alguém e derrubando vinho na minha blusa. Olho para baixo, xingando e, no instante em que ergo de novo o rosto, Stephen já está na minha frente.
Ele passa a mão pelo cabelo, penteando os fios loiros para o lado.
— Oi, Rebeca. Finalmente conseguimos nos ver pessoalmente.
Ele faz um ótimo trabalho em fingir se esquecer de que, na última vez em que nos falamos, deixei bem claro não ter a intenção de vê-lo. Olhando direto para seus olhos azuis, uma frieza recai sobre mim. Ele é bonito, sempre foi, e charmoso de um jeito que reúne admiradoras pelo mundo. Neste momento, porém, não sei como fui uma delas um dia. Não há nada na aparência ou no jeito dele que me atraia.
— O que você está fazendo aqui, Stephen? — O tom de derrota não é muito lisonjeiro para mim.
Gostaria de ter soado mais firme. Mas acabei de beber sei lá quantos shots de tequila e há uma mancha de vinho se espalhando pela minha blusa.
— Eu joguei uma partida ontem na cidade também. Meu agente me avisou que haveria uma festa de final de ano entre jogadores e perguntou se eu queria alguns convites.
— E ele também comentou que eu estaria aqui?
— Claro. — Ele dá de ombros. — Todo mundo sempre fala de você para mim. Aceita, Beca, nossas vidas vão estar sempre ligadas.
Trinco os dentes, segurando firme nas hastes das duas taças.
— Bom, a minha agente sabe muito bem que não precisa mencionar você — retruco, mesmo que a minha agente, na verdade, tenha se demitido em setembro. Talvez seja o momento de procurar outra. — Ela sabe que nada sobre você tem qualquer relevância para mim.
Ele parece nem ouvir. Continua com uma expressão de amabilidade no rosto, como se conversar comigo fosse a coisa mais agradável do mundo.
— Para quem é a outra taça de vinho? — Inclina o queixo na direção das minhas mãos.
Eu sorrio, tentando imitar sua expressão amável.
Tenho o vislumbre de virar uma das taças nele, manchando a camisa azul-clara que ele usa e que deve custar uma fortuna. É por causa dele, afinal, que a minha blusa foi destruída.
— Para você — respondo.
Mas, quando estendo a taça para ele, não é virando-a de maneira teatral como eu gostaria. É com cuidado, oferecendo-a de verdade. Não era a minha intenção oferecer vinho a ele quando peguei as taças, mas não vou mencionar Lúcia e arriscar ouvir uma provocação sobre estar tentando fazer ciúmes nele. No momento, a outra única alternativa que vai deixá-lo embasbacado o suficiente para se calar e me deixar em paz é essa, oferecer o vinho a ele e ir embora.
Stephen, porém, não prevê isso. Ele se sobressalta, seus olhos se arregalando, e, em sua expressão, vejo que realmente acha que eu sou capaz disso, de jogar vinho nele e estragar esse evento para o meu time. Ele pensa que eu gosto de ter o meu nome arrastado na lama?
Em vez de aceitar a taça, ele se afasta de maneira brusca. Um garçom está passando atrás dele e os dois se chocam. A bandeja de drinks cai no chão, espirrando um líquido transparente em todos por perto, e o cheiro pungente de vodka toma conta.
Nem sei quanta bebida já foi derramada nessa droga de festa.
O som de vidro quebrando atrai a atenção de mais pessoas, mas eu demoro para registrar isso porque estou olhando para Stephen, ainda com a taça estendida na direção dele. Ele escorrega na bebida espalhada pelo chão e cai, seu braço raspando nos cacos de vidro, uma careta aterrorizada em seu rosto. O pé dele me empurra, indo contra o meu tornozelo machucado, e eu cambaleio. Por pouco, não caio junto.
Mas o vinho cai.
O líquido da taça que eu antes estendia a ele se derrama, e, no fim, Stephen fica mesmo com aquela camisa engomadinha suja de vinho tinto.
Ouço exclamações de choque das pessoas. A luz do flash de uma câmera de celular brilha, fazendo minha garganta trancar. Olho para as duas taças agora meio vazias nas minhas mãos, depois para Stephen no chão. Numa decisão de último minuto, tomo todo o líquido de uma das taças, logo em seguida o da outra, esvaziando-as.
Então saio andando para longe da confusão toda.
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