The Rejected Family
Capítulo 7
Rejeite parar, Parte 1
Uma manhã renovada.
O sol adentra agressivamente pelo espaço na parede de um quarto, posicionado como janelas que apenas aumentam a circulação do ar, mas não impedem a entrada de uma única mosca sequer.
Juntamente ao amanhecer, fortes ventos colidem contra a pele de um adormecido rapaz, como se tentassem acordá-lo de modo mais breve possível. Seu descanso ocorre em um pequeno colchão, apoiado sobre o piso gelado.
Já acostumados com a espera, os dois irmãos de Muro e seu pai aguardam incessantemente pelo seu despertar.
Após testemunhar o homem mais experiente da sala lendo uma revista em quadrinhos irrelevante, Lua dirige a palavra para Calos, emburrada.
“Você não deveria estar ajudando a minha mãe?”
Sem tirar os olhos da revista, ele responde, “a minha prioridade é cuidar do meu filho, o resto pode esperar.”
A jovem — que estava escrevendo frases comemorativas para o novo Repulsor, em folhas de papel — interrompeu suas atividades para tratar o assunto com maior seriedade.
“Isso foi uma piada?”
“Pareceu com uma?”
“One, tá ouvindo essa baboseira?”
Os projetos falhos da moça eram amassados em bolinhas de papel, que frequentemente se encontravam nas mãos de One. O garoto lançava aquele material na face de seu adormecido irmão, tentando escapar do tédio que o dominava.
“Tanto faz.”
“Viu, eu não disse nada de errado,” afirma Calos.
“É inacreditável que sequer consiga falar isso com essa cara de pau. A única coisa que você fez nesse quarto o dia inteiro foi ler essa revista idiota,” Lua perde a paciência.
“O que mais eu preciso fazer? Meu moleque tá dormindo.”
“Que absurdo. One, dê um jeito nele.”
A criança desanimada quase não abre a boca, “nossa, pai. Que mancada.”
Negando as críticas, o adulto aponta para o menino, “você está bagunçando.”
Ele também destaca sua outra filha, “você está desenhando.”
“São textos, não desenhos,” a garota o confronta.
“E eu não posso ler uma revista?”
“Não é a mesma coisa.”
“Eu já cumpri meus deveres. Me deixe em paz.”
“Você não fez nada!”
“Agora é a sua vez, pare de desenhar.”
“Vai trabalhar!”
“Lua, seu pai está começando a se estressar.”
“Saia desse quarto! One, expulsa ele!”
O garoto faz a sua participação na conversa, “pai, você deveria ir lá fora.”
Calos enlouquece, “pare de responder ela!”
“Tá, tá, eu já entendi. Estão tentando me acordar, né? Conseguiram, vocês são bons nisso.”
A voz sonolenta vem direto do colchão, chamando a atenção de todos como se houvessem holofotes apontando para a origem do som. Muro está acordado, sentado relaxadamente.
Seu pai se surpreende, “Muro!”
“Eae,” One o cumprimenta.
“Por que toda essa festa?”
“Não está esquecendo de nada?” Lua questiona sua memória.
Parabéns, Muro!! Muro poderoso!! Parabéns pela rejeição! O rapaz lê as mensagens escritas por Lua, várias folhas de papel guiam seus olhos.
Finalmente um Repulsor!! Ele encara aquela específica sentença.
Repulsor, seu foco se mantém em uma única palavra.
Tentando processar o que está em sua frente, Muro murmura.
“Repul… sor…?”
Em contraste com seu lento raciocínio, o dia segue agitado na tenda da família Mamoru. Atrás da grande casa, não havendo nenhuma conexão direta com o interior da moradia, Kikyo e Saul sustentam seu principal negócio. Sem espaço entre as casas, para chegar nesse local é necessário contornar um agrupamento de seis residências, o caminho mais rápido para a parte traseira da casa.
A tenda reúne dezenas de pessoas diariamente, que buscam o mínimo do mais essencial para a sobrevivência: uma simples refeição. Uma fila que já saiu do controle há muito tempo, cuja supervisão vai da honestidade de cada cliente. Poucos utensílios de cozinha ocupam bancadas de preparo, em sua maioria preenchidas pelos mesmos ingredientes, uma repetição sustentável de sabores.
Com olheiras de quem virou incontáveis noites subsequentes, Kikyo está na parte frontal da tenda, atendendo e servindo um cliente por vez. Segurando um copo descartável contendo refrigerante, ela tem sua concentração deturpada por um inesperado grito de mais profunda alegria.
“AEEEEEEEEEEE!!”
O berro do empolgado rapaz assusta Kikyo, que derruba o copo no chão, derramando o líquido contido nele.
“Parece que ele acordou,” uma mistura de raiva e alívio compõe sua fala.
“Heh,” Saul sorri.
Impaciente, o primeiro cliente da fila se demonstra inconformado com a situação.
“Só pode ser brincadeira… poderia agilizar?”
“Me desculpe, não irá se repetir,” a mulher responde.
“Eu não preciso que não se repita. Só quero comer logo e voltar para o trabalho, entendeu?”
Desviando o olhar repleto de estresse, Kikyo procura pela solução mais rápida.
“Saul, me dê algo para limpar essa sujeira.”
“Todos os panos aqui estão molhados.”
A voz carregada de frustração almeja a janela de sua casa, tentando se comunicar com alguém no segundo andar.
“Muro!! Eu preciso de um pano de chão!” Ela chama pelo seu filho.
Saul debocha de sua ação, “é assim que você recepciona nosso novo Repulsor?”
“Pare de brincadeira e acelere as coisas.”
O primeiro cliente da fila retoma a hostilidade, “moça, eu só quero logo meu refrigerante. Por favor.”
“Mil perdões, já estou providenciando!”
Fluindo pela corrente de decepções, as ruas do Pé da Montanha voltam a ser frequentadas pelo grupo de nobres, próximo à multidão de pessoas famintas na fila da tenda. Cinco indivíduos de trajes exuberantes, caminhando ao redor de seu chefe, ainda mais deslumbrante que seus acompanhantes.
“Ridículo! Isso é uma afronta ao meu nome! Nós já seguimos todas as ordens, por que ainda estamos aqui!?!?” Walter reforça seu desprezo pelo local.
Os cidadãos saem do caminho da nobreza, liberando completamente a passagem no centro da rua. Com todos agrupados nos cantos da estrada, a fila do estabelecimento é obrigada a se mover para a lateral, se alinhando ao lado da tenda da Família Mamoru.
“Aquela equipe de vermes ainda tem chances participar da provação, mesmo depois de toda a confusão que causaram na última disputa!! Inaceitável!!” O líder do grupo continua.
“Se eles são fortes a ponto de possivelmente receberem a permissão do conselho, não significa que é algo bom?” Uma de suas subordinadas lhe questiona.
“Minha nossa, essa será a provação mais perigosa em muito tempo. Duas equipes compostas por monstros… devemos ficar de olhos abertos,” o sujeito de cartola acrescenta.
“Calados!! Isso é um desrespeito com o meu tempo! Quantos dias vamos ter que esperar para o conselho dar a sua resposta estúpida!? Deveriam ter encaminhado outro desenvolvedor para essa tarefa!!” Walter perde a linha.
“Não temos nem sequer uma estimativa. Acho melhor nos alimentarmos, por enquanto.”
Em meio à multidão, na calçada, três garotos se encontram sentados sobre o chão, realizando a mais saborosa refeição de suas vidas. Recipientes de plástico cheios de alimentos, comida caseira em abundância, preparada com carinho pelas mãos de Saul.
Como se estivessem diante de um caldeirão cheio de ouro, os meninos não conseguem tirar suas mãos de uma simples fatia de carne, acompanhada de uma leve combinação de grãos.
“Ainda bem que fomos rápidos. Olha só toda essa gente cheia de fome,” um dos garotos comenta.
“Eu acho que não aguentaríamos esperar nem mais um segundo.”
“O que estão fazendo, pessoal? Não sabemos quando poderemos comer algo assim de novo. Tratem de manter suas bocas ocupadas com cada migalha desse prato,” fala com dificuldades, ao mesmo tempo em que mastiga intensamente a proteína.
“Nem precisa pedir!”
Uma voz intimidadora é ouvida, alguém que se porta com notável superioridade interfere no banquete, “vejam só o que temos aqui…”
O grupo luxuoso se posiciona em frente aos meninos. A mulher de salto alto encara todos de cima, uma visão de plena compreensão sobre tudo em seu alcance.
“Eu não vou mais passar essa vergonha de ter a minha barriga roncando por aí à toa. Não importa o quão ruim seja essa gororoba, eu cheguei no meu limite,” ela reprime o seu desgosto.
“Façam o que quiserem. Eu jamais me contaminarei com algo assim, mesmo que restem apenas os meus ossos,” Walter se afasta de seus subordinados.
“Obrigado pela liberdade, senhor.”
Dobrando cuidadosamente o seu vestido, à medida que respeita cada ínfima linha do tecido, — banhado em ouro — ela se agacha, mantendo a postura ereta e os pés balanceados. O recipiente onde se encontra o desejado alimento é retirado das mãos dos garotos, em uma tranquilidade descomunal.
“O-o que está acontecendo?” Pergunta um dos jovens.
“Não é óbvio? Eu não vou ficar esperando em uma fila dessas. Vocês podem entrar lá de novo e comprar outro depois.”
“Esse era o nosso único—”
“Ah, tanto faz. Não importa.”
O sujeito de cartola questiona a dama, “um único pedaço de carne? Isso é útil?”
“Foi a primeira coisa que eu vi. Vai servir para enganar minha barriga até comermos algo que preste.”
“Esses três idiotas iam dividir isso? São burros por acaso?”
“Ei, senhor Walter? Tá ouvindo isso? Acho que estão evitando se contaminar igual ao senhor, hahahaha.”
“Devem se sentir honrados então, vocês salvaram o estômago deles.”
O grupo de nobres se afasta dos meninos, levando todo o alimento consigo. Deixados para trás, eles tentam compreender o que acabou de acontecer, se entreolhando sem acreditar no ocorrido.
“Eles… isso é sério?”
Um dos garotos se levanta de punhos cerrados, seus impulsos de raiva movem o seu corpo.
“Espera!”
As mãos de um companheiro lhe agarram, tremendo com a tensão em seus músculos.
“Já era, temos que aceitar. Não podemos entrar em uma briga.”
O garoto de pé olha para o seu outro amigo, que está lambendo seus próprios dedos incessantemente, tentando aproveitar ao máximo o que lhe restou.
Repleto de indignação, enquanto olha para um caco de vidro no solo, o sujeito determina, após o ranger de seus dentes, “Não contra eles.”
Em contraposição à tensão das ruas, o quarto de Muro é preenchido por uma empolgação genuína, a animação do rapaz espanta qualquer sentimento negativo que tente adentrar neste cômodo.
“Ouviu essa, One? Eu sou um Repulsor!” O rapaz — que acabou de acordar — comemora incessantemente
Seu irmão responde, “boa!”
O brilho nos olhos de Muro é como um raio de luz, que atinge repetidamente seus três familiares ali presentes, os deixando cada vez mais incomodados com tanta energia sendo emanada de uma vez só.
“Lua, eu sou um Repulsor!” Ele continua.
“Isso é óbvio. Não viu todas as mensagens que escrevi sobre isso?”
“Pai, eu sou um Repul—”
“Foi mal, moleque. Não tô no clima,” Calos interrompe seu filho.
Outro membro da família Mamoru adentra no cômodo, porém com uma aparência repetida. O corpo de Lua anda livremente, bem em frente à própria moça.
“Muro, sua mãe está pedindo um pano de chão lá embaixo. Ah, e parabéns por ser um Repulsor agora,” Kelly fala, assumindo a aparência de sua neta.
“Vovó Kelly! Certo, vou levar agora mesmo,” o rapaz aceita a tarefa.
Calos se confunde com o que vê, “espere, qual de vocês é a Lua de verdade?”
“Claro que sou eu! Não reconhece nem a própria filha?” A real dona do corpo se manifesta.
“Como eu vou diferenciar duas pessoas idênticas!?”
“Você tá de sacanagem?”
Muro se distancia dos demais, saindo pela porta do seu quarto, deixando os outros discutindo à toa. Buscando pelo pano de chão requisitado, ele anda pelos corredores do segundo andar.
Enquanto isso, na rua atrás da casa, Kikyo e Saul continuam trabalhando duro sob a tenda da família Mamoru.
“Obrigado pela preferência, e desculpe a inconveniência,” Kikyo serve o cliente enfurecido.
“Nem se preocupe, essa foi a última vez que eu pisei aqui.”
A saída do cliente deixa a atendente de cabeça baixa, sem conseguir encarar os outros na fila. Saul olha rapidamente para a sua companheira, percebendo sua agitação, ao mesmo tempo em que a próxima pessoa da fila se aproxima.
“O número três sem verduras, por favor.”
“Agora mesmo!” Sem sequer olhar para o rosto de quem fazia o pedido, a trabalhadora se direciona para montar o prato.
Um inesperado passo em falso faz ela tropeçar, caindo de joelhos no chão. Em um momento de raiva, seus ouvidos reconhecem a voz de um amigo.
“No seu tempo, Kikyo,” o cliente da vez ganha a atenção da atendente, Fern acalma sua amiga.
“Fern! Apareceu em boa hora. Sua paciência é sempre bem-vinda.”
Ao sentir um breve alívio, Kikyo percebe os olhos de Saul em suas costas, mas continua focada em servir o cliente.
“Realmente tá preocupado, grandão? Acha que uma baboseira dessas vai me impedir de colocar o dinheiro na mesa?”
“É só que… você deveria parar um pouco.”
“E tá dizendo isso logo para mim? Se um de nós fraquejar, as coisas vão complicar, Saul.”
“Quando todos crescerem, vou fazer questão de te deixar descansando em uma rede aconchegante.”
“Mal posso esperar.”
Nos arredores, o grupo dos três garotos famintos se posiciona ao lado da tenda.
Simultaneamente, Muro alcança a janela do segundo andar, a única comunicação possível com a parte de trás de sua casa, que lhe permite ver sua mãe e seu tio, trabalhando intensamente. Localizado no quarto de Kikyo, o rapaz está sozinho nesse momento.
Meu primeiro favor como um Repulsor, hehehe, ele pensa, animado.
Com uma expressão boba em sua face, Muro se abaixa em frente à janela. Em seu alcance, há uma caixa de papelão de médio porte, com uma corda amarrada nela.
Vão receber logo o pano de um Repulsor, hein? Que honra para vocês! Reflete, à medida em que coloca o pano de chão requisitado dentro da caixa.
Depois de se aproximar da janela para cumprir sua tarefa, ele observa a rua onde seus dois familiares se encontram.
Aqui está a entrega especia-
Muro solta a caixa repentinamente, fazendo com que ela caia para fora do quarto, juntamente com a corda e o pano de chão. Assustado com o que viu, o rapaz dá um passo para trás.
O que é isso? O que está acontecendo aqui? Ele visualiza o grupo de garotos cercando sua mãe. Um dos sujeitos possui um caco de vidro em suas mãos, apontando o objeto contra Kikyo.
Quem são essas pessoas!? Eu tenho que fazer algo!
Mãos suadas e pernas trêmulas, o garoto sente que precisa se mexer a qualquer custo.
“Você tá com a corda toda, hein? O que está olhando aí?” Lua adentra no quarto onde Muro está.
Uma disparada com todas as forças, o rapaz passa por sua irmã mais velha, sem sequer notar, correndo pelos corredores da casa.
“Ei, para onde está indo!?”
Lua olha pela janela onde seu irmão estava, tentando compreender seu desespero.
Isso… Assustada, ela visualiza o grupo de agressores.
“Mãe!” Ela chama por Kikyo, fazendo com que Saul olhe ao redor e perceba a situação.
Atingindo a maior velocidade que um ser humano comum pode alcançar, Muro dá a volta pelo conjunto de casas de sua vizinhança, tentando encontrar o primeiro caminho entre as moradias que lhe permite chegar na parte da trás do seu lar, onde se encontra a tenda da família Mamoru.
Eram três, com um caco de vidro em mãos. Tem várias pessoas ao redor, mas ainda pode ocorrer um estrago dos grandes. Se forem Repulsores, pode ser ainda pior, ele raciocina sobre as ameaças.
Erguendo as mãos em sua frente, o rapaz retoma sua confiança, eu também sou um agora. Sou eu quem tem que resolver isso! Eu posso dar conta desses caras, sozinho!
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