The Rejected Family
Capítulo 8
Rejeite parar, Parte 2
Muro corre determinadamente, contornando as estruturas que o separam do seu destino, até que finalmente chega na rua desejada.
Uma fila enorme permanece parada no negócio de sua família, dificultando sua visão, que busca desesperadamente pela localização dos inimigos. Kikyo é avistada, imóvel, olhando para a lateral da tenda.
Mãe! Eu consegui a temp—
Ao olhar mais atentamente para o lugar, Muro interrompe sua movimentação. O ponto que reúne toda a atenção da rua é dominado por Saul, de pé, com todos os garotos caídos perante ele, completamente derrotados e desarmados.
Com uma observação mais atenciosa, Muro percebe que os agressores eram apenas pré-adolescentes de físico comum.
“Hahahahahaha, vocês assustaram mesmo a minha família! Não deveriam andar por aí com essa coisa afiada, não mesmo!” Saul gargalha, não havendo nenhum arranhão em seu corpo, que está exageradamente forte nesse momento, com os enormes músculos de seus braços atingindo proporções descomunais, sob o efeito de sua rejeição.
Um dos garotos caídos lhe questiona, “quem é você, seu desgraçado?”
“Aparecendo com uma força dessas, tá querendo arrumar problema?” Um companheiro complementa.
Muro observa tudo de longe, sem dizer uma única palavra, Tio… Saul?
“O nosso dinheiro obviamente está no caixa, na bancada de atendimento. Por que atacaram pela lateral? Poderiam ter furtado algo, se fossem rápidos,” o tio não entende a decisão dos jovens.
“Dinheiro? Para que a gente iria querer isso?”
Um olhar fixo na grande panela de alimentos, as mãos de um dos meninos tremem, pressionando o seu próprio estômago, enquanto ele ainda permanece em silêncio. Saul nota os vários machucados em seus braços finos.
“Se puder ser rápido, agora nós precisamos tentar em outro lugar,” o mais falante volta a se manifestar.
“Anda logo e acaba com isso, grandão. Vai bater mais em nós, né?”
“Ah, aquilo foi só reflexo. Já falei que assustaram gente importante para mim. Peço desculpas, hahahaha.”
Saul se vira para Kikyo, que acompanha a situação a uma certa distância.
“Ei, Kikyo. Prepare três refeições caprichadas para esses daqui!”
Os garotos se surpreendem, sem acreditar no que escutaram, “o que?”
“Isso não é tão simples assim, não temos recursos sobrando.”
“Não se preocupe, eu ando comendo demais mesmo. Deve ser fácil para mim.”
“O que está querendo dizer?”
“É só eu ficar três semanas sem comer, assim não teremos prejuízos.”
“Mas isso—”
A visão de Kikyo é inteiramente preenchida pelos três jovens no chão, desesperançosos. Ela compreende a situação, concordando.
“Faça. Eu contribuo, pulando uma refeição.”
“Ok pirralhos, permissão concedida! Podem esperar ansiosos, eu vou caprichar para vocês!”
Um dos garotos se questiona, “isso é sério?”
“Ele não está tirando com a nossa cara?”
“Apenas entrem na fila, por favor. Hoje as coisas estão complicadas,” Kikyo faz um apelo para seus novos clientes.
Saul olha para sua companheira, exibindo uma feição de seriedade plena.
“Ah, mas aquela sua última afirmação não vai acontecer,” ele a contesta.
“Hein?”
“Três semanas não tem problema. Você come normal. Além disso, pode parar de trabalhar por hoje.”
“Eu já te disse, nem pense nis—”
“Enquanto Muro não acordava, você cuidou de bastante coisa sozinha, não? Pode se apoiar em mim agora, Kikyo.”
Um dos garotos adiciona, “é moça, você realmente não tá legal.”
“Sério?”
Saul se vira para Muro, seguindo tudo de longe.
“Além disso… acho que o seu turno já estava chegando ao fim, de qualquer maneira. Agora é a nossa vez.”
“Nossa?” Kikyo avista Muro.
“Já cuidou dele o bastante por agora, que tal deixar o garoto ajudar um pouco?”
Kikyo encara os olhos tranquilizantes do seu filho, à medida que reflete sobre a situação. Em seguida, ela vira de costas para o rapaz, andando em sua direção oposta, se distanciando da tenda.
“Tudo o que eu queria agora era uma rede. Quem sabe no futuro, não?”
Sem nenhum envolvimento diante de toda a confusão, Muro pensa, deprimido, Repulsor ou não… pelo visto nada mudou. Do que adianta a minha rejeição se eu não usá-la para algo? Eu nem faço ideia de quanto tempo estive dormindo. O que aconteceria se o tio Saul não estivesse aqui?
Muro foca a sua atenção na Montanha das Provações e murmura para si mesmo, “Será que eu já estou pronto para a provação?”
Fern se aproxima do rapaz, carregando uma marmita. Ele fala, empolgado, “hey, Muro! Vai participar dessa provação?”
“Sim, nós finalmente poderemos… eu acho. E você, Fern?”
“Eu? Ah, não. Aquela montanha não foi feita para mim.”
“Não tem interesse em subir?”
“Claro que sim, todos temos. Isso só não é possível para mim, hahaha. Nem todos são como vocês, que boa família a sua!”
“Do que está falando? Não vai saber se não—”
O grito de Saul alcança o seu sobrinho, “ei, Muro! Vem pra cá, garoto!”
“Vai lá, dar uma ajudinha para o seu tio. Até mais,” Fern se despede.
Após horas de trabalho ininterruptas, o pôr do sol chega ao Pé da Montanha. Muro e Saul agora estão carregando produtos alimentícios, que compraram no mercado de seu amigo.
Fern finaliza o atendimento dos seus atuais clientes, “podemos encerrar por aqui?”
“Tudo certo, Fern! Obrigado pela ajuda,” Saul agradece ao dono do estabelecimento.
“Hoje o dia foi intenso para vocês, devem descansar neste final de tarde.”
“Imagina, eu estava preparado para o dobro de confusão. Achei que pegaram leve dessa vez, ganhei até um ajudante.”
Realizando a sua última conversa na entrada do mercado, Saul e Muro levam consigo alimentos como sacos de farinha, arroz, grãos, dentre outros alimentos caseiros.
O local é grande, sendo a maior construção de sua região, mesmo com uma simples estrutura. Os recursos estão sendo depositados em um carrinho de mão de madeira, parado na frente do estabelecimento. Finalizando o transporte do conteúdo comprado, o homem de meia idade guarda a última carga de alimentos no carrinho.
Com seus músculos exageradamente fortalecidos, Saul terminou a tarefa, sem muitos problemas, graças aos seus poderes.
“Com isso acho que compramos tudo para a semana.”
Desanimado, Muro responde, “é, provavelmente.”
Saul percebe o garoto deprimido.
“Eu sei, isso é cansativo, mas… ei, sabia que nas outras vilas existem veículos maiores e mais rápidos? Talvez as coisas fiquem mais fáceis no futuro.”
“Seria ótimo…”
“Sério? Nem isso te animou? Você costumava adorar falar sobre a montanha.”
“A montanha, hein…?”
Muro se perde em seus pensamentos, permanecendo em silêncio. Saul move o carrinho de mão, direcionando-o com todas as compras dentro dele, se afastando do mercado de Fern.
Eles andam pela vila do Pé da Montanha, levando os produtos no caminho para a sua casa.
“Ei, tio Saul. Acha que eu tô pronto para a provação?”
“Você? Hahahahahaha. Tá de brincadeira?”
“Hein?”
“Como alguém assim estaria pronto? Até alguns dias atrás nem tinha uma rejeição. Fica todo triste por besteira, se atrasa para as suas obrigações e ainda nem é maior de idade!”
“Então, no fim das contas, eu vou continuar fazendo todos esperarem por mim.”
“Ah, é isso. Você entendeu tudo errado. Às vezes você pensa demais, Muro!”
“Hã?”
“O único requisito para entrar em uma provação é que todos os membros de uma equipe sejam Repulsores. Essa é a única restrição. Você se tornou um Repulsor, então já podemos começar.”
“Começar?”
“A provação é um ambiente competitivo, dezenas de pessoas estarão lutando pelo futuro de suas vidas. É óbvio que do jeito que você está agora não fará nada lá dentro. Porém, isso não nos impede de participar.”
O silêncio de dúvida do rapaz proporciona um bom espaço para os pensamentos de Saul. Suas memórias fluem em paz, relembrando o acontecimento com os três garotos na tenda.
“Ei, Muro. Você viu aquela confusão mais cedo, não viu?”
“Com os garotos? Claro, apesar de ter chegado atrasado.”
“Sabe o por que de eles estarem tão desesperados para comer?”
“Não é óbvio?”
“Claro, até demais. Hahaha. Mas sendo mais específico, a comida é sempre o começo de algum período do dia. Seja manhã, tarde ou noite. É por ela que todos garantem energia para começar alguma atividade, alguma rotina, ou curtir o resto do dia. Aqueles meninos não iam iniciar sua tarde até que conseguissem alimento.”
“Lá vem você com esses papos.”
“Ah, para com isso. Assim fica mais fácil de você entender o por que de eu ter feito questão de alimentar aqueles garotos, não?”
“Bem, você–”
“Eu dei a eles a oportunidade de começar. Assim eles poderiam finalmente fazer o que precisavam, pelo resto do dia.”
Muro segue andando na frente do carrinho, enquanto Saul empurra a carga atrás do garoto. Há uma breve descida na frente deles, uma rampa desnivelada. O rapaz desce por ela.
“Tio Saul, o que está querendo dizer?”
“Pode se apoiar em mim o tempo que for necessário. Nós entraremos na próxima provação.”
De sobrancelhas arregaladas, Muro obtém uma resposta inesperada.
“Na próxima!? Quando concordaram com isso!?”
“Lá haverão diversas oportunidades para você e todos os outros se superarem. Eu irei segurar as pontas até que esteja pronto de verdade.”
O carrinho começa a descer pela rampa, porém suas rodas balançam intensamente, – graças ao desnivelamento do caminho – dificultando a passagem e desequilibrando a carga.
“Ei, tome cuidado! O terreno é instável!” O garoto alerta.
“Se certifique de começar a sua jornada como repulsor com o pé direito! Sempre que cair, estaremos lá pra te segurar, como um verdadeiro pilar!”
Um desequilíbrio completo. Parte dos produtos contidos no carrinho caem pela rampa, deslizando na direção de Muro.
Saul pressente o perigo, “ops, isso é ruim!”
Saul se lança na frente do carrinho, saltando para proteger o garoto. Através de um escudo de corpo que separa os objetos do seu sobrinho, os poderes de Saul fortalecem o seu físico para que ele consiga suportar o peso em suas costas.
Muro olha atentamente para o seu tio, que tenta segurar todo o conteúdo no carrinho. Após perceber algo, o rapaz abre um leve sorriso em seu rosto.
“Saia daí, Muro!”
De maneira abrupta, Saul involuntariamente abaixa a cabeça, perdendo a consciência por um breve período de tempo. O mesmo fenômeno ocorre com o corpo de Muro, simultaneamente.
Enquanto está desacordado, o corpo do adulto acaba deixando alguns objetos caírem do carrinho. Retornando a ação, o poderoso físico é controlado por outra mente, voltando a segurar a carga.
A boca de Saul verbaliza os pensamentos do rapaz, “então tudo o que eu tenho que fazer é agarrar todas as chances que aparecerem.”
“Mas que droga é essa?” As palavras do adulto são reproduzidas pelo corpo de seu sobrinho.
Em uma rápida reação, o corpo de Muro desvia dos produtos em queda.
“Se não continuar correndo, eu vou acabar alcançando o seu posto. Um pilar, hein? Isso soa muito bem!” O rapaz se comunica pelo corpo do tio, obtendo o controle de toda a sua imensa força.
“Muro…?”
“Não ouse relaxar só porque está no topo, seu folgado.”
“Pfffff! Hahahahahahahaha! Sua rejeição é irada demais, Muro! Nós trocamos de corpo? Nunca vi algo assim antes!”
Saul observa Muro, em seu corpo, tentando segurar a carga no topo da descida.
“Você não está atrasado, garoto. E se precisar de mais tempo, é meu dever conseguir isso… como alguém que está em cima.”
Olhando para a Montanha das Provações, o adulto faz mais um comentário a partir da boca de seu sobrinho, “bom, antes de irmos para casa, temos que descobrir quando será a próxima provação.”
“Hehehe, posso fazer isso no seu corpo? Vou me sentir mais maneiro.”
“Já chega, desligue essa coisa.”
Uma nova manhã. O sol adentra agressivamente pelo espaço na parede de um quarto. Juntamente ao amanhecer, fortes ventos colidem contra a pele de um adormecido rapaz.
Abrindo seus olhos lentamente, ele fala consigo mesmo, sonolento, “hoje… hoje é…”
A janela lhe concede a vista para o mesmo relevo de sempre, porém agora aquela imagem possui um novo significado.
“Dia de provação!” Muro se levanta, despertando rapidamente.
Abrindo a porta como se estivesse fugindo de um incêndio, seu sorriso ilumina o extenso corredor.
“Acordem pessoal!! Acordem todos!” Sua empolgação grita pela casa.
Lua abre a porta do seu quarto, respondendo o irmão, “tá gritando para quem, idiota?”
De cabelos penteados e em suas melhores roupas, somados ao seu rosto limpo, a jovem nunca esteve tão bem arrumada. Toda a sua preparação reflete seu estado desperto, como alguém que já acordou há muito tempo.
“Acha mesmo que você é o único apressado? Sabe quanto tempo todos esperaram por esse dia?”
“Então, cadê todos eles?”
“Não é óbvio? Estão na porta de casa, te esperando.”
“O que!?!?!?”
Muro desce as escadas correndo e abre a porta, a ansiedade move cada centímetro do seu corpo.
O cenário que ele estava prestes a presenciar já foi imaginado tantas vezes que ele podia descrever a posição de todos ali presentes, sem sequer abrir os olhos.
Aproveitando cada segundo daquela manhã, Lev e Toki correm pelas ruas.
Possuindo a aparência de Muro, Kelly está de pé ao lado de Kikyo.
Abençoados com a mais sincera paciência Calos, Saul e Honda estão sentados no chão.
One está deitado de barriga para cima, entediado.
“Viram? Nem demorou tanto,” Saul afirma.
Toki se anima, “Muro!”
Kikyo encara o seu filho, abrindo um leve sorriso em seu rosto.
“E então… vamos?”
A mente do rapaz não possui mais nenhuma palavra em seus pensamentos, mas a sua boca se move por conta própria, à medida que o mais genuíno sorriso se forma em seu rosto.
“Vamos!”
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