The Rejected Family
Capítulo 9
Rejeite a provação, Parte 1
A Cachoeira das Provações. O ambiente onde os repulsores do Pé da Montanha são desafiados até o seu limite, enfrentando as outras equipes participantes.
Obtendo méritos a cada teste superado, o primeiro time que alcançar cem destes pode ir para a próxima vila do relevo primordial, subindo de altitude e ganhando acesso à uma vida cada vez mais gloriosa.
Neste momento, dez integrantes caminham juntos, pelo trajeto que os levará até o lugar onde as provas são realizadas. Se afastando cada vez mais das construções humanas, o cenário ao qual eles estão acostumados começa a ficar para trás, uma visão limpa de seu objetivo é contemplada.
Faminto, Muro devora inúmeras fatias de pão, cuidadosamente guardadas para este grande dia. Sem sequer parar para respirar, o garoto demonstra a sua mais profunda gratidão pela comida, não deixando rastros de sua existência.
“Caramba, você parece um animal!” Toki se surpreende com a voracidade do irmão.
Lua o despreza, “credo, tenha modos.”
“Não enche. Meu moleque acabou de acordar, ele precisa de energias,” Calos responde a filha.
“É isso aí! Coma o que precisar, garoto. Vamos arrebentar os outros participantes!!” Saul motiva o rapaz.
A voz de Kikyo é ouvida de longe, a mais adiantada da família chama pela sua equipe, os esperando no fim do trajeto, “ei, seus patetas. Parece que chegamos.”
De frente para a cachoeira, a mulher pode sentir na pele o ar fresco das misteriosas águas que caem em cascata.
“Então, é assim que é de perto…” Lev admira a paisagem.
O líquido cristalino opera como um intermediador entre o cotidiano da vila mais baixa da montanha e o completo desconhecido, formando um pequeno rio, ao longo do qual se reúnem todos os participantes da provação.
Repleto de ansiedade, Muro come seu último pão em apenas uma mordida, falando de boca cheia, “finalmente…”
“Parece que tem vários competidores hoje,” Saul se anima.
Mais de dez equipes diferentes estão espalhadas pelas margens do rio, encarando a família Mamoru ao longo de sua caminhada.
“Pessoal, precisamos estabelecer algumas coisas antes de chegarmos lá,” Kikyo organiza o grupo.
Lev a questiona, “o que quer dizer?”
“Para subirmos para a próxima vila, precisamos ser a primeira equipe a atingir cem méritos. Se vencermos uma provação, ganharemos méritos. Simples assim.”
“Porém, estejam preparados para se virar em qualquer situação no placar,” Calos complementa sua esposa.
Muro não compreende, “qual é o significado disso?”
“Os méritos são acumulados durante as estações. Sempre que uma temporada acaba, os méritos de todas as equipes são zerados, mesmo que nenhuma tenha alcançado cem méritos. Nós estamos no meio da primavera, e não acompanhamos o que aconteceu até agora.”
“O que significa que outra equipe pode já estar perto de cem méritos acumulados. Preparem as suas mentes para o pior caso,” Kikyo reforça.
Olhares penetrantes. Como se cada um dos adversários ali presentes estivesse apontando uma flecha diretamente no pescoço de Muro, o rapaz se sente sufocado perante os outros competidores.
Saul mantém sua determinação, “no fim das contas, nada muda. Só precisamos vencer tudo.”
Uma respiração pesada impede Muro de se comunicar, a face do garoto se mantém fixamente voltada para o chão.
Lhe trazendo de volta para a realidade, toda a sua família responde o tio, “certo!”
A entrada da cachoeira, onde trabalha o organizador da provação. A equipe de Muro chega em frente a bancada de inscrição, prontos para oficializar a sua jornada.
“Caramba, vocês são um grupinho bem grande. Dez participantes, hein? Qual é o nome da equipe?” O organizador pergunta para Kikyo.
“Família Mamoru.”
O homem imponente escreve na folha de um enorme livro encapado, o objeto parece ter anos de serventia.
“Tem algum membro da equipe que não esteja presente agora?”
“Não, somos apenas nós.”
O organizador aponta para uma parte da extensa página de papel, indicando um campo a ser preenchido.
“Preciso que liste o nome de todos aqui.”
Enquanto sua mãe cuida da etapa burocrática, Muro continua transtornado com olhares alheios.
“Uau! Todas essas pessoas são repulsores, não são!?” Toki não consegue fixar sua atenção em um único participante, deslumbrada com todos ao seu redor.
Todas essas pessoas devem ter algo que elas rejeitam com toda a sua vontade. Deve ter gente forte por aqui. Não só nesse lugar, mas em todas as outras vilas, vamos enfrentar muita gente durona… O rapaz teme o futuro.
Um agitado, porém gentil toque. A pequena mão da garota se agarra na do seu irmão.
“Se tiver alguém mais forte do que aquele cara da floresta, a gente vai conseguir vencer, né?”
Muro relembra sua luta com Jony, o desespero que ele e Toki passaram durante o combate é revivido pela cicatriz em seu joelho.
Enfrentar alguém assim de novo… One, Toki, Lev, qualquer um estará exposto à riscos inimagináveis. Não importa se estou pronto ou não, eu simplesmente não posso ficar para trás! Ele afirma em sua mente.
O organizador da provação fecha o seu livro, terminando de exercer sua tarefa.
“Certo, tudo o que devem fazer agora é esperar.”
“Em quanto tempo começaremos?” Lev pergunta para o homem.
“No momento, isto é indefinido.”
“Indefinido? Não tem nem uma estimativa?”
“Nós só podemos começar a provação com a presença de um desenvolvedor.”
“Um desenvolvedor?” Toki não entende o termo.
Sua mãe explica, “é o nome dado a um membro do conselho que gerencia as provações, formado por pessoas do Cume.”
“Ele já deveria ter chegado, portanto não temos uma previsão. Apenas aguardem o quanto for necessário,” ordena o organizador.
De volta para as margens do rio, a família Mamoru se desloca para um local onde possam esperar com maior tranquilidade. Afastados da maioria das equipes, eles se sentam na grama verde do solo local.
“Fala sério, sem previsão? Estão nos fazendo de otários?” Lua se enfurece.
Honda tenta acalmar os ânimos da jovem, “é assim que as coisas são, não adianta discutir com ele. Até um desenvolvedor foi chamado, não temos nenhum poder para questionar.”
“Que droga, eu estava tão determinado!” Muro se sente enganado.
“Parem de reclamar e esperem quietos. Logo estaremos dentro da montanha,” as palavras de Calos iniciam o mais inquietante silêncio já presenciado.
Na expectativa de serem chamados a qualquer momento, o sol se pôs. Cada nuvem no céu parecia imóvel, o vento aparentava soprar centenas de vezes mais devagar.
Poucos possuíam a coragem de fechar suas pálpebras. O momento mais importante da vida de muitos dos participantes poderia começar em um piscar de olhos.
O foco integral impedia que Muro e sua família abrissem suas bocas, todos precisavam estar em seu melhor estado mental durante o grande evento. Uma simples soneca poderia significar a desclassificação, ninguém tinha a certeza de que seriam chamados na hora certa.
Dois dias se passaram.
Após resistir o máximo possível, os pensamentos de Lua finalmente retornam à sua mente.
“Depois de tanto tempo, eu vou precisar de vinte e três banhos quando voltarmos para a casa,” sua voz interrompe a concentração absoluta dos demais.
Devastados, a equipe Mamoru está completamente abalada, sem água ou comida. Com corpos tão fracos que mal conseguem se manter sentados, todos da família se encontram deitados sobre o solo.
One sucumbe ao tédio, “estou sentindo o meu corpo se desintegrar.”
“Mãe, não podemos voltar depois?” Toki tenta uma última alternativa.
“A provação pode começar a qualquer segundo. Precisamos estar aqui exatamente na hora em que isso acontecer. Não podemos correr o risco de perder esse momento.”
“Ela está certa, temos que aguentar,” Muro concorda.
“Ei Kikyo. Se chegarmos na provação dessa forma… não iremos apenas perder igual a uns molengas?” Calos cogita o pior cenário.
“Haverão outras equipes nesse estado, mas é algo possível”
“E se for um teste de resistência?” Indaga One.
“Nada muda, tudo o que temos que fazer é continuar aqui.”
Calos despreza o seu estado atual, “mas que droga, precisamos de pelo menos alguma fonte de energia.”
O pai de Muro olha pelos arredores, prestando atenção nas outras equipes espalhadas pelo rio.
Um homem sorri alegremente com seus companheiros, curiosamente descansando em cadeiras de madeira, enquanto conversam como se estivessem em um bar. Cabelos que caíram com sua crescente experiência, o sujeito carrega cinquenta anos em suas costas.
Se opondo diretamente ao estado deplorável em que se encontram outras equipes, todos ao redor do competidor estão demasiadamente dispostos, sem demonstrar desgaste algum.
“Uma das equipes está vivendo um sonho,” Calos informa aos seus familiares.
Uma imagem que remete a um banquete de alto nível, a atmosfera de uma festa social. Incontáveis alimentos estão empilhados ao lado da conversa entre amigos, variando seu tipo como se preenchessem todos os níveis da pirâmide alimentar.
Mais de dez copos de barro acompanham os aperitivos, cheios de água, para acompanhar a refeição.
Calos faz um comentário tendencioso, “cheia de suprimentos… acha que já chegamos no nível de desespero?”
“Não vamos roubá-los. Nós não fazemos esse tipo de coisa,” se esforçando para mover seus lábios ressecados, Muro se opõe ao pai.
“Essa é uma situação extrema, garoto.”
“Não vamos. Essa comida é deles.”
“Não acha estranho eles estarem em perfeitas condições? Com certeza é a habilidade de um repulsor. Eles podem ter recursos ilimitados, não vai fazer falta.”
“Não importa.”
O silêncio agrava as condições da família, que volta a perder a noção de tempo. A simples conversa — que normalmente duraria minutos — se encerra com mais um pôr do sol.
Após horas de diferença, as últimas palavras de Calos finalmente chegam ao raciocínio de Lua, que gasta sua última gota de saliva para comunicar sua dúvida.
“Nós também somos repulsores, não deveríamos resolver isso do jeito mais fácil? Lev poderia correr e pegar suprimentos em questão de segundos.”
“Lua?” Toki está prestes a desmaiar.
Kikyo discorda de sua filha, “nós não temos esses suprimentos. A tenda não irá abrir por um tempo, estamos sem retorno financeiro.”
“Então, não podemos pegar o que compramos para essa semana?”
“Se gastarmos esses recursos e perdermos a provação, não teremos dinheiro para repor isso depois.”
Quando a última luz de esperança se esvai, os olhos de Toki começam a se fechar. Em um momento que pareceu premeditado, a voz de um amigo é ouvida, juntamente ao ranger das rodas de um carrinho de mão.
“Minha nossa! Vocês realmente ainda estão aqui!?” Fern aparece com um sorriso em seu rosto.
O alegre senhor se aproxima com uma carga cheia de alimentos. Frutas, pães e outros carboidratos de fácil transporte estão acumulados sobre o carrinho.
Fern continua seu discurso, “é a quarta vez que eu vejo vocês essa semana. Sempre que eu volto para casa, vejo vocês de longe, na exata mesma posição.”
“Hahaha, chegou em boa hora, Fern! Nós podemos ser chamados a qualquer momento,” Saul ri, ofegante.
“Francamente, pretendiam participar do maior evento de suas vidas nessas condições? Ainda bem que eu tomei a iniciativa.”
Fern para o carrinho próximo a família, colocando todo o conteúdo contido nele no alcance dos demais.
“Mandem ver.”
“Eu estou sonhando?” Toki se entrega ao seu mais novo momento de felicidade.
A garota segura uma fatia de pão com as suas mãos e degusta do mais delicioso alimento que ela já teve a oportunidade de comer.
A leveza do ambiente familiar é restabelecida. Como se estivesse em uma competição, Muro coloca cinco maçãs em sua boca, de uma só vez.
“Ei, deixe para mim!” Lua exige a sua parte.
Todos saboreiam a comida, a velocidade de suas ações torna difícil uma simples respiração. A comunicação ocorre ao mesmo tempo em que mastigam, sem intervalos entre os movimentos.
Kelly comemora, assumindo a aparência de Muro, “agora eu pareço bem melhor!”
“Mas esse é o corpo de Muro…” Kikyo reforça o óbvio.
“Haha, minha força retornou! Infelizmente a chance daqueles otários acabou, hahaha!” Saul retoma a sua empolgação.
Lev come em uma velocidade desumana, consumindo doze alimentos em um segundo, “preciso acabar logo! A provação pode começar a qualquer momento!!”
“Pelo menos agora tenho algo para fazer,” One alivia um pouco do seu tédio.
“Minha nossa, achei que eu fosse realmente morrer,” Honda chora de alegria.
Enquanto come freneticamente, Muro percebe algo esquisito em seu campo de visão, “hein?”
O rapaz avista uma maçã flutuante, parada no ar, próxima a equipe daqueles sentados em cadeiras de madeira. O comportamento do alimento se torna ainda mais estranho, se movendo para longe do grupo.
“Ei! Ladrão! Você está sendo roubado!!” Muro cospe o que estava em sua boca e alerta a outra equipe.
No meio das pessoas que pareciam estar em uma festa cheia de suprimentos, — antes observadas por Calos — o sujeito mais velho ouve o recado de Muro. O nome da figura, que aparenta já ter passado dos cinquenta anos, é Seiji.
“Uau!” O sujeito se surpreende ao ver a fruta no ar.
Partindo para a atividade, Muro corre na direção da maçã, se jogando por cima do alvo, “essa comida não é sua!”
Inesperadamente, ele acaba esbarrando em algo que não consegue ver, o alimento é segurado por alguém que se esconde dos olhos humanos.
“Argh!” Uma voz reage, ao ser atingida por Muro.
O rapaz mantém o corpo do oponente pressionado, sem deixar que o responsável pelo furto fuja.
“Então você fica invisível, hein? Esse era o seu truque?”
“Olha só… parece que algum desgraçado enlouqueceu,” outra voz se aproxima do garoto.
Visivelmente irritado, um homem de cabelos espetados e uma altura que o destaca de qualquer outro competidor, Xilo confronta Muro, “você não é dessa equipe, é?”
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