– Ah! – o jovem suspirou por ar, suado dos pés à cabeça.
O jovem rapaz enxugou as gotas de suor de sua testa e sentou-se, sentindo o seu corpo pesado e dormente não só pela sonolência, mas também pelo pesadelo terrível que acabou de assistir durante o sono. O sol já havia feito uma visita na cama, aquecendo seus pés descalços e os lençóis confortáveis, e um gato – ou melhor, gata – de pelagem preta que se esticou e miou suavemente assim que as pernas de seu dono encostaram nela.
– Bom dia... dormiu bem? – seu dono riu baixinho, pegando a gata em seus braços. Ela ronronava enquanto ele acariciava suas orelhas felpudas – Eu estou bem... e você tá bem confortável, né?
O rapaz colocou sua gata preguiçosa no travesseiro e espreguiçou-se antes de se olhar no espelho. Sua cara estava terrível: olheiras escuras insistiam em ali permanecer, sua pele estava pálida e um pouco oleosa de tanto que suou, e a barba curta que implorava por um barbeador.
Enquanto isso, a gata se espreguiçava na cama, aninhando-se no travesseiro logo em seguida e deixando os lençóis e fronhas com seus pelos.
Depois de se lavar e vestir roupas novas, o rapaz sentou-se numa cadeira em seu quintal, com um livro na mão e a gata já no colo.
– Que sonho esquisito... – disse sem muito pensar, logo dando uma bicada no café recém passado – Umbra, tem como você ir para o chão não? Preciso comer – riu para a gata que ronronava e aninhava em seu dono cada vez mais.
Umbra miou suavemente e pulou no pescoço de seu dono, fazendo-o abraçar carinhosamente sua gata ronronante e manhosa. O rapaz assobiou e logo o bichano virou uma espécie de poeira, incorporando-se à sombra do homem.
– É meu primeiro dia, Umbra. Sim, eu sei que você quer vir junto, mas fica bem quietinha – ele riu quando um pouco do “pó” ficou parado em sua frente e pareceu acenar antes de incorporar-se novamente em sua sombra.
Como de costume, depois do café ele pegou seu celular tranquilamente para verificar as horas e...
... ele já estava muito atrasado!
Ah~ A Universidade de Magia!
Era uma construção surpreendente. Feita de pedras e mármore para lhe dar um toque de elegância, com uma entrada ampla cercada por encantadoras árvores não muito altas e arbustos que logo floresceriam. Também havia uma fonte bem em frente ao prédio principal, que era um local perfeito para confraternizações e espectadores, dos quais encontravam-se com seus amigos e colegas para tomar (ou não) um sorvete e apreciar a vista ao seu redor – em especial o entardecer.
Carpe Diem, para quem curte.
Alguns poderiam dizer que o diretor não foi criativo, mas ele colocou algumas flores novas aqui e ali e novos dispositivos e serviços usando mana.
Vamos saber mais sobre isso mais cedo ou mais tarde, porque no horizonte de um amplo corredor de piso de mármore marrom, um jovem corria e aparentava estar com uma pressa terrível – o que era verdade. Seu cabelo verde acinzentado dançava ao vento bem como suas vestes. Ao seu lado, uma mulher alta e loira juntou-se à sua corrida, segurando uma caixa cheia de plantas risonhas que se divertiam muito com aquela corrida acidentada.
– LYDIA!! É CULPA SUA QUE A GENTE TÁ ATRASADO!! – o jovem exasperou e a mulher riu nervosamente.
– A culpa é nossa, Mine!!! Foi você quem desligou o despertador e eu... meio que fiz o mesmo depois – Lydia entristeceu-se e quase tropeçou em uma pedra, o que fez as plantinhas gritarem um alto e alegre ‘Weeee!’
– EI! Cuidado! – Mine evitou a queda de Lydia com um feitiço de levitação simples – Hoje a administração vai dizer quais serão as nossas novas salas de aula. Não podemos nos dar ao luxo de cometer erros.
As vestes de Lydia eram de uma tonalidade verde escuro e de um tecido feito a partir de uma planta rara (e perversa) da qual ela mesma extraiu o algodão. As mangas e o comprimento da roupa eram cheios de detalhes floridos costurados à mão e mais algumas modificações foram feitas aqui e ali. Suas botas marrons já estavam sujas de lama, bem como sua mochila nas costas, mas as culpadas riam alegremente no pote que ela segurava com todas as forças!
– ALI! AARUSH!! NOS AJUDE! – Lydia clamou para alguém que olhava calmamente para a dupla apressada.
O rapaz usava os trajes tradicionais de professor com muito menos modificações que as vestes de Lydia. O tecido de suas vestes foi feito de linho roxo escuro e trazia detalhes dourados nas mangas, simulando arabescos. A única adaptação que ele se empenhou em fazer foram dos botões, que ele colocou alguns que ele achou que eram em formato de besouros. Seu nariz levemente encurvado contrastava com seus finos olhos verde-oliva, que pareciam estar sempre sorrindo.
– Eu sabia que vocês dois chegariam atrasados... muito bem – Aarush parabenizou a dupla com três palmas enquanto eles ofegavam por ar – Vocês estão em forma, pelo menos. Mais cedo, um jovem de cabelos escuros chegou tão em pânico quanto vocês dois e mal recuperou o fôlego.
– Eles começaram a reunião? – Mine perguntou, enxugando o suor da testa enquanto Lydia mal conseguia falar.
– Esquenta não que o diretor Soleil também tá atrasado – Aarush riu baixinho.
Um novo curso estava prestes a iniciar naquele semestre e, por isso, a tal reunião foi agendada (meio que de última hora). Parte do Departamento de Mana Obscura e Miasma, a nova graduação de Exorcismo só precisava de mais uma etapa para que as aulas finalmente começassem: distribuir os professores e apresentá-los aos calouros.
Todos os professores do curso estavam lá reunidos no auditório, desde os que ensinavam matérias básicas como Escrita Mágica até os especializados em temas mais complexos como Purificação e Equalização.
O encontro foi breve (já que os professores tinham mais o que fazer), mas encantador e tocante.
Soleil Silva, o intrigante e colorido Diretor da Universidade de Magia, estava bem ao lado do não muito feliz Abannak Moreau, seu Vice-Diretor, que tinha a expressão de quem queria ascender ali mesmo. O Diretor usava um smoking branco com bolinhas de flores nas mangas, e, como toque final: uma flor de Lírio fresca na lapela.
Uma professora de vestes vermelhas quase tirou uma soneca, mas Aarush cutucou suas bochechas várias vezes. Fani Fen era seu nome, e ela lutava com seus péssimos hábitos noturnos enquanto Aarush, perfeitamente acordado, a impedia de cochilar e atrais os olhares sanguinários de Abannak. Lydia, por outro lado, dormiu descaradamente alguns bons minutos, pois aqueles brotinhos incomodaram-na a noite toda.
Mine prestava atenção em tudo que a administração apresentava, desde os novos sistemas até as salas de aula e carga horária. Não era à toa que ele era o professor de ouro da Universidade, o mais jovem prodígio que subiu na carreira rapidamente graças ao seu desempenho e proficiência.
Ele, além de estar na mira dos olhares da administração, o Conselho Mágico também o observava de perto. Mas um novo professor chamou a atenção deles.
– Agora, estamos anunciando o novo membro da família da Universidade de Magia: Addai Lee-hobb! Ele é o novo professor de Mana Impuro e ficará com o lado B da disciplina, enquanto Shire Metsu ainda ensinará o lado A – Soleil informou, agitando sua varinha todo feliz – Venha Addai, apresente-se!
O garoto, ou melhor, jovem rapaz, levantou-se da multidão e, num piscar de olhos, lá estava ele no palco diante do público. Ele tinha uma postura impecável e era bastante atraente de se olhar. Seu cabelo escuro e fofo criava um notável contraste com seus olhos finos e heterocromáticos – um amarelo ouro e outro azul profundo. Seus óculos, presos por finos fios dourados que repousavam em seus ombros, o davam um charme a mais à sua aparência.
Esse novo professor parecia um verdadeiro cavalheiro.
“Hm,” Mine bufou, numa mistura de curiosidade e ceticismo.

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