O ar de nobreza daquele lugar era indescritível. Simples assim.
O mármore alvo om detalhes em dourado nos rejuntes, as grandes e frondosas cortinas de camurça cor vinho, os tapetes ornamentados de odor de tecido envelhecido e do grande candelabro pendurado no meio daquele imenso salão. A opulência era aconchegante e entorpecente.
Quem não iria querer viver num lugar daquele?
Mas aquele lugar tão nobre deixou se macular por pessoas vis. Elas, ensandecidas e eufóricas, se divertiam no salão vizinho mais humilde e simplório.
Esse salão tinha apenas poucas decorações de ouro e prata, mas sem nenhuma cortina ou pintura cara e única. Nesse salão sem requintes, prostitutas, porcos de gravata, lobos vestidos de preto e muitos garçons ocupavam cada piso de porcelanato barato. Afinal, para quê gastar tanto com pessoas abomináveis?
Naquele espaço degradado, com pompa maquiadora, as pessoas usavam roupas caras para esconder a pele ferida e a chaga malvista. As “pessoas” por detrás da purpurina e elegância eram verdadeiros corpos pútridos ambulantes.
As prostitutas também se camuflavam por detrás de lindas máscaras e peles de porcelana. Algumas eram embebidas dos licores baratos servidos e outras, drogadas de pílulas que os porcos as davam para que o abate fosse mais rápido.
Mas uma delas estava faltando.
O pequeno cordeiro de abate, com suas pobres pernas finas, corria pelos corredores requintados, atravessando uma barreira “contra pessoas podres” do salão abominável. Ele corria, corria e corria cada vez mais, não prestando atenção aos pingos de um líquido dourado que deixava por onde passava.
Pinga.
Pinga.
Pinga.
Apesar de ser apenas um pequeno cordeiro de abate, o sangue que corria em suas veias era muito valioso.
Pinga.
Pinga.
Pinga.
O líquido dourado continuava a manchar o chão por onde passava. Mas o pobre e estúpido cordeiro não via seu tesouro cair e continuou correndo ao ver que os porcos e lobos corriam vorazmente atrás dela.
Ele não gritava de tanto medo que o consumia e atravessava seus olhos arregalados.
Sua máscara havia caído no chão há algum tempo e a alguns metros atrás. Com vergonha de sua face de cordeiro de abate, ele a cobriu com um pedaço de sua então pouca roupa rasgada.
Ele, então, chegou ao salão pomposo de riqueza genuína!
O dourado que escorria de seus braços combinava com o dourado das decorações e do ouro incrustado na escadaria. Ainda assim, embora a cabrinha tivesse corrido tanto, os lobos e os porcos o cercaram.
Afinal, ele era apenas um mero cordeiro de abate. Uma hora ou outra ele seria sacrificado para o bem... dos lobos.
Pinga.
Pinga.
O que caíra já não era mais o dourado e sim suas singelas e poucas gotas de água salgada que manchavam o piso.
Mas o cordeiro não desistia. Ele conseguiu dar coices nos porcos e lobos, sujando o chão de mármore com o carmesim das gotas de joias líquidas caindo.
– Não se aproxime! – o cordeiro bradou, segurando seu próprio corpo machucado da melhor forma possível.
– Hm... sua espécie é realmente... formidável – um homem alto aproximou-se da multidão, que abriu caminho para que ele chegasse perto do pobre cordeiro ferido.
Antes que o homem pudesse tocar no cordeiro ferido e alarmado, um lobo forasteiro apareceu e impiedosamente arrancou a pele e sangue de metade dos porcos e lobos do salão. Coberto de sangue alheio, o tal forasteiro ficou diante do cordeirinho assustado como se protegesse sua própria presa. Ou talvez ele fosse tão ganancioso quanto os outros, quem sabe?
– Óia! – o homem alto riu baixinho, em verdadeiro espanto positivo – Aqui está o nosso mais ilustre convidado indesejado! Contemplem- – antes de terminar a frase, ele foi rápido o suficiente para evitar alguns das tentativas de assassinato daquele forasteiro.
O pobre e assustado cordeiro então tentou fugir. O embate de lobos nunca era amigável de se lidar, então a escolha mais sábia era sair daquele lugar doentio...
..., mas isso não parecia ser tão simples pois as armadilhas foram ativadas.
Ó, pobre cordeiro... uma vez um cordeiro de abate... sempre um-
– VOCÊ ME VENDEU!!! COMO OUSA ME VENDER PARA ELA?! – o lobo forasteiro então vociferou, fazendo sua garganta vibrar enquanto estilhaçava alguns dos alarmes como se fossem feitos de plástico.
No meio de seus inúmeros golpes, uma passagem por entre os alarmes foi feita e era perfeito para que o cordeiro fugisse.
Que cordeiro sortudo...
Clink.
Clink.
Clink.
O cordeiro reconheceu o lobo forasteiro quando a máscara ornamentada dele caiu e se estilhaçou naquele pomposo piso com um dos ataques dos “alarmes”. Seu rosto pálido era deslumbrante sob o luar, e as novas cores vermelhas em suas bochechas eram preocupantes e lindas ao mesmo tempo.
– V-Você... – o cordeiro fitou-o, meio assustado, meio preocupado, só para presenciar o ataque vil e baixo do homem tentando atingir aquela pessoa familiar.
Clink.
Clink.
Clink.
A máscara improvisada do cordeiro também caiu, mas embaixo dela havia outra, bem ornamentada e rica em detalhes. Um véu fino e místico envolveu seus ombros, e o cordeiro tornou-se estranhamente corajoso...
… afinal, era um lobo covarde disfarçado.
[*ruídos de fundo caóticos*]
Ai merd-! Ah!! Interrompa a nossa transmissão, pelo amor de Deus!!!! m(。≧Д≦。)m
Ahem- ahem- isso tá ligado? Ah~ minhas desculpas~ desculpe pela intromissão ((*꒦ິ꒳꒦ີ))... hehe~ nosso estagiário pisou nos cabos e bagunçou alguns capítulos e- bem, não se preocupe. Vamos só fingir que nada disso... aconteceu, hehe~
=͟͟͞͞ =͟͟͞͞ ヘ ( ´ Д`)ノ Ai, eu perdi meus papéis, ó céus~ Aqui! Vamos ver, vamos ver... ah! Ok, agora achei o que deveria te dizer, leitor misterioso. Já li alguns livros, mas esse aqui... ó, esse aqui...
Você precisa ficar atento e antes de começarmos, preciso te dizer algumas coisinhas.
[*limpa a garganta*]
A vida é uma grande atuação, um grande teatro.
Entre máscaras e fantasias, você vai dando ao seu personagem certa profundidade...
... e superficialidade.
Todos temos segredos.
Porém,
eles nunca duram para sempre.
É uma jogada arriscada, atuar é algo importante afinal de contas.
Mas... até quando você está disposto a viver nos palcos?
Como você dará confiabilidade suficiente ao seu personagem?
Bom, não é tão simples.
Na verdade, é até bem complexo.

Comments (0)
See all