The Rejected Family
Capítulo 14
Rejeite a aliança
Um corpo foge dos olhos de qualquer humano, se movendo em uma velocidade inimaginável.
Lev continua o seu combate com Seki, investindo sem parar na direção do inimigo. Sendo sempre impulsionado para trás antes de alcançar o alvo, o garoto acelera cada vez mais.
Na busca por um resultado diferente, o jovem avança por sentidos diversos, tentando surpreender seu adversário, mas nada altera o desfecho de suas ações. O contato entre os dois parece algo impossível.
Não importa o ângulo, Lev pensa.
Novas tentativas ocorrem de maneira ininterrupta, os olhos de Seki não conseguem mais nem sequer acompanhar a silhueta do garoto. O sujeito se assusta sempre que o jovem se aproxima repentinamente.
"Ah!! Por que você continua aparecendo do nada!?"
O processo se repete, nenhum avanço obtém sucesso.
Lev mantém o seu raciocínio, não importa se ele me percebe.
Uma pausa nos avanços. O garoto se distancia do local, indo na direção oposta à do inimigo. Na sequência, ele retorna em uma investida única, com toda a sua força. Atingindo o ápice de sua velocidade, seus passos não podem mais ser ouvidos.
Em um milésimo de segundo, seu corpo é arremessado de volta para o ponto inicial do movimento. Seki permanece inalcançável.
Não importa a força da investida, Lev faz mais uma colocação.
"Ahhhh! Apenas pare com isso, cara! Você está piorando as coisas."
O homem perde a linha, seu escândalo pode ser ouvido por todo o corredor. Durante a explosão de insatisfação, o garoto percebe algo crucial. Calmamente, ele se aproxima de uma pequena pedra, sem usar suas habilidades.
"Finalmente se cansou?" O inimigo lhe questiona.
À medida que Lev se abaixa para pegar a pedra, sua reflexão continua, ele não me atacou ainda. Isso com certeza é a sua habilidade de Repulsor. Nesse caso, tenho que testar mais uma coisa.
Como um cometa que colide com qualquer coisa em seu caminho, o garoto utiliza sua velocidade em seu braço para aumentar a força do projétil. Lev arremessa a pedra contra Seki.
A resposta esperada ocorre, a pedra é impulsionada para longe do alvo, antes de atingi-lo.
Também não importa qual seja a ameaça.
O jovem respira, aliviado. Seus pensamentos parecem lhe guiar para uma conclusão positiva, nossa, é uma rejeição bem simples. Normalmente, quanto menos complexas, mais eficazes elas são.
"Não faz diferença," Seki interrompe a lógica do garoto.
"O que?"
"Não há necessidade de pensar tanto. Apenas não vai haver diferença."
"Desculpa, eu perdi algo?"
"A minha rejeição, você descobriu ela."
"Eu tenho um palpite."
"Acha que algo mudou com essa informação?"
"Sim, agora eu tenho certeza que tenho que tentar outra coisa."
"Sua rejeição é simplesmente ineficaz contra a minha. Não há complexidade alguma nisso."
O silêncio de ambos os competidores antecede uma drástica mudança de ares. Seki encara o jovem, enquanto suas palavras provocam emoções conflitantes.
"Agora você entende, não é? Os sentimentos daquele velho."
Os olhos do garoto — antes despreocupados e desfocados — repentinamente fixam-se no adversário. Suas pálpebras direcionam o seu olhar como uma lâmina, que ameaça cada nova fala do homem debochado.
"Alguém que simplesmente nasceu fraco. Que mesmo entre a camada mais baixa da sociedade, não consegue sair por cima de ninguém."
Uma investida súbita. Em um piscar de olhos, Lev é impulsionado para trás. Sua velocidade foi tamanha, que se tornou impossível acompanhar o seu avanço, só sendo percebido após ser empurrado para longe.
Seki se assusta mais uma vez, sem perceber o que aconteceu, "ah!! Para, cara!"
"Foi mal, esqueci que não consigo te socar. Meu corpo acabou se movendo por conta própria."
"Isso nunca vai acontecer. Isto porque pessoas como você e aquele velho devem ficar para sempre longe de mim."
"Eu acho que entendi mais uma coisa sobre essa habilidade. A sua rejeição… é por medo."
Em uma velocidade ainda maior do que qualquer exibição prévia, Lev dá várias voltas ao redor do inimigo, cercando-o, enquanto corre em círculos. Como se estivesse criando um furacão com seus próprios pés, a ação do garoto gera uma corrente de vento, à medida que ele repete o processo ininterruptamente.
Seki permanece no meio do circuito, o olho do furacão apenas observa o mais novo ataque de seu oponente.
"Ainda vai continuar com isso? Não sabe quando parar, criança?"
Uma nova dupla de competidores chega ao local. Seiji fica espantado, observando a luta de longe. Lua acompanha a sua presença.
"Amiga do carinha, recue. Está rolando uma confusão das grandes."
"Lev…" Lua reconhece o seu primo, impressionada com o que vê.
"Hã? Encontrou um dos seus?"
O inimigo provoca o recém chegado, "olha só quem apareceu, estávamos falando de você. O fracasso dos fracassados."
Ao notar Seki, Seiji dá um passo para trás.
"Você é da equipe de Xilo."
"O que aconteceu com toda aquela sua cortesia? Lá fora parecia até confortável com a nossa presença," o homem no olho do furacão lhe questiona.
"É difícil ficar confortável nos momentos que querem a minha cabeça. Se aparecer em uma hora melhor, podemos conversar."
"Você tem medo de qualquer um aqui dentro. Esse não é o seu lugar. Os únicos que podem ficar ao seu lado são os igualmente fracassados."
As palavras ditas afetam Seiji, que fica em silêncio. Lua percebe o seu estado deprimido.
"Ei, velhote. Você conhece esse cara?" Ela pergunta.
Seki continua provocando o sujeito abalado, "está aqui na tentativa de ter sorte mais uma vez? Isso é puro desespero? Ou será que… veio perder mais um membro da sua equipe?"
Seiji abaixa a cabeça. Essa pequena faísca acende a raiva dentro de Lua.
"Velhote, me diga de uma vez. Você conhece esse cara?"
"Eu conheço bastante gente."
"Ele é alguém que você quer que vença a provação?"
Após um breve silêncio, Seiji responde, deprimido, "eu não sei responder esse tipo de pergunta."
A determinação de Lua guia os seus passos, que se viram na direção do combate. A jovem chama pelo seu primo.
"Lev, o velhote quer que você acabe com esse cara. Só pare quando ele estiver inconsciente."
Seiji se surpreende, "o que você está—"
"Se estiver certo de que não quer isso. É só me pedir para parar."
Sem mais respostas.
"Isso te deixa sem opções, Lev. Pisa fundo!"
Descansando em outra zona da caverna, Kelly acorda em uma cama, dentro de uma pequena cabana. Ela assume a aparência de Muro.
A estrutura é estranhamente simples, não havendo nenhum objeto decorativo. Um minúsculo quarto vazio, onde é possível escutar os passos de um homem. Dundo está deixando a cabana, não havendo mais ninguém além dos dois competidores nas proximidades.
Kelly avista o jovem adulto em movimento e questiona-o, "aonde está indo?"
"É uma pena. Eu tinha esperanças que você não iria acordar," Dundo se vira para ver a sua companhia, que já está de pé, ao lado da porta da cabana.
"Você me ajudou, de novo. É daquele grupo de antes, não?"
"Não me entenda errado. Foi contra a minha vontade. Porém, não sei se conseguiria encarar Seiji, caso deixasse algum de vocês morrer."
"E agora você está indo embora? É só isso?"
"Eu não aceito mais alianças. Seiji também deveria agir assim, pelo bem dele."
"Ele é o líder da sua equipe?"
"Você não precisa saber sobre nós. Estou de saída."
Dundo se distancia da cabana, ao mesmo tempo em que Kelly o segue, em silêncio.
"O que está fazendo?" O homem questiona a perseguição inusitada.
"Ah, eu? Não se preocupe, não farei nada indesejado."
"Eu disse que não preciso de alianças."
"Não é nada disso. Só estou retribuindo o favor. Pode me ignorar e seguir em frente."
"Você…"
Dundo materializa uma cadeira em suas mãos, segurando o objeto como um escudo.
"Se vai fazer isso, eu tenho que te parar. É apenas por segurança."
Kelly não compreende a reação defensiva, "eu pareço oferecer algum perigo?"
"É por acreditar em pessoas como você, que Seiji está como está hoje. Além do mais, você também está agindo como ele. E se eu te traísse?"
"Você de certa forma já está fazendo isso. Eu continuo aqui."
"E se eu te matasse?"
"Algumas pessoas não têm opção, senão acreditar nas outras. Nesse momento, esta é a minha melhor escolha."
Dundo observa o corpo de Kelly, — que no momento está assumindo a aparência de Muro — se atentando para o físico forte.
"E o que você sabe sobre isso, hein? Passar por necessidades? Você é jovem, tem uma família grande e saudável. Não tente entender o que não está no seu alcance, moleque."
Não mostrando hostilidade alguma, Kelly se senta calmamente sobre o solo. Suas mãos retiram um caco de vidro de seu bolso, onde o reflexo de uma Repulsora pode ser visto.
Logo em seguida, a aparência de Muro é substituída por uma mulher. Carregando sessenta e cinco anos em suas costas, aquele corpo mostra a verdadeira face de uma idosa.
Perplexo, Dundo não consegue aceitar a nova verdade.
"Isso… isso não faz sentido."
"Sabe aquele grupo que você viu antes? Aquela é a minha família. Eu sou completamente dependente daquela gente."
O homem permanece em silêncio. O que ele vê transforma a sua mente em um caos, divergindo-a em incontáveis emoções.
Kelly continua, "eu não sei com quem esse tal de Seiji se aliou no passado, mas talvez ele achasse que dependesse disso."
Dundo cai de joelhos, em choque.
"O nome dela era Honaka," ele comenta.
As memórias do sujeito conduzem a história para um breve momento no passado. Aparentando ter a mesma idade do presente, Seiji, Dinda, Dende e Dundo caminham juntos, sendo membros de uma mesma equipe.
De frente para a Cachoeira das Provações, o grupo conclui a sua conversa com o Organizador das Provações.
"Inscrição realizada com sucesso. Voltem em cinco dias para participar da provação."
Todos se distanciam da queda d'água, andando na direção oposta ao relevo.
Dende se desanima, "e lá vamos nós, de novo."
"Pare com isso. Desta vez nós temos a Mai," Dinda responde o companheiro.
"Você acha mesmo que um membro a mais na equipe vai fazer diferença?"
Dundo participa da conversa, "ela parecia bem determinada."
"Fala sério pessoal, já vimos essa atitude dezenas de vezes. Eles sempre desistem na hora do perigo."
"O que você acha, Seiji? Ela vai largar a gente?"
O líder dá o seu veredito, "não precisamos saber disso. Vamos apenas aceitar a sua ajuda."
Dende permanece contra a ideia, "quando ela ver as nossas habilidades, vai nos largar na hora. Todos desistem ao verem como somos inúteis."
"Afinal, para onde ela foi?"
A pergunta de Dinda é seguida de gritos, vindo de perto do poço público do Pé da Montanha.
Vários habitantes se desesperam, "urso! Alguém ajude!!"
No local da confusão, um urso ataca uma mulher de cabelos brancos, que foge com todas as suas energias. Honaka corre do animal ameaçador.
"Um urso? Isso é bem inesperado. Coitada daquela mulher," Dende sente pena da vítima.
"Não vamos fazer nada?" Dinda se inquieta.
"O que você quer que eu faça? Jogue água em uma coisa desse tamanho?"
Ultrapassando qualquer expectativa, o inimaginável acontece. Seiji corre na direção do perigo.
"Seiji! Você não!" Dinda tenta pará-lo.
Dundo prevê o pior cenário, "droga, ele vai acabar se matando."
Em sua fuga descontrolada, Honaka tropeça, caindo no chão. O urso investe contra a mulher indefesa, que permanece parada, em estado de choque.
O animal prepara as suas garras afiadas, a perseguição chega em seu desfecho.
A vítima perde a razão, "isso não… onde você está, Phoena!?!?!?"
"Pare, sua fera estúpida!" Uma voz repleta de energia é ouvida.
O urso subitamente interrompe o ataque. Mai se opõe ao animal amedrontador.
"Venha na minha direção. Deixe a pobrezinha em paz," a salvadora prossegue, no controle da situação.
Em uma resposta imediata, o urso se direciona para a mulher proativa, sem resistência alguma vindo de sua parte. Na sequência, ela olha para a vítima da perseguição, caída sobre o solo.
"Você, fique no chão."
Após ouvir as instruções de sua salvadora, Honaka sorri, debochadamente, "obrigada, agora eu posso—"
Algo imprevisível ocorre. A mulher resgatada não consegue se mover, seu corpo parece ter saído do seu controle.
"O que? Mas… o que? Como você…?"
"É só uma medida de segurança. Eu não vou te fazer mal."
O urso segue o seu percurso, andando lentamente para Mai.
"Sente-se criatura," ela ordena.
O animal obedece. Completamente alheio à situação, Seiji chega ao local exausto.
"Mai?"
"Ah, tudo bem, Seiji? Perdão por sumir assim. É que eu vi isso acontecendo de longe. Ei, você tem algo para comer aí?"
"O que exatamente?"
"Qualquer coisa. É para o grandão."
Utilizando seus poderes de repulsor, Seiji materializa um enorme peixe — sem vida — em suas mãos. O urso sente o saboroso cheiro do alimento.
Mai se surpreende com o que vê, "ah, então essas são as suas habilidades! Desse jeito, nunca passaremos fome!"
O sorriso genuíno da mulher acalma os ânimos de Seiji, que se recompõe do cansaço em seu corpo.
Retornando para o problema ainda não solucionado, ela se comunica com o animal, "certo. Você, volte para a floresta."
Utilizando os seus dentes afiados, a criatura agarra o peixe com a sua boca e se afasta dos humanos, deixando o Pé da Montanha.
Honaka encara Mai, perplexa, "você…"
"Peço desculpas pela surpresa, pode relaxar agora. Acontece que minhas ordens são absolutas."
A equipe de Seiji se aproxima de sua companheira, comemorando a sua atuação.
"Mai, você é incrível! O que foi isso?" Dinda abraça a amiga.
"O que acha, Dende? Forte, não?" Dundo se gaba de sua nova aliada.
Ainda no chão, os olhos da vítima não conseguem desviar da poderosa figura que lhe salvou. Sua curiosidade domina os seus pensamentos.
"Essa rejeição…" ela murmura.
Envergonhada pelos elogios que recebeu, Mai agradece aos cumprimentos, "valeu, valeu, galera. Ah, eu ia me esquecendo. Pode se levantar agora."
A partir das palavras da mulher, Honaka finalmente retoma o controle de seu corpo, que fica de pé instantaneamente.
"Vocês são um grupo?"
"Somos sim," Seiji afirma.
"Pretendem participar da provação?"
Dundo se perde em gargalhadas, "hahahaha! Ela não faz nem ideia! Nós já estamos nessa brincadeira há alguns anos."
"Oh, entendo. Nesse caso…"
Em questão de segundos, a nova postura de Honaka atrai todos os olhares para ela. A vítima do urso se encontra de cabeça erguida, pronta para depositar toda a sua confiança em suas próximas palavras.
"Querem se aliar com a minha equipe?"
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