Era uma daquelas noites, silenciosa e fria. As ruas do pequeno vilarejo estavam desertas e seus moradores permaneciam no calor e conforto de suas casas. Ao norte do vilarejo, floresta adentro, havia uma casa solitária. Onde vivia uma bruxa solitária. Nem sempre foi assim, claro. Há poucos dias eram duas pessoas. As duas bruxas que todos temiam mesmo de longe. Quando uma delas morreu, os moradores comemoraram em silêncio. Enquanto isso, na casa da floresta, a bruxa que ainda vivia chorava pela perda da irmã.
Mas nessa noite. Nessa noite fria e silenciosa, a bruxa se preparava para reencontrar a irmã. A bruxa fecha os olhos respirando fundo, lê mais uma vez o feitiço para não cometer erros quando for de fato lançá-lo.
Quando o relógio bate as três da manhã e, todos os outros já estão dormindo, a bruxa diz cada palavra do feitiço em voz alta e claro. À noite, antes silenciosa, torna-se uma noite com barulhos de trovões e os clarões ao céu. O barulho das árvores chacoalhando pelo vento e algumas batendo em sua janela. O que era frio vira ainda mais frio. Os barulhos ficam ainda mais altos que alguns moradores acordam assustados e se escondem achando poder ser algo pior que uma simples tempestade.
De repente tudo para. O silêncio volta a floresta e ao vilarejo. Um homem sai porta afora para ver se tinha realmente parado. Tudo ainda era frio, muito frio, mas a noite estava novamente banhada no silêncio. A bruxa olha para o corpo de sua irmã e a vê acordando. A alegria é tanta que a abraça e nem presta atenção no homem gritando do vilarejo e fazendo outros saírem de suas residências.
O que a bruxa não sabia é que o feitiço escolhido era um pouco mais do que havia pensando. E ali no vilarejo, bem em frente ao homem, estava seu pai, já morto há alguns anos. A pele do homem morto vivo se desfazia e carne e ossos eram expostos a todos. O homem assustado dava passos para trás enquanto seu pai dava passos para sua direção. Os dois param quando mais gritos são ouvidos ao longo do vilarejo quando corpos ainda mais decompostos que aquele, caminham livremente em busca de suas antigas casas.
A carne podre e exposta fazia um cheiro forte e ruim dominar o ambiente, mesmo ao ar livre. Era sufocante. Uma mulher vê seu marido com apenas ossos e poucas partes com carne a encarando, mas o que a faz desmaiar são as larvas saindo dessa carne. O mesmo tipo de larvas que passam por todos os outros corpos que deveriam estar enterrados. Mais de uma pessoa desmaia, outras vomitam com a visão. Outros gritam e voltam para suas casas as trancando.
O homem ainda encara seu pai que caminha com dificuldade. Saindo do choque ele olha para a floresta e não lhe resta dúvida que havia sido obra da bruxa que ali vivia. Com a mente agora totalmente em alerta, o homem pega um pedaço de madeira, ateia fogo e chama outros para lhe seguir.
Na floresta eles gritam pela morte da bruxa. E esta, sem entender nada e sem tempo para questionar, lança um feitiço de proteção, mantendo todos longe de sua casa.
Ao perceber o que havia feito e vendo que a única forma de consertar mataria sua irmã de volta. Ela desfaz o feitiço com um "porém", todo ano naquele mesmo dia poderia reencontrar sua irmã por uma noite. E todos que queiram o mesmo poderiam receber os seus de braços abertos.
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