The Rejected Family
Capítulo 15
Rejeite essa vista
Ainda no passado, o momento destes acontecimentos se dá meses atrás. Uma situação já conhecida, porém se diferenciando pelo tempo de seus respectivos eventos. A equipe de Seiji acampa tranquilamente em volta de uma fogueira.
O grupo formado por Honaka e Phoena descansa ao lado de seus novos aliados.
"Nossa, todos vocês têm habilidades engraçadas, hahahaha! Uma cama? Que droga é essa?" Mai se diverte com seus companheiros.
Dende resmunga, "eu disse que ela ia surtar."
A mulher se surpreende cada vez mais, à medida que conhece o seu novo time.
"Quem imaginaria que uma equipe assim enfrentaria uma provação? Parece que todos querem morrer, hahahaha!"
"Só de estarmos vivos, já é algo, não?"
"Quando não temos saída, costumamos nos render," Seiji fala pelos demais.
A mulher risonha se empolga, enaltecendo o grupo.
"Se eu fosse vocês não me arriscaria tanto. Tem gente por aí que não dá a mínima para poupar inimigos. Isso prova que vocês são durões!"
Dende questiona a recém-chegada, "de todas as equipes, por que escolheu a gente?"
"Ué, vocês me acolheram. Eu preciso de um motivo? Só queriam membros novos, não? Então aqui estou eu!"
"Não acha que está perdendo seu tempo?"
As risadas são subitamente interrompidas. A mulher — que antes se divertia despretensiosamente — agora assume uma postura inesperada, encarando seriamente quem lhe fez a pergunta.
"Escuta. Eu vou chegar ao Cume, tá bom? Então, só vem comigo e aproveita a viagem. Não me importa a incompetência de vocês. Vão desperdiçar essa chance?"
Dundo não acredita no que ouviu, "o Cume?"
"Mesmo que suas habilidades pareçam sem utilidade, através dos meus cuidados irão atingir o seu potencial máximo. Seu grupo está uma bagunça agora, então me deixe no comando e tudo ficará bem. Só se esforcem para chegar lá vivos, hahahahaha!"
A leveza da conversa entre amigos retorna. Em meio a risadas e alimentos, o acampamento se torna um local acolhedor. O calor da fogueira aquece os corações de todos que relaxam em sua volta.
Repentinamente, Dundo faz um pedido, "ei, Mai. Preciso de companhia. Pode vir comigo?"
"Claro, estou livre."
"Só não vão muito longe, a provação pode começar a qualquer momento," o líder adverte.
A dupla se levanta e caminha em direção a uma área mais reservada, se distanciando do acampamento.
Observando atentamente a movimentação de seus novos aliados, Honaka os segue. Sem entender esta última ação, Dende levanta dúvidas sobre a perseguição súbita.
"Por que aquela mulher está seguindo eles?"
"Qual o problema? Ela é uma aliada. Nós iremos nos ajudar lá dentro. Então, não tem problema sermos companheiros aqui fora," Dinda afirma.
"Eu vou com eles, só para garantir."
Após sua fala, ele para por um breve momento. Um olhar que aguarda uma permissão concreta, Dende espera pela ordem de seu líder.
Seiji dá o seu veredito, "faça como quiser."
O deslocamento dos membros do grupo leva-os para uma paisagem tranquila. Sentado sobre a borda de um pequeno morro, Dundo consegue observar parte da Vila do Pé da Montanha, com uma vista privilegiada.
Mai se aproxima do seu companheiro, que se encontra sozinho, encarando atentamente o dia a dia de todos aqueles em seu campo de visão. Diante do ambiente reservado, a mulher interrompe o silêncio que seu aliado tanto contemplava.
"Se só queria conversar, não poderia ter feito isso lá no acampamento?"
"Dá para ver a cachoeira daqui, saberemos se algo acontecer."
Sentado de frente para a vila, Dundo está de costas para a Montanha das Provações, com suas pernas esticadas sobre a beirada do pequeno morro.
"Isso não me preocupa. Por que me trouxe até aqui?"
Enquanto uma leve brisa refresca os seus cabelos, ele visualiza a sociedade da qual ele rotineiramente faz parte, de cima para baixo. Uma visão que lhe permite ver a capital com amplitude.
"O Cume, hein?"
Sua voz sonhadora é conduzida pelos ventos que rumam em direção à montanha, possuindo uma altitude centenas de vezes maior do que a atual da dupla.
Ele segue com o discurso, "quando eu olho para aquela vila de cima, como estou agora, eu me sinto mais seguro. Sei onde várias pessoas estão, consigo ver boa parte da população tendo um dia comum. É como se eu tivesse a certeza de que tudo vai ocorrer normalmente. De certa forma, é tranquilizante."
Mai se aproxima do homem, se sentando ao lado dele, ao mesmo tempo em que coloca os seus pés na beirada e escuta mais de suas palavras genuínas.
"Mas sabe, quando eu olho para aquela montanha, daqui debaixo… é um pouco assustador. É esquisito pensar que estamos sendo observados dessa mesma forma. Não sabemos nada do que está por vir, não conseguimos ver nada relevante daqui. Caso qualquer coisa aconteça lá em cima, só saberemos semanas, ou até mesmo meses depois do ocorrido."
À medida que transfere sua atenção para a Montanha das Provações, Dundo volta seus olhos para o topo, um local que mal pode ser visto, completamente imerso em misteriosas nuvens, capazes de esconder cada mínimo detalhe do desconhecido.
"Se nós chegarmos lá em cima, poderemos ter uma vida tranquila e sem surpresas, certo? Nossas habilidades poderiam ser usadas unicamente para uma melhor qualidade de vida. E assim, aquele velho poderia descansar, sem precisar arriscar sua vida e contar com a sorte toda vez."
Cada gesto meticuloso do homem ressalta a sua vontade incontrolável de fazer um único pedido. O desejo de mais pura honestidade penetra os ouvidos atentos da mulher.
"Como uma equipe de inúteis, nós não somos capazes de tornar isso realidade, portanto, gostaria de fazer um último apelo. Senhorita Mai, por favor, leve Seiji até o Cume."
Após alguns segundos prestando o máximo de respeito possível ao ato desesperado, a ouvinte se levanta, prestes a conceder uma resposta incontestável.
"Quando nós chegarmos, poderemos viver sabendo o que está por vir. Quando nós chegarmos, viveremos tranquilos, longe do perigo. Quando nós chegarmos… Seiji poderá descansar."
"Você…"
"Eu acho que você ainda não entendeu. Tudo o que eu pedi foi para aproveitarem a viagem. Eu vou chegar ao Cume, não me importo de ajudar pessoas com o mesmo objetivo. Talvez desta vez vocês realmente tiveram sorte."
O sorriso que acompanha as palavras de Mai contagia Dundo com o mais profundo alívio. Seu corpo imediatamente se ajoelha sobre os pés daquela que lhe confortava, demonstrando involuntariamente a sua gratidão incondicional.
"Nunca tivemos tantos aliados antes. Graças a você e ao outro grupo, a provação não parece mais algo tão distante. Obrigado, Mai."
"Levante a cabeça," ela rejeita a postura submissa.
Sem conseguir se controlar, Dundo subitamente se posiciona de forma ereta, sentado de cabeça erguida.
"Eu não consigo mais me abaixar."
"As minhas ordens são absolutas. Sinto muito, você não pode competir com a minha rejeição."
"Nesse caso, como eu posso te agradecer?"
"Eu nunca vou permitir algo assim. Azar o seu."
"Hein?"
O fim da conversa em particular é marcado pelos passos lentos de outra presença. Uma nova companhia chega ao encontro dos dois.
Honaka se aproxima de seus novos aliados. Seguindo o seu trajeto, — como um segurança em atividade — Dende também se junta à reunião inusitada.
"Ei, por que você veio até aqui?" Ele questiona a recém-chegada.
"Eles são meus aliados. Também devo ter o controle da situação."
"Pelo que parece, está tudo certo por aqui. Pode relaxar—"
"Honaka. O meu nome."
"Certo. Pode relaxar, Honaka. Nossa amiga é bem forte."
"É, eu imagino," sua voz emana certeza sobre a situação, enquanto seus olhos se fixam nas costas de Mai e Dundo, sendo incapazes de esconder seus interesses na dupla.
Dende chama pelo companheiro, "ei, Dundo. Vocês já acabaram?"
"Ah, podem ficar tranquilos. Voltaremos muito em breve."
Dende se vira de costas para seu aliado, andando em direção oposta à ele, caminhando de volta para o acampamento.
"Bom, então podemos ir, Honaka. Esses dois ainda precisam de mais tempo sozinhos."
Honaka segue os passos de seu instrutor, quando os seus ouvidos inesperadamente escutam algo intrigante.
"Aconteça o que acontecer, não derrube a nossa salvadora da beirada, Dundo," Dende faz um último comentário.
Após a fala do homem, Honaka se vira na direção da dupla, uma reação praticamente instantânea.
"Pode deixar, senhor precavido."
Com o objetivo de se sentar novamente na borda do morro, Dundo se move de maneira relaxada. Também almejando se sentar, Mai inclina o seu corpo para frente.
Um passo inexplicável.
Como se seus pés tivessem vida própria, Dundo dá um passo fora de suas intenções, um movimento na direção daquela ao seu lado.
O equilíbrio é perdido.
Desorientado, ele esbarra em Mai, que é empurrada contra a beirada do morro. Sem esperar esta ação, — que a princípio só poderia ser realizada de maneira voluntária — Mai usa a força presente em cada centímetro do seu corpo para tentar se agarrar em algo.
Sem sucesso.
"O que…?"
"Mai?"
A mulher cai da borda do morro, despencando pelos ares do Pé da Montanha. Com o cruzar de seus olhares, Dundo consegue ver a expressão de sua amiga uma última vez.
O pavor absoluto preenche um rosto em estado de choque, a confiança de Mai se esvai por seus pelos arrepiados, imersos em um honesto desespero.
Sem acreditar no que vê, o homem consegue compreender os sentimentos na face aterrorizada de sua aliada.
Ainda no ar, os últimos momentos de Mai são tomados por uma visão incontestável. Com olhos que se perdem tentando chegar ao topo, ela observa a Montanha das Provações de baixo para cima.
Essa vista é mesmo assustadora, sua mente afirma.
"Mai!!!"
Os berros de Dundo não alcançam a sua companheira, que enfim chega ao chão. Sem conseguir encarar completamente o ocorrido, ele apenas enxerga partes do corpo da vítima.
Um mar de sangue proporciona uma cena amedrontadora para cada detalhe a mais que o homem presencia. Devido ao seu nervosismo extremo, ele não consegue olhar uma última vez para o rosto de Mai.
Ao se virar para chamar Honaka, Dende percebe o ocorrido, isso é impossível.
"Dende…"
Dundo se vira para a dupla remanescente, com o rosto repleto de lágrimas, que caem sem parar de suas pálpebras, fluindo por todo o restante de seu corpo.
Ele cai de joelhos, inteiramente entregue ao seu caos mental.
"Dende, por favor…"
Mesmo sem entender exatamente o que aconteceu, o ouvinte corre de maneira desenfreada na direção do seu companheiro. Um abraço que é capaz de agarrar a própria alma de seu amigo, ele segura as emoções de Dundo.
"Ei! Olhe para mim, ok? Vai ficar tudo bem! Não precisar olhar lá para baixo, Dundo! Mantenha os olhos em mim!!!"
Se opondo diretamente ao que lhe foi instruído, a atenção do homem em prantos se foca na paisagem atrás do aliado. Ele observa Honaka, parada em sua frente.
Como um gelo que percorre todo o seu corpo, o suor frio de Dundo revela o seu mais genuíno pavor. O momento presenciado por ele protagoniza o ápice de seu desespero.
Honaka sorri de maneira escancarada. A expressão toma conta de toda a sua face.
"O que?"
A partir do avançar do tempo, a história continua sendo contada nas proximidades do presente.
Novamente diante de uma fogueira, a equipe de Seiji descansa ao lado da família Mamoru, no período de espera da atual provação.
Muro e sua família dormem ao lado de seus novos conhecidos. No mesmo local, Dinda e Seiji se encontram um ao lado do outro. O velho está de olhos fechados, deitado em uma cama.
"É difícil dormir, né?" A mulher murmura, chamando pela sua atenção.
"Você me dizendo isso é um pouco desconfortável," ele responde, ainda de olhos fechados.
"Eu tenho te acompanhado todas as noites. Em nenhuma delas você conseguiu relaxar completamente. Agora, para dificultar ainda mais, você decide fazer outra aliança. Por que se forçar a fazer isso, Seiji?"
"Eu sou o líder de uma equipe que pretende chegar até o Cume. É normal buscar por aliados."
"Desistimos da nossa última provação por causa de uma suposta traição. Três meses depois, você continua recebendo qualquer um com esse seu discursinho pronto. Será que só desistiu?"
Depois de um breve silêncio, Seiji abre seus olhos para responder a pergunta.
"Isso não faz diferença agora. Talvez quando eu era apenas um fracassado, você poderia pensar assim. Agora que somos quatro fracassados, isso já não importa mais."
"Seiji…"
"Se eu não estiver buscando aliados para mim, estarei buscando aliados para vocês três. Tenho certeza que alguém aqui ainda pretende ir mais longe."
"Nós já fomos traídos por estranhos antes, e se acontecer novamente?"
"Mesmo que isso seja verdade… Mai também era uma estranha."
Próximo a dupla conversando, Dundo abre os seus olhos em meio ao momento deprimente, ouvindo tudo em silêncio.
Dinda reforça um último problema, "ei, Seiji. Você sabe que aquela aliança só iria funcionar porque tínhamos alguém forte de maneira formal na nossa equipe. Se duas equipes diferentes se aliarem, de maneira informal e tardia, no final elas precisarão se enfrentar. Apenas uma pode passar para a próxima vila, não importa o que aconteça."
"Nesse caso, contaremos com a sorte. Não é isso que fizemos até então?"
A discussão marca o fim da história contada por Dundo, que no presente termina de informar Kelly sobre o passado de sua última aliança. A jornada de todos volta a ser continuada na atual provação.
Após ouvir todo o desenrolar da narrativa, a mulher faz uma pergunta genuína, "er… qual era o seu nome mesmo?"
"Dundo."
"Dundo, isso. Eu só queria te fazer um último pedido."
Kelly — antes sentada — se deita no solo da caverna.
"O que está fazendo?" Seu companheiro não entende a reação inusitada.
"Se eu ficar aqui caída, vão me entender como alguém inconsciente. Eu estou desistindo desta provação."
"Hein?"
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