- Isso mesmo. - Kazami se deitou logo em seguida. Um sorriso de conformação estampado no rosto. - Não concordo nem apoio o Rei do Céu, mas queria obedecê-lo porque ele me prometeu que esta seria minha última missão. Depois eu estaria livre mas, agora…
- Então, Sena pediu que você fosse contra as ordens do Rei do Céu para que deixasse o representante da morte viver e ter a criança da profecia…Mas por que estava preso em um cassino?
Kazami virou-se na direção de Arisu e apoiou a cabeça em uma das mãos.
- Nada nunca é tão simples assim.
- Não? O que poderia ser pior do que os problemas entre o céu e o inferno nos últimos tempos? - Arisu virou-se para Kazami também, o encarando.
- Já houveram muitos problemas relacionados a pessoas que tentaram pôr as mãos no livro do Guardião do Futuro. Pensei na possibilidade do Rei do Céu ter sido uma dessas pessoas e, por conta de algo que viu ali, ter decidido eliminar o filho mais velho. Se não fosse isso, por que me enviar para matar o “filho favorito” dele? - Kazami ergueu o dedo indicador. - Mas, mesmo assim, havia uma coisa estranha em relação ao representante da morte.
- O que seria? - Arisu franziu as sobrancelhas.
- Se o representante da morte era realmente o filho que o Rei do Céu mais amava, por que ele estava no mundo humano vivendo uma vida comum e não com os outros oito irmãos no céu?
Os olhos de Arisu se arregalaram.
- A teoria do filho rebelde…?
Kazami sorriu, os olhos no formato de uma meia lua.
- Eu apostei na teoria de que o filho mais velho do Rei do Céu foi o responsável por orquestrar o antigo ataque que ocorreu no castelo, centenas de anos atrás.
Depois de investigar um pouco, chegou em meus ouvidos os boatos de que o representante da morte teria sido amaldiçoado e banido para o mundo humano, eu só precisaria encontrar o rastro dele e…
- …bingo. - Arisu completou. Os olhos brilhando em admiração.
- Depois de reunir mais algumas informações com as pessoas certas descobri que, a cada 22 anos no mundo humano, o céu e o inferno tremem com o renascimento de uma divindade na terra. Isso me fez pensar que, talvez a maldição do filho mais velho fosse relacionada a viver uma vida humana pelo resto da eternidade… - Kazami suspirou e deixou a cabeça cair novamente na cama. - …Mas tive que parar minhas teorias e investigações quando Sena me deu um alvo. Ele falou que um homem humano chamado Jeffrey Davies seria uma outra ameaça para o representante da morte.
- Conheço esse nome… - O coração de Arisu falhou uma batida. Ele levantou a cabeça para encarar Kazami. - Samyaza já falou sobre ele. É um homem ligado a uma máfia, não é?
- Sim. Se minhas teorias estiverem certas, o representante da morte tem uma nova vida bem movimentada e cheia de adrenalina já que se envolve com pessoas de uma máfia…
- Então, Sena pediu que você não só ignorasse a missão do Rei do Céu, mas também que defendesse uma pessoa que nem conhecemos de um homem perigoso do mundo humano? - Arisu não acreditava nas palavras que acabou de dizer. Tudo parecia absurdo demais.
- Sim. - Kazami deixou escapar uma risada anasalada pela reação incrédula do demônio elemental. - Mas tudo teve um bom motivo, Arisu.
- Você… - Arisu engoliu em seco. -...ficou preso no cassino do Jeffrey porque ele tem ligação com coisas não-humanas, não é…?
Kazami abaixou o olhar mas não deixou sumir seu sorriso.
- Ele tinha dois demônios sobre seu domínio, não sei de que categoria eles eram, mas ele os tratava como se fossem dois animais de estimação. Um deles tinha o poder de criar ilusões visuais e táteis e o outro conseguia vasculhar memórias. - Kazami suspirou. - Acredito que meu disfarce enquanto estava infiltrado lá tenha sido descoberto bem rápido… Em um determinado momento eu senti como se estivesse preso em um labirinto interminável. Dei voltas e voltas pelo que pareciam ser algumas horas. Vez ou outra sentia dores no corpo ou sensações estranhas, mas era como se eu estivesse sozinho.
A mão do demônio elemental escorregou até o próprio coração. O aperto no peito se fez presente de todas as formas.
- Achei que…-Kazami continuou. - …não conseguiria voltar, até que em um determinado momento, eu consegui quebrar a ilusão em que estava preso me jogando contra o que eu achei que seria uma porta trancada. O impacto fez eu cair da cadeira onde eu estava amarrado e, por algum motivo, eu estava sozinho e preso em uma espécie de sala de interrogatório. - Ele se virou para Arisu, o encarando. - Mas não foi em vão. Quando saí do cassino, passei por uma sala que tinham algumas informações. Talvez o escritório de Jeffrey.
- Você descobriu a ligação que Jeffrey tem com o representante da morte a ponto de ser uma ameaça para ele? - Arisu perguntou. Sua expressão voltou a transparecer leve angústia pelo que Kazami passou.
- Sim. Aparentemente Jeffrey Davies trabalha como informante para uma espécie de organização secreta. Meu palpite é que o filho mais velho seja membro desta organização… - Kazami desviou o olhar. A expressão mudando para uma profunda frustração. - Mas só encontrei isso e não sei o tanto de informações que conseguiram obter vasculhando minha memória…
Arisu levou uma das mãos até o rosto de Kazami, o acariciando gentilmente. A mão quente e acolhedora.
- Você deu o seu melhor. - Arisu disse, em um tom terno e reconfortante.
Kazami sorriu pondo sua mão sobre a do demônio.
- Só sei que a última coisa que vi antes de sair dali foram duas passagens para Ottawa, no Canadá, e o sobrenome “Larck” em um bloco de anotações largado em uma das mesas por lá.
- Ottawa? - Arisu ergueu um pouco a cabeça. - Isso significa que Jeffrey vem para o Canadá?
- É, me parece que ele chegaria na noite do dia 04 de Março, mas…- Kazami franziu as sobrancelhas. - …Como assim “vem para o Canadá”? Onde estamos?
Arisu apoiou o corpo nos cotovelos e encarou Kazami em completa surpresa.
- Quando te encontrei eu pedi ajuda para Samyaza. Queria ir para um lugar que fosse seguro… Ele nos trouxe para Ottawa.
- O que?! - Kazami se sentou em um pulo. - Quanto tempo eu dormi?!
- Uns dois dias, eu acho. - Arisu se sentou calmamente em seguida.
- A ideia era achar o filho mais velho antes de Jeffrey… - Kazami passou uma das mãos sobre a testa novamente. A expressão sendo tomada pela ansiedade. - …Como vamos encontrá-lo em dois dias?
- O filho mais velho do Rei do Céu tem poderes celestiais como todos os outros oito irmãos. - Arisu se aproximou o suficiente para pegar uma das mãos do asiático e entrelaçar os dedos nos seus. - Contanto que estejamos em um local a céu aberto, saberemos quando ele usar os poderes dele.
- Mas, se ele não usar…? - Kazami virou-se na direção de Arisu. A cabeça encostando no ombro do ruivo.
- Ele vai usar. Um não-humano não consegue ficar muito tempo sem usar os poderes. Nem que seja por puro instinto.
- Bom, pelo menos isso me acalma um pouco… - Kazami respirou fundo, tentando afastar a nuvem de estresse que pairava sobre sua cabeça. - Espero que consigamos encontrá-lo antes de Jeffrey, mas…
Arisu o olhou com o canto dos olhos, esperando o fim do suspense em sua última fala.
A mão esquerda do de olhos vermelhos deslizou sobre o ombro do demônio elemental, o empurrando gentilmente para que se deitasse.
Kazami passou uma perna por cima do corpo de Arisu e, rapidamente, seu corpo estava por cima do ruivo.
- …será que vai dar tempo de–
Ele foi interrompido.
- Hoje é dia 02 de Março. Jeffrey chega daqui a dois dias. - Arisu manteve-se firme, mesmo que seu corpo e seu coração estivessem gritando para que ficassem ali e avançassem com o que queriam tanto fazer. - É importante para você salvar o mundo…- O demônio, novamente, acariciou o rosto do humano que tanto amava. - Teremos tempo para fazer isso depois. Eu prometo.
As bochechas de Kazami esquentaram não só pelo toque de Arisu, mas pelo rubor que tomara conta.
- Você…- Kazami riu da própria derrota e se jogou para o lado, deitando na cama. - …realmente é meu coração.
- Pare de falar essas coisas e transforme logo alguma coisa em um cavalo para começarmos a procurar…
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