– Mais cedo naquele dia –
“Vamos testar essa receita hoje, Umbra,” Addai pegou um caderno antigo da gaveta mais próxima e folheou algumas páginas. “Tá bem rabiscado, mas dá pro gasto. Umbra, pegue a manteiga, por favor.”
Umbra transformou-se na forma de sombras e rapidamente pegou a manteiga em temperatura ambiente ao lado do suporte de utensílios de cozinha. Enquanto isso, seu dono já havia porcionado a farinha, o açúcar refinado e o açúcar mascavo em duas tigelas grandes.
“Muito obrigado, Umbra,” Addai sorriu e pegou o pote de manteiga de Umbra, que havia voltado à sua forma usual.
“Miau!” a gata miou alegremente e ficou ao lado do caderninho de receitas velho.
Depois de bater a manteiga até ficar homogênea. Addai acrescentou os açúcares e bateu a mistura com o batedor até cansar os braços, já que a receita proibia qualquer uso de magia como uma ajudinha amiga. Quando a massa finalmente ficou homogênea e bonita, Addai as distribuiu em outras tigelas e pegou o caderninho novamente.
“Com tudo isso de massa, podemos testar os sabores que queríamos, olha Umbra,” Addai mostrou a porção de massa para Umbra, que tentou roubar um pedaço, mas seu dono foi mais rápido que a abocanhada sem vergonha que ela deu.
“Miau,” Umbra protestou após morder o nada.
“Os seus estão separados! Te dou biscoito o suficiente e seu veterinário te proibiu de comer doce, lembra?” Addai cruzou os braços, ergueu a sobrancelha e fitou sua gata, que evitou contato visual. “Lembra que ele deu um belo de um sabão na gente?”
“... Miau miau.”
“Então não cobice minha comida que eu já estou fazendo a sua,” Addai acariciou as orelhas de Umbra, que ronronou.
Addai, então, escolheu alguns dos sabores rabiscados no caderninho e testou-os um a um. Desde as duas tentativas desastrosas de fazer um caramelo salgado até a tentativa bem-sucedida de adicionar o granulado e incorporar o chocolate amargo à massa, Addai suou a camisa para moldar todos os biscoitos e ter certeza de que eles não iriam grudar uns nos outros. Os biscoitos de Umbra foram também separados e moldados em figuras de patinhas e peixinho, dos quais Umbra ficou muito satisfeita.
Apesar de Addai ter suado tanto para fazer os biscoitos, ele se deparou com um grande problema: era muita massa!
“... é demais até pra mim...” Addai murmurou, vendo quanto de massa que ele tinha feito e modelado na bancada. “Hm... e agora, Umbra?”
Antes que Umbra pudesse oferecer-se para comer os futuros biscoitos, uma imagem de um certo alguém passou pela sua mente e como essa pessoa se iluminou depois de comer uma sobremesa.
“...” ele corou levemente.
Umbra se aproximou e, fazendo cócegas em seu dono com os bigodes, fitou-o com um sorriso no rosto.
“...?” Addai piscou algumas vezes, encarando a gata de volta. “Por que você tá me encarando com essa cara feia?”
“Miau miau~”
“Que cara feia é essa?” Addai tocou na ponta do nariz de Umbra. “É, você tá certa... eu deveria dar um pouco pra ele...” e ele sentiu suas bochechas corarem mais, bem como o sorriso esquisito de Umbra aparecer novamente.
“Miau... miau~”
“Pare de sorrir desse jeito estranho!”
Umbra não parou de sorrir até que Addai encheu as mãos de água para jogar nela.
Quando os biscoitos terminaram de assar, Addai esperou que esfriassem e pegou uma sacola de papel que encontrou entre as muitas coisas em seu escritório. Ele também pegou várias sacolinhas de plástico menores e começou a colocar cada biscoito em uma sacolinha, separando-os e amarrando com um laço azulado e arroxeado.
Terminando de fechar todos as sacolinhas plásticas, colocou-as cuidadosamente dentro da sacola de papel, tomando cuidado para que não esfarelassem ou fossem esmagados no meio do processo. Umbra o observava atentamente – e esperando que algum farelo caísse no processo.
Addai pegou seu celular e suspirou, depois de um longo tempo criando coragem enquanto o relógio corria como sempre.
“/Mine, onde cê vai tá hoje? Eu tenho uma coisa pra você. Não é muito, e são sobras, então não fique muito animado/”
Uma hora se passou, mas nada de resposta.
“/*emoji irritado*/”
Mais uma hora se passou, e nada de resposta.
“/É comida, responde logo antes que estrague/”
Mais um tempo passou... e nada de resposta.
Addai colocou o celular em seus bolsos, calçou seu chinelo e pegou as chaves de casa.
“Umbra, rastreie-o. Vou entregar essa bagaça logo e não ligo se ele estiver ocupado,” resmungou, pegando cuidadosamente a sacola de papel. “Ite eum invenient,” ele ordenou e Umbra se transformou em uma matéria de sombras, desaparecendo no ar enquanto Addai seguia o seu rastreamento.
“Merda... esqueci que hoje tinha vestibular,” Addai murmurou para si mesmo enquanto caminhava nas sombras, camuflado e com Umbra o guiando. “Umbra, ele tá aqui mesmo?”
“Miau!” Umbra se materializou como gata novamente e continuava seguindo um certo caminho.
Addai sequer prestou atenção ao seu redor já que não o interessava de qualquer maneira. Apenas o calor era capaz de fazê-lo notar seus arredores, mas fora isso... ele só queria achar Mine e ir embora para casa novamente. Era seu dia de folga, afinal.
Quando Umbra finalmente parou de andar, ele também o fez. A gata fitava alguém no horizonte, próximo à arena de treinamento. Sim, o mesmo garoto de cabelos verde acinzentados com um sorriso alegre no rosto... mas que estava acompanhado de uma outra pessoa.
“...” Addai fitou a pessoa de cabelos vermelho-fogo. “Quem é aquele?” ele se perguntou.
Bom, quem quer que fosse, Mine estava muito à vontade e Addai nunca o tinha visto tão à vontade com alguém antes. Ele estava descontraído e parecia leve e estava se divertindo. Claro que Addai já o viu sorrindo outras vezes, mas... algumas vezes parecia que ele só sorria porque era necessário e outras vezes Mine tentava, nervosamente, esconder algo por detrás do sorriso.
De alguma forma, vê-lo daquele jeito todo alegre... parecia um pecado estragar aquele sorriso com a sua presença, e ah... como isso doía.
“Não sou nada mais do que um incômodo para ele...” Addai murmurou para si, olhando para a sacola de papel.
Sua presença certamente transformaria aquele sorriso doce em palavras sombrias e amargas. Ele não queria ser um incômodo e estragar a felicidade da outra pessoa que estava com Mine, muito menos ser um estranho aleatório que estragasse seu tempo de qualidade.
Addai suspirou e virou os pés a direção contrária à de Mine. Umbra o fitou, confusa e sentou-se.
“Vamos, Umbra. Vou comê-los em casa,” Addai chamou sua gata.
...
“Umbra?”
Addai virou-se e... onde estava Umbra?!
O garoto de cabelos vermelho-fogo já tinha entrado na arena e Addai percebeu que suas mãos pareciam leves demais e... onde estava a sacola de papel?!! Ele rapidamente olhou para Mine sentado no banco e... Umbra estava indo em sua direção com a sacola na boca!!
“UMBRA!!” Addai exasperou, chamando-a num só grito que só eles ouviram por estarem nas sombras. “V-Volte aqui!!” e suas bochechas coraram descontroladamente.
Ah... ele tinha que correr.
Um chinelo voando e outro ficando, Addai correu em direção à sua gata que tranquilamente interagia com Mine.
Quando ele agarrou a sua gata, ela quase fez picadinho de seus braços e o arranhou todinho. O golpe (injusto) de sua gata foi o suficiente para que ele escorregasse em manter-se nas sombras e...
“!!” Mine suspirou, fitando Addai, que estava bem visível.
Bom, a tentativa de ser discreto... falhou miseravelmente.
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