Acabei descendo pelo elevador junto do homem com cheiro de cigarro, empesteando todo o lugar por onde vai, deixando um rastro com este odor irritante.
As portas do elevador abriram, havíamos chegado na recepção depois de longos segundos de silêncio.
- Ah, Lúcifer–
Aki cortou suas palavras pela metade ao direcionar os olhos para Jeffrey. Sua expressão tornou-se sombria, mais do que o comum. O japonês logo ajeitou a postura, como que para demonstrar quem era o mais forte ali.
Quando dei o primeiro passo para fora do elevador, vi que Noah não estava mais ali. É provável que tenha ido resolver algo em relação a localização de Bolt.
Já a Frost estava presente, um pouco atrás de Aki. A expressão da mulher fria tornou-se ainda mais pálida ao ver Jeffrey. Ali, todos nós tínhamos motivo para odiá-lo.
Apesar de toda a tensão, quem avançou mais rápido e me puxou pelo braço foi Frost, quase como se quisesse me proteger, colocando-me junto a ela atrás de Aki.
- O que ele está fazendo aqui, Lúcifer? - Aki perguntou, sua voz demonstrava claramente sua irritação.
Quando iria abrir minha boca para falar, Jeffrey disse na frente.
- Parece que vocês serão os primeiros a saberem. - Jeffrey sorriu novamente, quase como se sentisse que havia tomado o controle da situação de novo. - Lúcifer fez de mim o mais novo membro da Divisão Cervo há poucos minutos atrás.
- O que? - Frost disse em um suspiro, olhando para mim de forma angustiada.
- Lúcifer, isso é verdade? - Aki não se virou para me encarar enquanto pedia por uma resposta. Seus olhos não saíam de cima de Jeffrey.
- É verdade. - Eu confirmei, mesmo sem ter caído a ficha ainda. Engoli em seco em seguida. - Ele irá buscar uns pertences e, à noite, vai se instalar na cidadela.
Jeffrey deixou escapar uma risada debochada enquanto avançava. Seus passos pararam quando estava rente à Aki.
- Seria interessante se nós nos déssemos bem, não acha? - A frase foi dita baixa, como se Jeffrey estivesse contando um segredo. Apesar disso, eu e Frost conseguimos ouvir. - Não queremos que eu te humilhe para mostrar quem é mais forte aqui, concorda?
Aki virou-se bruscamente na direção do homem com cheiro de cigarro. Pude ver seu punho se fechando. Ele iria começar uma briga se não fosse interrompido pela presença de uma quinta pessoa.
- Ah, Lu! - Daiyu apareceu, afinal, seu lugar é atrás do balcão da recepção. Ela veio das escadas e estava com alguns papéis em suas mãos. - Parece que você já conseguiu falar com o senhor Davies.
- Daiyu? - Eu franzi as sobrancelhas. Ainda não havia conseguido deduzir a situação, então olhei de canto na direção de Jeffrey.
- Claro. - Ele sorriu, colocando uma das mãos no ombro da secretária, que sorriu de forma tímida. - Eu avisei à sua secretária que tínhamos uma reunião então ela me deixou esperar no seu escritório.
Claro. Uma secretária inocente e facilmente influenciável certamente seria um problema em algum momento.
- De qualquer forma, fico feliz que nossa negociação tenha sido um sucesso. - Jeffrey sorriu e acenou em minha direção, se dirigindo até a porta. - Até mais, borboletinha.
Nós quatro restantes acompanhamos o homem ruim ir embora e desaparecer após cruzar a porta. Ainda permaneci um tempo estático ao lado de Frost, encarando a entrada do prédio, mas ouvi a voz de Aki gritando.
- Como pode ser tão imbecil?! Ou será que você se esforça para isso?! - Sua voz saía em um rugido.
Vi com a visão periférica Frost olhando a cena, se assustando brevemente, mas logo seu olhar voltou-se a mim. Ela ainda não havia me soltado.
- O-O que eu fiz de errado…? - A voz de Daiyu falhou, assustada. Mesmo sem vê-la diretamente, sei que estava encolhendo-se com a repreensão.
- Lúcifer já te falou milhões de vezes sobre a índole deste homem e você o deixou entrar sem nenhum problema! Robbie já te disse! Eu já te disse! Todos nós! - Um golpe foi ouvido sobre uma das pilastras próximas. O estrondo ecoou pelo salão inteiro num eco que parecia o início do fim do mundo.
O som me puxou um pouco para retornar a realidade. Eu movi meu olhar levemente e vi a estátua do cervo coroado. A prova concreta de que aquela era minha divisão. Minha casa.
- Mas ele me disse que tinha uma reunião com– Daiyu foi interrompida por mais um rugido.
- Foda-se o que ele te falou, mulher! A porra do presidente pode aparecer aqui e dizer que tem uma reunião com ele mas a pessoa com quem você deve confirmar esta informação é o Lúcifer, e não o arrombado que quer falar com ele!
Outro golpe ia ser disparado aleatoriamente para descontar a raiva mas, para evitar qualquer destruição além daquela pilastra, eu o impedi antes de acertar o soco.
- Aki, pare, por favor. - Eu disse, finalmente firmando o olhar na situação.
O mais alto fechou o punho com tamanha força que chegou a tremer, mas recolheu-o antes de concluir o golpe. Ele estalou a língua em seguida e desviou o olhar ainda não satisfeito em descontar a raiva em Daiyu.
- Lu, me desculpe… - Daiyu virou-se em minha direção e abaixou a cabeça, culpada. - …Sei que me avisaram mas, mesmo assim, tive medo que negar a reunião com Jeffrey fosse atrapalhá-lo…
- Não se preocupe com isso. Já aconteceu. - Eu suspirei, sinceramente cansado. - Mas, na próxima vez, por favor, fale comigo antes de deixar alguém fora da divisão entrar.
A de óculos concordou levemente, retirando-se para sua mesa como um cachorro ferido.
- Aki. - Eu o chamei, virando-me para o maior que ainda resmungava algumas coisas, de braços cruzados, encarando o chão. - Seria bom não resolver as coisas gritando com os nossos membros mas sei que essa parte é difícil para você, então só não quebre mais as coisas.
O mais alto estalou a língua.
- Foi mal… - A voz ainda saiu raivosa, mas mais calma agora.
- Céu Azul. - Frost colocou-se na minha frente, segurando ambos os meus braços com as mãos finas e frias. Seu olhar dizia o quanto estava preocupada e isso não me surpreende.
Frost foi a única que viu Jeffrey me afetando, mesmo que apenas uma vez. E isso foi o suficiente para se preocupar sempre que o assunto é ele.
- Está tudo bem, Frost. - Eu sorri. Dessa vez, realmente estava tudo bem. O pior já havia passado.
- Aliás, conseguiu encontrar? - Aki se aproximou, ainda irritadiço e de braços cruzados.
- Sim. - Eu ergui o arquivo parcialmente amassado. - Vanessa me enviou já faz um tempo. Parece que é um caso relacionado a um demônio bestial.
- Uuh, como o senhor Alister? - Disse Frost, inclinando levemente a cabeça para poder olhar melhor. Os olhos demonstrando uma curiosidade crescente.
- Na verdade, para Vanessa ter se interessado, o demônio bestial deve ser… -Eu puxei alguns papéis de dentro do arquivo e passei meus olhos rapidamente pelo conteúdo. - …Um lobo.
De repente, após ler aquilo, tive um mau pressentimento.
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