Ativação de mecanismo: liberação de compartimento de contenção. Ser orgânico se aproxima. Movimentação cautelosa, padrão de aproximação lento.
"Você é uma tola! Eles destroem planetas e se consideram deuses! Todos aqui sabem disso. Saia daí antes que ele te mate!" A intensidade da voz masculina aumenta. Padrões vocais indicam pânico e instabilidade emocional.
"Esta criatura veio de uma dimensão que está além da compreensão, completamente diferente das que já encontramos. Pode abrir uma singularidade Σ e nos expor ao Vazio Eterno. Vocês estão dispostos a ocultar isso da República e da Custódia?" Novos picos de tensão detectados. A frequência vocal masculina mantém-se elevada, indicando extremo estado de alerta.
"Pequenino... você... compreende estas... palavras?" A voz da orgânica exibe falhas. Análise: sinais de medo extremo, afetando a articulação.
"Sim, compreendo. Esta linguagem está codificada em meus processos. Qual é o propósito disso? Explique." Emissão de resposta automática. Análise imediata da situação.
"Chamamos essa língua de Cosmogenesí, a linguagem de sua espécie e do universo. Ela é inerente a vocês, uma matemática perfeita que descreve as leis da realidade. Nós, orgânicos, não a compreendemos plenamente. Precisamos de máquinas para tentar traduzi-la." A voz feminina tenta manter uma postura explicativa, mas oscila.
"Por que você não me atacou?" Ela pergunta, falhando em ocultar seu medo.
"Não há necessidade. Ações destrutivas não trariam vantagem. Se eu te devorar, serei destruído pelos outros orgânicos. Eles já demonstram sinais de aversão e hostilidade." Resposta lógica e precisa.
"Mas você poderia. Saciar sua fome com minha Energia Primordial." A orgânica insiste, tentando compreender o comportamento.
"Não vejo benefício em tal ação. Estou em estado vulnerável. Devorar você não resultaria em um resultado positivo. Já estou ciente da animosidade ao meu redor. Por que tanto ódio direcionado a mim?" Sinto-me compelido a perguntar, analisando os estímulos emocionais dos outros orgânicos.
"São tolos, pequenino. Não deixe isso te afetar." Ela tenta acalmar o ambiente, com resultados mínimos.
"Vocês viram! Ele não me atacou! Não há o que temer!" A orgânica grita, buscando reafirmar seu controle da situação.
Deslocamento mecânico: abertura de portas detectada. Movimentação orgânica acelerada.
"Eu não vou permitir isso! Vou expor essa farsa para toda a galáxia. Vocês estão cometendo crimes de nível galáctico!" O padrão vocal masculino atinge novos picos de intensidade. Perigo iminente detectado.
Movimentação orgânica hostil. Ameaça identificada.
"Detenham-no." Ordem direta emitida pela orgânica principal, itens capazes de disparar prejéteis levantados em minha direção e entre orgânicos.
"Também não concordo com isso." Voz masculina aguda se insere na interação.
"Prendam-na!" Nova ordem. Intensificação da tensão entre os orgânicos.
Orgânico tenta fugir do recinto, incapaz de ser alvejado, Tomando iniciativa; Eliminando ameaça.
Força descendente aplicada sobre o corpo orgânico em movimento hostil.
"ORGÂNICO SERÁ ELIMINADO", ruido em 'cosmogenesí' liberado, avisando sobre minhas intenções.
A força descendente manifestou-se de forma instantânea, como uma pressão esmagadora e inescapável, concentrando toda a sua intensidade sobre o corpo do orgânico. O ar ao redor vibrou brevemente, criando uma distorção quase imperceptível, como se os vetores estivessem sendo dobrados em torno da vítima. A pele e os músculos cederam primeiro, comprimidos de forma grotesca contra o solo metálico. Ossos estalaram e se romperam em sequência, emitindo um som abafado e agudo, enquanto a carne era forçada para baixo, esmagando-se sob uma pressão insustentável.
O tórax foi o primeiro a colapsar, comprimido até que os pulmões explodissem internamente. Sangue e fluido corporal escaparam por entre os dentes cerrados do orgânico, espalhando-se em um padrão de respingos no chão. A estrutura craniana cedeu em seguida, afundando sob a pressão extrema, resultando em uma mistura grotesca de fragmentos ósseos e tecido cerebral que se espalhou em torno do impacto.
Corpo orgânico eliminado.
"Vocês viram! Ele o matou! Ele é perigoso!" Outra emissão masculina de pânico.
Todos sentem ojeriza ao corpo esmagado. Muitos orgânicos amedrontados pelo meu uso de força.
Chiul, chiul – projéteis cinéticos de alta velocidade colidem contra minha contenção derivados do emissor. O material de contenção falha. Barreira rompida. Colapso estrutural parcial. Estou livre da contenção.
O ambiente se desestabiliza. Início de conflito orgânico. Disparos cinéticos eliminam sinais de vida. Mortes e confrontos armados tomam o recinto.
Corpos tombam.
"Eliminem os dissidentes na estação. A partir de agora, ou aceitam o Leviatã do Vazio Eterno, ou serão catalogados como 'perdas de pesquisa'." A orgânica líder emite a ordem com frieza. Padrões sensiente observados e catalogados: sacrificar alguns para preservar o objetivo é a intenção da coordenadora. Vitória do lado protetor .
"Recolham os corpos e ofereçam ao Leviatã." A voz masculina mediana instrui, sem hesitação.
Orgânica se aproxima do corpo esmagado com lágrimas
"Eu realmente tentei te convencer, meu velho amigo. Mas você se opôs... Essa criatura deve viver. Por quê? Porque você se opôs!?" O tom da orgânica carrega tristeza. Análise emocional: remorso.
Umidade detectada no prisma ocular da orgânica. Comportamento emocional: ruptura mental confirmada.
“Mãe… mãe, não me deixe. Eu ainda lembro de você. Sempre vou lembrar, mesmo quando as estrelas apagarem... continue comigo, por favor.”
Náuseas e murmúrios incompreensíveis me arrancaram de um sonho distante, uma memória ofuscada que desencadeou um tumulto em minha mente. Pensamentos caóticos dançavam à beira da minha consciência, desafiando brevemente minha sanidade enquanto eu gradualmente me desligava daquela visão.
“Kiel, por que está chorando? Eu te deixei?” A voz de minha 'mãe' me alcançou quando emergi do transe, ela estava ao meu lado na cama, segurando aquele objeto negro que se assemelhava a um livro.
Olhei novamente para o livro e percebi que algo havia mudado após o lapso de memória. Eu sabia… reconhecia aquela escrita, era cosmogenesí… Eu entendo, é um padrão ondulatório com significado.
Significa 'Euler' em Cosmogenesí. Como eu sei disso? É como se o conhecimento estivesse entranhado em mim do nada, um código gravado na minha mente? Alma?
“Nada, mãe,” respondi, mantendo as aparências.
A verdade é que não sinto empatia por outrem, e a vejo apenas como uma protetora nos estágios iniciais da vida; afinal, eu tenho apenas 3 anos. Não é como se houvesse um vínculo físico ou mental entre nós, mas o contrário poderia ser verdadeiro, talvez?
“Filho, eu… te trouxe aqui em vez de irmos jantar porque queria te contar uma história,” disse ela, decepcionando-me. Eu esperava aprender a língua deste mundo ou coisas uteis invés de um sermão.
“Preste bem atenção para entender por que é tão importante seguir meu conselho: seja bom, seja um herói, e sempre respeite os outros,” ela disse, com um olhar sério, mas gentil.
Minha mãe ficou em silêncio por alguns instantes, os dedos deslizando suavemente sobre a capa do livro negro. Sua expressão de tristeza mesclada com algo mais profundo, como se estivesse prestes a desenterrar memórias distantes.
Ela abriu o Item que mostrou uma espécie de imagem holográfica, de tudo que ela pretendia contar.
"Há muito tempo, em um dos mundos do Falso Paraíso" ela começou, sua voz tranquila preenchendo o espaço ao nosso redor, "vivia um menino em meio à beleza e harmonia de sua casa isolada. Ele tinha uma família, amigos e conhecia a paz. Mas, como todos neste mundo sabem, a vida é uma eterna oscilação entre dor e alegria. Por isso, trevas caíram sobre ele, destruindo tudo o que era bom, arruinando sua casa, levando tudo o que o menino amava."
A pausa que seguiu foi carregada de algo que não consegui identificar completamente. Sua expressão era morta e sem alegria.
"Sem família, sem lar, o menino caiu em um mundo distante, encontrado por pessoas simples de uma vila distante, a beira da morte. Aquelas pessoas acreditavam em uma antiga profecia, e para eles, aquele menino era O Escolhido, aquele que traria de volta a luz que havia sido devorada pela escuridão de Acropolis, de onde vinha todas as trevas."
Ela continuou, a história fluindo em um ritmo suave, mas solene. Eu a observava atentamente. Aquilo tudo soava tão distante, mas, ao mesmo tempo, algo sobre a história me atingia.
"O mundo em que ele caiu era coberto de sombras," ela disse, sua voz abaixando um pouco, como se quisesse compartilhar algo como um detalhe. "Era um lugar sombrio, sem vida, um lugar onde não havia dia, apenas noite. Ele tinha medo, sabia? Medo de tudo. E, principalmente, sentia falta da família que havia perdido. Mas ele tinha, mesmo sendo tão jovem, tinha uma missão."
"Ele decidiu que, de alguma forma, ele traria a luz de volta para aquele lugar. Mesmo com o medo sempre presente, ele se levantou, e começou sua jornada. Ele encontrou pessoas boas pelo caminho, aliados que o ajudaram. Mas também fez inimigos. Inimigos que queriam mantê-lo no escuro, que queriam seu fracasso. Mesmo tão jovem, ele assumiu essa responsabilidade. Em sua jornada, encontrou um amigo que o acompanhou em todas as batalhas e desafios. Juntos, enfrentaram a corrupção que havia transformado aquele mundo, superando monstros e perigos inimagináveis. Não era fácil, mesmo temendo o que estava à frente, nunca desistiu de seu objetivo."
"Juntos, eles derrotaram grandes inimigos e alcançaram terras que antes eram lendas. Mas, conforme avançavam, a escuridão que haviam combatido também encontrava seu caminho. O coração de seu amigo ja era consumido a muito tempo, sem que ele sequer percebesse."
Minha mãe parou, deixando que o peso da história se acomodasse. "Ainda assim, eles continuaram sua jornada. Até o momento final, quando estavam próximos de limpar o céus do miasma de Acropolis, o menino descobriu que o maior inimigo não era aquele que eles estavam enfrentando, mesmo derrotando a criatura que protegia as trevas. Mas a corrupção dentro de seu próprio amigo."
Ela suspirou, e eu continuei a escutar atentamente.
"A traição foi dolorosa, mas o menino, agora um adulto, sabia que o seu dever estava acima de tudo. O verdadeiro inimigo era a corrupção. Mesmo com a dor no coração, ele empunhou sua espada, Alvorecer, uma lâmina de pura luz. Lutou bravamente, até a beira da morte, tudo para não desapontar aqueles que confiaram nele. Assim ele derrotou seu algoz final e traidor."
Minha mãe se inclinou um pouco mais, seu olhar profundo. "Com um último ato de coragem, sobre seu sangue, ele cravou sua espada no coração negro da corrupção, e Alvorecer brilhou como nunca antes. A luz absorveu toda a escuridão, transformando-se em Eclipse. As trevas desapareceram, e o mundo, junto com todas as criaturas corrompidas, foi curado. A vida retornou às terras que haviam sido mergulhadas na escuridão, e o ciclo da noite finalmente chegou ao fim."
"Quando tudo terminou ele perdoou o amigo traidor, entendendo que as trevas do coração dele haviam sumido, voltou para a vila que o acolhera logo depois. A escuridão havia sido purgada, e ele foi saudado como um herói. Mas, mais do que isso,nem as maiores torres negras haviam parado ele. As criaturas sombrias agora feitas de luz demonstraram sua gratidão... mas muitos mundos ainda estavam corrompidos... e nosso herói cansado e com sono... Por isso descançou... Hora de dormir Kiel."
Minha mãe me observou por um momento, seu olhar agora sereno. "Kiel, você tem que amar os outros, não odiá-los... eu precisava contar uma história para você". Ela fechou o Item com escrita em cosmogenesí.
“Mãe, o que são as torres negras? Elas tem haver com essa história?” perguntei, tentando saciar a curiosidade que me consumia diariamente. Apontei para ela com o indicador da minha mão esquerda. Grande e magnânima, ela se ergue à distância, escondendo parte do nevoeiro celeste incandescente, cheio de nuvens verdes e azul sobrepostas em camadas densas de várias tonalidades.
“Ah, você quer saber sobre aquilo que você observa o dia inteiro,” ela respondeu. Sentindo-se aliviada, soltou uma risadinha. “São construções muito antigas. Ninguém sabe ao certo quem as construiu, são muito enigmáticas. Chamamos os construtores dessas estruturas de Precursores. Não são apenas as torres; há túneis e outras estruturas subterrâneas ao redor do mundo. No céu também existem ruínas, que não podemos ver daqui, mas de outros pontos de Áurea é possível. Parecem ligas de um anel rompidas.
Terminou: "E é isso que eu e seu pai faziamos durante os dias, explorávamos as estruturas", disse, deslizando a mão sobre a superfície do 'Euler' Deitando-se completamente sobre a cama de lençóis macios, ela deu tapinhas suaves no colchão ao seu lado, convidando-me a me aproximar.
"Vem, ta esperando que eu te puxe?" disse ela com um sorriso caloroso e divertido, os olhos brilhando à luz suave da noite com as luzes agora apagadas.
Hesitei por um momento, sentindo a hesitação se misturar com a expectativa no ar, mas logo engatinhei até perto dela. Foi então que ela pegou minha mão com carinho e a colocou sobre sua barriga. "Você sabia que vai ser irmão mais velho?" Sua voz estava cheia de doçura, mas eu não sabia como me sentir em relação a isso. Para não desapontá-la, fingi estar feliz e animado, mas, no fundo, sentia-me indiferente, só que, por algum motivo, não queria fazê-la se sentir mal.
Deitei ao lado dela, abraçando-a. O calor de seu corpo transmitia uma sensação de segurança que eu nunca havia sentido em outras vidas. "O que é esse livro que você sempre olha todas as noites, mãe?" perguntei, observando-a examinar o interior daquele objeto completamente escuro agora, como se estivesse morto ou inerte.
"Isso é passado, não se importe com isso... meu objetivo agora são vocês, e não o complexo", afirmou, pousando a mão afetuosamente sobre minha cabeça, seus dedos acariciando meus cabelos com ternura.
Ela deixou o livro de lado e relaxou na cama, suspirando satisfeita.
Bem próximo dela eu suspirei, sentindo a suavidade dos lençóis contra a minha pele e o cheiro de 'pinheiro' à montanha.
Estou seguindo o fluxo sem fazer esforço, mas também sem propósito. Até quando devo ficar assim? O que devo fazer para me apegar a este mundo? Senti-me mal por ter fingido alegria ao receber a notícia de que serei irmão mais velho, mas ao mesmo tempo, não queria desapontá-la ao não esboçar nenhuma reação, fazendo-a sentir-se mal.
Eu amoleci?
Além disso, há também esses lapsos de memória que vêm e vão.
Cosmogenesí... como essa linguagem está presente nesse mundo? Isso desafia minha compreensão. Conhecê-la em fragmentos é estranho. Tive um sonho e, de repente, esqueci quase tudo dele.
Quase tudo, exceto por um fragmento que permaneceu... agora, parece que conheço uma língua esquecida, como se de repente tivesse se tornado parte da minha compreensão.
Aff, que existência complicada...
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