"Pega, Kiel, você tem que aprender a usar uma espada! E melhorar seu condicionamento físico para ficar forte como eu!" Aidan, meu ‘pai’, gritou com entusiasmo, jogando-me um bastão de madeira. Seus olhos brilhavam com um orgulho infantil, como se, naquele momento, ele fosse o homem mais realizado do universo.
- Alguem moldando um herói, aquele que seria tão importante que, esse homem, daria a vida própria se necessário. O motivo? Amor fraterno, que vai além do que posso compreender e, a revelia disso, confiança numa esperança de futuro.
Olhei para ele, sentindo um estranho misto de fascínio e incredulidade. A força de seus sentimentos era quase palpável e estranha para mim. Eu podia ver além de sua animação superficial. Para ele, aquele era apenas mais um momento de aprendizado entre pai e filho, mas para mim... um jogo desnecessário por questões que ele jamais poderia compreender. Não agora.
Enquanto eu observava o bastão de madeira girar no ar, meus pensamentos se afastaram, capturando a vastidão do céu acima. As nuvens, movendo-se preguiçosamente, pareciam estar em uma sonolência profundamente relativa a calma ambiental, que eu conhecia muito bem de outras existências, na minoria delas. O vento da montanha cortava minha pele como uma lembrança vívida de tempos que nem mesmo este corpo mortal me pertencia. Minhas narinas se encheram com o perfume das coníferas ao redor, uma fragrância tranquila e que deixam calmo apesar de tudo.
Senti o bastão tocar minhas mãos pequenas, e por um momento hesitei, absorvendo a textura da madeira áspera e rudimentar. A negação à tarefa imposta por Aidan se manifestava em minha mente, mas não era o tipo de recusa infantil que ele talvez esperasse.
Uma relutância mais profunda, um eco das eras que vivi antes de me encontrar nesta forma frágil e infantil. Meu corpo, tão pequeno e vulnerável, parecia fora de lugar em um campo de batalha, mesmo que esse fosse meramente uma brincadeira entre pai e filho. É como se a agonia de lutar pela vida estivesse me cutucando.
Mas algo dentro de mim se agitou — uma curiosidade. Talvez não fosse tão ruim entreter a ideia, brincar com essa tentativa ingênua de me ensinar algo que eu já havia visto antes e no processo não sentir o peso do tempo.
"Vou te mostrar do que sou capaz, papai," declarei, permitindo que um sorriso travesso se formasse em meus lábios, mas em meu interior havia algo mais — uma leve ironia. Eu conhecia a arte da guerra, mesmo que ele não pudesse imaginar.
Olhei ao redor, absorvendo o terreno. Estávamos perto do rio, onde o solo irregular criava pequenas ondulações traiçoeiras. O som da água correndo ao fundo era quase uma canção para mim, uma sinfonia de tempos imemoriais. Minha mãe dormia tranquilamente na grama distante, alheia à cena. Eu podia sentir o calor suave de Zenite, o sol, banhando tudo em uma luz azulada, quase como uma fonte de... luz, estrela, uma das quatro, mas, aqui? Esqueça...
Aidan, por outro lado, se preparava com uma seriedade exagerada, erguendo sua espada de madeira com uma postura que ele achava perfeita. Ele riu, sua voz ecoando contra o ar. "Segure como eu, filho," disse ele, demonstrando com exagero, seu cabelo loiro dançando ao vento. Parecia um gigante para mim, pelo tamanho.
A visão dele ali, tão envolvido no jogo, me lembrou de algo. Não era a necessidade de vencer, mas a lembrança de tempos passados, de batalhas reais, onde uma vitória ou derrota significava a vida ou a morte de incontáveis seres.
Lembro perfeitamente, Exercitos de Artrópodes minúsculos a caminho de uma guerra num planeta tropical. Uma obra de arte, todos em nome das rainhas de suas espécies em batalha pelos recursos dos outros, nenhum inteligente, mas como era esquisito estar nessa mente de colmeia... Esses é um dos motivos do meus psicologico de aço. Agora, era apenas um duelo inocente com um bastão de madeira, e mesmo assim, eu não pude evitar a sensação de que tudo estava sob meu controle como nessa guerra de insetos.
O vento soprou mais forte. As folhas farfalharam ao meu redor, e de repente, tudo pareceu mais intenso. A pedra sob meus pés, o som distante da água, o calor do sol... tudo conspirava em meu favor. Eu já sabia como vencer. E não seria apenas com força, mas com astúcia.
"Está pronto, papai?" perguntei, minha voz ainda carregando a inocência da infância.
O duelo começaria. Mas para mim, isso era apenas o começo de algo muito fútil.
Tentei imitar sua postura, mas assim que ajustei a mão-dupla na empunhadura, um desconforto imediato se espalhou pelo meu corpo. Algo dentro de mim gritava que aquela postura estava errada. A sensação era familiar, como negar meu eu , em que minha mão esquerda foi a dominante.
Ajustei meu corpo instintivamente, segurando o bastão de maneira diferente, com a mão esquerda relaxada mas firme. A posição parecia natural para mim, como se eu tivesse feito isso milhares de vezes antes. Talvez tivesse, em outras vidas ou em alguma específica. Aidan, no entanto, notou a mudança imediatamente. Seus olhos se estreitaram, a linha de seu sorriso suavemente se esvaindo.
“Não, assim, filho," ele disse com suavidade, mas havia uma nota de insistência em sua voz. “Segure com as duas mãos, como eu mostrei.”
Olhei para ele e, pela primeira vez, senti uma faísca de rebeldia acender dentro de mim. “Prefiro assim,” respondi com uma firmeza inesperada para uma criança de cinco anos. Havia algo mais por trás daquelas palavras, algo que ele não conseguia entender. Eu não estava sendo apenas teimoso — estava seguindo um instinto ancestral.
A expressão de Aidan vacilou por um instante, a dúvida piscando em seus olhos antes de ele recompor sua fachada de professor orgulhoso. Ele balançou a cabeça, como quem não concorda, mas decidiu não forçar o assunto.
"Como quiser, mas não vá reclamar se eu for duro com você" ele disse com um sorriso.
Aidan avançou primeiro, seu bastão de madeira cortando o ar com precisão, mas com uma proposital letargia. Mesmo com toda a confiança que eu possuía, o golpe veio mais rápido do que eu podia reagir combatendo em um contra-golpe. Levantei meu bastão, bloqueando o ataque, mas a força do impacto ressoou pelos meus braços pequenos, fazendo-os tremer. O som da madeira colidindo ecoou entre as árvores, misturando-se com o farfalhar das folhas.
Recuei instintivamente, meus pés tropeçando nas pequenas ondulações do terreno. Eu tentava emular a confiança de Aidan, mas era evidente que meus movimentos estavam longe da precisão que habitava o corpo do meu 'pai'. Meu corpo atual era limitado, frágil. Aidan, por outro lado, mantinha-se firme, pressionando com golpes certeiros, forçando-me a dar um passo para trás... depois outro.
Agindo como um tutor que não queria uma luta, mas apenas que eu reagisse. Pegando muito leve, como era previsto pelo seu oponente ser uma criança.
Enquanto ele avançava, minha mente trabalhava rapidamente. Não era uma questão de força; nunca fora. Era questão de estratégia. Eu percebia o padrão em seus movimentos, os pequenos detalhes que ele, sem perceber, repetia a cada ataque que ele mesmo sinalizava. Um pisar mais pesado à esquerda, um ângulo previsível na mão direita. Eu apenas precisava de um momento, uma abertura para prová-lo que seu ego, de me subestimar era equivocado.
As pedras sob meus pés pareciam conspirar contra mim, e logo senti o chão mais inclinado, me aproximando perigosamente do riacho. As águas corriam com uma força tranquila. Meus pés tropeçaram em uma raiz escondida, e quase caí, mas me recompus a tempo de desviar de mais um golpe fraco.
Aidan riu, divertido com minha dificuldade de alguem que é inexperiente com espadas. Ele não fazia ideia de que eu estava apenas me ajustando, medindo o terreno, calculando cada movimento. Ele achava que eu estava recuando por medo. Mas eu sabia melhor, era tudo para surpreendê-lo levando em direção a várias raízes da árvore.
Meus olhos se estreitaram quando ele finalmente pisou errado numa raiz, e foi aí que decidi agir. No exato momento em que Aidan levantou o bastão para mais um golpe sem equilíbrio, abaixei-me rapidamente, quase em um movimento de pura evasão, que contrastou com todos os outros desleixados que fiz antes, deixando que o ataque dele passasse por cima. O vento cortou o espaço onde minha cabeça deveria estar, um golpe forte, mas calculado para não me acertar.
O cansaço começava a tomar conta de mim, mas não cedi. Usei o momento próximo para acertar um golpe avassalador... para o meu tamanho, é claro.
Ataquei em sua perna, mas ele contra-atacou imediatamente, forçando-me a recuar novamente enquanto ele me enchia os olhos de espanto: um mortal para trás no exato momento que tentei, exibindo suas acrobacias.
Tolo, ele ficou totalmente exposto. Quem não tivesse um tempo de reação sobrenatural não teria chance de aproveitar aquela abertura. Mas eu? Eu herdei os genes de minha 'mãe' e possuía uma consciência afiada que me permitia enxergar o mundo com uma clareza quase brutal. Num movimento rápido e preciso, avancei com uma estocada direta, atingindo sua barriga com o bastão de madeira.
O som abafado do impacto ecoou no ar, e, por um breve momento, o sorriso confiante de Aidan desapareceu. Ele recuou, levando a mão instintivamente ao ponto onde meu golpe havia acertado. Sua expressão distorcida indicava que, por mais que fosse um simples treino, ele havia sentido a dor. Talvez mais do que esperava.
Por um instante, pensei ter vencido. Mas a expressão de dor logo se transformou em algo mais sombrio. Seus olhos faiscaram com uma intensidade que eu ainda não havia visto nele. Sem uma palavra, ele se moveu de maneira diferente, mais ágil, mais fluido. Algo havia mudado. A técnica que ele antes exibira agora parecia tomar um aspecto mais selvagem e imprevisível, como se tivesse abandonado a formalidade do duelo.
Seu próximo golpe veio como um trovão. O bastão dele cortou o ar com uma velocidade impressionante, e me vi obrigado a recuar. Bloqueei o ataque, mas o impacto foi tão forte que meus braços estremeceram. O choque da madeira reverberou pelo meu corpo, e, mesmo com todo o meu plano, percebi que não poderia manter aquele ritmo por muito tempo e eventualmente desistir.
Os golpes seguintes vieram rápidos e implacáveis. Ele não estava mais brincando, havia percebido que seu filho não era uma criança ingênua. Cada ataque trazia consigo a força de algo além da simples habilidade física — era como se estivesse me testando para extrair meu limite. Eu me movia como podia, desviando e bloqueando patéticamente, mas sentia que o ritmo da luta não era mais controlado por mim. A cada investida, era como se eu estivesse a um passo de ser derrotado.
Foi quando eu errei, não sou um ser perfeito, afinal. Um golpe particularmente forte atingiu meu ombro direito. A dor aguda percorreu meu braço, me fazendo vacilar. Quase deixei o bastão cair, mas me segurei. Aidan não parou, avançando, e, por um momento, pensei que ele tivesse esquecido quem eu era. Ou talvez estivesse tentando tirar algo a mais em mim.
Foi então que algo estranho aconteceu senti minha mente turvar. Minha visão começou a embaçar. O mundo ao meu redor pareceu desacelerar, e uma luz ofuscante preencheu meu campo de visão. Tudo ficou turvo e, por um instante, perdi a noção de onde estava.
Minha memória deu um reboot, como se tivesse voltado no tempo.
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A sala branca era imaculada e sem fim, apenas os ecos de nossos corpos colidindo quebravam sua serenidade absoluta. O único traço de imperfeição naquele ambiente era o meu líquido essencial cósmico vazando de várias feridas, pingando no chão como uma estrela morrendo. Eu estava estendido no solo, sentindo a frieza da superfície sintética me invadir, e acima de mim, como uma presença de luz, criada por deidades, estava Void'Rift, uma Criatura do Cósmica. Flutuando como uma ameaça constante.
“Levanta, Noir... Você não parece um de nós. Deixe de ser patético e honre sua máscara usando seu poder.” ele zombava, sua voz encharcada de desprezo. Sua máscara me impedindo de ver seu rosto, enquanto seu pé pressionava meu torax.
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