Cada palavra sua acendia sentimentos ruins que eu lançava para longe... Vejo poucos motivos para ser ignorante como os outros.
“Mostre-me do que você é capaz, ou então serei forçado a destruir o que resta de sua dignidade,” ele continuou, tirando o pé de cima de mim e recuando, me oferecendo espaço para me levantar, como se esse gesto fosse uma piada cruel.
Sentindo a dor atravessar cada fibra do meu corpo falso, inspirei profundamente e curei todas as feridas. Lembranças de nossos ciclos de treinamento brutal ecoavam em minha mente: cada golpe desferido contra mim, cada técnica que ele me forçou a dominar, havia sido assimilada. Ele era implacável, preciso, uma força da natureza em forma física.
Cambaleante mentalmente, estabilizei minhas garras na superfície fria e me preparei.
“Isso mesmo, levanta,” disse a entidade não orgânica, como eu, mas infinitamente mais arrogante.
A matéria em meu corpo vibrava, ressoando com o material que me forjava. Meu núcleo energético pulsava com intensidade, pronto para o embate.
“Agora, Noir, mostre-me o que aprendeu,” ele ordenou, movendo-se em postura de ataque. Seu sorriso era frio por trás daquela face inexpressiva, como se já soubesse o resultado da luta. Ele sempre soube.
Sem hesitar, me lancei contra ele, como um relâmpago cortando o céu. Meu punho cortou o ar, mirando seu rosto, mas ele esquivou-se com uma fluidez desumana, como se cada um dos meus movimentos fosse previsível. Aproveitei o giro de meu corpo para desferir um chute lateral, mirando seu torso. Ele bloqueou com os antebraços, mas a força do impacto o fez recuar alguns metros, seus pés rangendo contra o metal frio da sala.
"Isso é tudo?" Ele grunhiu, ainda confiante. Mas não havia tempo para que ele subestimasse minha determinação.
Atirei-me novamente contra ele numa corrida, desta vez com mais velocidade, desferindo uma sequência de golpes rápidos e precisos, minhas garras rasgando o ar enquanto procuravam qualquer abertura. Punhos e garras em uma dança frenética de destruição que arrebentava toda a sala. Ele se movia como uma sombra, bloqueando e desviando, mas a fluidez de seus movimentos começava a ceder. A pressão de meus ataques incansáveis estava começando a afetá-lo.
A sala branca começou a vibrar com a intensidade da luta. Energia se acumulava a cada impacto, e nossos corpos eram borrões de velocidade e violência. Cada golpe que acertava era curado no momento seguinte, uma troca incessante de poder e resistência. Minha respiração era pesada, mas meu corpo curava cada ferimento.
Então, ele saltou para trás em um movimento relâmpago. Suas mãos estenderam-se, e de repente, seu sangue começou a brilhar com uma intensidade que quase cegava. O vórtice energético em sua palma condensou-se em uma lâmina cósmica, azul claro e pulsante, que emitia um calor insuportável. O ar ao redor tremia, distorcendo-se com o poder bruto emanando da arma.
“Vamos ver se você realmente servirá,” ele zombou, girando a lâmina com uma confiança absoluta.
Canalizei meu próprio sangue, replicando sua técnica de forma instintiva. Uma lâmina negra, sombria como o Vazio Eterno, formou-se em minhas mãos. Era uma singularidade em si mesma, consumindo a luz ao redor com seu frio absoluto, como se o próprio espaço fosse engolido por sua presença.
Avançamos simultaneamente, nossas lâminas se chocando com um estrondo que ecoou como um trovão. Faíscas cósmicas explodiram do impacto, e a força do encontro fez a sala tremer violentamente. Void'Rift atacava com golpes cirúrgicos, sua lâmina fluindo como água entre cortes e estocadas.
Eu bloqueava, desviava e atacava em contrapartida, meus reflexos extremos. Nossas lâminas criavam um rastro de destruição com cada impacto. A cada golpe, a pressão em meus músculos aumentava, mas eu me recusava a ceder. O ritmo da batalha se acelerava.
Ele desaparecia e reaparecia em ângulos impossíveis, manipulando o espaço como se fosse uma extensão de seu corpo. O ar ao nosso redor se distorcia com o calor e o frio. Eu me esforçava para prever seu próximo ataque, mas Void'Rift era um predador, jogando comigo como [um caçador.
“Você não é páreo para mim, pequeno Noir,” ele zombou, atacando com um corte descendente que parecia inevitável.
Rolei para o lado, o corte rasgando o chão metálico, e aproveitei o momento para desferir um contra-ataque com minha lâmina, que desenhou um arco no ar, disparando uma onda de energia negativa na direção dele. Ele bloqueou, mas o impacto reverberou por toda a sala, fazendo as paredes e o chão vibrarem violentamente. Mesmo assim, ele permaneceu imóvel, inabalável.
Num instante, sua mão livre se levantou, e antes que eu pudesse reagir, uma força invisível me agarrou. Fui arremessado contra a parede com uma força avassaladora. O impacto quebrou parte da estrutura ao redor de mim, e meu corpo pulsava de dor. As rachaduras se espalhavam pelo metal atrás de mim, mas eu me levantei, meu corpo curando as fraturas, meu espírito intacto.
Com um último ataque devastador, Void'Rift desferiu um golpe certeiro. Sua lâmina cortou através da minha defesa, atravessando meu corpo. Senti o impacto reverberar em minha alma, e num piscar de olhos, metade do meu corpo desmoronou no chão, fragmentado.
Ele pairava sobre mim, vitorioso, sua lâmina ainda cintilando com energia cósmica.
“Você se esforçou, pequena sombra,” ele riu em sons dissonantes e distorcidos em cosmogenesí. “Mas perdeu. Nossa luz é maior, superior. Le'vis do Vazio Eterno não podem vencer seres feitos de luz divina. No fim, tu és uma cópia imperfeita.”
Metade do meu corpo estava espalhada pelo chão. Não é como se isso fosse grave.
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Ponto de vista de Aidan:
A mudança em seus olhos foi inegável. O azul sereno que sempre conheci deu lugar a algo mais sombrio, uma determinação feroz, quase selvagem. Seus olhos agora queimavam com uma intensidade que parecia impossível para alguém tão jovem. Sede de sangue? Não, isso não podia ser real... ou podia?
Sua postura era desleixada, mas perigosa, cada movimento fluía com uma graça anárquica e letal, um contraste gritante com sua aparência infantil. Parecia quase irreal.
"Você tem que parar! Já chega!" gritei, meu tom carregado de preocupação. Ele estava ignorando completamente suas próprias limitações, avançando como se nada mais importasse. Eu sentia meu coração apertar. O que ele queria? Me provar sua força? Meu pequeno monstrinho já havia crescido demais nessa nossa 'brincadeira'.
Decidi ir até o fim e avancei com uma série de golpes rápidos. Para minha surpresa, Kiel os bloqueou com uma facilidade assustadora. Cada passo dele era calculado, como se estivesse jogando xadrez com meus movimentos. Seu estilo, antes caótico e instável, agora tinha uma precisão que me gelava o sangue.
Meus golpes, embora poderosos, não o intimidavam. Ele não os bloqueava diretamente – ele os evitava com agilidade inumana. Cada vez que atacava, ele parecia prever meu próximo movimento. E isso era... aterrador. Uma criança não deveria ser capaz de lutar assim.
A luta se prolongava, e o suor já começava a brilhar em sua pele. Sua respiração estava pesada, mas ele não recuava.
"Impressionante, Kiel," murmurei entre dentes, controlando minha força para não machucá-lo, mas também para não ser dominado por... ele. Aumentei a intensidade dos ataques, desferindo um corte diagonal de cima para baixo, seguido por um golpe horizontal na altura da cintura. Kiel esquivou-se para o lado com uma destreza impressionante, girando em um movimento rápido que quase fez parecer que ele estava dançando ao redor de mim.
Cada impacto que ele bloqueava trazia consigo uma vibração surpreendente, como se cada golpe estivesse sendo absorvido e devolvido. Estava claro que ele estava aprendendo, adaptando-se a cada segundo.
Desferi uma estocada mirando seu ombro, mas ele se abaixou com a facilidade de um veterano, rolando para a esquerda e respondendo com um contra-ataque feroz, sua velocidade quase instintiva. Bloqueei seu ataque, girando meu bastão para neutralizar a força de sua investida, e o forcei a recuar, mas com mais dificuldade do que deveria.
Tentei derrubá-lo com um ataque de varredura, mirando suas pernas. Kiel saltou no último instante, seus olhos brilhando com uma concentração intensa. Antes que ele aterrissasse, segui com uma sequência de golpes rápidos, mirando diferentes pontos: ombro, costela, cabeça. E ele bloqueou cada um, como se já soubesse de onde viriam.
Mudando de tática, fingi uma estocada, mas, no último segundo, girei o bastão em um arco amplo, atacando de um ângulo inesperado. Ele levantou o bastão para bloquear, mas a força do impacto reverberou pelo seu corpo pequeno. Pela primeira vez, senti que o fiz recuar, seus pés arranhando o chão enquanto ele se estabilizava.
Respirei fundo, preparando um ataque final. Mirei diretamente em sua barriga e avancei com toda a minha força. Ele havia me surpreendido inúmeras vezes, mas agora... agora seria o golpe decisivo.
Mas então algo estranho aconteceu. Kiel parou. Seus olhos se fixaram nos meus, desafiadores, mas ele não fez menção de desviar. Não tentei parar, acreditando que ele escaparia no último momento. Coloquei ainda mais força no golpe, e...
“Não!” O grito saiu da minha garganta, desesperado. O impacto foi inevitável.
Ponto de vista de Kiel:
Saí do transe depois que aquelas memórias reveladoras emergiram do meu subconsciente. Por que agora? Quem eu...
"Ah, não, isso vai doer." murmurei, ao ver meu 'pai' desferir um golpe pesado em minha direção.
O impacto foi devastador. Uma dor excruciante explodiu na minha barriga, como se uma mola dentro de mim estivesse se contorcendo e rasgando tudo em seu caminho. O ar fugiu dos meus pulmões, deixando-me sem fôlego. Fui lançado para trás, meus pensamentos se despedaçando com o choque.
Quando finalmente atingi o chão, a dor se multiplicou, irradiando por todo o meu corpo. Cada músculo protestava com uma agonia que me deixou paralisado, incapaz de me mover. Fiquei encolhido, tentando respirar, mas cada tentativa trazia uma nova onda de dor.
Tudo o que pude fazer foi olhar para minha 'mãe'. Ela tinha uma expressão que eu jamais vira antes. Seu olhar era profundo, as sobrancelhas franzidas com uma intensidade que beirava o ameaçador.
Ela se aproximou de Aidan, lentamente, sem desviar o olhar de mim.
"Kiel, você foi muito bem! Os dias aqui estão surtindo efeito," ele disse, tentando aliviar a tensão. Mas estava claro que a atmosfera ao redor estava prestes a explodir.
Boa sorte, "pai".
O punho dela se fechou com uma calma assustadora, e antes que Aidan pudesse reagir, o soco atravessou o ar como se o tempo estivesse em câmera lenta. O impacto foi brutal. Seu rosto se distorceu com a força do golpe, a surpresa e dor tomando conta de suas feições.
Não pude deixar de sentir uma satisfação estranha. Vingado por completo, era reconfortante.
Antes que ele pudesse se recompor, minha 'mãe' deixou sua fúria verbal cair sobre ele como um trovão. "Como você ousa tratá-lo assim? Seu próprio filho!" A voz dela ecoou com uma raiva incontrolável. Seus olhos queimavam com uma intensidade feroz, focados em Aidan, que agora cambaleava, atordoado.
"Ele é apenas uma criança, seu insensível! Você deveria protegê-lo, não machucá-lo!" Cada palavra dela era um golpe tão forte quanto o soco que o derrubara. "Se você fizer isso de novo, juro que vou te surrar até seu rosto ficar irreconhecível!"
Aidan, apavorado, tentou se explicar, mas as palavras morriam em sua garganta. Quando ela ergueu a mão em um gesto de aviso, ele se calou instantaneamente.
Minha mãe veio até mim, seus passos rápidos e preocupados. Ela se abaixou e levantou minha camisa para ver a marca vermelha que se estendia pela minha pele, suspirando aliviada ao constatar que não era grave. Tentou me levantar, mas sua gravidez dificultava o movimento. A barriga crescida lembrava o motivo pelo qual ela havia começado a repousar na vila.
"Eu posso levá-lo até a vila," ofereceu Aidan, num tom triste e culpado.
"Nunca mais," respondeu ela, seus olhos ainda carregados de fúria, segurando-me firme.
Enquanto caminhávamos, olhei por cima do ombro dela. Vi Aidan levantar o polegar atrás de sua cabeça, com um risinho e o rosto ainda amassado. Fiz o melhor que pude: dei língua e puxei a pálpebra inferior, vendo seu sorriso desaparecer completamente. Ele seguiu calado até a vila, com a cabeça baixa.
"Quem em sã consciência ensina o filho a lutar com espadas em um mundo pacífico?" minha mãe resmungou em voz alta enquanto me colocava no chão na entrada da vila. "Ainda mais sabendo que existem armas de fogo cinéticas por aí? Eu não quero que Kiel aprenda a lutar! Não quero ele no exército ou arriscando a vida lutando pelo"
Os Néfos ao nosso redor continuaram suas rotinas, alheios à tensão. Sinceramente, até que eu gostei do que aconteceu hoje. Mas vai demorar muito tempo até que eu realmente sinta afeição por vocês como 'pais'. A culpa não é de vocês, vocês fizeram o possível. Mas o apreço pela nova vida que a entidade me deu ainda está distante... e fica cada vez mais difícil quando as memórias antigas retornam, trazendo com elas pensamentos sombrios de encerrar tudo.
Essas memórias... elas sempre me trazem de volta ao ciclo interminável. E hoje, percebi que, em algum momento, eu sabia lutar. Esgrima, combates... Mas agora, sou apenas um poste tentando aprender com Aidan. O pior é que essas memórias estão em formatos ilusórios que a mente desse corpo se engana... Isso é ruim e perigoso.
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