Conforme lentamente recobrava a consciência, estava mergulhada em uma escuridão profunda, um véu sombrio que envolvia meus sentidos. Pequenos focos de luz dançavam à minha volta, tão difusos que, a princípio, tornavam difícil discernir qualquer forma ou detalhe. Meus olhos piscaram repetidamente, enquanto eu lutava para ajustar minha visão às sombras cambiantes.
À medida que meus sentidos se aclimataram, formas humanas começaram a emergir da escuridão. Estranhos contornos ganhavam vida, revelando um grupo de pessoas, cada uma delas distinta e misteriosa em sua aparência. Um deles parecia envolto em roupas escuras, com olhos que brilhavam como estrelas distantes. Outro tinha uma pele com manchas azuis, que contrastava profundamente com o cabelo negro que lhe caía pelos ombros. Mas o choque maior veio quando eu vi o homem que havia bloqueado minha passagem na estação de metrô. Seus olhos me fitavam, fazendo meu coração acelerar, as lembranças dos mortos e do fogo se espalhar por cada canto do meu cérebro.
No meio do pânico avassalador, minhas cordas se revelaram como garras cruéis, me prendendo sem misericórdia à cadeira desconhecida. Meu coração afundou quando, desesperadamente, tentei mover os braços, apenas para me dar conta da terrível verdade que eu era incapaz.
"PORRA! NEM FODENDO!" gritei, minha voz ecoando pela escuridão claustrofóbica.
A princípio, minhas tentativas foram desajeitadas e frenéticas, meus dedos buscando desesperadamente qualquer brecha. Eu me retorcia e contorcia, minhas mãos se fecharam em punhos impotentes, e até tentei usar meus dentes para mordiscar as amarras.
"ME SOLTA! ME SOLTEM AGORA, SEUS FODIDOS!" berrei, minha voz estridente expressando minha raiva e pânico.
Mas a cada esforço, a cadeira continuava a me manter cativa. A realidade era dura e cruel, e minha expressão de desespero se intensificava a cada fracasso. A impotência me derrubou de uma só vez, me fazendo cair desamparada no chão frio e sujo. Foi um grito de frustração e medo que rasgou a quietude opressiva, ecoando na escuridão do local sombrio.
"Não, não, não! Não pode ser! Zoey, onde você está?" Soluços escapavam de meus lábios enquanto eu balbuciava a pergunta entre os gritos. "Me soltem, por favor, eu só quero saber se minha irmã está bem! Alguém, me ajude!"
Lágrimas de impotência começaram a escorrer pelo meu rosto, silenciosas testemunhas da minha angústia. Eu tinha que encontrar uma maneira de escapar, uma maneira de descobrir onde estava, e o que acontecera com a minha irmã. Mas, por enquanto, eu permanecia amarrada, a sensação de estar completamente vulnerável me deixava ainda mais aterrorizada.
Meu apelo desesperado ecoou pela escuridão, mas apenas o silêncio gélido respondeu. O homem do metro, com seu olhar imperturbável, permanecia imóvel. Eu estava prisioneira, e não havia nenhuma esperança visível.
Foi então que um homem de terno, de aparência distinta, fez sua entrada. Ele parecia frágil, porém irradiava uma aura de superioridade. Seu terno escuro e impecável contrastava com sua aparência frágil, como se ele fosse uma folha de papel à mercê dos ventos.
Os pequenos focos de luz, que inicialmente eram difusos e escassos, revelaram-se pequenos furos nas paredes que permitiam uma iluminação fraca, que variava com o passar do tempo. Os raios de luz penetravam a escuridão, projetando sombras instáveis nos rostos dos presentes.
Ele se aproximou de mim com passos lentos e mancos, quando chegou perto, se abaixou e cuidadosamente ergueu uma mão, começando a enxugar as lágrimas que escorriam pelo meu rosto. Seu toque era surpreendentemente gentil, criando um estranho contraste com o ambiente assustador ao nosso redor.
Mas o que mais chamou minha atenção foi sua mão metálica, um implante de aço, tornando sua mão um pedaço bruto de metal gelado e pequenos fios que se conectam. Seu toque, embora firme, era gelado contra minha pele, despertando uma sensação de desconforto e estranheza em mim.
"Não chore, minha cara" ele sussurrou, seu tom de voz suave, mas carregado de uma estranha autoridade. "Não há motivo para lágrimas aqui. Nós não pretendemos lhe fazer mal, Violet."
Meu olhar oscilou entre o homem de terno e os outros, minha mente girando em desespero. Enquanto eu tentava reunir coragem para falar novamente, o toque gelado da mão de metal do homem trouxe uma sensação de desconforto fugaz. Embora fosse gentil, sua aparência e olhar assustadores me lembravam de algo não humano, algo que não pertencia ao mundo que eu conhecia.
Seu rosto, esguio e pálido, destacava-se ainda mais pelo notável cabelo branco, e seus olhos eram como espelhos para as lágrimas que eu derramava, refletindo meu medo de maneira perturbadora. Eles emanavam uma aura que não podia ser ignorada, não parecendo pertencer a um homem comum, mas a algo mais sinistro e insondável.
"O que vocês querem de mim?" Minha voz tremia enquanto eu tentava manter um fragmento de coragem. "Porque eu..."
"Desculpe-nos pela maneira como trouxemos você até aqui," o homem de terno falou suavemente, sua voz ecoando com uma calma penetrante. Enquanto ele se levantava, seus olhos se desviaram para trás, para o homem que eu tinha visto no metrô. "Ele pode ser um pouco bruto às vezes, mas foi necessário."
O homem de cabelos negros apenas soltou um grunhido em resposta, seu olhar ainda fixo em mim, como se estivesse avaliando cada movimento que eu fazia.
"Por favor, tente entender, Violet" continuou o homem de terno, voltando seu olhar para mim. "Estamos aqui para ajudá-la, não para machucá-la. Se ao menos você pudesse confiar em nós..."
Eu engoli em seco, lutando contra a onda de medo que ameaçava me engolir. Aqueles olhos frios e calculistas, aquele sorriso sinistro, não me transmitiam confiança. Mas o homem de terno parecia genuinamente preocupado, e algo nele me fazia querer acreditar nele, mesmo que apenas por um momento.
"Quem são vocês? O que querem de mim?" Minhas palavras saíram em um sussurro trêmulo, carregado de desconfiança e apreensão.
O homem de terno abaixou a cabeça por um momento, como se estivesse reunindo coragem para revelar algo importante.
"Somos os Deslocados, Violet. Somos aqueles que a sociedade despreza, joga na sarjeta como se fôssemos lixo. Mas temos um propósito, uma missão", ele continuou, com uma mistura de determinação e amargura em sua voz. "A sociedade quer nos tirar tudo, nos esmagar como insetos. Fomos cuspidos e chutados a vida toda, mas no meio dessa perdição, encontramos nossa missão."
Enquanto ele falava, pude sentir a intensidade de suas palavras, carregadas de ressentimento e luta. A realidade cruel da exclusão social e da marginalização ecoava em cada sílaba, como se estivesse marcada em sua própria pele.
Ele se aproximou de mim, sua expressão suavizando-se em um gesto de desculpa. "Desculpa, minha cara Violet, por te deixar aí," ele murmurou, enquanto levantava a cadeira em que eu estava sentada. Começou então a desamarrar minhas mãos, suas mãos ágeis movendo-se com cuidado.
Enquanto trabalhava para libertar minhas mãos, seus olhos vagaram para as cordas que me prenderam, e uma expressão de desagrado cruzou seu rosto. "O Phoenix foi bruto amarrando essas cordas," ele comentou, seu tom revelando indignação pela brutalidade do outro homem. "Veja os machucados que causou. Ele não sabe o significado de sutileza."
Retornando sua atenção para mim, ele continuou, sua voz carregada de significado: "E agora, Violet, o próximo passo nesta missão é você. Precisamos de você para ajudar mais pessoas como nós, para fazer a diferença no mundo que nos rejeitou, para estender a mão para aqueles que nunca foram vistos ou ajudados antes."
"Violet, você pode nos ajudar? Precisamos de você" ele perguntou, sua voz carregada de urgência e expectativa. Antes que eu pudesse responder, um som de passos se aproximando ecoou pela sala.
Um homem baixo, de origem asiática, adentrou, trajando uma jaqueta azul e um gorro preto. Seus passos eram confiantes, apesar de sua estatura menor, e sua expressão determinada. Ele se aproximou do homem de terno, que imediatamente se ajeitou, arrumando a gravata.
O recém-chegado inclinou-se ligeiramente e sussurrou algo no ouvido do homem de terno, que franziu o cenho em resposta, antes de assentir em concordância.
Nesse instante, o homem de terno olhou para o relógio em seu pulso, sua expressão tornando-se tensa. "Mas, infelizmente, está tarde demais para discutirmos isso agora. Todos precisam descansar, inclusive você," ele disse, sua voz soando preocupada e apressada. Era evidente que algo havia mudado, algo que exigia sua atenção imediata.
Antes que eu pudesse processar completamente a situação, uma sensação de alerta percorreu meu corpo. Instintivamente, senti uma mão firme agarrar meu ombro com determinação, mas resisti ao impulso de me virar para trás, mantendo meu foco na conversa à minha frente.
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